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Homens verticais ao sol: a construção do vaqueiro em Eurico Alves Boaventura (1928-1963)
Homens verticais ao sol: a construção do vaqueiro em Eurico Alves Boaventura (1928-1963)
Homens verticais ao sol: a construção do vaqueiro em Eurico Alves Boaventura (1928-1963)
E-book311 páginas4 horas

Homens verticais ao sol: a construção do vaqueiro em Eurico Alves Boaventura (1928-1963)

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Sobre este e-book

As querelas entre ficção e verdade, História e Literatura ainda animam as disputas entre Historiadores, Críticos Literários, Literatos e outros. Esse tema e aqueles relativos às construções da identidade nacional marcam o livro de estreia do historiador Artur Santana. O autor se revela um arguto leitor-intérprete de fontes ao inventariar cuidadosamente, por meio de pesquisa, as concepções e visões de Eurico Boaventura sobre o sertão baiano. Tais visões não apenas buscavam descrever empiricamente o sertão, mas também acabavam por desenhá-lo com uma geografia particular. Ao fazê-lo em diálogo com a Literatura que o antecede, o nosso autor inova ao colocar em primeiro plano, com ineditismo, os referenciais de masculinidades que emergem dos escritos de Boaventura. Santana demonstra que, embora Eurico Alves não seja efetivamente um autor canônico, inventa não apenas a Bahia sertaneja, mas um Brasil sertanejo e, acima de tudo, pautado na figura-imagem do vaqueiro. Mas isso não o impede de lançar olhares críticos para as profundas hierarquias sociorraciais que fundamentam as interpretações contidas em Fidalgos e Vaqueiros, estas, sem dúvida, constituem-se em um legado da mentalidade senhorial que informam muito do que pensavam e escreveram nossos intérpretes nacionais. Eis um dos muitos méritos do livro que o autor nos oferece e cabe, portanto, a todos nós descobrirmos com sua leitura os vários outros achados valiosos presentes nesta obra.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de jan. de 2023
ISBN9786525260747
Homens verticais ao sol: a construção do vaqueiro em Eurico Alves Boaventura (1928-1963)

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    Homens verticais ao sol - Artur Vitor de Araújo Santana

    I

    CAPÍTULO

    CRIATURA E CRIADOR: AUTOR, OBRA E SUAS LEITURAS

    Os personagens não nascem de um corpo materno, como os seres vivos, mas de uma situação, uma frase, uma metáfora que contém em embrião uma possibilidade humana fundamental que o autor imagina não ter sido ainda descoberta, ou sobre a qual nada ainda foi dito de essencial.

    (Milan Kundera, A insustentável leveza do ser)

    1.1. EURICO ALVES, O FIDALGO BAIANO

    Nascer, estudar, trabalhar, constituir família, morrer e ser lembrado. Comumente ao se pensar a natureza humana é estabelecida uma ordem linear biossocial, que seria uma leitura social dos estágios biológicos da existência física humana (como nascer, crescer, reproduzir e morrer). Essas categorias tendem a estabelecer uma narrativa do sujeito a partir de um roteiro a ser seguido, relacionando os estágios biológicos que são atribuídos ao corpo humano (infância, adolescência, fase adulta e velhice) com os valores sociais ao qual o indivíduo está inserido.

    Mas viver é extravasar a grafia de palavras. Nenhum texto, por mais completo que seja, irá contemplar a existência humana, por mais individualizada que o recorte do escritor se propunha a ser. A autobiografia, mesmo sendo uma escrita em primeira pessoa, mostra apenas uma versão de quem a escreve. Somos sujeitos plurais, sorrimos, choramos, sentimos alívio e medo ao mesmo tempo, incerteza e confiança, pois a ação de estar vivo é um constante paradoxo que é descaracterizado com palavras, por mais poéticas e emotivas que possam ser.

    Eurico Alves Boaventura foi um sujeito plural, como afirmo em diálogo com Stuart Hall (2015), que pensa a multiplicidade de identidades na construção de um sujeito. O escritor teve sua fase de euforia, sua fase de incertezas, a fase melancólica. Foi poeta, ensaísta, cronista, memorialista, advogado, juiz, criador de gado holandês (raça bovina leiteira), leitor de história, sociologia, psicanálise e geografia. Interessado em arqueologia (e escritor de textos sobre a temática). Foi boêmio, modernista, interiorizado, tradicionalista, apaixonado por Feira de Santana e saudoso da Salvador. Foi um sujeito em constante conflito como qualquer um vivente, que se contradiz, muda de opinião, (re)pensa afirmações, discorda de si mesmo. Apresentar Eurico Alves aos leitores é o principal objetivo do capítulo, mas não tenho pretensão de fazer uma biografia tradicional do escritor ou ainda contemplar uma versão totalizante do autor trabalhado⁵. Enquanto pesquisador, tenho consciência de se tratar de uma leitura particularizada do indivíduo que atende a questões essenciais para a abordagem da obra euriquiana, em especial a representação do vaqueiro no livro Fidalgos e Vaqueiros (1989), sua mais extensa

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