Mente, Cérebro e Educação
De Joana Rato
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Sobre este e-book
Joana Rato
Joana Rato é Professora Auxiliar no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa e investigadora integrada no Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, onde dinamiza o grupo de trabalho Mente, Cérebro e Educação. É psicóloga da educação doutorada em Ciências da Saúde e escreveu, em coautoria, Quando o Cérebro do Seu Filho Vai à Escola (2017) e Neuromitos (2020). Tem aliado a investigação à divulgação da ciência transdisciplinar.
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Mente, Cérebro e Educação - Joana Rato
Mente, Cérebro e Educação Joana Rato
Há cerca de uma década que se discute a ponte entre as neurociências, a psicologia e a educação e como torná-la mais robusta e sem risco de queda. O interesse dos professores em saber mais sobre o cérebro é enorme, bem como em compreender como crianças e jovens aprendem e encontrar as práticas mais eficazes. Contudo, nas escolas, os neuromitos (crenças falsas) estão mais presentes do que os dados vindos da ciência e é notória a falta de estrutura e de mecanismos concretos que unam o conhecimento neurocientífico ao processo de aprendizagem.
O presente ensaio enquadra o campo transdisciplinar Mente, Cérebro e Educação, descreve os seus fundamentos e os obstáculos que enfrenta e explica quão promissora pode ser esta interligação para os futuros desafios da educação.
Na seleção de temas a tratar, a coleção Ensaios da Fundação obedece aos princípios estatutários da Fundação Francisco Manuel dos Santos: conhecer Portugal, pensar o país e contribuir para a identificação e para a resolução dos problemas nacionais, assim como promover o debate público. O principal desígnio desta coleção resume-se em duas palavras: pensar livremente.
JoanaRato.jpgJoana Rato é Professora Auxiliar no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa e investigadora integrada no Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, onde dinamiza o grupo de trabalho Mente, Cérebro e Educação. É psicóloga da educação doutorada em Ciências da Saúde e escreveu, em co-autoria, Quando o Cérebro do Seu Filho Vai à Escola (2017) e Neuromitos (2020). Tem aliado a investigação à divulgação da ciência transdisciplinar.
Joana Rato
Mente, Cérebro e Educação
Ensaios da Fundação
logo.jpgLargo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso
1099-081 Lisboa
Portugal
Correio electrónico: ffms@ffms.pt
Telefone: 210 015 800
Título: Mente, Cérebro e Educação
Autora: Joana Rato
Director de publicações: António Araújo
Revisão de texto: Vasco Rosa
Validação de conteúdos e suportes digitais: Regateles Consultoria Lda
Design e paginação: Guidesign
© Fundação Francisco Manuel dos Santos, Joana Rato, Janeiro de 2023
As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade da autora e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada à autora e ao editor.
Edição eBook: Guidesign
ISBN 978-989-9118-63-8
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Introdução
Neuromitos na educação: do persistente ao mais recente
O que é uma ciência transdisciplinar?
Investigação nas escolas para as escolas
Principais contributos das (neuro)ciências da aprendizagem
Conclusão
Referências consultadas (e a consultar para saber mais)
Agradecimentos
Introdução
Este breve ensaio surge com a intenção de enquadrar o campo transdisciplinar Mente, Cérebro e Educação, descrevendo os seus fundamentos, os obstáculos que enfrenta e quão promissor ele pode ser para os futuros desafios da educação. Começámos pelos problemas, pois são estes que justificam a necessidade de avanços neste campo de estudo no sentido de compreender como crianças e jovens aprendem, e encontrar as práticas de ensino e de aprendizagem mais eficazes.
As metas para a educação infantil geralmente incluem recursos e princípios para os quais as ciências da vida não contribuíram (ou contribuirão?) diretamente, e é fácil perceber as razões quando se entra num campo onde as decisões devem exigir a conciliação de diferentes áreas do conhecimento. Diferentes lentes geram uma pluralidade de argumentos e o número de vozes discordantes aumenta naturalmente. Por exemplo, ensinar grupos heterogéneos de alunos e corresponder ao programa curricular a um só ritmo é tão complexo, que torna premente encontrar respostas em alguma teoria excêntrica capaz de revolucionar a educação e a sociedade. Porém, é na ciência que encontramos, muitas vezes, o travão. A sociedade criou demasiadas expectativas em relação ao que estudos das neurociências podem trazer à educação, sendo algumas dessas crenças totalmente irrealistas. Tão-pouco ignorar o conhecimento produzido nos fará avançar neste domínio. Por isso, neste livro situamos a discussão num ponto intermédio.
Seguindo um género ensaísta, a partir do qual se faz um balanço de um tema emergente, o texto desprendeu-se das referências científicas, sendo expostas reflexões e impressões pessoais de quem tem acompanhado a literatura sobre a interligação entre as Neurociências, a Psicologia e a Educação. Não se quebrou o discurso com citações, mas as referências bibliográficas encontram-se no final para quem queira saber mais e porque a valorização da produção científica é o que dá suporte a todo este trabalho.
Neuromitos na educação: do persistente ao mais recente
Quem faz um levantamento dos mitos rapidamente chega à conclusão que a educação está repleta deles e as suas origens são profundamente ideológicas, ou resultam de mal-entendidos da investigação. Talvez seja este o ponto de partida para uma importante discussão sobre a fraca atualização científica ou o pouco reconhecimento do seu valor nos contextos educativos. Mais do que saber quais os mitos que circulam nas escolas, é preciso perceber se, de facto, podem ser ou não prejudiciais para o ensino.
Um expressivo aumento do número de publicações nos últimos 10 anos permite-nos ter hoje um panorama sobre a presença dos neuromitos (argumentos falaciosos sobre o cérebro) junto dos professores, seja a nível internacional como nacional. Mas estes estudos ainda não permitem conclusões robustas sobre o impacto destes mitos nas práticas, ou a extensão dos possíveis estragos na educação. Por um lado, até podemos pensar que os neuromitos seriam inofensivos. Um estudo desenvolvido na Universidade de Melbourne demonstrou que 50 professores premiados pela sua excelência no ensino no Reino Unido, Estados Unidos e Austrália sucumbiam aos mitos, mas isso não afetava o seu bom desempenho (que assumimos ter em vista os alunos aprenderem, na sua maioria, com sucesso).
Porém, a avaliação do risco destas crenças na eficácia da prática de ensino pode não ser assim tão simples de aferir, e será necessário olhar para cada caso particular. Falhar na deteção de mitos revela, pelo menos, algum desconhecimento do assunto. Ora, a fácil aceitação desses mitos por parte dos professores pode refletir uma dificuldade de avaliação crítica de descobertas científicas complexas, o que tem de ser considerado especialmente quando o tópico é a formação dos professores (que iremos debater mais à frente).
Foi a Organização para Cooperação e Desenvolvimento