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As Aventuras de Uma Garota Negra em Busca de Deus
As Aventuras de Uma Garota Negra em Busca de Deus
As Aventuras de Uma Garota Negra em Busca de Deus
E-book86 páginas1 hora

As Aventuras de Uma Garota Negra em Busca de Deus

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Sobre este e-book

Nesta fábula humanista do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura George Bernard Shaw, uma jovem garota africana não se conforma com os ensinamentos da freira que tenta catequizá-la e decide buscar respostas para as maiores e ao mesmo tempo mais básicas questões da existência humana: Deus existe? Em qual forma?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de fev. de 2023
ISBN9786587042039
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    As Aventuras de Uma Garota Negra em Busca de Deus - George Bernard Shaw

    Onde Deus está?, disse a garota negra à missionária que a tinha convertido.

    Ele disse ‘Buscai, e me achareis, disse a missionária.

    A missionária era uma mulherzinha branca, ainda com menos de trinta; um pequeno corpo que não tinha encontrado satisfação para sua alma com sua família bastante respeitável e razoavelmente bem de vida na sua Inglaterra natal e se instalou na selva africana para ensinar criancinhas africanas a amar Cristo e adorar a Cruz. Ela era uma apóstola do amor nata. Na escola, tinha adorado um ou outro professor com uma idolatria à prova de todas as reprimendas, mas nunca tinha ligado muito para meninas da sua própria idade e situação. Aos dezoito ela começou a se apaixonar por clérigos austeros, e até ficou noiva de seis deles em sequência. Mas quando chegava o momento ela sempre rompia; pois essas histórias de amor, a princípio cheias de extasiante felicidade e esperança, de algum modo se tornavam irreais e a iludiam no fim. Os clérigos, assim desnoivados de repente e sem explicação, nem sempre ocultavam sua sensação de fuga e alívio, como se também tivessem descoberto que o sonho era só um sonho, ou um tipo de metáfora pela qual tinham se esforçado para expressar a realidade, mas não era a realidade em si.

    Um dos rejeitados, no entanto, cometeu suicídio; e essa tragédia deu a ela uma extraordinária alegria. Parecia levá-la de um falso paraíso de felicidade fingida para um lugar verdadeiro no qual o sofrimento intenso virava arrebatamento transcendente.

    Mas isso pôs um fim a seus excêntricos compromissos matrimoniais. Não que esse tenha sido o último deles. Mas uma prima mundana, de cuja astúcia ela tinha um pouco de medo, e que a chamava sem rodeios de coquete e inconstante namoradeira, um dia a acusou de estar provocando outro suicídio com seus noivados consecutivos, e lhe disse que muitas mulheres tinham sido enforcadas por menos. E embora ela de certa forma soubesse que isso não era verdade, e que a prima, sendo uma mulher deste mundo, não entendia; ainda assim ela também sabia que do jeito que as coisas são isso era uma certeza, e que ela precisava parar com esse estranho jogo de seduzir homens até noivados que, agora ela sabia, nunca iria manter. Então ela dispensou o sexto clérigo e foi pregar a palavra na África mais retinta; e a última sensação que teve do que repudiava como pecado foi uma raiva efêmera quando ele casou com a prima, por meio de cuja astúcia e sabedoria mundana ele por fim se tornou bispo, a despeito de si mesmo.

    A garota negra, uma bela criatura, cuja pele de cetim e músculos brilhantes faziam a gente branca missionária parecer fantasmas cinzentos em contraste, era uma convertida interessante mas insatisfatória; pois em vez de aceitar a Cristandade com dócil submissão como lhe foi ministrada, ela opunha a isso inesperadas reações interrogativas que forçavam sua professora a improvisar respostas doutrinárias e inventar provas de supetão em tal extensão que ao fim ela não podia ocultar de si mesma que a vida de Cristo, como ela narrava, tinha acumulado tantos detalhes circunstanciais e um tamanho conjunto de doutrinas leigas que os Evangelistas teriam ficado incrédulos e confusos se estivessem vivos para ouvir tudo aquilo proposto com base em seus escritos. De fato, a escolha da missionária por um posto especialmente afastado, que tinha sido a princípio um ato de devoção, logo virou uma necessidade, já que o aparecimento de uma missionária rival teria levado à descoberta de que, embora algumas das mais refinadas ameixas no pudim do evangelho preparado por ela tivessem sido retiradas da Bíblia, e o cenário e dramatis personæ tomados de empréstimo, a religião resultante ainda era, a despeito deste elemento de compilação, na verdade um produto direto da inspiração pessoal da missionária. Só como uma missionária pioneira solitária ela podia ser sua própria Igreja e determinar seu cânone sem medo de ser excomungada como uma herege.

    Mas ela foi talvez imprudente quando, tendo ensinado a garota negra a ler, lhe deu uma bíblia no seu aniversário. Pois quando a garota negra, levando a resposta da professora muito ao pé da letra, pegou seu tacape e saiu andando rumo à selva africana em busca de Deus, ela levou a bíblia junto como guia.

    A primeira coisa que ela encontrou foi uma cobra mamba, uma das poucas cobras venenosas que vão atacar humanos que cruzarem com ela. Agora a missionária, que gostava de fazer dos animais seus bichos de estimação porque eram afetuosos e nunca faziam perguntas, tinha ensinado a garota negra a nunca matar nada se ela pudesse evitar, e a nunca sentir medo de nada. Então ela segurou seu tacape um pouco mais firme e disse à mamba: Eu fico imaginando quem fez você, e por que ele te deu a vontade de me matar e o veneno para fazer isso.

    A mamba imediatamente acenou com um giro de cabeça para que ela a seguisse, e a levou a um monte de rochas no qual sentava majestosamente um homem branco bem talhado de aparência aristocrática com belos traços uniformes, uma barba imponente e cabelo ondulado abundante, ambos quase transparentes de tão brancos, e uma expressão implacavelmente severa. Ele tinha na mão um cajado que parecia uma mistura de cetro, porrete e uma grande zagaia; e com isso ele imediatamente matou a mamba, que se aproximava dele com humildade e adoração.

    A garota negra, tendo sido ensinada a nada temer, sentiu seu co ração endurecer diante dele, em parte porque achava que homens fortes tinham que ser negros, e só as senhoras missionárias eram brancas, em parte porque ele tinha matado sua amiga cobra, e em parte por que ele usava uma camisola branca ridícula, e assim a recordou do único ponto em que sua professora nunca tinha sido capaz de convertê-la, que era o dever de ficar envergonhada de sua pessoa e usar anáguas. Havia um certo desprezo na sua voz quando ela se dirigiu a ele.

    Eu estou procurando Deus, ela disse. Você pode me orientar?

    Você o encontrou, ele respondeu. "Ajoelhe e me venere neste exato momento, sua criatura presunçosa, ou sofra minha ira. Eu sou o Senhor dos Exércitos: fiz os céus e a terra e tudo o que neles há. Fiz o veneno da cobra e o leite no seio da tua mãe. Na minha mão estão a morte e todas as doenças, o trovão e o relâmpago, a

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