Você E O Fim Do Mundo

De Lucas Borba

Ela nunca imaginou que ele se rebelaria, mas em uma certa manhã não só ele a desafia como afirma, em pleno pátio da escola, que o mundo acabará à meia noite daquele mesmo dia. Tudo o que aquele menino com quem todo mundo queria fazer bullying pede à valentona de quem até os professores tinham medo é que ela o encontre em uma pequena caverna para um último confronto antes do fim. Apesar de não saber aonde ele pretende chegar com aquilo, ela nunca recusa um desafio e não vai perder a chance de dar àquele menino uma lição da qual ele nunca se esqueça. Agora, o tempo está correndo e, até à meia noite, tudo pode acontecer. Com uma narrativa perturbadoramente realista, mas que consegue ser ao mesmo tempo mordaz e poética, Você e o Fim do Mundo é uma poderosa e surpreendente fábula adulta sobre o ciclo da violência, no qual, para além da índole individual, criminosos e vítimas se confundem.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 18 de dez. de 2020

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Você e o Fim do Mundo

Lucas Borba

Dedicatória

Para todos que acreditam em e, cada qual ao seu modo, lutam por dias melhores.

Capítulo 1 - Ela

Quando ele veio andando sozinho na minha direção aquele dia, durante o recreio, em pleno pátio lotado, e com um jeito de andar e uma cara que mais pareciam de um robô, pensei que ele tivesse chapado. Quando ele parou na minha frente, com o nariz quase batendo no meu e me olhando com aquele mesmo jeito vazio, e me perguntou ainda com hálito de pasta de dente o que eu faria se soubesse com um dia de antecedência que o mundo iria acabar à meia noite, tive certeza que ele tava chapado.

Como é que um inseto de doze anos podia tá chapado? Onde ele tinha descolado aquela pasta de dente? Eu, sim, na desgraça dos meus quinze anos de vida, já podia ficar chapada, embora nunca tenha ficado, mas ele não podia. Ele nunca tinha chegado nem perto de agir daquele jeito comigo, nunca tinha sido nada além de um inseto nojento e insignificante, um fujão covarde e chorão que eu podia esmagar feito barata quando quisesse. Assim como eu, ele não tinha o direito de ficar chapado, porque merecia sentir tudo, como eu também merecia.

- Eu iria pra outro mundo, inseto. – respondi baixinho e com o tom mais ameaçador que pude, misturando o meu hálito com o dele. – E você, o que faria, inseto?

- Não sei. – ele disse com o tom mais natural do mundo. – Muita coisa pode acontecer em um dia.

- É verdade, inseto, inclusive a sua morte, do jeito mais lento e doloroso possível. – eu disse. - Quem você pensa que é? Tá doidão, por acaso?

- Não. – ele falou com a mesma naturalidade. – Acontece que é verdade, o mundo acaba hoje, à meia noite.

- Como é que é, inseto?

- Tive um sonho noite passada. – ele disse. - Eu estava em um lugar cheio de luzes e vi uma versão mais velha de mim mesmo, que estava de pé, na minha