TRANQUILIDADE FINANCEIRA
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TRANQUILIDADE FINANCEIRA - LUIZ HUMBERTO CAVALCANTE VEIGA
1 O QUE FAZER COM O DINHEIRO
A EDIÇÃO ELETRÔNICA da revista SmartMoney de 18 de fevereiro de 2008 traz um artigo sobre poupança para a aposentadoria. A matéria informa que há uma estimativa do governo norte-americano de que 78 milhões de pessoas da geração baby boom (geração nascida logo após a Segunda Guerra Mundial, caracterizada por uma alta taxa de natalidade) possuem US$ 7,8 trilhões em várias contas de investimentos. Isso seria ótimo se não houvesse a seguinte questão que aflige a grande maioria dessas pessoas: será que a poupança vai durar tanto quanto eles próprios?
Pode até parecer interessante ter o problema
de administrar o gasto dessa montanha de dinheiro, mas ele não é trivial. Basta nos colocarmos na situação de quem tem 70 anos e quer saber quanto gastará por mês sem fazer que o dinheiro acabe.
Tudo isso, por outro lado, resulta de uma alteração no sistema previdenciário público em âmbito mundial. As constantes mudanças na previdência, a fragilidade das contas públicas, a diminuição da estabilidade dos empregos e o surgimento de uma nova maneira de poupar para a aposentadoria fizeram que a responsabilidade pela segurança financeira e por garantir o futuro saísse
das mãos do governo e passasse para as nossas. Antes era mais fácil, pois bastava esperar que o INSS e, quando havia, o fundo de pensão da empresa pagassem as contas.
Com essa nova atribuição (garantir o próprio futuro), cabe ao cidadão duas tarefas: a) poupar no período da ativa e b) administrar os recursos poupados no período da aposentadoria. Nenhuma dessas atividades pode ser classificada como fácil, mas trataremos disso com detalhes aqui.
Com certeza, utilizar as melhores ferramentas, assim como fazer sacrifícios quando estes ainda podem ser pequenos, é a melhor maneira de se programar para o futuro tranquilo. O problema é que a tarefa é árdua, pois significa abrir mão de determinados desejos no presente para usufruir mais qualidade de vida nos anos que virão. Por esse motivo, a decisão de preparar-se para o futuro acaba sendo postergada e consequentemente exige um esforço maior. É com o chegar da idade que a previdência começa a tomar o lugar da imprudência e a luz amarela se acende. Infelizmente, levar a decisão para os 45 minutos do segundo tempo
impõe um custo muito alto para o consumidor e, além disso, a possibilidade de atingir os objetivos é reduzida. Poucos são os ajustes que podem ser feitos quando o prazo é curto.
O que nos cabe é parar para analisar quanto uma pessoa precisará no futuro, quando atingir uma idade avançada. Isso tem muito que ver com o padrão de vida que cada um leva, obviamente. Há alguns gastos, todavia, que são realmente relevantes, como despesas médicas e medicamentos, enquanto outros vão sendo aliviados, como a educação de filhos e os custos a eles relativos, como já comentei.
Por outro lado, a pergunta mais importante é: quanto tempo meu dinheiro vai durar? É muito difícil dizer isso com precisão, embora seja possível, ainda que com uma elevada margem de erro, fazer algumas estimativas.
Quanto a esse assunto, há uma dúvida sobre o melhor para o consumidor: administrar sua poupança por conta própria, mas com a insegurança de quanto consumirá dessa poupança, ou delegar essa tarefa – tal como era no antigo sistema, no qual a responsabilidade por pagar a aposentadoria mensalmente ao poupador era do governo e do seu último empregador. Aparentemente, a segunda opção parece ser mais tranquila sob a ótica da administração dos investimentos, que pode ser considerada uma tarefa pouco amistosa para alguns. Contrários a essa percepção estão aqueles que temem o futuro das regras previdenciárias, sempre sujeitas à ação dos governos.
Para começar a análise, vamos ter em mente que o maior inimigo do aposentado é a inflação. Obviamente, aquela inflação específica que afeta o seu conjunto de consumo é muito mais importante do que a inflação média, aplicável a todos os orçamentos.
A INFLAÇÃO QUE VEMOS divulgada nos índices é uma taxa calculada com base em uma cesta de consumo
, isto é, determinado número de itens e as respectivas quantidades consumidas, para saber o impacto que o aumento de determinado produto causa no total. Para chegar ao índice, os preços são pesquisados e é calculada a variação média dessa cesta de um mês (ou período) para o outro.
Infelizmente, não será possível encontrar, pelo menos no momento, produtos financeiros que tenham como referencial a inflação para a terceira idade, ainda que tal índice exista – Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i) – e seja apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Apesar disso, há algumas aplicações que rendem juros mais a variação da inflação média (veremos essas modalidades mais à frente).
A propósito, esse índice, que reflete o custo da cesta de consumo das famílias compostas em sua maioria por pessoas com mais de 60 anos de idade, subiu 4,94% entre junho de 2008 e junho de 2009, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Brasil (IPC-BR) subiu 4,87%.
O otimismo com relação à acumulação de recursos, como mencionei na apresentação deste livro, não se limita ao período de acúmulo, mas se verifica também quando usamos uma taxa de crescimento (de juros) elevada para projetar qual será sua reserva no futuro. Como se trata de uma projeção, quanto maiores forem os parâmetros utilizados, principalmente a taxa de juros, mais o saldo previsto crescerá. O problema é que o comportamento dos juros independe da nossa vontade. É uma autoenganação porque, como essa taxa determina quanto teremos de acumular periodicamente, e não há uma estimativa fixa, podemos ser tentados a aumentar a taxa para reduzir os depósitos.
Acredito que esperar um rendimento médio superior a 4% ao ano, além da inflação (juros reais), em uma aplicação financeira no futuro é uma atitude pouco conservadora. Mesmo que hoje seja possível encontrar tais modalidades de investimento, isso não me parece consistente a longo prazo, isto é, hoje você consegue, mas daqui a alguns anos não haverá onde investir para obter tal rendimento. Se você tivesse hoje todo o dinheiro necessário para esperar até a aposentadoria, poderia desfrutar dessas altas taxas de juros acima da inflação atualmente disponíveis enquanto estivesse acumulando os recursos e, assim, aumentaria a renda quando parasse de trabalhar. O mesmo não acontece se você for aplicar um pouco a cada mês, pois, ainda que suas aplicações de hoje recebam essas taxas, as futuras não usufruirão dessa vantagem.
Se você concordar com a estimativa, esse retorno médio de 4% acima da inflação possibilitará fazer alguns cálculos para avaliar o valor a ser acumulado, bem como calcular o montante dos depósitos mensais para cobrir os custos na aposentadoria. Traduzindo: se o poupador, na fase de fruição (palavra interessante, não é?), utilizar apenas os juros, terá de dividir os custos anuais excedentes à aposentadoria por 0,04. Veja os passos abaixo:
1 Estimar seus custos mensais depois de aposentado.
2 Deduzir dos custos mensais a renda que espera obter com a aposentadoria oficial.
3 Multiplicar o custo que exceder à renda da aposentadoria por 12 para achar os custos anuais excedentes.
4 Dividir o resultado apurado em (3) por 0,04.
Esse cálculo (que será melhor detalhado em breve) possibilita estimar a quantidade de dinheiro que é necessário juntar para usufruir apenas dos juros do dinheiro, deixando o principal (o valor acumulado) intacto, uma vez que a projeção considerou o rendimento real (descontada a inflação).
Outra forma de analisar o assunto é ver quanto (em termos percentuais) pode ser retirado anualmente do valor poupado, para que não sobre nada ao final de determinado prazo estimado. Essa é a estratégia mais fácil de seguir porque resulta em um valor acumulado menor (coloco uma tabela sugestiva na seção que trata desse assunto).
De qualquer forma e por qualquer ângulo que observemos a questão da garantia do nosso futuro, uma coisa é certa: planejar e poupar ainda são as melhores opções, desde que feitas em conjunto.
GRÁFICO 1.1 Quanto mais cedo você começar a poupar, melhor
QUANTO VALE COMEÇAR MAIS CEDO
003O gráfico mostra quanto o tempo ajuda no processo de acumulação. Cada um dos investidores (de A a D) aplicou R$ 5 mil (corrigidos) anualmente por dez anos (total de depósitos de R$ 50 mil em valores de hoje), supondo uma taxa de juros reais de 4% ao ano. O investidor A começou a fazer isso aos 25 anos e aos 34 fez o último depósito. O investidor B começou aos 35 e parou aos 44, o C começou aos 45 e terminou aos 54 e o D começou aos 55