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Doutoranda também é gente: o diário meio hilário de uma mulher em tese
Doutoranda também é gente: o diário meio hilário de uma mulher em tese
Doutoranda também é gente: o diário meio hilário de uma mulher em tese
E-book240 páginas3 horas

Doutoranda também é gente: o diário meio hilário de uma mulher em tese

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Sobre este e-book

O livro traz o relato vivo e pulsante do que acontece na vida de uma carioca que, nos anos 90, morando no nordeste e sendo professora universitária, vai para SP fazer um doutorado, com direito a um aperfeiçoamento em Barcelona. O que hoje pode ser algo trivial para uma mulher, para ela, naqueles tempos, foi complicado: 47 anos, 3 filhos, sem família por perto, em crise conjugal, mil dificuldades para se separar e, neste ínterim, a chegada um novo relacionamento. O que a princípio parece ser um texto desatualizado e descontextualizado, surpreende pela relevância da condição feminina na vivência de sua experiência, que se sobrepõe e o torna um texto histórico. Em forma de diário autobiográfico, escrito concomitantemente à tese, o livro revela seu lado invisível, os momentos simples e estarrecedores em que a autora se permite escrever como desse na telha, rasgar o verbo, reclamar, se revoltar, desabafar angústias e neuras geradas pelas tensões que envolvem todo o processo de elaboração da tese e que culminam no momento de sua escrita. Além de espaço libertador, "diarito" foi também um espaço de registro de insights sobre o "tesear", de brincar com autores, de reconhecer a importância da relação de troca frutífera com a orientadora da tese, de digerir crises sem esquecer do autocuidado com a saúde integral. Uma rica experiência de superações, que pode contribuir com o momento de quem faz e vive a pós-graduação, seja como orientando ou orientador.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mar. de 2023
ISBN9786525278650
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    Pré-visualização do livro

    Doutoranda também é gente - Dirce Mello

    capaExpedienteRostoCréditos

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de Rosto

    Créditos

    Apresentação

    Carta-convite ao prefácio

    Prefácio

    Ah, os agradecimentos!

    Landmarks

    Capa

    Página de Título

    Página de Direitos Autorais.

    Table of Contents

    Apresentação

    Não sei bem porque comecei a fazer, junto com a tese, um relato do que eu vivia ao fazê-la; acho que foi para garantir o lugar de soltar meus grilos, desabafar, aliviar as tensões do processo, e relaxar. Doce ilusão! Isso foi nos idos de 98, minha vida era um palco iluminado e ficou humanamente impossível dissociá-lo da minha barafunda existencial.

    Chamei-o de diário - diarito, nas horas mais calientes. Ele me ouvia, entendia, e o principal: não se entediava com minha novela tesística! Em sonho, devo ter feito um pacto com o povo do céu, porque ele era um anjo da guarda! Ou uma parte do meu eu que paciente e amorosamente me cuidava. E ainda digo mais: a tese saiu muito por causa dele!

    O efeito-tese na minha vida fez dela uma incessante mutação - de cidades, de casas, de espaços... e de mim, uma espécie de biruta de aeroporto, cada hora com uma interpretação de sentimentos, de amores, de humores. Parar, respirar e registrar no diário me estimulou na percepção desses processos, em suas idas e vindas, altos e baixos, sins e nãos, aceitações e resistências. Conferi à tese um antagonismo louco na minha vida! O diário, em surdina, ia dissolvendo isso, ele era o meu momento síntese, por mais que eu estivesse toda dividida.

    A tese foi defendida e indicada para publicação. Durante o tesear, não dei muito valor a ela; na minha cabeça, se algo viesse a ser publicado, seria diarito, rico em emoções, vibrante! Mas isso mudou, eu gostei dela, ficou uma tese agradável de ser lida, estudei o modo de subjetivação da militância em movimentos sociais populares de João Pessoa, onde vivia. Frente à carência de material sobre tais movimentos naquela época, teria sido no mínimo um livro útil.

    Mas eu, que não fui uma professora convicta do seu papel de ser paga para ser intelectual, não segui a norma acadêmica, tampouco valorizei o livro que eu tinha pronto. Hoje, que me tornei escritora e sei o quanto custa uma publicação, jamais faria o mesmo. Lamento não tê-la publicado, estava tudo costurado com a editora, dei bobeira mesmo!

    Se agora não faz sentido publicá-la (o contexto histórico era outro, está obsoleta, tem apenas valor histórico), o mesmo não digo em relação ao diário, acho que ele tem futuro!

    Embora igualmente jurássico, ele contém insights interessantes sobre o miudinho, o moído da elaboração da tese, com dicas que podem interessar a quem esteja passando pelo processo. Foi difícil para mim, mas foi um percurso de grande aprendizado, que quero socializar. E teve um desfecho de superação - o que é motivador para quem lê! Diarito, portanto, em sua vocação didática, é atemporal.

    Além das pistas sobre a metodologia de exposição da tese, ele revela minha relação formal com as instituições envolvidas e, em especial, com a orientadora, uma relação que sempre desperta curiosidade entre alunos da pós. Fui uma doutoranda livre e sem querelas neste âmbito. Foi possível estabelecermos uma dinâmica relacional orientando-orientador própria e com alguma originalidade. A prova disso está na parceria criativa que aparece neste livro, com prefácio da orientadora.

    Em termos de narrativa, o diário mostra que, ao mesmo tempo em que eu brigava com a tese para não deixar de ser gente, sem querer abrir mão de nada na vida, eu não a esquecia! Esta é uma contradição típica desta fase. Tese e vida se emaranharam e o diário acabou sendo um relato biográfico. E eu crente que ia trabalhar com histórias de vida de militantes...

    Neste tempo de reinvenções na pandemia, desengavetei-o, mais uma vez. Tinha feito isso há três anos, e mesmo com o perspicaz e delicado prefácio da orientadora, não ousei publicá-lo. Tinha algo extremado nele, era over nos excessos e faltas, não deu!

    Agora sim, aproveitei a quarentena e fiz um paciente copidesque em todo o texto, enxugando meus excessivos mimimis e figuras de imagem recorrentes, sem contudo alterar o clima do momento, fosse qual fosse, pra enjoar ou pra barbarizar!

    E para completar, diarito recebeu um primoroso tratamento visual que realçou seu conteúdo com criatividade e graça, enfatizando seu viés humorado diante das coisas da vida, chovesse ou fizesse sol.

    Enfim posso vê-lo como livro ganhando mundo!

    Vai diarito, ser gauche na vida como eu!

    Carta-convite ao prefácio

    Querida Maria Lúcia

    Espero que esta lhe encontre bem de todas as saúdes, e que em breve nos vejamos!

    Não nos vimos mais desde a minha defesa, em março de 99... mas parece que agora nossos destinos se reaproximam, veja como é a vida!

    Acho que deve lembrar que, naquela época, você era do conselho editorial da Revista Serviço Social e Sociedade e me disse que o Cortez estava interessado em retomar a publicação dos Cadernos de Movimentos Sociais com a minha tese. Você me disse que eu a preparasse para publicação e nunca fiz isso, lamentavelmente!

    No entanto, parece que nem tudo está perdido e agora me chega uma nova oportunidade de publicar, não mais a tese, claro, mas o diário que fiz enquanto a elaborava. Cheguei a lhe comentar da existência dele, não sei se recorda.

    Hoje estou aposentada e voltei ao meu Rio de Janeiro, moro num bairro afastado e tranquilo, uma antiga colônia de pescadores, em frente ao mar. A mudança, além de me atender quanto à necessidade de estar mais interiorizada e em silêncio, teve a finalidade de eu poder trabalhar mais concentradamente nos meus escritos.

    Foi durante a arrumação da nova casa que reencontrei o diário, confesso que não me lembrava mais de sua existência! Nos anos que se passaram, eu só o via em ocasião de mudanças, dentro de caixas de papelão. Nas estantes, ele sumia! Nunca cheguei a lê-lo e era um desconhecido para mim. Inicialmente chamava-se Diário das Cinco - escritos de tese e outras memórias. Foi escrito durante seis meses (20/06/97 a 30/12/98) e tinha 150 páginas.

    Logo que pude, na nova moradia, sentei para lê-lo e fiquei surpresa, senti que tinha um potencial ali que merecia um bom trato, e arregacei as mangas durante alguns meses. O resultado está aí, neste copião que agora você tem em mãos.

    Viajei do Rio a São Paulo não só para entregá-lo pessoalmente, mas também para me desculpar pela displicência com a tese e a oportunidade de mão beijada que você me ofereceu de publicá-la.

    Hoje estou resgatando isso e honrando o seu empenho, a sua generosidade, a sua linda vocação de ser muito mais que uma simples orientadora. É graças a você que estou aqui agora, em plenos 65 e ainda com esse novo gás me revirando, querendo ser escritora! Foi você quem lançou a pedra fundamental, lá nos tempos da tese!

    Não sei das suas possibilidades no momento, mas quero que saiba que muito me alegraria se puder lê-lo agora que ganhou ares de livro, com o nome de Doutoranda também é gente - um diário meio hilário de uma mulher em tese, e fazer um prefácio ao seu modo.

    Acho que tem tudo a ver, pois foi você quem esteve comigo nessa viagem, apostando seu nome, sua credibilidade, e sustentando, apesar das minhas inúmeras limitações, ser minha orientadora até o final.

    Hoje olho para trás e sorrio, foi um percurso cheio de emoções! O registro do percurso das elaborações, além de poder elucidar e inspirar quem esteja numa pós-graduação, pode dar um quê de realidade vital e calor humano ao processo da criação de uma monografia, dissertação ou tese.

    Meu objetivo foi exatamente mostrar o lado de uma tese que não aparece, em que rodeamos nosso subjetivo, o revolvemos, enfim, somos alguém de carne e osso, com dificuldades e facilidades, com limitações e possibilidades, investindo tudo para crescer, se superar, se reconhecer!

    Abordar de forma descontraída e humorada uma situação de vida tensionada, pode ser um bom programa de leitura para quem está numa dessas. O diário não é ficção, é a história de uma vida em tese, a vida integral de uma mulher - romanceada, envolvendo todos os aspectos da sua sensibilidade enquanto intelectual, profissional, mãe, amiga, amante, mulher.

    Bem, é isso, espero que você se divirta lendo e se anime de preparar um prefácio, confio plenamente no seu taco, e não é de hoje!

    Em O conto da ilha desconhecida, Saramago diz que se não sais de ti, não chegas a saber quem és. Na tese, foi você a pedir-me que saísse de mim. Agora, sou eu quem pede que me ajude a fazer isso.

    Receba desde já o meu abraço, que logo será dado pessoalmente, com muito gosto e gratidão!

    Obrigada por tudo, o de ontem, o de hoje e o de amanhã!

    Beijo carinhoso,

    Dirce

    Prefácio

    A memória das mulheres é verbo.

    Ela está ligada à oralidade das sociedades que lhes

    confiava a missão de narradoras da comunidade.

    Michelle Perrot

    Há momentos em nossas vidas que são vividos com tal intensidade que passam a compor um de nossos acervos mais ricos, e que mais nos define enquanto ser singular, que é a nossa memória.

    Estabelecendo um rico espaço de trocas dialéticas entre as lembranças, os lugares, os momentos e as circunstâncias em que as situações ocorreram, a memória se revela cada vez mais como um espaço vivo, um lugar não apenas para recordar, mas com muito potencial para atribuição de significados.

    Cada indivíduo é um horizonte de muitos, situado social e culturalmente, assim suas memórias são também históricas, expressam muito dos processos sociais, políticos, econômicos em curso.

    Por outro lado, como materialização de enredos históricos pessoais, dotados de dimensão política, a memória e a narrativa vão trazendo para o cenário o modo de viver, de lutar, de forjar modos específicos de resistir, optar e também de reivindicar direitos dos sujeitos que fazem a narrativa.

    Esta é bem a realidade da obra que temos em mãos, cuja autora, Dirce de Melo Teixeira, vai nos convidando e praticamente nos conduzindo pela mão, para acompanhar sua trajetória na realização de seu doutorado.

    Docente da Universidade Federal da Paraíba naquele momento, decide doutorar-se pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o que significava, então, uma grande aventura.

    Ouçamos as palavras da própria autora, repensando este momento, hoje olho para trás e sorrio, foi um percurso cheio de emoção.

    A decisão de publicar este livro, como ela mesmo nos diz, foi exatamente mostrar o lado de uma Tese que não aparece, em que rodeamos nosso subjetivo, o revolvemos, enfim, somos alguém de carne e osso, com dificuldades e facilidades, com limitações e possibilidades, investindo tudo para crescer, se superar, se reconhecer.

    O ganho de tal decisão é para nós, leitores, que vamos acompanhar passo a passo a trajetória da autora no período que vai de 1997 a 1998, ao longo do qual estava inteiramente dedicada à fase final da elaboração de sua tese.

    Coerentemente com a relevância que atribuiu a tal tarefa, resolve fazer um Diário para registrar suas aventuras/desventuras, alegrias/tristezas, frustrações/esperanças e realizações mal ou bem sucedidas.

    Entretecendo-as com as histórias da vida cotidiana, a partir de uma fina narrativa, Dirce nos permite revisitar muito da própria história do país nesse período, especialmente no que se refere às artes e à literatura.

    Dotada de um aguçado senso crítico, alimentado por uma veia artístico-humorística, coloca-nos em contato com a construção de sua narrativa.

    Como que tecendo uma teia densamente tecida, nos faz acompanhar a densidade de um processo de construir sua tese, com a leveza de quem não perde seu vínculo com a vida de todo dia.

    Sua obra torna-se, nesse sentido, muito útil e recomendável para quem está envolvido com a tarefa acadêmica, pois desfaz equívocos, lança luzes sobre a relação com o orientador e, o que é mais importante, deixa claro que é possível realizar uma tese e ser feliz, sem abandonar nenhuma das esferas de sua vida pessoal.

    São Paulo, outubro de 2017

    Maria Lúcia Martinelli

    20/06/97, 05:15

    Hoje jurei que vou realizar outra coisa junto com a tese. Digito com raiva. Jogo nas teclas minha inconformidade por nunca, mas nunca ter me aprofundado em nada na vida. A tese agora não vale, poxa - é uma obrigação, um cavaco do ofício. Isso me cheira à crise...

    Não sei por que cargas d’água me veio essa ideia de registrar tudo o que me acontecer justo enquanto a escrevo - o momento hard da tese em seu processo de elaboração... pelo menos para mim!

    Melhor admitir e reconhecer que começo este diário em plena crise existencial. Convenhamos, um começo nada original nestes momentos de gestação. Ui, mas uma tese tem que ter originalidade! Ainda tem essa. Eu em crise defensiva, me sentindo indefesa, e tendo que ser original na defesa da tese. Ora façam-me o favor, é paradoxal isso!!!!

    Vivi uma crise destas na vida quando fiquei grávida pela primeira vez; me sentia só, o Milton saía para trabalhar e eu ficava enfurnada naquele apartamento de fundos na Barra da Tijuca, então pouquíssimo habitada, esquisita. Outra falta de originalidade juntar tese, parto, gestação. Mas afinal, que raios de tese é esta??!!! Estou grávida de novo? Quando decidi isto? Não planejei, isso é gravíssimo!

    Agora não tem jeito, vou assumir. Pretendo escrever todos os dias às cinco da manhã porque me fascina esta hora, o clima do amanhecer, o ar, os aromas, os cantares... os pássaros que aqui gorjeiam sempre gorjeiam como lá.

    Não vou me preocupar de estar maquiando nada que escrevo. Sempre gostei de escrever e parece um absurdo, mas nunca pude escrever o que quero porque a porra da vida acadêmica (quer que eu repita?), que não escolhi mas que foi o jeito, me obriga a escrever com a língua presa. Aqui não vou fazer nenhuma concessão, nenhum arranjo linguístico para dizer de forma poluta o que vivo de forma impoluta.

    Meu horário hoje está acabando, comecei meio atrasada, já são 5:45 e devo acordar Ilana para ir à escola. Vou levá-la em Manaíra, do outro lado do mundo para quem vive nos Bancários... mas essa é uma das mãezices-minhas-de-cada-dia. O atraso não importa - aqui não tenho prazos nem cobranças nem aporrinhações. Vou escrever o que me der na telha. Válvula de escape... ou a garantia de um momento certo de prazer no dia?

    Seja que danado for, sinto vontade de registrar o que vem do meu ser-mulher mais integral, e na vida como um todo. Nada de questão de gênero, ok? É que ninguém é só doutoranda! Antes disso, sou mulher, feita de feminino/masculino, casada, mãe, amiga, cidadã, às vezes estou forte, animada, apaixonada, às vezes estou separada, fraca, desanimada, desapaixonada... é assim que vou-me adentrando no estado tesístico e ele vai-se adentrando em mim...

    Hoje é o segundo dia dos meus 47 anos e me vejo no dilema de nunca ter sabido me aprofundar em alguma coisa e começo este diário assim, desabafadoramente. Quem sabe a tese me ensine a fazer isso? Quem sabe ela não seja só a tese da subjetividade militante e me ensine a me aprofundar em mim? Eis já uma hipótese...

    Em tempo: farei o possível para que não seja só e somente só um diário ansiolítico de uma doutoranda escrevendo tese. Meus outros personagens entrarão em cena porque, como digo há séculos, minha vida é um palco iluminado. Prometo não ser só agoniada, angustiada. Todos me acham uma pessoa leve, alegre, graciosa, alto astral... isso há de contar!

    Também não quero fazer do diário uma tese. Perdi a graça de estar registrando a metodologia da confecção da tese para mostrar o quão árduo é este processo. Diz o senso comum que todos os que passam por ele o sentem na pele (e no estômago, na coluna, nas juntas, na musculatura, que loucura!)... e todos os que vão vivê-lo o temem como a um bicho-papão. Tempos de mistério...

    Até amanhã, diário! Você me fez muito bem, escrevi bastante, tenho esse dom, sou capaz! Já até vou me atrasando no dever materno por amor à arte de escrever. Adoro, queria ser escritora e agora estou sendo.

    Sem mais, embora com muito mais a escrever, porém o dever me chama, despeço-me de você por hoje. Amanhã não me atraso porque achei esta ideia o maior barato, pressinto que foi luminosa para minha saúde mental. Ademã!

    21/06/97, 05:25

    Tinha pensado em não ler o escrito do dia anterior para não ficar com a preocupação de dar continuidade ao tema. Aqui tudo é tema. O tema central sou eu, e já andei dando continuidades demais na vida. Por isso a partir de amanhã não lerei o relato do dia anterior, certo?

    Amanheci menos colérica. Também, ontem não foi pra menos! Comecei o diário botando em prática uma alternativa frente à infeliz sensação de que não sei de nada na vida. O que, não foi bem isso? Ah, não importa, você já entendeu, é este o resumo da ópera, ou a síndrome. Vou botando cara de tese.

    Lembro bem da cara da Ângela em tese, pálida, aflita, cara de doente. Cara só não, doente de fato. Até o olhar era aquela coisa transtornada, de quem está fora do mundo real, do tempo real, a caminho de não se sabe onde, em princípio podendo ser qualquer outro planeta, mas com tal que chegasse!

    Ah, chegar - eis o grande verbo do cara em tese, nesse transitar, nesse transe-tese, Ângelas e Dirces da vida! Lembro da pobre dizendo que às vezes dava um branco, esquecia tudo, anos de leitura, anos de trato com o tal do objeto de estudo, e aquela sensação de que não sabia nada! Agora imagina eu, que já sou meio aérea... não duvide se vou entabular papo com um OVN...

    Ontem relacionei fazer tese com gestar e parir. Agora, falando deste esvaziamento provocado pelo excesso de informações acumuladas e do medo de não saber digeri-las aproveitando o que interessa, falei no verbo chegar. Lá vou eu treinando as associações: em espanhol, llegar é um verbo usado também para se perguntar ao outro, na hora da transa amorosa, se chegou ou não ao ápice, gozou ou não. Não me pergunte como... mas com certeza llegaré!!!!

    Quase 6 da matina e eu em plenos labirintos psi, parto, gozo... devem ter a ver... mas espero que o gozo não chegue só na hora do parto, e sim que possa ser vivido durante a gestação, como garantia do bom parto.

    Parir é um verbo (será o único?) que rima amor e dor.

    Sou boa parideira, três partos normais,

    três pérolas raras e muita rima.

    22/06/97, 05:40

    É domingo e meu direito à preguiça, aquele do genro (cubano!) do Marx, foi de meia hora. Essa sua teoria, seu Lafargue, ainda não entrou em vigor por aqui. Estou atrasada com a tese, relaxar virou utopia.

    Mas me permiti meia hora... algo és algo, progredi! O interessante é que já me sinto uma trabalhadora, iniciando

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