A Portaria Da Prostituição
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A Portaria Da Prostituição - Fernando Luís De Jesus
Título: A Portaria Da Prostituição
Autor: Fernando Luís de Jesus
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autorizada desta publicação, no todo ou em partes, constitui
violação dos direitos autorais
Copyright © 2020 Fernando Luís de Jesus
Edição 1
Nova Lima MG
2020
PORTARIA DA PROSTITUIÇÃO
"Este livro foi escrito em homenagem a todas as agulhas que se
perdem no palheiro, para todos os patinhos feios que não se
tornaram cisnes, para as almas de espírito livre que apenas
passam e, entre suas escolhas e consequências, encaram o vazio
e deleitam sobre a escuridão".
Fernando Luís de Jesus
Acordei e era precisamente dez e meia da manhã, mais um dia desempregado e com bastante vontade de voltar para a cama.
Moro em um apartamento situado em um bairro na zona oeste da cidade de Belo Horizonte, moradia essa, herdada pela minha falecida mãe. Abri as janelas e a mesma vista de sempre, janelas e mais janelas de prédios e toda calmaria bagunçada de uma cidade grande. Peguei um cigarro, a calça e a camisa que estava totalmente amarrotada e decidi que, dessa vez, deveria passar a roupa, talvez o fato de sair quase sempre com a camisa amarrotada deveria ter relação às fracassadas entrevistas de emprego.
Dei aquela penteada no cabelo, já meio grisalho, que não disfarçava meus mais de trinta anos, e coloquei o final do perfume dado pela minha mãe a um ano atrás, o que me faz lembrar que já estava quase fazendo um ano do seu falecimento. No celular, várias ligações perdidas, Leila não queria aceitar o fim do namoro, mesmo que pela minha parte nunca tivesse tido uma relação. É engraçado o quanto as pessoas gostam de se humilhar, quanto mais as ignoramos, mais correm atrás.
Fiz um café correndo e desci as escadas do meu Hotel, esse era o meu exercício matinal, sempre odiei elevadores, quase sempre tem pessoas e acabo tendo que fingir uma conversa e isso é irritante. José estava lá na portaria com seu jornal de sempre e gozando de sua infinita rotina.
— Bom dia, Senhor Marcos!
— Bom dia, José.
Essa era quase sempre a nossa conversa matinal, até que se expandiu com uma lembrança da minha mãe feita por José.
— Quase um ano sem a Margarida e como ela faz falta.
O engraçado é que minha mãe odiava aquele Hotel e quase nem cumprimentava os funcionários. Minha mãe era funcionária pública do Estado, trabalhou a vida inteira como assistente social e quase não se socializava com ninguém, nunca conheci meu pai e tão pouco minha família, já que minha mãe veio do Norte e buscou uma nova vida em Minas Gerais.
Nunca soube muito da minha família e, ao passar do tempo, isso não me afligia, achava estranho as famílias de amigos do colégio e das pessoas que também moravam no Hotel, tentavam se mostrar felizes e contentes em datas festivas, mas no decorrer dos dias, parecia que se odiavam. O ruim de perder a única pessoa da sua família é a sensação de solidão e saber que a vida ficará mais difícil. Talvez a resposta seria construir uma família e preencher essa sensação. O problema é que nunca consigo dar um segundo passo em meus relacionamentos, a busca de sentido sempre nos traz uma reflexão de que talvez nada faça sentido.
Foi então que parti para o ponto de ônibus, tinha que pegar a linha 3033 e ir para a entrevista. Ao subir naquela lata de sardinha, me dei conta que somente os primeiros bancos destinados a idosos ou deficientes físicos estavam desocupados.
Então fui sentado, torcendo para ninguém tomar o meu lugar.
Morava um pouco longe do centro e a corrida daria por volta de vinte a vinte cinco minutos. E já estava ele ali, sentado, me encarando.
Esse personagem bem excêntrico era conhecido como Noé, um senhor de cinquenta a sessenta anos, que conheci ao longo das viagens de ônibus, descobri que tinha sido atropelado a mais de trinta anos e andava com uma muleta e tinha problemas de fala e suas pernas eram tortas devido à gravidade do acidente. O que me intrigava naquele senhor, era sua paixão pela vida, seu sorriso e claro, as balas que sempre trazia consigo e que oferecia a todos os passageiros. Muito conhecido pelos motoristas e claro, por
mim, apesar de que eu não conversava muito, foi logo me oferecendo bala.
— Quer bala?!
E foi logo fazendo sempre aquela pergunta.
— Sabe por que a vida é boa?
Eu era obrigado a dizer não sei. Se não, ele não parava, e então ele respondia:
— Porque ninguém sabe nada!
Nessas horas, eu abria um sorriso falso, pegava a bala e ficava em silêncio.
Descendo do ponto, o inferno ressurgia, milhares de trabalhadores informais gritando para venderem seus produtos, pessoas lutando pela sobrevivência e buscando algum sentido, os homens deixavam-se a esquecer dos problemas em cada par de coxas em sua frente e as muitas mulheres, novas e velhas, sobre o suor lamentável de um país extremamente quente e desigual, trincando em seus rostos, marcas de um tempo que, no fundo, não queriam viver. E eu apenas pensava em como seria essa nova entrevista. Era para estar assustado e preocupado, apesar de ter endereço fixo e não pagar aluguel, a renda que minha mãe deixara ao falecer estava pelo fim e simplesmente gastava o dinheiro em bebidas, cigarros e em relacionamentos que nunca duravam mais de dois meses. O fato é que eu não tinha profissão e pegava qualquer coisa, conseguia viver com o mínimo pelo fato de não ter nenhum peixe para tratar, tinha uma certa aversão a bichos, aparentemente creio que tinha dificuldade de gostar de alguma coisa, mas isso não me colocava como um psicopata, e sim como alguém que somente não gostava de pensar no amanhã.
Fui chegando no endereço da entrevista e para minha surpresa, a vaga de porteiro para um Hotel, não era simplesmente um lugar onde as pessoas pagam para passarem a noite, era um lugar onde as pessoas pagavam por sexo. Era como chamávamos
na cultura popular de zona,