Biscoito Sem Sabor

De David Rodrigues

Doze anos escrevendo. Falando de seus sentimentos, suas ilusões, seus delírios, seus amores. Então, tomou um pouco de coragem para juntar todos os ingredientes que tinha nas mãos, misturou um pouco daqui e dali, do que sente, sentiu ou achou que sentia. Amassou, enrolou, deu forma mesmo entre barulhos e indecisões, medos e receios de que o gosto não ficasse como planejado, se é que tem gosto, e pôs no forno. Assim surgiram os tais biscoitos que agora estão nas suas mãos para serem devorados.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 16 de out. de 2015

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Biscoito Sem Sabor

David Rodrigues

O amor faz com que nos tornemos todos uns caçadores.

Gregory Maguire

A Deus, à família, aos amigos, nesta ordem.

À Karem Reis, ao Windson, Carlos Henrique, Anderson

(Dinho), ao Fábio Alex, à Tathiana Braga, Dieolla Karla e

Diogo Kriok, e a Rafael Landim.

.

3

Início

Agora me torno um livro

E irás ler minha vida

Por meio de rascunhos.

Há textos de até doze anos,

Nada de grandioso, nem diferente,

Apenas momentos de um garoto.

Abro esses momentos,

Que são como biscoitos sem sabor,

Uma comida sem tempero.

Tu darás o gosto ao momento.

Assim

Decidi por não reescrevê-los

Com medo de transformá-los em caricaturas do que eram.

Se fosse assim realizado, seriam

Como um biscoito com sabor, pois a eles dei o meu gosto,

Mas este não é o caso.

1°

Fornada

"Enquanto dou os meus olhos ao mundo, deixo de olhar quem

realmente merece atenção".

5

1- Lapiseira

Faz tanto tempo

Faz tantos dias

Tantas horas

Minutos, segundos.

Olhávamos o nascer do sol

Apreciávamos a luz da lua

Contávamos estrelas

Estávamos sempre juntos.

Agora você está longe

O tempo não passa; os dias são anos,

As horas, meses; os minutos são semanas

E somente os segundos passam.

Ainda olho o sol

A luz da lua já não é como antes

Não conto mais estrelas

Só queria uma coisa: você, a minha querida lapiseira.

2 - Robô

Enfim nasceu entre barulhos, engrenagens e correntes em

movimento.

Sem gênero e com olhos feitos de lente,

Integralmente da cor de ferro e uma boca que não mexe.

E entre sorriso e vivas, chora mecanicamente e sem lágrimas.

O chip é o mais avançado que possui dentro da quase oca cabeça de

metal.

- Mmm-aa-mmm-ããã-eee!

- Coitado ele não pode mamar!

- Dê-lhe um litro de óleo semissintético e comemoremos.

- Ao futuro da humanidade!

- Ao futuro!

Enfim cresceu entre escapamentos de carros e a tal da nova

tecnologia.

Com o tempo veio o abandono quando os tais humanos

Deram atenção para a mais nova invenção.

Outro modelo surgiu entre o silêncio do ateliê de máquinas

E o primor de uma inovação.

Tinha a face do homem e o cérebro de máquina.

Tinha tato! Através de eletrodos e microssensores que o faziam

sentir! (O quê? Não sei!).

E pensava…

E tomava decisões…

Até fazia cara de raiva.

O outro?

Tornou-se passado, hoje enferrujado,

Caindo aos pedaços e sem funcionar.

Foi esquecido no tempo de uma era no qual foi o primogênito.

É digno do ser humano o não valor.

7

3 - Vida que passa

Mais um dia se passa.

Mais um dia se passa.

Mais um dia.

E onde estão aqueles anos passados,

Aqueles dias corridos, àquelas horas contadas,

Que o tempo não trará?

Onde está aquela lágrima sofrida,

Aquele olhar tristonho,

Aquele rosto molhado,

Que você não mais terá?

Onde estão aqueles gestos alegres,

Aquelas mãos quentes,

Aquele sorriso bonito,

Que você não mais dará?

Onde está aquele olhar perdido,

Aquelas palavras ditas,

Aquela vida vivida que não retornará?

Onde será que posso encontrar? Se é que posso.

4 - Dedicação

Queria ser o ar que você respira,

A luz que te ilumina,

O brilho do amanhecer.

Queria ser a água que você bebe,

A luz que te aquece,

O escuro do anoitecer.

Queria