Deixe-me Ir
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Deixe-me Ir - David Rodrigues
Ora, isso tudo é nada mais que desabafo, nada mais. Não há competição ou linha de chegada, não há conquistas ou qualquer outra coisa além do simples desejo de descarregar diversos sentimentos que, pouco a pouco, me sugam a energia e a vitalidade, me tornando, muitas vezes, uma caricatura tosca de uma felicidade ensaiada.
*Teatro*
Tu não me enganas.
Sentimos quando as coisas mudam
E o caminho nos foge aos pés.
Tu atuas uma encenação de interesse
Perfeitamente convincente,
Exceto os teus olhos que não mentem
Insistem olhar levemente em outra direção.
Mesmo assim pedes abraços apertados,
Declaras saudades, diz querer-me por perto,
Tentando conquistar algo em mim que não sou eu.
Ledo engano achar que me enrolas
Animal vacinado não contrai a mesma moléstia
Finges que me quer e eu finjo que acredito
Enquanto me distancio aos poucos
Até perceberes que teu teatro de nada valeu.
*Robô*
Enfim nasceu entre barulhos, engrenagens e correntes em movimento.
Sem gênero e com olhos feitos de lente,
Integralmente da cor de ferro e uma boca que não mexe.
E entre sorrisos e vivas, chora mecanicamente sem lágrimas.
O chip é o mais avançado que possui dentro da quase oca cabeça de metal.
- Mmm-aa-mmm-ããã-eee!
- Coitado ele não pode mamar!
- Dê-lhe um litro de óleo semissintético e comemoremos.
- Ao futuro da humanidade!
- Ao futuro!
Enfim cresceu entre escapamentos de carros e a tal da nova tecnologia.
Com o tempo o abandono quando os tais humanos
Deram atenção para a mais nova invenção
.
Outro modelo surgiu entre o silêncio do ateliê de máquinas
E o primor de uma inovação.
Tinha a face do homem e o cérebro de máquina.
Tinha tato! Através de eletrodos e microssensores que o faziam sentir!
(O que? Não sei!).
E pensava
E tomava decisões
Até fazia cara de raiva.
O primeiro
Tornou-se passado, hoje enferrujado,
Caindo aos pedaços e sem funcionar.
Foi esquecido no tempo de uma era no qual foi o primogênito.
É digno do ser humano o não valor.
*Passarinhos*
Eu não gosto de gritar com os passarinhos
Pois amo-os tanto
Eu odeio o cinismo em seu canto
Mas é necessário que eles saibam que existo e que sou igualmente especial.
Os seus encantos tornam-se desencantos,
Deixando de ser interessante ouvi-los.
Admiro-os tanto, mas seu chato canto
Faz-me tapar os ouvidos e não escutá-los mais.
Eu fujo e eles me perseguem,
Eu me escondo e eles me procuram,
Eu corro e eles voam.
Reclamam de meu canto e me falam que não é tão bonito como o deles,
Só não me ensinaram a cantar.
Que pássaros exibidos cuidam de mim!
Meu imperfeito canto cheio de notas desafinadas é onde encontro um pouco de paz
Que no canto dos pássaros já não existe mais.
Que saudades daqueles passarinhos que cantavam o amor e me ensinavam a sorrir,
Sonhavam alto, alto,