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Imagine!
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E-book469 páginas6 horas

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Sobre este e-book

Este livro é para despertar e elevar a consciência do leitor. Busque tomar consciência de que muita coisa neste mundo precisa melhorar e que temos a responsabilidade de realizar essa grande mudança, começando por nós mesmos. Entremeados numa história agradável e cativante, foram inseridos muitos conhecimentos, pesquisas, análises e previsões. Que toda a visualização da narrativa seja uma construção mental para o futuro da nossa Terra. IMAGINE, forme o seu ideal, realize!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de mar. de 2023
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    Imagine! - Carlos Alberto Ottoboni Pinho

    CAPÍTULO 1

    NA VIDA NORMAL

    Estava numa ótima fase da minha vida. Sentia-me bem produtivo, motivado e ativo, na função de professor universitário, no Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL, em Santa Rita do Sapucaí, estado de Minas Gerais, Brasil.

    O meu tempo era totalmente ocupado pelas atividades docentes, que incluíam preparar as aulas, geralmente em PowerPoint, ministrar as aulas para várias turmas de diversos períodos, fazer reuniões com os outros professores e coordenar os testes de transmissão 5G da telefonia celular. Estes testes foram designados pela ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), em razão de possuirmos equipamentos muitos precisos de medições de ganho de transmissão e de geração de pacotes de dados e uma equipe altamente preparada.

    Em família, morávamos em uma casa muito confortável, que projetamos e um amigo empreiteiro construiu. Minha esposa Mirian cuidava do pequeno de três anos, Felipe, e conduzia nosso filho maior, Marcos, de 12 anos, para a escola e suas atividades escolares, nas horas necessárias.

    Eu e Mirian ficávamos impressionados com a facilidade com que o Marcos assimilava e dominava os equipamentos de informática: computador, tablet e celulares. Parecia que já nasceu sabendo! O difícil era controlar o tempo que ficava concentrado nesses aparelhos, jogando games, fuçando o YouTube e comunicando-se com os amigos atrás de macetes e novidades. O jeito de fazê-lo se mexer passou a ser mandá-lo comprar alguma coisa na padaria ou no mercado, porque tinha que descer e subir o morro!

    Nossa casa era no bairro novo atrás do INATEL, de modo que sempre que tinha tempo suficiente, eu ia pra lá a pé. Era só descer uma rua reta que corria ao longo dos muros da escola e chegava no portão principal, depois de contornar o edifício do Diretório Acadêmico.

    Geralmente o professor Carlos aqui já era abordado por alguns alunos, assim que me viam subindo a rampa até o edifício sede, o que era sempre agradável em conviver com essa geração jovem e animada, sempre aproveitando para tirar suas dúvidas e saber das próximas matérias.

    Assim, a nossa vida de professor universitário e morando numa cidade do interior, agradável, tranquila e com bons amigos, era muito propícia para as atividades intelectuais. Outra faceta minha era o interesse constante pelos temas espiritualistas. Desde criança tinha essa atração por assuntos filosóficos e espirituais, embora tivesse o sentimento de que as religiões em geral não me satisfaziam na sede de evolução que eu possuía. Então, o sossego da cidade e do bairro era bem aproveitado nos momentos solitários, quando todos em casa iam dormir. A minha biblioteca estava sempre crescendo nas estantes e também nos meus arquivos em pdf e Kindle. Tinha a mente aberta para analisar cada tema que me caia nas mãos, sem acreditar de imediato. Pesquisava na internet, cruzando informações. Muitas vezes, deixava um assunto de lado por um tempo, para digerir e meditar sobre o mesmo. Depois, voltava ao tema já com nova base para qual direção deveria pesquisar. Era uma atividade mental saudável para mim, que se mostrou uma preparação mental fundamental para enfrentar o que me aguardava, sem enlouquecer.

    Pela internet, sempre que aparecia 5G isso saltava-me aos olhos e sempre ia ler do que se tratava. Via muitas denúncias de que a tecnologia 5G era usada para criar campos eletromagnéticos que afetavam a mente das pessoas. Não entendia como. E não entendia também as notícias da empreitada da SpaceX/Starlink do Elon Musk, de colocar 12.000 satélites ao redor do globo para criar uma Rede 5G mundial! E mais, a Telesat, a LeoSat, a Oneweb e a Amazon também!

    Devo aqui fazer uma descrição do meu físico, porque a história que vou relatar vai exigir essa noção de como eu sou. Então, tenho uma compleição física muito boa, graças aos esportes praticados na juventude, principalmente a natação. Já joguei futebol, mesmo sem ser grande craque. Vôlei e tênis, bastante também. Com 1,68m de estatura e 66 quilos, estou numa boa fase e com muita disposição. Meus cabelos são lisos e de cor castanho escuro, mas já com uns fios brancos nas têmporas. Engano bem, pois nos meus 46 anos de idade transpareço ter uns 35 anos.

    Naquela época, só fazia as minhas caminhadas para a escola e curtia a piscina do Country Club nos fins de semana de sol. Quando dava. Aliás, estava numa fase bastante agitada, com os testes do 5G. Uma atividade extra que me tomava bastante tempo, coordenando um punhado de alunos do último período e alguns professores, e sempre em contato com os gerentes da ANATEL, em Brasília. Fazia teleconferências com frequência.

    Mas, estávamos tendo um problema na transmissão e reconhecimento dos pacotes de dados, que era muito importante para a tecnologia 5G. Consultamos especialistas na Coréia do Sul e verificamos que os índices de performance de reconhecimento de dados dos pacotes não estavam coerentes. Havia uma inconsistência que causava uma taxa de erros inaceitável e uma latência acima de 1ms, que era o limite especificado.

    O CRR – Centro de Referência em Radiocomunicação, formado por 30 especialistas do INATEL, tinha resolvido brilhantemente a interferência que surgiu entre a banda 5G de 3,5GHz e alguns canais de TV via satélite, com uma solução de baixo custo para fabricantes e usuários. Conseguimos assim reduzir o adiamento do edital da ANATEL para o 5G, que ficou em só três meses.

    Mas tínhamos que resolver os problemas de transmissão que causavam a latência alta e erros, para que o sistema 5G nacional se enquadrasse nas especificações da ANATEL, mais exigentes do que a internacional, devido às características geográficas do Brasil. Isso era crítico em aplicações de IoT (internet das coisas). E também era importante para o alcance especificado para as áreas rurais, que deveria ser de até 50Km, ao invés de 5 a 10Km, que era o usual em torres de celular. Após várias reuniões, resolvemos levar o problema, com todos os dados reunidos, a um especialista em transmissão de alta velocidade em fibras óticas, que era o Dr. Jacy Fontes, da UNICAMP, em Campinas. Ele e sua equipe provavelmente já tinham enfrentado problemas semelhantes e revendo os caminhos percorridos por eles, era bem possível descobrirmos a causa e a solução para o nosso problema. Pedi aos meus colegas da equipe para imprimir e salvar em pendrive toda a documentação reportada sobre o problema. Não podíamos ficar travados por mais tempo.

    Avaliando o calendário de aulas e provas, e mais essas outras atividades minhas, achei uma brecha de cinco dias no início do mês de julho, sem provas nem reuniões marcadas, que dava para ir a Campinas. Estávamos no meio do mês de junho de 2020, e haviam diminuído as exigências do período de quarentena causado pelo coronavírus Covid-19, que surgiu na China. O mundo todo foi paralisado para evitar a propagação do vírus e aqui no Brasil as ações do governo mostraram-se muito eficientes para frear a elevação da curva dos casos de contaminação. 

    Santa Rita, por ser uma cidade pequena do interior, só teve 2 casos suspeitos que não se confirmaram positivo para o vírus. De modo que nossa vida foi pouco afetada naquele período, somente tendo sido suspensas as aulas por dois meses. Uma sobrecarga de trabalho caiu no colo dos coordenadores dos cursos, para refazer todo o cronograma de aulas e provas, para o restante do ano. Os nossos compromissos com a ANATEL não sofreram descontinuidade. Trabalhávamos de máscara!

    Tínhamos o sentimento de orgulho por estarmos participando de uma nova tecnologia que iria impactar sobremaneira a aplicabilidade da internet, por estarmos bem no centro do polo chamado Vale da Eletrônica do Brasil e por produzirmos tantos trabalhos acadêmicos de relevância para a evolução tecnológica.

    Eu não sabia que um enorme choque cultural me aguardava...

    CAPÍTULO 2

    A VIAGEM

    Depois de tudo combinado com o Dr. Jacy Fontes, tinha a certeza de que os cinco dias reservados para estudar o problema do 5G seriam bastante proveitosos. Reservei um hotel em Campinas, situado perto da UNICAMP e combinei com Mirian as providências dos próximos dias, para poder me ausentar sem faltar nada em casa.

    Negociei com os coordenadores dos cursos em que eu dava aulas as substituições de algumas aulas por outros colegas professores. Era bom sentir o espírito de equipe que norteava o nosso ambiente de trabalho. Realmente estávamos em uma ilha protegida das vaidades e competições que existiam em outras empresas, ou pior, que eram a regra e a cultura geral do mundo corporativo. Nunca entendi isso, porque nos níveis de atividades produtivas, isto é, abaixo das chefias, o ambiente era sempre de colaboração e amizade verdadeira. No nosso ambiente universitário, até as chefias trabalhavam nesse espírito. A única concorrência que havia era durante as competições de robótica, onde as equipes de várias escolas e universidades colocavam suas obras primas para enfrentarem entre si, em várias categorias.

    Na internet vi a notícia de que haveria um eclipse lunar no dia 5 de julho. Pensei: que interessante! Vai ser no dia da viagem!

    Nos testes do 5G, para ganharmos tempo, procuramos direcionar os trabalhos para as medições de ganho de sinal em diversas condições de visada, já que a topografia de Santa Rita é bastante acidentada, com muitos morros. Assim, íamos simulando uma série de condições, com obstáculos físicos maiores e menores, conforme a elevação em que colocávamos os receptores.

    Depois de aplicar algumas provas e corrigi-las, chegou finalmente o dia da viagem para Campinas. Tive alguns contratempos naquele dia, que me atrasaram bastante. Só atividades corriqueiras, mas que me tomaram tempo. Assim, só consegui sair da cidade pelas 6 horas da tarde, já anoitecendo.

    O planejado era seguir até o entroncamento da rodovia Fernão Dias, no acesso para Pouso Alegre, e virar no rumo de Atibaia. Lá chegaria no entroncamento para virar para Campinas, entrando na Rodovia Dom Pedro I. Um trajeto conhecido que levava cerca de duas horas e meia. Portanto, deveria chegar no hotel antes das 23 horas. Não pensava em parar, mas dependendo das condições da bexiga podia ser necessária alguma parada.

    Evidentemente, quando cheguei no cruzamento da Fernão Dias já estava de noite. Dirigia meu Corolla tranquilamente, ouvindo, ora minhas coleções de MP3, ora procurava alguma rádio FM que tivesse no trecho da estrada, só para diversificar e não ficar monótono.

    Já era perto de 19:40 horas quando cheguei no pedágio de Vargem e meu Veloe funcionou direitinho, passando sem parar. Era um motivo a menos de ansiedade não ter que catar os trocados para pagar os pedágios. A viagem fluía muito tranquila. Era seguir até Atibaia.

    Logo depois do pedágio há um trecho de vários quilômetros sem postos nem vilarejos. De repente senti como se os faróis tivessem queimado, porque não estava enxergando nada! Diminui a velocidade porque estava totalmente inseguro e em seguida tive que parar. Que estranho! Pensei. Tentei focar minha vista aproximando-me do volante e nada...Pensei: será que é o tal do eclipse? Saí do carro e olhei para o céu. Não via nada, estrelas, lua, tudo um breu só. Andei uns passos à frente do carro para senti onde estava o acostamento da estrada e não consegui ver. Quando olhei para trás, levei um susto enorme! Não vi o carro! Então, tomei consciência de que não ouvia a música do rádio também! O que está acontecendo? Gritei...

    Aí senti uma leveza no corpo, mas não dei um passo sequer, pois não sabia onde estava pisando. Que situação estranha...Olhava em volta e estava tudo escuro. Não dava para ver onde era o chão e onde era atmosfera. Comecei a ficar nervoso. Calma, pensei! Use a sua cabeça, não adianta apavorar. Falei para mim mesmo. Não passava nenhum veículo, era um silêncio total. Chegou-me o sentimento de que não sabia mais onde estava... Os segundos passavam como uma eternidade e só tinha noção de tempo com a minha própria respiração ofegante.

    Fiquei cego? Fiquei louco? Calma! Um turbilhão de pensamentos corria velozmente pela minha mente, mas eu tentava me acalmar. Raciocine! Estou leve, mas sinto o peso da gravidade. Apalpei-me e senti meu corpo íntegro. Bem, estou vivo! Já é alguma coisa! Pensei. Não sofri acidente, portanto, estou inteiro. Mas onde está o carro? Onde estou? Era como se estivesse no espaço infinito, sem luz alguma, mas sentindo que tinha algum peso. As leis da física não estão funcionando direito, pensei. Se eu fosse só alma não estaria sentindo o peso...tinha um chão para pisar...

    Continuava parado no lugar, sem saber qual. Só via o meu próprio corpo se olhasse bem de perto, quer dizer, só os braços e as mãos...continuava respirando, sentindo o ar entrar e sair dos pulmões.

    O sentimento era de estar vivo na imensidão do espaço, na escuridão do universo, sem ver sequer uma estrelinha! Não sei quanto tempo se passou naquele impasse. Parecia que o tempo havia parado. Só tentava me acalmar e raciocinar.

    Depois de um tempo, pareceu-me que alguma coisa estava se modificando. Não sabia o que, mas procurei aguçar meus sentidos e com olhos bem abertos aguardava alguma coisa. Aí percebi que o ar começava a clarear, vindo luz não sei de onde.

    Muito lentamente a luz começou a preencher o ar, criando uma névoa sutil ao meu redor. Mas continuava sem ver nada. Mantive a calma e procurei observar o que era aquilo. Aos poucos parecia que o ar estava ficando mais leve e então respirei fundo, enchendo bem os pulmões, para ficar mais alerta. Em seguida, comecei a ver a diferença entre o ar e o chão. A impressão que dava era que o terreno ia entrando no foco aos poucos. Então, fiquei prestando atenção ao solo e vi os meus pés com os tênis que calçava. Em seguida, percebi que estava pisando alguma grama ou mato baixo, porque era verde. Foi a primeira cor que vi depois desse tempo todo!

    Quando levantei os olhos a cena tinha evoluído e agora existia uma linha de horizonte muito vaga e o céu, aos poucos, começou a ser visto com um azul bem esbranquiçado. Virei a cabeça procurando ver ao meu redor e só via verde indefinido. Bem, pensei, as coisas estão evoluindo...

    Pacientemente fui observando as coisas e cheguei a uma bela conclusão: estava em algum lugar que não era a estrada! Pensei na minha família. Talvez já devesse ter chegado a Campinas e nada de notícias minhas. Lembrei do celular. Tinha ficado dentro do carro que sumiu...Estava só e sem recursos para me comunicar.

    Finalmente fui percebendo que à minha volta tudo era verde, era mato. Alguns arbustos apareceram perto de mim e vi que o terreno era bem plano e que o horizonte estava ficando mais claro e visível. Parado no lugar, me vi no meio da natureza e até onde conseguia ver não havia sinal de civilização, construções, cercas, nada mesmo. Apareceram alguns morros aos longe, de ambos os lados, portanto, eu estava em um vale. Tudo era verde de vegetação e os detalhes iam surgindo aos meus olhos bem abertos. Nenhum sinal de estrada e do meu carro. Me veio a pergunta na minha mente: estava eu no mesmo lugar, antes de ter estrada? Estava em outro tempo?

    Agora estava vendo tudo nitidamente. Conferi minhas roupas: eram as mesmas. Se fui para outra dimensão, pelo menos não cheguei nu! Pensei, tentando me divertir um pouco. Comecei a dar uns passos para sentir o solo e estava tudo normal para uma roça! Mas de onde? Fui andando sem saber que rumo tomar, pisando naquela relva baixa e o sol brilhou no topo de um morro. Estava amanhecendo! A primeira referência de tempo! Uma linda manhã de céu azul! O azul do céu estava espetacular! Não estava frio nem quente, sentindo a brisa que escorria pelo vale. O ruído branco do vento somado ao azul do céu e o verde da relva me acalmavam e então respirei fundo para energizar-me por inteiro. Foi o que me salvou de um colapso.

    CAPÍTULO 3

    O SALTO NO TEMPO

    Prestando atenção onde pisava, percebi, então, um ruído diferente da brisa. Foi aumentando sem eu atinar de onde vinha. O ruído aumentou com uma frequência baixa que ia subindo com o efeito Doppler. De repente, passou sobre minha cabeça um veículo que nunca havia visto! Era um ônibus voador! O ruído foi diminuindo, mas o meu coração não! Caí sentado no chão de tanto susto! Aquela coisa passou voando bem baixo, a uns vinte metros do solo. Por isso apareceu tão de repente! Levantei-me do chão e procurei o objeto no céu. Já tinha sumido! Que velocidade, pensei. Era algo completamente desconhecido para mim. Como pode um ônibus voar!

    Sacudindo minha calça tirando as folhas que aderiram no contato com o solo, retomei a caminhada para não sei onde. Olhei meu relógio e marcava 7:32h. Será que era a hora real? Pensei. Após muitos minutos e algumas centenas de metros percorridos no meio daquele vale desconhecido, levei outro susto!

    Surgiu, vindo da direção para onde o ônibus foi, uma nave de perfil horizontal fino, brilhando com cor metálica ao sol. Ao aproximar-se constatei que era em forma de disco voador. Meu Deus, eu estou no futuro! Vinha em velocidade mais baixa do que o outro veículo, pelo meio do vale. Ao se aproximar mais de onde eu estava ele foi diminuindo a velocidade, voando a cerca de dez metros de altitude, até que parou no ar sobre mim!  Não fazia ruído algum, tinha umas luzes piscantes na beira de todo o seu diâmetro e saindo de cima de onde eu estava, foi descendo devagar, e antes de tocar o solo surgiram três sapatas de pouso, que assentaram deixando a nave perfeitamente na horizontal, estacionando a uns dez metros de mim. Com um som mecânico suave desceu uma escada, por baixo, que parou bem perto do solo, sem tocá-lo. Então, tinham me achado!

    Aguardei uns momentos e desceu da escada um homem de uniforme cinza claro com alguns detalhes amarelos. Quando seu rosto ficou visível achei bem normal. Pelo menos não é um ET, pensei... Deu uns três passos na minha direção e parou, parecendo estudar a minha reação. Como não manifestei nada pois o estava estudando também, ele fez um gesto de cumprimento levantando a palma da mão direita na minha direção. Fiz o mesmo para ele, com um ligeiro movimento com a cabeça. Então ele falou alguma coisa que não entendi. Não era o nosso português, com certeza. Vendo que não entendi, fez um gesto para chegar perto e foi o que fiz, sem hesitação, pois me pareceu amigável. Ele pegou de um bolso lateral da calça um aparelhinho cinza, comprido como um controle remoto de TV. Apertou algum botão e fez gestos para mim, mas não entendi. Repetiu três vezes, até que eu captei que era para falar alguma coisa, que ele iria gravar. Então falei:

    - Já que não nos entendemos vamos usar a linguagem da mímica!

    Ele pareceu satisfeito, olhou no visor do aparelhinho, apertou outros botões e então ouvi a minha própria voz falando a frase no idioma dele! Visivelmente contente, ele se aproximou me dando o aparelho, enquanto me mostrava um botão para eu usar quanto falasse. Foi o que entendi.

    Então, resolvi testar o dispositivo e falei:

    - De onde você vem? Como me achou? - Soltei o botão.

    Imediatamente o aparelho repetiu o que eu falei, na língua dele! Ele entendeu fazendo sinal com o polegar e fez um gesto para eu apontar o aparelho para ele. Ele respondeu, traduzido pelo dispositivo:

    - Amigo, venho da cidade de Serena. Você foi detectado pela nave de passageiros que passou antes. Avisaram à segurança que parecia haver alguém perdido no mato. E como eu estava no plantão, vim rápido no meu Velocim, conferindo as coordenadas que me foram passadas sobre a sua posição. E você, o que está fazendo aqui?

    Apertei o botão e falei:

    - Nem sei como explicar... eu estava numa estrada e agora estou aqui. Não sei o que aconteceu comigo. - Ele fez uma expressão de estranheza e perguntou:

    - Estrada? O que é isso?

    Meu Deus, ele não sabe o que é uma estrada! Pensei, já concluindo por tudo que vi até então que eu estava no futuro! A minha respiração travou...fiquei lívido, a circulação sumiu das minhas mãos!

    Aqueles veículos só andam pelo ar, não precisam mais de estradas! Estando visivelmente abalado, o homem uniformizado chegou-se a mim e tocando o meu ombro fez sinal para eu entrar na nave dele, o tal Velocim. Raciocinei: não tenho mesmo outra opção senão aceitar a ajuda dele. Não quero ficar no mato a vida toda...

    - Qual o seu nome? - Me perguntou.

    - Chamo-me Carlos, e você? - Apertando e soltando o botão do controle remoto.

    -  Meu nome é Vander, sou da equipe de segurança geral.

    Conferindo se eu estava bem, convidou-me a subir a escada da nave, que era bem estreita e bem firme para algo que não se apoiava no chão.

    A nave tinha as dimensões de uns 10 metros de diâmetro e na parte central, mais alta em cima formando uma cúpula, tinha cerca de 3,5 metros de altura de perfil. Dentro daquela nave havia uma saleta redonda de 3 metros de diâmetro, com três poltronas. Uma delas era evidentemente o posto do piloto, porque tinha um painel na sua posição, com um pequeno console saindo da parede. As outras duas formavam um triângulo com a do piloto, estando igualmente afastadas. Não havia janelas. A abertura da entrada ficava no chão entre as poltronas. Sentei-me na que estava à direita e vi que não havia cinto de segurança. Muito confortável, o que contribuiu para me acalmar. Respirei fundo e fiquei a observar tudo que o meu novo amigo fazia. Aproximou sua mão esquerda do painel e a porta do chão fechou-se recolhendo a escada, deixando o assoalho liso.

    Ele sentou-se no seu posto e falou alguma coisa olhando o painel, onde apareceu um rosto feminino. Pelo jeito estava comunicando que tinha encontrado alguém e que estava voltando. Esqueci de usar o aparelho que estava na minha mão! Apertei o botão:

    - Amigo, para onde vamos? - Ele olhou para o meu lado, pensou um pouco e respondeu:

    - Acho melhor leva-lo ao hospital. Você está com fome?

    Fiz cara de não saber, olhei para o meu relógio tentando calcular a quanto tempo não comia nada. Desisti. Ele abriu uma gaveta metálica na sua esquerda e pegou um pacote branco parecendo aquelas bandejas de supermercado e me deu. Havia algumas coisas impressas na sua tampa. Tentei ler. Algumas palavras eram parecidas com o português ou o inglês: lanche, emergência... Havia o símbolo de não descartável e o sinal de abra aqui. Enquanto abria cuidadosamente a embalagem, o meu companheiro me estendeu um saquinho flexível com tampa. Entendi que era algum líquido. Tinha uma foto de um maracujá. Bom para me acalmar, pensei. Dediquei-me a saborear aquilo. O alimento parecia um rocambole no formato, era salgado e senti o gosto de frango, pareceu. O suco era bem gostoso! Saboreei calmamente.

    Não senti se o Velocim estava se movendo, mas o meu novo amigo tinha virado a sua poltrona na minha direção e me observava. Devolvi as embalagens vazias e ele as empurrou na parede abaixo daquela gaveta, abrindo uma tampa que se fechou em seguida.

    - Sente-se bem? - Ele falou.

    - Estou perfeito, mas com a cabeça rodando de tantas perguntas que me agitam a mente. Claro que não sou deste lugar e acho que nem deste tempo. Estou procurando me controlar, mas estou agitado por dentro. - Soltei o botão do controle remoto e ele respondeu:

    - Calma, você será bem tratado. Vamos ver o que aconteceu com você. Lá você receberá toda ajuda psicológica que precisar. - O aparelho traduziu.

    - Estamos a caminho?

    Ele fez uma cara de surpresa e então acionou um botão no console. Aí sim fiquei espantado! A parede em forma de cúpula ficou totalmente transparente e vi a paisagem correndo pelos lados! Estávamos em alta velocidade e nem sentíamos! Voávamos baixo, a uns cem metros, no máximo.

    Haviam se passado uns cinco minutos e o homem voltou a se concentrar no painel. Percebi que estávamos chegando a algum lugar, pela redução da velocidade. Apareceu um prédio cheio de varandas, de uns oito andares e cerca de duzentos metros de comprimento. A nave contornou-o e aí apareceu um pátio bem pavimentado e descemos ali. As paredes voltaram a ficar opacas e reparei que pareciram metálicas! Como pode um metal virar vidro? Pensei e observei a iluminação de dentro da nave. Tudo era iluminado, mas não se via lâmpada alguma. De onde será que vinha a iluminação? Então, veio uma luz do chão. Era a porta com a escada que estava se abrindo. Nem vi se o piloto acionou algum botão ou se era automático...

    Ele desceu primeiro e gesticulou para eu descer. Ao sair da nave senti no rosto uma agradável brisa, que me despenteou o cabelo. Enquanto passava a mão na cabeça para ajeitar o penteado e me recompor, o amigo piloto já foi se dirigindo à entrada do hospital, no que o acompanhei. Não era a entrada principal, mas uma de serviço, pois passando por um corredor largo demos em um imenso hall com um envidraçado enorme, que compunha a fachada oposta principal. No percurso, cruzamos com alguns funcionários típicos de hospital, sem nada de especial.

    Como todo bom hospital, havia um imenso balcão de atendimento com moças uniformizadas de azul claro. O meu amigo chegou na direção de uma delas e conversaram alguma coisa, olhando para mim. A moça, muito simpática, também olhou para mim e consultou uma tela na sua frente, percorrendo com o dedo indicador alguns campos e, perguntando coisas ao amigo piloto, foi fazendo o meu cadastro.

    Aproveitei para dar mais uma olhada em volta pelo hall. Era todo acarpetado em cor creme, e havia algumas ilhas envidraçadas nos cantos, totalmente redondas e com vidro sem emendas. Dentro dessas ilhas havia arbustos pequenos e pássaros! Que lindos eram: multicoloridos, de vários tamanhos e emitindo uma melodia totalmente harmônica!

    Meu amigo Vander me tirou daquela divagação encantadora, tocando-me o braço para acompanhá-lo. Dei um tchau pra moça e segui-o. Depois de um corredor chegamos em outro hall com uma rampa que parecia estar no ar. Era bem suave sua inclinação e valeu como exercício para os músculos ainda tensos. Era totalmente branca, inclusive os corrimãos, com uma vidraça igual a da recepção. Subimos dois andares e acompanhei os passos do meu amigo piloto pelos corredores muito limpos, sem macas e equipamentos hospitalares pelo caminho. Estávamos em uma ala sem atendimentos médicos corporais, pelo que deduzi, tipo pacientes acamados, tomando soro, fazendo curativos...

    O Vander parou diante de uma porta com uma placa onde li alguma coisa como psicológico e Dr. Milton Vallas. Ele entrou fazendo sinal para eu aguardar. Ao abrir a porta vi um típico médico de jaleco, de relance. Após um minuto, o Vander surgiu me chamando para entrar. O médico me cumprimentou e acenou para eu sentar.

    - Sou o Dr. Milton Vallas e você, então, é o Samuel Tompking! - O aparelho me traduziu.

    - Heim?! Samuel? Há algum engano aí! Como vocês vão me dando um nome sem nem me perguntar? O meu nome é Carlos Ribeiro! - Falei indignado.

    - Calma meu amigo! – O aparelho foi me traduzindo – Lá na recepção foi realizado o seu escaneamento, conferindo seu tipo físico e também sua identificação. Tudo já está disponível aqui no meu terminal, então eu sei quem você é. O sistema nunca falhou.

    - Há algum engano – Respondi – Primeiro: eu nunca estive neste lugar. Segundo: ninguém viu minha identificação. Terceiro: estou aqui para me situar onde estou e não para ter mais confusão na minha cabeça! O meu nome é Carlos. Aguardei o aparelho traduzir tudo para ele.

    O Dr. Milton parou para pensar e ficou me analisando por um momento. Respirou fundo e voltou a falar:

    - Meu caro, então vamos começar do começo. Conte-me a sua história, o que ocorreu contigo, por que você estava no meio do mato. Pode me relatar?

    - Claro!

    Descrevi o dia de ontem desde que saí de casa, a viagem, a escuridão total e o novo lugar onde apareci. Evidentemente eu dei um salto no tempo, não sei como. Ou fui para outra dimensão. Aguardei que o doutor avaliasse tudo e fiquei na ansiosa expectativa de que ele me explicasse o que aconteceu.

    O doutor meditou por um momento, depois consultou o terminal, tocando a tela em diversos pontos, ficou a ler algum texto um tanto longo e fez algumas anotações no papel que estava na sua frente. Chamou outra tela e conversou com outra pessoa. Compreendi que estava consultando um outro doutor. Depois a tela ficou preta.

    Não demorou 30 segundos e bateram na porta.

    - Entre! - Disse o doutor Milton.

    Realmente um outro doutor entrou, cumprimentou o colega e olhou para mim. Pediu para eu ficar de pé, pelo gesto que fez. Apalpou a minha roupa, abaixou a pestana do meu olho esquerdo, olhou-me bem nos olhos e apalpou toda minha cabeça, passando os dedos por baixo dos cabelos. Eu, pelo meu lado, estava atento a tudo que ele fazia, todas as expressões do seu rosto tão próximo e tentando me manter calmo. Esse doutor transparecia bondade no olhar. Finalmente ele falou:

    - Dr. Milton, vamos fazer um exame mais profundo neste paciente. Vamos ter um panorama completo do seu cérebro! Vou leva-lo ao Syncrolab.

    - Muito bem, doutor Sinvano. Vou acompanhar tudo daqui. - E apontou para a tela.

    Saí da sala com o dr. Sinvano, sem largar do controle Remoto. Aliás, nem lembrei de perguntar para o piloto se era para ficar com isso. Estava sendo fundamental tê-lo comigo, para entender direito tudo que falavam. Interessante que percebia muitas semelhanças nas palavras daquele idioma, com o nosso português. Havia uma raiz comum, alguma coisa que soava familiar. Pensei comigo: não vai ser difícil aprender essa língua.

    Caminhei com o dr. Sinvano até o final do corredor, passamos por uma porta de vidro que abriu automaticamente ao aproximarmos e surgiu uma sala com diversos equipamentos moderníssimos, lindos mesmo, todos brancos. Uma limpeza absoluta, tudo brilhava. Ele tomou pelo meu cotovelo e me direcionou a um tipo de equipamento que tinha uma poltrona reclinável e um capacete branco. Entendi que era o tal Syncrolab para analisar meu cérebro. Parecia um daqueles secadores de cabelo de salão de beleza, mas era muito mais bonito e confortável!

    Sentei-me e ele logo ajustou a altura e inclinação, como nas cadeiras de dentista, e fiquei com a cabeça recostada, mas com o topo acima do encosto. O capacete era todo articulado e foi fácil para ele encaixá-lo perfeitamente na minha cabeça.

    - Está confortável? Alguma coisa te incomoda? – Fiz sinal com o polegar que estava tudo ok.

    - Procure não se mexer. Não vai demorar muito. Respire normalmente. - E saiu da minha vista.

    O hospital era bem silencioso, mas dentro daquele capacete era um silêncio total. Eu ouvia a minha respiração com nitidez. Pensei então: meu Deus! Onde é que eu vim parar? Lembrei-me lá de casa, da Mirian e das crianças... o que será que estão sentindo sem notícias minhas? Bateu uma tristeza e minha pulsação aumentou. Ouvi-a também, agora. Respirei fundo. Era o meu exercício para me acalmar. Puxava o ar, prendia-o por alguns momentos e soltava devagar. Repeti várias vezes. Estava de olhos fechados, quando um estalo me chamou para a realidade.

    Era o Dr. Sinvano puxando o capacete da minha cabeça. O exame havia terminado. Ele parecia tranquilo e confiante. Acho que o resultado do exame foi satisfatório para ele, pensei.

    Para minha surpresa ele me puxou pelo braço até outro equipamento. Desta vez era uma espécie de cama, com uma enorme tampa de vidro por cima. Fez-me deitar dentro dela e fechou a tampa. O ar circulava de alguma forma, pois não deu sensação de abafamento. Não se passou nem cinco minutos e o Dr. Sinvano abriu a tampa e me mandou sair. Não senti nada dentro daquilo.

    Voltamos para o consultório do Dr. Milton. Ele também parecia satisfeito. Não acharam nada de grave em mim, conclui. Eu o Dr. Sinvano sentamo-nos e ele deu seu laudo:

    - Nosso amigo Carlos está perfeitamente bem. Até detectamos um estado emocional mais intenso durante o exame, que foi bem controlado por ele mesmo! Os dois doutores voltaram-se para a tela do terminal e trocaram algumas palavras em voz baixa. Depois de assentir com a cabeça o Dr. Milton falou:

    - Carlos, está tudo bem. Mas precisamos da sua decisão:  você quer voltar para casa ou acha melhor ficar aqui no hospital por alguns dias?

    - Como? Eu não tenho casa aqui neste lugar! Ainda não entenderam? Eu não tenho para onde ir! Que solução vocês me dão?

    Eles trocaram um olhar e o Dr. Sinvano então disse:

    - Amigo, vamos providenciar para você ficar aqui no hospital até acharmos uma saída com as autoridades competentes. Está bem assim?

    Olhei para eles, suspirei e concluí:

    - Agradeço a compreensão dos senhores. Não tenho nada comigo, roupas, documentos, nada mesmo. Se o hospital me disponibilizar meios para eu cuidar de mim e alimentação, acho que ganharemos tempo para encontrarmos uma solução viável para mim e para vocês. Não sei quanto tempo fico aqui neste lugar e sequer se poderei voltar para onde vim. Mas não quero ser um peso para vocês e sua organização.

    - Ótimo! - Disse o Dr. Sinvano - Poderíamos conseguir alguma acomodação na cidade, para você. Mas aqui no hospital temos vagas e poderemos monitorar e acompanhar você. Acho que será muito interessante você contar com a ajuda psicológica que podemos lhe dar. Concorda?

    - Tá, estou perfeitamente bem, mas tenho que entender como vim parar aqui. Conto com a assistência de vocês.

    Senti-me bem acolhido. Era um sentimento bom, sentir-me compreendido, mesmo que não tivessem ainda respostas para minhas perguntas...

    O Dr. Sinvano levantou-se e pediu-me para acompanha-lo. Levou-me pela rampa branca ao andar seguinte, o terceiro, e no meio de uma ala parou em um balcão de granito, onde estava uma enfermeira. Trocou algumas palavras com ela e consultando a tela diante de si ela indicou o quarto 302, com o dedo. Ela disse:

    - Está comigo então. Vou providenciar roupas e ele pode tomar um bom banho. O almoço para ele...Carlos, deve chegar as duas horas.

    Sem saber que horas eram naquele momento, olhei em volta e vi um relógio digital na parede do fundo da sala. Indicava 1:05.

    Então, o Dr. Sinvano me cumprimentou e desejou-me:

    - Carlos, fique à vontade aqui. Qualquer coisa interfone do quarto. Você está bem assistido por elas. Volto a vê-lo no final do dia, até!

    Enquanto ele virava-se para ir embora, a enfermeira levantou-se e contornou o balcão.

    - Eu me chamo Clara. Vou leva-lo ao quarto, Sr. Carlos, e conseguir as coisas que você precisa. Não tem nada mesmo com você?

    - Nada... - Ela saiu andando e fui atrás.

    Parecia a competência em pessoa. Muito segura e calma. Chegou no quarto 302, abriu a porta para eu entrar e me mostrou o

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