Como Lidar Com O Luto
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Como Lidar Com O Luto - Frederico Yamada
Apontamentos de um psicólogo sobre o luto e perdas de pessoas queridas
Como lidar com o luto
Por Frederico Yamada – Terceira versão em maio de 2021
Dados para citação:
YAMADA, Frederico (2020). Como lidar com o luto: Apontamentos de um psicólogo sobre o luto e perdas de pessoas queridas. I e II Edição independente de 2020. III Edição independente de 2021.
Resumo:
O luto faz parte de nossas vidas e invariavelmente aparece na vida de todos nós. Talvez você esteja experimentando a perda de uma pessoa querida, ou o final de um relacionamento. Talvez você esteja pensando em desistir. Talvez você precise ajudar um amigo ou como um profissional a alguém que esteja passando por esta fase. Aprenda a ajudar uma pessoa ou a si mesmo a atravessar este momento delicado, a suportar a perda e a seguir em frente.
Palavras-chave:
luto – entendendo – cuidando de si mesmo – apoio – cinco estágios do luto – confortando – técnicas – separação – saúde mental – amizade – enlutados – animais – kübler-ross - tragédias – desastre natural – perdas – arrependimentos – morte
Atenção!
Todos os direitos reservados à Frederico Yamada.
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Respeite o direito autoral.
É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer isso. A tristeza é melhor do que o riso; pois a tristeza faz o rosto ficar abatido, mas torna o coração compreensivo. Quem só pensa em se divertir é tolo; quem é sábio pensa também na morte.
Eclesiastes 7:2-4 NTLH.
Dedico este livro à morte e à vida; ao meu falecido pai que me deu a vida e serviu de exemplo; à minha mãe, que me incentivou à criação desta obra; à minha amada esposa que me encanta e me impulsiona a ser uma pessoa melhor; e à Luna, Colt e Clint que alegram os meus dias.
Índice
Introdução
1. O que é o luto.
2. Entenda o SEU luto.
3. Aprenda a encarar seus sentimentos
4. Sobre o tempo
5. Como lidar com lembranças
6. A importância de expressar seus sentimentos
7. Mantendo sua própria saúde
8. Afaste-se de pessoas negativas
9. Introdução às 5 fases do luto
10. Negação
11. Raiva
12. Negociação ou barganha
13. Depressão
14. Aceitação
15. O mindset chave para vencer as 5 fases do luto
16. Introdução às temáticas pontuais
17. Como superar uma separação
18. Como terminar um relacionamento de forma saudável
19. Controle as recaídas por sexo
20. Como superar um amor platônico
21. Superar o fim de uma amizade
22. Como se preparar para a perda e se comportar nos momentos após o falecimento
23. Na ocasião do velório e funeral
24. Cartas, elogios e tributos fúnebres
25. Sobre a perda de avós, esposos e irmãos
26. Lidando com a morte de um animal de estimação
27. Como superar e ajudar amigos que perderam bens materiais
28. Problemas graves que podem surgir em decorrência do luto
Cap. Bônus: O que os maiores arrependimentos no leito de morte nos ensinam sobre viver
Referências Bibliográficas
Sobre o autor
Introdução
Em minha dedicatória para este livro, recorri a licença poética para dedicá-lo à vida e a morte. Explico, à vida pois minha mãe, esposa e até mesmo meus animaizinhos de estimação são seres queridos que me são combustíveis para levantar da cama todas as manhãs e prosseguir com a minha vida da melhor maneira possível, confiante, alegre e determinado. Já a morte refere-se especificamente ao meu falecido pai, a primeira grande perda, o meu primeiro grande luto que vivenciei como ser humano.
Perder um pai em uma idade tão nova, provocou-me mudanças significativas que me trouxeram confusão, medo e ansiedade em minha personalidade. Nossos pais assemelham-se (para a nossa psiquê) a deuses indestrutíveis
quando se é muito novo e acredite, não se sai ileso ao se testemunhar a morte de um deus
.
No entanto podemos nos transformar, assim como transformar a dor da perda em saudade, a lembrança em combustível. Obviamente que experienciar esta morte tão importante em minha vida se traduziu neste livro, assim como voltar de certa forma a experienciá-la em cada paciente em meu consultório clínico, com suas histórias de vida relacionadas ao luto.
Se você como eu é um terapeuta e precisa talvez encontrar uma nova visão sobre o assunto, este livro é para você. É para você que como eu precisa traçar o mínimo de alguma metodologia para seu trabalho com pacientes e clientes.
Mas se você ao contrário é a pessoa pela qual está passando por um momento de dor, luto e separação, situações onde se vê privado de seus entes queridos, se está enfrentando todo o cansaço emocional advindo deste momento, este livro também é para você! É especialmente para você! Pois nada me alegraria mais ao saber que pude ser de alguma ajuda para que você passasse por esta fase encontrando algum tipo de conforto com meu trabalho. É assim afinal que espero honrar meus mortos
, ajudando o quanto puder para que outros atravessem esta delicada jornada.
1. O que é o luto
Segundo Freud (1916) luto é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade, o ideal de alguém e assim por diante
.
Em resumo, luto não é somente quando perdemos
alguém para a morte, podemos experimentá-la de diversas maneiras, como a perda de uma amizade ou o final de um casamento.
Destaquei a palavra PERDEMOS, isto é, perda, pois a idéia de finitude ante o final da vida é um conceito tipicamente ocidental¹, pois no oriente influenciado principalmente por religiões como o budismo, hinduísmo entre outros, acredita-se na continuidade da vida de alguma outra maneira, pós o fim do corpo carnal como o conhecemos.
Não é a proposta deste livro adentrar conceitos filosóficos como a vida após a morte ou processos reencarnatórios
o leitor crendo ou não nestes conceitos. Mas acredito que a reflexão chave que amarra todo o por quê
deste livro se situa um pouco nos conceitos orientais de transformação
e não de fim ou perda. Afinal o intuito de todo o processo de luto, o seu objetivo último, é tornar um pouco mais suportável a angústia e a dor advinda desta condição, transformá-la em saudade ou ressignificá-la para algo mais tolerável, valorizando-se experiências e reflexões transformadoras que podem advir deste processo, nos tornando indivíduos mais maduros e conscientes sob diversos aspectos de nossa vida.
¹Ou mais acentuado no ocidente, caso o leitor argumente que muitos conceitos cristãos também falam sobre vida após a morte e sobre ressurreição.
Resumo do 1o capítulo:
1 - Luto é a reação que apresentamos diante da morte ou da separação, isto é, da privação da companhia de um ente querido ou de uma situação confortável. Exemplos, morte de um parente, brigas irreconciliáveis
de amizades ou separação de um casal.
2 - O final desejado do processo de luto não é o esquecimento da separação/perda, mas sim ressignificá-la para: uma saudade sadia, uma boa lembrança, etc. Mesmo que ainda resida ali uma certa tristeza passageira, que não implique em estagnação emocional e de atitudes na vida do sujeito.
2. Entenda o SEU luto
Você provavelmente já ouviu alguém se queixando de ter realizado algum trabalho braçal ou de ter exagerado em suas atividades na academia esportiva e de ter terminado sentindo-se exausto por isso. Do mesmo modo, ouviu algum conhecido ou você mesmo pode ter tido a experiência de após um longo dia de trabalho ou de estudos, ter se sentido igualmente exausto, como se tivesse corrido uma maratona
alguns chegam a comparar.
As atividades mentais portanto, se equiparam as atividades físicas no quesito cansaço?
Sim é a resposta mais curta, mas há inclusive alguns profissionais de saúde mental e eu me incluo nisso que defendem que atividades puramente intelectuais onde alguma pessoa que se sinta confortável em uma sala com ar-condicionado no calor, mas que pensa por problemas horas a fio, se sentem mais exaustas do que as que praticaram a atividade física.²
A nossa mente ainda mais em algumas ocasiões podem se assemelhar a alguma prisão ou centro de torturas, dependendo com o quê ou sobre o quê se ocupa.
A pessoa enlutada de certa forma, pode viver em um círculo vicioso de sentimentos negativos psicologicamente falando, sentir-se exausta, desesperançada, abandonada e até mesmo mutilada
diante das fases iniciais de seu luto.
Bem, estes são sintomas
comuns que muitos indivíduos chegam a experienciar, e o que eu quero dizer francamente com isso?
Primeiro, tenha em mente que se você sente todos esses sintomas
que são os mais comuns, saiba que isso não é de forma alguma anormal, que há um grande índice de pessoas que as experimenta diante do luto. Fiz questão de colocar sintomas
entre aspas, pois de forma alguma se constituem em algum tipo de doença, mesmo que se sintam assim tendo procurado ajuda na medicina tradicional.
Alguns médicos acham que por bem o paciente deve se desligar deste problema
sob efeito de algum remédio psicotrópico, anestesiando esses sintomas, mas igualmente suplantando a capacidade do indivíduo de refletir, ressignificar e até mesmo experimentar a dor da perda. Por mais contraditório que pareça isso, (sentir a dor
) ajuda significativamente o indivíduo, amadurecendo-o psicologicamente e o tornando resiliente às intempéries da vida, também fechando o processo de luto que deve ter início, meio e fim. O fim não é o esquecimento ou o entorpecimento de emoções, mas a ressignificação para algo mais tolerável e sadio.³
Na terapia busca-se, enfrentamento, aceitação e ressignificação, sempre!
Mas sem colocar a carroça na frente dos bois
, como se dizia antigamente. E se seu luto não se assemelha em nada com o descrito acima? Devo me preocupar se ele não se parece com isto? Será que devo sofrer muito pela dor da perda?
Aqui neste ponto, preciso ilustrar a resposta com duas histórias.
A primeira história aconteceu com este autor que vos escreve sobre a perda de meu pai.
Quando todos já tinham se lamentado pela perda, ido ao seu velório e enterro, (eu não compareci pois estava internado em um hospital), eu sequer esbocei reação. É certo que ninguém chegou a mim me informando realmente da morte, mas sabia em meu íntimo. De alguma forma a minha mente sabia que ele havia morrido.
Mas teve alguma lágrima, choro ou desespero? Sequer lembrei dele e dos bons momentos que passamos no período em que estive no hospital? Não!
Até mesmo quando voltei para casa e vi sua antiga mesa de escritório ou percorria com o olhar pelos seus objetos pessoais, eu mal sabia o que sentia.
Sinceramente eu não sei o que as pessoas pensavam a este respeito, também não me importo, mesmo sabendo o quão julgadoras podem ser, especialmente se você não se debate, não está acabado e não chora copiosamente por meses a fio sobre isso.
De minha parte eu sei que ao longo de alguns meses que se seguiram, eu praticamente sonhava com ele todas as noites. Geralmente os conteúdos se repetiam. Eu sonhava que ele chegava em casa após todo esse tempo, me dizia que estava bem, que estava feliz, que estava viajando e quando eu queria perguntar, mas você não estava...
Morto? Ele já sabia. Não, imagina! Foi tudo um engano, eu só estava dando um tempo em outro lugar, se enganaram!
E a minha mente criativa que sempre foi, inventava em meus sonhos novas temáticas e níveis de realidade para o mesmo roteiro.
Em um desses sonhos eu sonhei com este roteiro, depois sonhei que havia acordado e ele estava mesmo morto! E depois eu acordava de um sonho que havia sonhado que ele morria, e depois eu acordava e ele estava morto e depois eu acordava e ele estava vivo!
Era como se minha cabeça lutasse contra essa realidade com todas as suas forças se recusando a acreditar no que acontecia.
Uma vez eu acordei e já não sabia se sonhava ou se realmente estava desperto e em outra, após alguns meses de sonhos repetidos, eu levantei, sentei na cama, olhei pro nada, e foi se como minha mente tivesse tido um estalo! E aí eu chorei, e aí eu aceitei e aí eu pranteei até soluçar que meu pai já não estava mais entre nós e me senti o ser mais desprotegido e sozinho que esse mundo já havia visto.
Foi assim para mim, eu demorei a aceitar, o meu processo de luto foi lento e quem não entendeu, nunca entenderá do porque fui o último a lamentar a morte de meu pai, com meses de atraso.
O luto chega de diversas maneiras e formas para cada um. É algo diferente para cada indivíduo, e a maior parte das pessoas não entendem porque você não está se sentindo como elas. Por quê você não tirou as mesmas conclusões ou por quê não está sentindo vontade de passar por isso do mesmo modo pelo qual elas estão passando.
Lembro-me de um caso onde um marido não se conformava pela morte de seus sogros, com o qual tinha vários atritos. Este homem chorou e se lamentou por meses a fio, enquanto sua esposa permanecia triste, mas de certa forma serena.
Ele não podia compreender sobre o por quê sua esposa não se lamentava da mesma forma ou até mesmo de forma pior ante a morte de seus próprios pais! E não duvido também que sentia-se de íntimo envergonhado por sua comoção afinal, havia resquícios ali de uma mentalidade em que se acreditava que rompantes emocionais eram uma espécie de fraqueza.
Alguns acham obrigatório que você se pranteie até não poder mais, enquanto outros acham isso indigno.
O que é o correto?
Adepto do ditado cada cabeça é uma sentença
, eu só posso lhe dizer que acredito que não é errado o lamento exagerado
ou comedido. Há turbilhões de emoções nas expressões mais seguras, assim como há serenidade em meio a explosões esporádicas de emoção.
Em lutos familiares não é raro de se ver que os filhos mais emotivos conseguem segurar a barra dos que são introvertidos e reservados e que por isso passam a impressão de serem os mais seguros de si.
Sem julgamentos! É a rota mais segura.
Pode ser que mesmo com todos estes exemplos você ainda não esteja suficientemente representado por este livro. Você acabou de terminar um relacionamento e a pessoa da qual sente falta ainda vive!
Há psicólogos que defendem que a dor do luto e da separação são as mesmas. Dependendo do seu estado de saúde mental e desprendimento, da filosofia de vida adotada por você, ver o seu ex-amigo ou cônjuge bem e feliz já basta e outros em que a mera presença é praticamente impossível.
Como disse, o intuito desta obra não é o julgamento. É informá-lo que você deve buscar a atenuação destes sentimentos que podem lhe fazer mal, que podem exauri-lo e que isto é plenamente possível!
Nos próximos capítulos você se informará melhor sobre os diversos aspectos do luto, suas fases e de como se cuidar ou cuidar de quem esteja passando por tudo isso.
²Alguns estudos defendem a ideia de que na verdade se trabalhar com o intelecto não alimenta a sensação de cansaço e sim que as emoções ligadas àquela atividade mental transformam a experiência em fadiga. No entanto, ainda considero apropriado a utilização do termo mental
para se referir a essa questão, sendo essa explicação mais voltada aos puristas
.
³ATENÇÃO: Em hipótese alguma defendo que não se deve procurar ajuda médica, porém faço um alerta referente aos maus profissionais que recorrem indiscriminadamente ao uso de psicotrópicos para tudo, sem critérios claros e definidos que realmente defendam o seu uso.
Resumo do 2o capítulo:
1 - É comum sentir-se exausto durante o luto.
2 - Uma pessoa enlutada pode sentir-se desesperançada, abandonada, irritadiça, entre outros sintomas
emocionais parecidos com a depressão.
3 - O luto não é uma doença, mas uma condição que pode ser trabalhada para ser superada.
4 - Sentir a dor
faz parte do processo, por isso não deve ser suprimida. Caso necessite buscar um profissional médico, procure também um psicólogo!
5 - O processo de luto é diferente para cada pessoa. Cada pessoa o sentirá do jeito delas, com o sentimento delas e no tempo delas!
6 - A maior parte da sociedade não entende completamente o luto e poderá julgá-lo por estar experimentando o luto do seu jeito. Não se importe!
7 - Explosões de emoção ou o embotamento delas não são indignos ou estranhos! É somente sua forma de reagir ou se expressar diante de uma emoção intensa.
8 - A dor da separação de quem ainda vive é muito parecida com a dor do luto diante da morte.
9 - Sim, acredite! Você pode superar o luto! Não irá trazer a pessoa de volta, porém você a honrará levando uma vida digna, feliz e saudável!
3. Aprenda a encarar seus sentimentos
Não só na Psicanálise, mas diversas abordagens da Psicologia concordam que não é o ideal a negação
de sentimentos para se iniciar um processo de cura ou alívio. Afinal, como é que você irá se tratar ou buscar ajuda se acredita que não precisa de nada?
Admitir que está sofrendo, admitir que se sente triste ou deprimido e que está passando por uma fase em que parece que se está em um turbilhão de emoções é o primeiro passo.
Mas e o contrário disso? Você desconfia que não está se comportando da maneira que deveria, não sente nada
, aliás parece que perdeu toda a vontade e emoção de viver, parece que nada tem sabor
ou cor
. Será que este é mesmo um comportamento normal? Será que precisa de ajuda?
E por quê não a procura? É vergonhoso demais para você?
Por quê não se sente envergonhado quando precisa tratar de uma dor de dente ou de um resfriado indo ao médico?
Muitas pessoas deixam de procurar um tratamento psiquiátrico ou psicológico por um preconceito arraigado de que os profissionais de saúde mental são para os desequilibrados e doidos de pedra.
Ora, uma dor intensa que o impede de viver normalmente não é um