Escrita Criativa De Contos E Poesias - Vol. 1
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Escrita Criativa De Contos E Poesias - Vol. 1 - Autores Diversos
POEIRA
Giovanni Fiori Tini
estou inconformado com meus conformismos
que se confirmam a cada dia, a cada hora
quando tento viver uma vida no agora
etapa procrastinadora que me sustenta
enquanto tento não pensar no que há de vir
isso não leva a nada
e talvez eu não goste de nada
e talvez o que eu goste de fato não traz nada
não realiza nada se não após a morte
não põe comida na mesa
não se sustenta uma casa com o que se gosta
se sustenta a si mesmo
não se quita uma dívida, não se passa em uma matéria
com o que transcende demais para gerar resultado
talvez este seja apenas um talvez
um grito de inconsciência
em um mar de realidade demais
um clamor angustiado pelo escape constante
do que aprisiona no que não se pode deixar
pode ser que à noite eu esteja melhor
se ela for gentil comigo
conseguirei ordenar meus pensamentos
e deixar de ser uma célula sem função
esperando para ser morta
deixar de ser um arquivo corrompido
aguardando ser deletado
deixar de ser o que restou de um caco de vidro
que ficou para trás quando o chão foi varrido
VIDA
Rodolfo Nóbrega
10 anos: uma nova fase
Já se foi a infância
Agora? A adolescência
Os pelos da puberdade começam a aparecer
Os brinquedos já são amigos das traças e aranhas
Tomaram lugar os videogames, o futebol
A puberdade já se finda
É a despedida do ensino médio.
Ah! Finalmente a faculdade
Enfim a liberdade chegou
Melhor época com os amigos
Espera! Calma, mas por que tão rápido?
Onde está minha infância? Adolescência?
Meus amigos?
Bom, o expediente já acabou
Hora de pegar a Aninha e o Pedrinho na escola.
Maria, você comprou o presente do Claudinho?
A Aninha vai deixar ele aqui
Os cabelos branquearam
As forças já não são as mesmas.
Os amigos já se foram
A faculdade está pendurada na parede do escritório
Os brinquedos? Esses já têm novos amigos, novos rostos
Ah se eu pudesse voltar à minha infância.
A VERSUS DE VIDA
Ronaldo Junqueira
Os faróis tentam interagir
Com a alma cheia de alegria
Que tem que lutar e agir
Sobre toda a calmaria.
Um monstro a surgir
Que ajuda sua família
Da rua fugir
Para longe dessa anomalia.
Sentado em um banco
Me pego distraído
Uma música cantando.
Com um sorriso falido
De quem acabou comprando
Aquele vestido florido.
CHOQUE SOCIAL
Wanheliton Policarpo
Volto do trabalho
Observo várias pessoas
Realidades delas próximas à minha
Cada um dentro do seu carro
Vidros fechados
Isolados do mundo externo.
Basta uma conversa
Sabe aquela conversa?
Que não se limita a apenas um bom dia
Com o porteiro, com a zeladora
Eis um choque social
Ou só um ponto de vista pessimista?
Sim! Acredito que sim.
Abro a janela do meu apartamento
Vejo lá longe no horizonte
Amontoado de casas todas com tijolos expostos
Serpente de concreto gigante
Que acompanha o relevo do solo
É difícil acreditar
É de onde seu Luiz, o porteiro, vem trabalhar.
HOMEM INVISÍVEL
Lucas Santini
Na larga avenida, o mundo não para
De um lado para o outro, o trabalho impulsiona
O tempo parece ser o maior inimigo.
No meio da correria, um momento de paz
Um senhor deitado sob seu papelão
Parece não ligar para a turbulência ao seu redor.
Todos passam, mas ninguém o vê
Seria o trabalho mais importante que a vida?
Ou então aquela apenas mais uma cena do cotidiano?
As pessoas a cada dia ficam mais cegas
Tornando aquele um homem invisível
Que, mesmo sem saber, possui um super-poder.
O CAMINHO DE VOLTA
Giovanni Fiori Tini
Cresci em um momento de dipolo
Parando e sendo parado aos poucos
Às vezes andando, às vezes carregado no colo
O que deixava meus batimentos roucos.
Uma curva torceu minha visão
O opaco passou a transparecer
Correndo contra o tempo fora do chão
Reli tudo que deixei de ler.
A subida me levava constantemente
Mas tal constante não mente
Tudo que sobe, também desce
Provando que eram ouvidas as minhas preces.
O sol queima minha superfície
Pressiona meus vasos sanguíneos
Tirando-me da morta planície
Dando coeficientes aos retilíneos.
Uma área de segurança foi abalada
As multidões de minhas células se reagruparam
Medida de emergência foi improvisada
Meus dois olhos se encontraram.
Quando todos os átomos de minha constituição
Enfim se forem, e eu for um novo eu
Com novos átomos, moléculas, células
Estarei sorrindo como agora
Pois vejo no espelho da minha parte
Que dou graças por essa arte.
CÃO AMIGO
Rodolfo Nóbrega
Um companheiro sincero
Sempre me olhando
Como se perguntasse o que eu quero?
Igual um irmão fraterno, sempre se preocupado.
Nunca te vejo triste, mas sempre contente
Um amigo sincero e leal
Desses que não se encontra nada igual
Ah! Como é bom ter você, junto da gente.
Quando chego você está me esperando
Sempre ao meu lado se esfregando
Com um brilho nos olhos e o rabo abanando.
Quando saio, se ouve apenas aquele latido,
Como um cão arrependido
Esperando o dono amigo.
POEMA DE 7 FACES
Wanheliton Policarpo
Quando estava prestes a vir para o mundo
Deus me olhou no fundo dos olhos
Como se estivesse me dizendo "vai lá
Que você será o meu orgulho"
Para potencializar este orgulho
Reservo uma hora para a missa aos domingos.
Durante os anos virei estudante
Por um decreto universal
A semana se inicia na segunda
Com bastante trabalho e estudo.
Para fugir da rotina
As terças inicio com atividade física
Endorfinando o corpo.
No meio da semana
Estresse já dá início
Como válvula de escape
Já planejo o fim de semana.
Tiro algumas horas nas quintas
Resenhar com os amigos
Atualizar as notícias da semana.
Apesar da proximidade do final de semana
De sexta os estudos continuam
Quando o Sol transfere parte do brilho próprio
Para a Lua o fim de semana começa.
De sábado a prioridade é a família
Ler um bom livro
Assistir um filme interessante
Para relaxar da correria da semana.
SERENO SONETO
Giovanni Fiori Tini
Faixas envolvem meu coração
Trazendo choques e impulsos
Pego pensamentos com a mão
Através de fios avulsos.
Em meu pedido, o amor
Em meu sonho, o abraço
Que se alonga até o motor
Responsável por tirar o cansaço.
Estou sereno, porém
Sendo sincero e preparado
Sofrendo apenas o que me convém.
Tal espaço, anseio preencher
Não ligo para tempo atrasado
Só não quero deixar de te ver.
SONETO DO TEMPO
Autor Desconhecido
O tempo passa rápido
Num instante;
A areia cai rápido num ritmo constante
E a cada grão lapido.
"Tudo que me prende são as amarras do tempo
Somos gigantes num espaço pequeno
O soro nasce do próprio veneno
Vivemos e merecemos tudo aquilo que temos."
Gritando em silêncio
Fiz da ampulheta templo
E sigo buscando respostas.
Encontrando dádivas que talvez só ele conceda
Não tire os olhos da ampulheta
Atentos ao último grão, quando ele cair a vire de ponta cabeça...
SÉCULO XXI
Lucas Santini
TEMPO
Wanheliton Policarpo
SIM OU NÃO!
Rodolfo Nóbrega
CRUZ
Giovanni Fiori Tini
CONTOS
O ASCENSORISTA
Vinicius H. M. Silva
No elevador entravam e saíam pessoas sem parar e o trabalho era monótono. A alavanca ia para frente e para trás a cada passageiro que chegava. O elevador era bem antigo e o brilho do verniz que chegava em meus olhos não escondia o cheiro de madeira velhnba. Queria que o dia acabasse o quanto antes para finalmente sentar em meu sofá e assistir um pouco de televisão.
Não lembrava como chegara ali, como tinha arranjado aquele trabalho, mas estava feliz. Minha família vivia reclamando de minha ausência quando trabalhava na cidade vizinha e parece que havia encontrado uma excelente solução: me tornar o ascensorista do meu próprio prédio. O primeiro andar era o da manutenção, onde ficavam os serventes: eletricistas, mecânicos, encanadores e outros funcionários responsáveis pela parte estrutural do edifício. Os cinco andares seguintes eram comerciais, enquanto os outros vinte eram residenciais.
Jamais trabalhara com elevadores, sequer sabia como eles funcionavam. Você deve pensar que era apenas apertar um botão, mas não: era necessário utilizar uma alavanca. Sim, uma alavanca. E eu que deveria controlar seu movimento, parando precisamente em cada andar para que os passageiros entrassem e saíssem em segurança. Qualquer erro poderia resultar em problemas.
— Bom dia, Charles.
— Bom dia, Sra. Hunnigan, com a senhora está?
Ela era uma senhora bem abastada. Seu marido havia falecido há alguns meses e ela vivia sozinha com o dinheiro que eles guardaram durante os anos. Seus filhos já eram crescidos e seu terceiro netinho estava perto de nascer. Eu cruzava bastante com ela pelos corredores e havia presenciado sua história de perto. Nós morávamos no mesmo andar, o décimo terceiro.
— Estou bem, querido. Como estão as crianças?
— Estão bem. Estão na escola, agora. Voltam no final da tarde.
— Ah, que bom… estudar é importante!
Interagi com ela com um leve sorriso no rosto, porém odiava esse tipo de conversa. Nunca levava a nada e todos os dias era a mesma coisa. Pensando bem agora, não estou muito certo sobre o que pensava sobre ela. Ela, mesmo tendo uma excelente condição de vida, deixava seus dois filhos viverem com grande dificuldade financeira. Um deles, inclusive, vivia naquele mesmo prédio, em um apartamento pequeno com sua esposa e os dois filhos.
— Com certeza
Achei que desviando o olhar, sinalizaria meu desejo de encerrar aquela conversa. Porém ela continuou.
— Sabe, meus filhos estão largados por esse mundo. Dois ingratos. Fiz tudo por eles. Dei educação, segurança, comprei tudo o que desejavam, porém não recebi nem mesmo um obrigado. Um deles mora aqui neste mesmo prédio. Talvez você o conheça.
Cale-se, pensei. Cale-se. Senti o elevador dar uma leve tremida, porém nada para me alarmar. Era comum isso acontecer.
— Espero que você não seja um filho ingrato dessa forma, Charles. Sei que sua mãe pode ter seus defeitos, mas você deve ser grato por tudo que ela fez por você.
Se ela foi uma mãe como a minha, talvez os filhos dela estejam certos, pensei. Um sentimento estranho começou a tomar conta de mim. O elevador deu mais uma tremida e, desta vez, segurei a alavanca com mais força para garantir que nada acontecesse. Sem obter uma resposta, a Sra. Hunnigan finalmente se calou.
Alguns poucos minutos depois, o elevador chegava no térreo. Ele era bem devagar, como um elevador bem antigo, parecido com os utilizados nos primeiros prédios altos de grandes metrópoles como Nova York. Era feito de madeira polida que tinha um brilho um tanto exagerado. Havia um pequeno banco de veludo vermelho, onde eu ficava sentado nos horários de menor movimento, afinal ficar mais de dez horas em pé dentro de um elevador um pouco apertado não seria nem um pouco saudável. Nas paredes haviam detalhes cravados