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A Colonização,descolonização E Movimentos De Independência Da África.
A Colonização,descolonização E Movimentos De Independência Da África.
A Colonização,descolonização E Movimentos De Independência Da África.
E-book540 páginas6 horas

A Colonização,descolonização E Movimentos De Independência Da África.

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Sobre este e-book

Na primeira metade do século XX, a África vivia sob o domínio colonial de diversos países europeus.Chamamos de descolonização o processo pelo qual o continente africano alcançam sua independência . Nesta obra está um pouco da história também da cultura, economia do continente, não será colocado todos os países do continente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de set. de 2018
A Colonização,descolonização E Movimentos De Independência Da África.

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    A Colonização,descolonização E Movimentos De Independência Da África. - Maria Aparecida Dos Reis

    MARIA APARECIDA DOS REIS

    A COLONIZAÇÃO, DESCOLONIZAÇÃO E MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA DA ÁFRICA. ÁFRICA NOS DIAS DE HOJE, ECONOMIA E CULTURA.

    EDITORA

    1

    MARIA APARECIDA DOS REIS

    A COLONIZAÇÃO, DESCOLONIZAÇÃO E MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA DA ÁFRICA. ÁFRICA NOS DIAS DE HOJE, ECONOMIA E CULTURA.

    EDITORA

    2

    SÚMÁRIO

    Apresentação ....................................................................................................................... 07

    Introdução ................................................................................................................. ........... 09

    Colonização ................................................................................................................ ......... 12

    A Partilha da África ............................................................................................................. 22

    Mapa África Colonial(1924) ................................................................................................ 26

    Pan-Africanismo .................................................................................................................. 38

    O Conceito de Negritude .................................................................................................... . 42

    Conferência de Bandung ..................................................................................................... 50

    O Não Alinhamento .......................................................................................................... ... 61

    A Carta da ONU ............................................................................................................. ..... 63

    Ergograma da ONU ..................................................................................................... ........ 66

    Carta das Nações Unidas .................................................................................................... . 67

    A Organização da Unidade Africano-OUA ......................................................................... 77

    União Africana UA .......................................................................................................... .... 82

    Descolonização e Movimentos de Independência ............................................................... 87

    Golpe de Estado ............................................................................................................ ....... 89

    O Socialismo na África ............................................................................................... ........ 91

    Mapa das Independências .................................................................................................. 100

    Independência da Líbia ...................................................................................................... 101

    Independência de Madagáscar ........................................................................................... 109

    3

    Independência da Tunísia .................................................................................................. 116

    Independência do Marrocos ............................................................................................... 122

    Independência da República Democrática do Congo (Belga) ........................................... 128

    Independência de Uganda ... ............................................................................................... 139

    Independência de Gana- Costa do Ouro ............................................................................ 144

    Independência da Nigéria .................................................................................................. 152

    Independência de Serra Leoa ............................................................................................. 158

    Independência do Senegal ................................................................................................. 164

    Independência da Somália ................................................................................................. 171

    Independência da Argélia .................................................................................................. 178

    Colônias Portuguesas - Mapa ............................................................................................ 185

    Independência de Guiné-Bissau ........................................................................................ 190

    Independência de Moçambique ......................................................................................... 196

    Independência de Angola .................................................................................................. 207

    Independência de Cabo Verde .......................................................................................... 213

    Independência de São Tomé e Príncipe ............................................................................. 219

    Independência da Etiópia ................................................................................................... 225

    Independência de Ruanda .................................................................................................. 233

    Independência de Burundi ................................................................................................. 246

    Independência da Guiné - Conacri ................................................................................... 253

    Independência do Zimbábue .............................................................................................. 257

    Independência da Zâmbia .................................................................................................. 263

    4

    Independência de Benim ....................................................................................................................... 269

    Independência de Burkina Faso............................................................................................................. 274

    Independência da África do Sul ............................................................................................................ 284

    África Hoje................................................................................................................................................. 297

    Considerações Finais ............................................................................................................................... 327

    Referências Bibliografias ...................................................................................................................... 332

    Sugestões de Filmes................................................................................................................................ 335

    Sites Consultados....................................................................................................................................... 338

    5

    A colonização deixou marcas tão profundas no continente africano, que é realmente muito difícil falar da colonização, descolonização e movimentos de independência de uma maneira linear, como também não é possível imaginar a África como um continente uniforme, a África não foi e talvez nunca seja uma unidade

    6

    APRESENTAÇÃO

    Este livro tem por temática tratar do processo de independência dos países africanos. Particularmente, esta questão surgiu como problema e objeto de estudo por um motivo, a dificuldade que encontrei para elaborar o meu TCC, onde foi difícil encontrar livros que abordassem os assuntos relacionados aos movimentos internos e externos da colonização, descolonização e independências, como também a economia e a cultura da África, em um só livro.

    7

    Iansã

    Aos meus descendentes, e gostaria de deixar meu profundo agradecimento á todos que tornaram possível a realização dessa obra: a professora graduada em História Mª Simone Soares, o professor mestre Carlos Alexandre Pompeu, a professora mestra Vânia Noeli Bá, a ajuda de vocês com a leitura e seus pareceres me foi de grande ajuda.

    8

    INTRODUÇÃO

    Este livro está centrado na colonização, descolonização e movimentos de independência, onde os países africanos lançam sua neutralidade ao não alinhamento. Mas também aborda a economia e a cultura dos povos africanos. Neste sentido, formulamos os seguintes questionamentos: Como se deu a colonização e descolonização? Como e porque surgiram os movimentos de independências? Qual o motivo do não alinhamento? Como estão os países africanos nos dias de hoje? A sua cultura e economia continuam as mesmas? Para responder estas questões, a investigação foi baseada nos estudos de diversos autores assim como também o uso de artigos de jornais, e sites.

    A Segunda Guerra Mundial afetou militarmente e de forma relativa o território africano, no entanto marcou uma mudança muito importante na história da África, já que acelerou de forma muito significativa à crise do colonialismo europeu e do processo de emancipação dos povos africanos. As potências europeias aproveitaram os recursos materiais e humanos das colônias, o que permitiu a esses povos tomar maior consciência de sua importância. Além disso, do ponto de vista ideológico, a Carta Atlântica de 1941 que reafirmava os princípios da Sociedade das Nações, corroborados logo pela ONU em 1945, proclamava a luta contra qualquer forma de racismo ou submissão dos povos e do valor indiscutível da autodeterminação. Os movimentos de libertação eram dirigidos, geralmente, por intelectuais de formação europeia, muitas vezes com tendências socialistas. No entanto, os movimentos de raiz sindicais que cresceram nos países mais desenvolvidos da África ocidental e que conseguiram arrastar estratos não intelectuais, mas consciente de seus direitos, também foram importantes. Para muitos dos políticos africanos que acreditavam que a independência seria um caminho fácil para a justiça e prosperidade, os anos imediatamente posteriores à descolonização foram muito decepcionantes. De fato, o continente africano surgiu repleto de problemas e tensões políticas.

    O desenvolvimento econômico e social encontrou obstáculos que pareciam ser impossível de ultrapassar e os conflitos políticos foram muito graves. Alguns deles tinham sua origem nas fronteiras que os europeus tinham traçado de forma absolutamente artificial e que, muitas vezes, não se correspondiam com entidades nacionais propriamente ditas. Além disso, estas entidades precisavam de história e enraizamento entre as populações, isso produziu conflitos étnicos sangrentos no interior dos Estados, como o que ocorreu entre 1966 e 1969 quando a etnia Ibo de Biafra quando tentou separar-se da Nigéria. A guerra civil concluiu sem nenhuma mudança

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    territorial, mas evidenciou de que forma os interesses políticos e econômicos dos brancos ainda influenciavam os assuntos africanos (em Biafra havia ricos jazidos de petróleo). As tropas governamentais nigerianas estavam armadas pela URSS e as de Biafra pelos EUA, a derrota dos Ibos, depois de três anos de guerra, foi total e com grandes perdas de vidas.

    Quase todos os novos Estados africanos eram muito débeis politicamente devido à falta de uma classe dirigente capaz de gerir o poder. Apesar das tentativas para instaurar modelos democráticos constitucionais, em quase todas as partes se foram adotando formas de governo autoritárias rodeadas de golpes de estado e, nas quais o peso das forças armadas foi sempre determinante. O modelo político mais difundido foi o de inspiração socialista, embora com características muito particulares (rejeição da luta de classes, ausência de tecido industrial, inspiração religiosa), isto permitiu falar de socialismo árabe ou africano. Outros estados preferiram manter o contato com os países europeus e escolher o modelo de desenvolvimento ocidental.

    A economia africana do pós-guerra mundial se caracterizou por estar ainda muito condicionada ao domínio colonial que tendia a utilizar apenas aqueles recursos que convinham às metrópoles. Deste ponto de vista, a situação de quase toda a África durante os anos quarenta, exceto algumas zonas do Sul, apresentava a estrutura típica da exploração colonial: poucas atividades agrícolas (cacau, café), minerais (ouro, bauxita, diamantes) ou comerciais (madeiras preciosas) exportadas por empresas ocidentais que, ao exportar seus produtos para a Europa, obtinham grandes benefícios por seus investimentos, visto que podiam utilizar uma mão de obra a uns custos baixíssimos sem estimular qualquer iniciativa local.

    Nos anos cinquenta a história da África esteve centrada na conquista de sua independência política, e todos os reforços e compromissos do mundo africano convergiram na luta contra o mundo europeu, considerado a causa fundamental do atraso e da pobreza de seus habitantes. No entanto, logo após obterem a desejada liberdade e independência política se descobriu que o desenvolvimento econômico do continente africano não era uma questão tão fácil e rápida como parecia no início. As causas das diferenças cada vez maiores entre os países desenvolvidos e os de Terceiro Mundo eram evidentes nos finais dos anos cinquenta, ressaltando todas as dificuldades que deviam ser salvaguardadas para dar aos africanos a possibilidade de uma verdadeira emancipação e participação no bem- estar.

    Não se pode deixar de mencionar que nos anos cinquenta também aflora a ideia do pan - africanismo, que vem pretender um tipo de unidade africana impossível de ser realizada, ou seja, constituir os Estados Unidos da África, fazendo de todo o continente um só. Essa tendência influenciou a política africana até a década de 1960, quando os diversos nacionalismos já se haviam

    10

    tornado majoritário em grande número de países independentes e a ideia de uma África uniforme se revelava impraticável.

    A África não conseguiu resolver sozinhos seus problemas, e teve que pedir ajuda aos países desenvolvidos, com quem se restabeleceram as bases para outra forma de dependência: o neocolonialismo. Já não se tratava de possuir territórios coloniais diretamente, mas sim de estabelecer uma relação que, embora respeitando formalmente à autonomia e independência dos Estados africanos, utilizava a superioridade de técnica e economica dos países desenvolvidos para condicionar politicamente esses países mais débeis. Os países capitalistas e os socialistas puderam continuar a ser protagonistas na África, utilizando pressões políticas e econômicas.

    Durante os anos sessenta, depois de ter conseguido sua independência política, a África ainda necessita muito dos países desenvolvidos para sair do subdesenvolvimento. Alguns Estados elegeram se apoiar nos países capitalistas (Quênia, Costa do Marfim, Tunísia, Senegal, Tanzânia, Zâmbia) para continuar um desenvolvimento mais rápido e tradicional; outros decidiram seguir o modelo socialista e encontrar ajuda nos países do Leste para progredir mais lentamente, mas de forma equilibrada. No entanto, o fator insubstituível que não podia ser fornecido pelos países desenvolvidos e que só a mesma África podia dispor era o fator humano. Durante os anos sessenta, o continente africano preparou cultural e tecnicamente as novas gerações para resolver seus problemas econômicos.

    11

    COLONIZAÇÃO

    O professor doutor, em História Social Rivair Macedo, em seu livro História da África (2013) nos coloca que: O período da colonização africana divide-se em três fases. Na primeira, situada entre 1880 e 1914, assiste-se ao estabelecimento de protetorados, à criação das bases de exploração econômica e à fixação de órgãos de apoio nas metrópoles e nas colônias visando ao desenvolvimento dos meios de governo dos territórios mantidos sob seus respectivos domínio. Na segunda, correspondente ao período das guerras mundiais (1914-1945), a crise desencadeada repercutiu nas formas de relacionamentos das metrópoles com as colônias e as obrigou a recorrer com mais frequência aos recursos materiais e humanos de que pudessem dispor. Na terceira, no período do pós-guerra e da gestação da Guerra Fria, entre 1945-1960, assiste-se ao fortalecimento dos nacionalismos africanos e ao movimento da descolonização.

    De modo geral, as políticas de colonização implantadas pelas metrópoles podiam variar, segundo três orientações principais:

    Um - A sujeição pura e simples dos povos aos quais se pretendia colonizar;

    Dois - A autonomia relativa concedida a esses povos, mediante o reconhecimento de certa s iniciativas e direitos das autoridades locais;

    Três - O desenvolvimento de mecanismos institucionais que promovessem a assimilação dos colonizados pelos colonizadores.

    Pode-se dizer que, no caso das colônias submetidas aos ingleses, prevaleceu da parte da metrópole a segunda orientação. O governo britânico envolveu -se pouco na administração colonial direta. Não alterou as bases dos governos locais, superpondo representantes seus que passaram a atuar como intermediários.

    Prevaleceu o princípio da autonomia financeira, considerada condição e medida da autonomia política, e foi concedido aos chefes locais, em sua maior parte composto de nativos, uma certa margem de liberdade em suas decisões - desde que não entrassem em conflito com os interesses metropolitano.

    No caso da colonização francesa, prevaleceu à terceira orientação, o governo republicano francês transferiu para as colônias toda uma infraestrutura para uma administração direta, com o apoio das autoridades locais. A figura-chave da colonização era a do governador- geral, representante e detentor dos poderes da república. Apoiado por conselho diretivo e por um corpo de oficiais militares era ele a autoridade máxima em matéria financeira, o chefe das forças armadas e o encarregado da manutenção da justiça.

    Em Portugal, houve uma revolução nítida para formas cada vez mais centralizadas de 12

    administração colonial. No início, não havia um sistema claramente implantado, e o governo contentava-se em extrair receitas provenientes de impostos fixados nas colônias e retirados das autoridades locais. A partir das décadas de 1920-1930, com a criação do Estado Novo, em que o poder estaria sob controle de António de Oliveira Salazar (1889-1970), foram criados os postos de governadores-gerais, administradores de circunscrições e chefes de posto. Esse último era responsável pela administração da justiça, com o apoio de guardas e de intérpretes locais. (RIVAIR, págs., 140, 141, 142).

    De acordo com Martinez, os invasores coloniais traçaram as fronteiras de suas possessões segundo os limites de força ou de interesses que eles tinham para defendê-las ou explorá- las. Territórios pertencentes historicamente a determinadas populações foram cortados em pedaços e dominados por diferentes nações europeias.

    Populações identificadas pela mesma etnia, mesma religião, mesmo idioma etc. foram divididas em colônias separadas, às vezes antagônicas. Essas deformações tornaram- se irreversíveis. Os africanos compreenderam esse fato quando definiram as estratégias da independência e da consolidação dos novos países. Tiveram de resignar -se a aceitar como seus os espaços demarcados pelos invasores brancos. De outro modo seriam sacrificados milhões de vidas humanas em disputas fronteiriças que enfraqueceriam a todos. Por isso adotaram o princípio da intangibilidade das fronteiras herdadas do colonialismo. (MARTINEZ, p, 19, 20).

    Visto a amplitude da ideia de colonização, muitos são os autores que procuraram classificá - la, como Marc Ferro e Antônio Roberto de Moraes. O primeiro estabelece o imperialismo como uma forma de colonização, sendo a principal distinção entre ambos o fato de que imperialismo não precisa necessariamente do controle político direto sobre os territórios explorados, enquanto a colonização é um processo em que existe sempre o controle político da colônia pela metrópole. Roberto de Moraes por sua vez, observou, na própria expansão europeia dos tempos modernos, que a colonização era apenas uma das formas de contato com outros espaços, coexistindo com o comércio, o escambo e a pilhagem. Moraes definiu então a colonização como uma exploração contínua e sistemática da terra, com a apropriação do espaço pela metrópole e com a formação de territórios coloniais. Não seria, assim, uma relação simplesmente baseada no comércio, mas no controle.

    Já Kalina explica que: Essas considerações nos levam a perceber que o conceito de colonização tem tanto o caráter de ocupação e cultivo de novos territórios como de domínio, exploração e instalação cultural, pois a cultura do colonizador é transportada para o novo território. Na maioria dos casos, entretanto, o território colonizado já está ocupado, com habitantes que

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    possuem cultura e estruturas sociais próprias, o que pode dar margem a diferentes formas de contatos e ao nascimento de novas sociedades. Não esquecendo, ainda, que a violência e o conflito estão, em geral, presentes na maioria dos processos de colonização, pois a fixação de u ma cultura em território já ocupado gera não apenas a imposição de valores culturais, mas também o controle físico sobre os dominados e a resistência por parte desses.

    Para Kalina, uma primeira questão na definição de imperialismo é seu caráter múltiplo: Não há um imperialismo, mas imperialismos. Cada um com suas práticas e estratégias de controle específico, possuindo também diferentes definições. A ideia de império surgiu já na Antiguidade. Para Roma, império era a extensão do próprio Estado, construído com base na colonização. Mas a palavra imperialismo apareceu apenas em 1870, sendo bastante utilizada entre 1890 e 1914, e servindo ainda hoje para designar práticas militares e culturais desenvolvidas por potências para exercer domínio sobre outros Estados, politicamente independentes.

    O imperialismo se define como um período histórico específico, que abrange de 1875 a 1914, quando a Europa Ocidental passou a exercer intensa influência sobre o restante do mundo. O conceito designa também o conjunto de práticas e teorias que um centro metropolitano elabora para controlar um território distante.

    O conjunto de práticas que constituiu o imperialismo começou a ganhar coerência a partir do fim do século XIX na Europa Ocidental, com a concorrência entre as economias capitalistas, o abandono da política liberal, o nascimento dos oligopólios e a participação dos Estados na economia. Foi o momento do surgimento do Capitalismo monopolista, em que a livre concorrência entre diferentes empresas gerou concentração da produção nas mãos das mais bem- sucedidas, levando à formação de monopólios. Rapidamente, os bancos passaram a dominar o mercado financeiro, exportando capital, influenciando as decisões de seus Estados e impelindo -os para a busca de novos mercados.

    Nascido, assim, da formação dos monopólios, o imperialismo promoveu disputas por fontes de matérias-primas entre trustes e cartéis que, já tendo dominado o mercado interno em seus países de origem, precisavam se expandir para além de suas fronteiras, defrontando-se com cartéis e trustes de países concorrentes. Nesse momento, a classe detentora da produção capitalista passou a rejeitar as fronteiras nacionais como barreira à expansão econômica, transformando o crescimento econômico em expansão te rritorial.

    O período entre 1870 e 1914 esteve desta forma, associado à expansão do Capitalismo monopolista, à conquista política e militar de territórios e ao auge do imperialismo sobre o mundo, com a partilha da África. (KALINA & MACIEL, págs., 68, 69, 2 18).

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    Em seu livro A África na sala de aula Leila Leite Hernandez, fala que, Otto Hintzer e Max Weber, apresentam uma interpretação do imperialismo baseada na Teoria da Razão de Estado. Sua tese fundamental é que o imperialismo deriva, em última análise, de uma estrutura anárquica das relações internacionais, fundada no exercício da força, estabelecendo uma relação desigual de poder entre os Estados, que possibilita o domínio dos mais fortes sobre os mais fracos, criando as condições necessárias para a exploração econômica de uns sobre os outros. Assim sendo, a eliminação do imperialismo dependeria da suspensão do estado de anarquia internacional por meio de uma Constituição Federal Mundial, capaz de institucionalizar os limites da soberania externa e defender juridicamente a independência das nações. (HERNANDEZ, p, 76).

    Em 1964, Barraclough publicou a obra Introdução à História Contemporânea, na qual procura demonstrar que a década de 1960 marcou o início de uma nova época na história da humanidade. Para ele, a estrutura mundial, baseada na industrialização e no imperialismo, foi profundamente alterada pelo crescimento populacional e pelo surgimento de numerosas nações a partir da descolonização afro- asiática.

    No trecho selecionado, o autor destaca a importância dos movimentos nacionalistas, da mobilização da população colonial durante as duas guerras mundiais e, finalmente, da divulgação dos princípios de autodeterminação para a luta das colônias contra as metrópoles. É certo, evidentemente, que a emancipação da Ásia e da África e o progresso da crise europeia marcharam de mãos dadas. Entre os fatores que facilitaram o surto de movimentos de independência na Ásia e na África, devemos incluir o enfraquecimento do pulso das potências europeias, em grande parte como da drenagem de recursos motivada por suas guerras. Desde a l Guerra Mundial, os incipientes movimentos nacionalistas no mundo não europeu tiravam proveito, substancialmente, das rivalidades entre as potências coloniais, e o súbito colapso dos impérios europeus, depois de 1947, foi em grande medida uma consequência de pressões externas e do impacto da política mundial.

    Na Ásia, nem os ingleses, nem os franceses ou os holandeses recuperaram-se jamais dos golpes infligidos pelo Japão, entre 1941 e 1945; embora, na África e no Oriente Médio, fossem contidos e forçados á retirada pela pressão dos Estados Unidos-agindo diretamente ou por intermédio das Nações Unidas, os quais possuem uma forte tradição anticolonial, á sua maneira, e não se mostravam dispostos a ficar á margem, enquanto o colonialismo empurrava os povos asiáticos e africanos para o lado da União Soviética.

    O nacionalismo chegou à Ásia um século depois do que na Europa, e na África Negra cinquenta anos mais tarde do que na Ásia. Dois acontecimentos externos, nos primeiros anos do século XX, foram poderosos estímulos para tal surto. O primeiro foi à vitória do Japão sobre a

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    Rússia, na guerra de 1904-1905, uma vitória aclamada pelos povos dependentes, em toda parte, como um golpe para o ascendente europeu e uma prova de que as armas europeias não eram invencíveis. Seu impacto duplicou quando, dez anos mais tarde, os japoneses derrotaram os alemães em Xantum; e as vitoriosas campanhas de Kemal Ataturk contra a França, em 1920, e contra a Grécia, em 1922, foram acolhidas, do mesmo modo, como vitórias asiáticas contra o poderio militar ocidental.

    O segundo acontecimento foi à revolução russa de 1905 - uma revolução que na Europa passou despercebida, mas que, encarada como luta de libertação do despotismo, provocou um efeito eletrizante em toda a Ásia. A onda de intranquilidade estendeu-se até ao Vietnã, e seu impacto, ao desencadear a revolução Persa de 1906, a revolução Turca de 1908 e a revolução Chinesa de 1911, bem como ao insuflar novo ímpeto, em 1907, ao movimento do Congresso, na Índia, foi de tal ordem que suas consequências têm sido comparadas, na Ásia, com as da Revolução Francesa de 1789, na Europa.

    O resultado foi que, por volta de 1914, na maioria dos países asiáticos e no mundo árabe, mas ainda não na África tropical, havia grupos radicais ou revolucionários prontos a tirar partido do conflito entre as potências europeias a fim de obterem concessões e vantagens por meio de ameaças, ou pressões, ou negociações [..] A guerra mundial também ajudou a disseminar as ideias ocidentais. A propaganda dos objetivos por que se fazia a guerra não podia ficar confinada à Europa.

    Os Quatorzes Pontos de Wilson1, a declaração de Lloyd George, em 1918, de que o princípio de autodeterminação era tão aplicável às colônias quanto aos territórios ocupados da Europa, as denúncias do imperialismo por Lênin e exemplo dos revolucionários russos, ao declararem que os povos subjugados do império czarista eram livres para escolher a separação, tudo isso criou uma fermentação mundial. As tropas alistadas para combater na Europa pelos franceses, oriundas da Indochina, e pelos ingleses, da Índia, regressaram a seus países de origem com novas noções de democracia, governo autônomo e independência nacional, e uma firme decisão de não mais aceitarem a antiga situação de inferioridade [...]". (BARRRACLOUGH, G. 1987, p, 147- 150).

    1 Os quatorzes pontos são proposições criadas pelo ex-presidente norte americano Woodrow Wilson em seu discurso ao Congresso dos Estados Unidos em janeiro de 1918 para a reconstrução europeia, após a Primeira Guerra Mundial. Seu objetivo era garantir a paz e evitar novos confrontos motivados pela vingança ou interesses políticos e econômicos. Nenhuma Nação seria punida ou ignorada; todas passariam a ter igualdade nas relações europeias. Apesar do altruísmo das propostas de Wilson, vários desses Pontos seriam ignorados pela comunidade internacional.

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    O avanço da industrialização e a consolidação do capitalismo monopolista levaram as potências europeias, os Estados Unidos e o Japão a iniciarem, nas últimas décadas do século XIX, um movimento de expansão e conquista que ficou conhecido como Imperialismo. De acordo com o historiador Eric Hobsbawm, essa política de anexação dirigida, sobretudo, para os continentes africanos e asiáticos, atingiu o seu auge no período compreendido entre 1875 e 1914.

    Na obra A Era dos Impérios, Hobsbawm considera que o fato mais significativo do século XIX foi à criação de uma economia global: Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transformações econômicas, comunicações e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando os países desenvolvidos entre si e ao mundo desenvolvido [...]. Essa globalização da economia não era nova, embora tivesse se acelerado consideravelmente nas décadas central do século. (HOBSBAWM, Eric. 1988 p, 95 ).

    Com o imperialismo, as potências capitalistas buscavam áreas para aplicação de capitais, novos mercados consumidores e regiões fornecedoras de matérias-primas para a indústria. Estavam em jogo também a afirmação nacionalista e a necessidade de dar saída ao excesso de mão-de- obra, resultado do aumento demográfico na Europa.

    Nas palavras de Cecil Rhodes, célebre colonialista inglês, refletem bem o pensamento

    predominante nas áreas centrais do capitalismo durante a corrida imperialista: "O mundo está

    quase todo parcelado e o que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite, esses vastos mundos que jamais poderemos atingir . Eu anexaria os planetas, se pudesse; penso nisso. Entristece-me vê-los tão claramente e ao mesmo tempo tão distante.

    Para muitos historiadores, as rivalidades Inter imperialistas e as lutas pela redivisão do mercado mundial desencadearam as duas grandes guerras do século XX. Esses dois conflitos foram decisivos para as mudanças que ocorreram no aparente sólido mundo colonial. Após a eclosão da I Guerra (1939-1918), as próprias potências imperialistas estimularam os movimentos nacionalistas em áreas coloniais, com o propósito de provocar dificuldades políticas e militares às nações rivais. Em 1922, por exemplo, o Egito, uma colônia britânica, obteve a sua independência e adotou o regime monárquico. Entretanto, foi a II Guerra Mundial (1939-1945) que provocou, de fato, a ruptura dos elos coloniais. Vários fatores contribuíram para o processo de descolonização afro - asiático, mas os mais significativos foram à perda da hegemonia europeia, resultante do desgaste material e humano provocado pelas duas grandes guerras, e o desenvolvimento de um forte sentimento nacionalista nos povos colonizados .

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    É impossível falar de modo geral do tratamento dado aos povos coloniais, porque ele variava segundo o momento e o lugar. Mas as atrocidades foram generalizadas, nenhuma nação imperialista tinha mãos limpas. Esses astutos exploradores, comerciantes-capitalistas julgava m honestamente que, roubando o país de seus habitantes, estavam realizando uma missão divina, para o bem dos nativos. A colonização era um fator necessário à prosperidade da Europa, no interesse nacional dos países colonizadores; aos olhos dos colonizadores a colonização era igualmente fundamental para as populações subjugadas que receberiam os benefícios de uma civilização mais adiantada. Estão explícitas as concepções de superioridade da raça branca e da civilização europeia, do direito e dever moral do colonizador de colonizar.

    De acordo com Kalina, apesar de ter como pano de fundo a expansão mundial das relações capitalistas de produção, o imperialismo teve também raízes políticas e culturais, entre as quais se sobressaía à crença na superioridade cultural racial dos europeus. Também teorias racistas, como o darwinismo social, tiveram importante papel na justificação da dominação imperialista, ao defenderem a superioridade dos povos brancos sobre os povos de cor. A raça branca, que se atribuiu o status de raça superior, assumiu, a partir dessas teorias, a missão civilizadora de levar progresso, desenvolvimento e civilização àqueles povos que considerava incivilizados e racionalmente inferiores. (KALINA, p, 219).

    O escritor Leonard Woolf 2 disse: Em quase todos os casos, os primeiros passos no sentido da divisão e incorporação do território africano aos Estados europeus eram dados pelos homens de negócios ou companhias capitalistas, trabalhando em cooperação com exploradores ou com agentes próprios. O processo habitual era o explorador ou agente penetrar no interior, a alguma distância da costa, e induzir os chefes ou reis, com ofertas de roupas ou álcool, a assinar os chamados tratados com as sociedades anônimas. Para ele, segundo esses tratados, os chefes africanos, cuja assinatura consistia em uma cruz, cediam todo o seu território às sociedades anônimas em troca de alguns metros de fazendas ou alguma garrafa de gim. Quase todas as possessões da África Central cedidas aos Estados europeus têm por base esses acordos, toda a África Central foi dividida e incorporada aos Impérios da Grã-Bretanha, França, Alemanha, Bélgica, Portugal e Itália.

    Quanto aos tratados assinados entre europeus e africanos, embora fossem solicitados por

    2 Leonardo Sidney Woolf nasceu em 25 de novembro de 1880, em Kensington, Londres-Reino Unido. Foi um teórico, autor e editor, é mais conhecido por ter sido marido da escritora Virginia Woolf. Estudou na Universidade de Cambridge, faleceu no dia 14 de agosto de 1969.

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    estes, é preciso dizer que na maioria dos casos não eram conformes aos de direito, há os que continham elementos de ambiguidade e fraude deliberados; em todos os casos, subjazia sempre uma visão africana do europeu como o mais forte o melhor armado. Definitivamente, qualquer dos tratados através dos quais os europeus abriram caminho para colonizar a África foram sempre o instrumento de uma política que, embora dotada de alguns instrumentos jurídicos muito preciosos e coerentes, teve sempre como principal arma o recurso virtual ou efetivo da violência. Uma política que, nessa época, foi justificada pela ideologia da missão civilizadora do homem branco num continente selvagem em face de alguns povos menores de idade.

    Os tratados foram à forma predominante, mas não só entre africanos e europeus, mas também exclusivamente entre os europeus. No primeiro tipo de tratados, geralmente, os chefes africanos eram induzidos a assiná-los, com fins defensivos para submeter outras tribos: em geral, para receber armas ou para fazer-se respeitar graças a um aliado importante. Frequentemente, este tipo de tratados era estabelecido primeiro por uma grande companhia comercial privada que, algum tempo depois, transferia seus custos e benefícios para o governo: este último declarava, em seguida, o território da tribo ou etnia signatária como seu protelado.

    Os tratados bilaterais entre os europeus tiveram seu primeiro exemplo e modelo no tratado anglo-alemão de abril de 1885, embora talvez o mais conhecido de todos eles seja o que assinaram a Alemanha e a Grã-Bretanha, em novembro de 1886, pelo qual se reconhecia-entre outras coisas - a zona de influência alemã no leste da África e os direitos britânicos sobre Zanzibar.

    A definição das fronteiras das zonas de influência colonizadoras teve em conta as ocupações territoriais realizadas pelas potências europeias, assim como as fronteiras naturais; contudo, frequentemente estas se estabeleceram superpondo a rede dos meridianos, de paralelos sobre o terreno e designando as zonas segundo as coordenadas: não se respeitou minimamente a distribuição geográfica original das organizações políticas e dos assentamentos humanos. Tudo isso é lógico se pensarmos que na elaboração desses tratados nunca intervieram, nem sequer como observadores, os representantes daquelas populações e territórios objetos de divisã o. (GRANDE HISTÓRIA UNIVERSAL p, 22).

    Para a escritora Kalina: "Quase todo o mundo, com exceção da Europa e da América, foi dividido em territórios dominados por potências como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha e, mais tarde, os EUA e o Japão. Essa divisão respondeu à busca por novos mercados empreendida simultaneamente pelo capital monopolista de diferentes economias, que se confundiam com os próprios governos nacionais, gerando assim rivalidades entre as potências. O próprio status de potência estava associado à posse do maior número possível de territórios dominados e se tornou

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    por si só razão política para a expansão.

    O continente africano foi integrado no sistema internacional de comércio desde o século XV. A história de cinco séculos vivida pelos europeus na África, impedindo que os africanos vivessem, começou com a exportação de escravos, aos poucos o interesse dos europeus pela África se modificou, viram que a mesma possuía imensa potencialidade, principalmente, por suas enormes reservas vegetais e minerais, como também à presença dos indivíduos que poderiam servir tanto como produtores quanto como consumidores. Os modelos coloniais implantados na África não representaram uma nova opção de vida para os europeus, isto é, eles não foram para lá construir uma nova pátria.

    Quando os missionários, os comerciantes ou os viajantes faziam estudos do território, das línguas, dos costumes e das tradições, não era com a intenção de valorizar as culturas locais e muito menos a de preservar e defender os valores daquelas civilizações contra a desfiguração causada pelo contato com a civilização europeia. Muito pelo contrário, o objetivo de tais estudos era conhecer melhor para dominar mais facilmente, apagar as várias culturas para semear outra". (KALINA, p, 70).

    Leila Hernandez nos coloca a importância de destacar que a evangelização cristã, fosse católica ou protestante, tinha três pontos comuns. O primeiro era empreender a conversão dos africanos não apenas ao cristianismo, mas ao conjunto de valores próprios da cultura ocidental europeia. O segundo, por sua vez, era ensinar a divisão das esferas espiritual e secular, crença absolutamente oposta à base do variado repertório cultural africano fundado na unidade entre vida e religião. Já a terceira referia-se à pregação contrária a uma série de ritos sagrados locais, o que minava a influência dos chefes tradicionais africanos. (HERNANDEZ, p, 54).

    Nas palavras de Leo Huberman "Os nativos dos territórios conquistados eram, frequentemente, bem peculiares. Ficavam confusos com o que

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