Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Cão De Guerra
O Cão De Guerra
O Cão De Guerra
E-book392 páginas5 horas

O Cão De Guerra

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Em tempos a muito esquecidos, eram criados e destruídos ou engolidos por outros reinos maiores. Radan foi fundada pela família Buwer, os ramos familiares administravam além da capital Radan mais duas cidades, Rady centro militar e Frogy mais voltados a diplomacia. Por ser um reino independente e seus exércitos e guerreiros bem preparados Radan divergia dos demais reinos da época e não obedecia a Igreja de Roma sendo para muitos um porto seguro daqueles que fugiam da Inquisição...Romance, espiritualismo, batalhas e até mesmo extraterrestres fazem parte desta agradável e e divertida história.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de ago. de 2022
O Cão De Guerra

Leia mais títulos de Sandra Lins

Relacionado a O Cão De Guerra

Ebooks relacionados

Relacionamentos para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Cão De Guerra

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Cão De Guerra - Sandra Lins

    O CÃO DE GUERRA

    NO REINO DE RADAN!

    Sandra Lins

    Em tempos a muito esquecidos, os pequenos reinos surgiam e desapareciam com a mesma rapidez. Entretanto alguns se mantinham por um longo tempo e se tornavam poderosos, assim conquistavam seus débeis vizinhos, ou se aliavam para tornarem ainda mais potencialmente letais. 

    Contam que o lendário reino de Radan fundado pelos Buwers surgiu porque a família havia fugido das invasões nórdicas cada vez mais violentas, mas na verdade fora por perseguições religiosas, pois a família outrora serva fiel da igreja enriquecera em batalhas contra os Sarracenos na Terra Santa entretanto se revoltaram contra a ganancia cada vez maior do clero da época. O patriarca da família Platos Buwer cansado de tantas batalhas amealhou todo seu tesouro e fugiu com seus familiares pra fundar seu próprio reino que seria fruto de um sonho do patriarca.

    Se embrenharam terras a dentro até acharem o local certo para a fundação de Radan, seu irmão Petrus fundou a cidade Rady, e o primoTaves fundou a menor das três cidades Frogy afastadas umas das outras por dois a três dias de viagem pelas péssimas estradas. Seus servos que também os seguiram ali se alojaram e logo as cidades foram tomando corpo, das montanhas vieram com muito sacrifício as pedras pra construção das muralhas, casas, castelos e o Palácio no estilo romântico, todas as cidades possuíam fosso e uma muralhas.

    A população que começara com cento e poucos membros, na terceira geração da família já estava em mais de dez mil distribuídas pelas três cidades. Como o reino ficava longe do mar, não possuía porto, assim seu posicionamento geográfico lhe permitiu ser um dos mais bem sucedido interpostos comerciais de sua época, o mercado de Radan era visitado pelos povos do oriente e ocidente, por isso sua cultura e arquitetura tiveram várias influências. No comércio as negociações eram feitas em ouro, trocas ou mesmo na moeda radaniana o Zamis que era cunhada pelos artesões de Frogy, eram feitas em ouro, prata e bronze arredondas com a insígnia real.

    A sociedade de Radan era bem organizada mas profundamente patriarcal, não eram preconceituosos, desprezavam a escravidão e o racismo, apenas gostavam de manter suas riquezas dentro do reino assim radanianos evitavam casar-se com estrangeiros. As mulheres eram em sua maioria loiras ou ruivas, as morenas eram raridades bastante cobiçadas quando nascidas na cidade. As radanianas não trabalhavam senão em funções ditas femininas da época, eram em sua maioria donas de casa, não podiam herdar nada nem mesmo na realeza, em Radan costumava-se a dizer que as mulheres apenas obedeciam nunca questionavam.

    As damas se vestiam com elegância respeitando as longas saias que a moda da época impunha, traziam generosos decotes que atraiam os olhares pela exuberância e beleza ariana das damas, usavam seis pequenos adornos como anéis longos abertos que se fechavam adornando uma ou mais mechas de cabelo quando solteiras, apenas uma quando comprometidas feitos de ouro, prata ou bronze de acordo com seu status financeiro, as casadas não usavam os tais adornos, sua beleza era unicamente para os maridos.

    Numa sociedade profundamente patriarcal, se um homem se cansasse de sua esposa a devolvia sem os filhos para sua família e está não era obrigada a aceitá-la de volta, assim pelo o temor de ir integrar um dos bordeis do reino, quando as damas percebiam que seu esposo já as mal tratava, ou mesmo as olhava com desprezo elas se apressavam em ministrar-lhes gradualmente a Tipi também conhecida como Guiné, esta erva era um segredo que passava de mãe pra filha, a erva tinha sabor agradável de alho, e a vítima morria em dois três meses aparentemente de causas naturais, as radanianas possuíam um forte senso de sororidade contra do machismo perverso da época.

    Os homens eram em sua maioria também de biótipo ariano, militares, comerciantes, prestadores de serviços, burgueses, fazendeiros e a realeza. Tinham aparência agradável, o radaniano diferente da maioria dos homens de sua época não gostavam a usar barba, ou cabelos compridos, preferiam cabelos curtos evitando piolhos que era uma praga na época em muitas cidades, mas não havia uma moda obrigatória, buscavam se vestir com elegância, couro, algodão, seda etc. Machistas por essência não admitiam que uma mulher falasse em público ou mesmo frequentasse suas escolas, ler era para os homens e mesmo assim de comerciantes em diante, soldados e campesinos não precisavam aprender a ler. Seus famosos bordeis eram visitados como ponto de encontro masculino, funcionavam dia e noite em Radan, devido ao grande fluxo do mercado na capital.

    A religião dos radanianos era bem volúvel, havia sim representantes de algumas filosofias religiosas das quais eram simpáticos, tais como a africana, orientais, entretanto desde o surgimento do santo local São Pororó o povo voltou-se para um pseudo catolicismo no qual a prática irritava o padre Franco que administrava a bela igreja de Radan visto que o santo não era aceito pela igreja oficial mas pra agradar e fortalecer laços permitiram que lhes fizessem um altar e uma imagem. Radan não possuía uma religião oficial e a igreja não interferia em suas decisões como em outros países e reinos.

    O regime governamental era absolutista, um rei governava o reino assim como comandava seus exércitos. Todos os dias, ele abria as portas do palácio afim de ouvir as demandas, era o senhor e o juiz respeitado e querido por todos sua decisão não poderia ser contestada, nos condados quem fazia essa função eram os condes, mas se o cidadão não ficasse satisfeito poderia levar sua causa ao rei.

    A família Buwer, fundadora do reino vinha no poder revessando-se em seus três ramos; Os Buwers de Radan políticos e intelectuais de onde viam os últimos reis, os Buwers de Rady belicosos e rudes chamados de Cães de Guerra Radynianos eram o braço armado do reino bem trainados e letais, e os Buwers de Frogy, religiosos e diplomatas. Atualmente o regente era o garboso rei Mikolos, querido pelo povo permanecia solteiro o que desagradava aos anciãos do conselho e os nobres, que temiam que o poder acabasse nas mãos dos cães de guerra de Rady e estes transformassem o reino num quartel vagando de guerra em guerra.

    Os Buwers de Rady atualmente tendo como representante o temido conde Áquila no comando, e seu filho o jovem George. Em Frogy a menor das três cidades dos reino vivia o Conde Nicholas, sua esposa Vilna e seu filho Fabrício, lá também era o retiro da rainha-mãe, visto que as mulheres não podiam assumir o poder, assim com a morte do esposo real elas entravam em retiro forçado naquela cidade. A mãe de Mikolos, Sarita ali vivia em uma bela casa mas também possuía aposentos no castelo com conforto e segurança, mas o relacionamento com o filho regente não era dos melhores e claro pela lei ela não podia contrair novas núpcias ou perderia sua boa vida.

    Na pecuária, aves, ovinos, bovinos e equinos, na agricultura trigo, milho e frutas variadas, além do fabrico de armas eram as formas de sustento do reino produziam tanto pra consumo interno como para venda, também seu vinho era muito famoso, as minas de Frogy cediam o metal de suas belas espadas e escudos, e para os artesãos que fabricavam suas belas peças e adornos. 

    As relações exteriores eram boas, na medida em que seus vizinhos não tentassem invadir ou usurpar algo dentro de suas fronteiras, Ergona até hoje amargava uma derrota que lhe custou um pedaço de seu território pra Rady, quando a diplomacia falhava Radan deixava bem claro que a resposta seria um ataque rápido e mortal.

    Kadia, Posan e Ergona eram seus principais vizinhos, neste momento Kadia está em negociações com Radan sobre o uso do seu porto, o velho rei Cornélio resolveu aumentar as tarifas, e um possível de casamento do rei Mikolos com a princesa kadiana Leylla poderia ser útil e agradável a ambos os reinos.

    Por não ter uma religião oficial todos os perseguidos pela inquisição encontravam em Radan um refúgio, pois o reino jamais admitiu que a Inquisição se instalasse com seus tribunais, numa terra onde o fanatismo, o sincretismo e até mesmo o Ateísmo andam de mãos dadas, a Inquisição ali seria um insulto.

    Assim sucedeu com Serrano, jovem médico fugido da Inquisição na Espanha que vivia há algum tempo em Radan, era constantemente criticado pela esposa Norah que não aceitava o nível em que viviam, o médico só cobrava daqueles que podiam pagar e atendia todos os pobres e desvalidos que o buscavam.

    Pai da pequena Sara esperta e atrevida, nascida em Radan, a menina quase não conhecia a cidade, devido ao receio dos pais que evitavam os olhares curiosos sobre a menina com seus lindos olhos e cabelos negros e pele muito clara.

    Naquela manhã Serrano se divertia em ver a pequena sentada cantando no colo da empregada Edith, enquanto sua esposa reclamava:

    ---- Serrano, você cobrou das... você sabe?

    ---- Das moças do bordel Norah? Sim, dona Magg ficou de vir hoje fazer o pagamento.

    ---- Serrano não acredito que não tenha cobrado na hora?! Acho difícil agora você receber este pagamento.

    Serrano sorri e diz:

    ---- Norah, elas trabalham e recebem no dia seguinte, não teriam como me pagar na hora...A não ser que eu aceitasse outro tipo de pagamento.

    A dama de cara feia exclama:

    ---- Não se atreva!

    Serrano levanta e abraça a dama beijando-a:

    ---- Controle-se homem, olha a aia e a menina.

    ---- Está chocada Edith? Sara tenho certeza que não pelo sorriso.

    Responde a aia:

    ---- Imagine doutor, fico é emocionada, quero um casamento assim.

    Norah solta-se do marido e diz ajeitando as belas madeixas castanhas:

    ---- Por falar em casamento, no que deu a proposta do rei a princesa de Kadia?

    Edith sorri e diz:

    ---- Bom, segundo uma prima que é irmã da prima de uma empregada do palácio, a coisa não está boa, Kadia se recusa a ceder.

    Serrano balança a cabeça negativamente e diz:

    ---- Ai meu bom Deus mais uma guerra? Eu vou trabalhar.

    Serrano beija a filha e a esposa e sai, Norah comenta com Edith:

    ---- Bem que Serrano poderia ser chamado pra equipe de médicos do palácio não é aia?

    ---- Dona Norah, competente pra isso ele é!

    ---- Verdade, estou querendo é sair da pobreza e ir pra realeza aquilo é que é vida.

    ---- É difícil senhora, Dr Cesário é o médico real há muito tempo e é ele que escolhe quais médicos irão pra sua equipe.

    ---- Eu sei estamos aqui a dez anos, só agora que estamos podendo manter uma aia e ter uma vida melhor...Mas tem que haver uma maneira de destacar meu marido diante do velho Cesário, mas como?

    ---- Quantos zamis a senhora tem guardado? Pode ir na mesma modista de Lady Neide que dizem que é amante do velho médico.

    ---- Lady Neide é a governanta do palácio?

    ---- Sim, e dizem que é a verdadeira conselheira do rei, conhece o rei Mikolos desde menino, é uma cobra mas gosta de crianças e certamente uma menininha morena, linda e esperta de oito anos pode tocar o coração da réptil.

    ---- Vou ter uma conversa com Jean o modista e descobrir quando a governanta irá ter com ele.

    Em outra sala da casa em seu consultório Serrano atende um comerciante:

    ---- Com está guerra iminente, prevejo que vou pagar tudo que lhe devo Serrano.

    ---- Senhor Renato, graças a seu pagamento em mantimentos mantenho minha família alimentada, mas pra que quer mais dinheiro já está rico homem?!

    ---- Que Deus ouça sua frase!

    Serrano sorri e diz:

    ---- Ouvi minha mulher falar algo com a aia, diga-me por quê estes belicosos Buwers estão brigando desta vez?

    ---- Kadia, digo o porto de Kadia é claro... Disse-me um freguês que é um nobre próximo a casa real, que a jovem princesa Leylla mandou nosso rei Mikolos ás favas, a dama é uma devassa muito conhecida por seus diversos amantes e sabe que o nosso linfático rei nada mais quer que o belo porto de sua cidade e não o amor da jovem.

    ---- Curioso, Mikolos é um Buwer pacifico, essa será sua primeira guerra não é?

    ---- Sim, na verdade os Buwers de Radan são pacíficos, os cães de guerra são os radynianos, capitaneados por Áquila o conde de Rady, tio de Mikolos.

    ---- Ou seja, quando as negociações falham os cães de guerra entram em ação?

    ---- Sim, e que ação, já viu os Buwers de Rady?

    ---- Não, nestes quase dez anos que aqui me encontro apenas vi Mikolos uma vez em cada ano no festival em homenagem a São Pororó, e mesmo assim de longe.

    ---- Antes doutor, Áquila vinha muito a cidade, até que casou-se com a senhora Inez uma dama tão linda como sua esposa, cabelos quase negros como o ébano, olhos claros, creio que azuis, só a vi uma vez de perto.

    ---- Pensei que não haviam mulheres assim nascidas aqui em Radan?

    ---- Inês era filha de um turco, dizem que negociou a peso de ouro o casamento da filha com o conde.

    ---- Imagino mas assim como Sara ela nasceu aqui?

    ---- Sim, ela era uma radaniana. O que surpreendeu a todos na época foi por que a dama quis aquele ogro. Era até um pecado, uma mulher que parecia uma boneca de porcelana com olhos de anjo, com aquele ogro.

    ---- Ora Renato você mesmo disse que o velho turco a vendeu a peso de ouro.

    ---- Sim, mas entenda, ela poderia dizer não e disse sim para o ogro, frustrando até mesmo o então príncipe Plinio de Ergona, dizem ela e Mikolos eram grandes amigos.

    ---- Ah meu caro Renato, a atração entre homens e mulheres é um mistério, mesmo que um dia a ciência possa explicar como o amor acontece, a atração será sempre um mistério...Na filosofia que estudo diz que tivemos várias vidas, talvez daí venha a atração, nos apaixonamos pelos nossos velhos amores.

    Renato se prepara para sair e diz:

    ---- Eu não creio nestas coisas doutor Serrano, e se fosse o senhor não andava falando isso por ai, afinal não temos inquisição aqui, mas temos alguns partidários dela entre os católicos mais arraigados.

    Serrano dá um sorriso, e diz:

    ---- Se forem partidários de São Pororó estou tranquilo!

    Renato sorri e se despede do médico, ao mesmo tempo em que Madame Magg chegava afim de pagar ao médico pelo serviço prestados ás prostitutas de seu bordel:   

    ---- Bom dia Serrano, vim acertar a nossa conta.

    Serrano entra em seu consultório com a simpática e bonita jovem dama ruiva e está diz:

    ---- São quatro zamis de ouro, aqui está, obrigado por esperar.

    ---- Não por isso dona Magg.

    Magg olhou o moreno de olhos amendoados e sorriso largo e disse:

    ---- Você não é apenas um belo homem, mas o mais gentil que conheci até me chama de dona, sem falar que é o único que atende ao bordel sem nos explorar!

    ---- Qual a diferença entre vocês e as damas da sociedade radaniana? Vocês vendem algo que lhes pertence de forma digamos sincera.

    A bela ruiva dá uma estrondosa gargalhada e diz:

    ---- Serrano você é terrível, sim as damas se dão por amor ... E as meninas do bordel também se dão por amor, o amor a sobrevivência.

    O médico sabia que Magg nunca fora prostituta, ela apenas administrava o bordel que era da tia já falecida.

    Serrano e a dama sorriem e ele diz:

    ---- Vamos ser justos há realmente aquelas que amam; E como você está ainda tem aqueles sonhos?

    ---- Sim, acho que uma mãe nunca deixa de pensar e sonhar com sua filha morta ou viva, no meu caso é pior, desaparecida.

    ---- Você tem certeza que o pai não ficou com ela?

    ---- Não, com certeza o pai não ficou com ela, apenas a roubou pra torturar-me por não ama-lo. Meu marido sabia que a filha não era dele!

    ---- Incrível é que ele saiu vivo dessa história afinal dizem que vocês tem seus métodos secretos pra se livrar de maridos indesejáveis. Não quer me contar o que usam?

    Magg sorri se dirige a porta pra sair e diz:

    ---- Há dezoito anos doutor eu era ingênua, não tive coragem de fazer o que devia ...E não pense que só por que somos amigos vou revelar nosso segredo, mesmo que as damas respeitáveis virem a cara pra mim, prefiro ter menos clientes que mais prostitutas em minha casa.

    Serrano ficava impressionado pois saber guardar segredo segundo o machismo da época não é coisa própria das mulheres. Ele acena a mão para a dama que se afasta em direção ao confortável bordel de Radan.

    No belo palácio de Radan o rei Mikolos era submetido a um exame pelo seu médico:

    ---- Pode vestir-se majestade.

    ---- E então Cesário, como estou?

    ---- Bem, apesar de todo este tumulto com Kadia sua saúde não foi afetada! Claro, auscultando e fazendo prognósticos intuitivos já que o conheço desde que nasceu, espero que um dia inventem uma máquina que vocês entrem e possamos ver dentro de cada paciente.

    Mikolos sorri e diz:

    ---- Ai não precisaremos mais de médicos.

    ---- E quem vai traduzir as imagens?

    ---- É verdade meu amigo, de vocês não nos livraremos nunca!

    ---- E as feras radynianas quando chegam?

    ---- Dentro de alguns dias, Áquila está terminando o treinamento de alguns soldados.

    ---- Sei, e o menino virá com ele?

    ---- George, creio que sim, afinal o filhote de cão de guerra está louco pra enfiar os dentes, digo a espada em alguém.

    ---- Será sua primeira batalha! O tempo passa rápido não Mikolos? Parece que posso ver Inez correndo pelos jardins do palácio linda como um anjo, com aqueles olhos azuis, aquela pele alva e o vasto cabelo castanho escuro.

    Mikolos sorri e pergunta:

    ---- Mas até o senhor meu velho doutor, também era apaixonado pela finada condessa de Rady?

    ---- Não seja maldoso Mikolos! Claro que uma mulher com aquela beleza era impossível não admira-la e não nego que ainda não consigo aceitar o casamento dela com aquele asno.

    Mikolos cai na gargalhada e diz:

    ---- E lembre-se foi feita à vontade dela! Apesar do grande número de pretendentes nobres, ricos e ao menos fisicamente mais atrativos que Áquila ela o preferiu aos outros.

    ---- E o que mais me mata majestade, é que ele nem era pretendente dela.

    ---- Ela me disse doutor que não sabia explicar o porquê se sentia atraída por ele, desde que o viu desejou ser sua esposa, por sua vez Áquila não queria crer que a bela dama desejasse ser sua condessa, meu pai ponderou muito para dar permissão para este casamento, mas creio que o velho rei Minos sabia que estava partindo e quis deixar seu irmão mais novo feliz.

    ---- Áquila tardou muito para casar-se como você...A diferença é que ele casou-se com uma donzela e você quer se casar uma mundana.

    Mikolos sorri e afirma:

    ---- Prefiro uma dama maculada sem máscara que uma mascarada imaculada meu caro.

    ---- Espero que não se arrependa, afinal uma mulher muito liberal não assume compromisso com ninguém! Eu vou indo com sua licença majestade.

    Longe dali em Rady os jovens soldados se preparavam pra partir entre eles o afoito George Buwer e seus amigos o calmo e romântico John, seu glutão e engraçado irmão Tiago ambos judeus, e o belo e sedutor Reno. John era o mais velho dezenove e os demais dezoito, ansiosos com sua primeira batalha, duelavam entre si, George duelava com Tiago que ao cair no chão gritou:

    ---- Calma lá cão de guerra, eu não sou seu inimigo lembra?

    George dá uma boa gargalhada e abraça o amigo e diz:

    ---- É verdade amigo, você é meu irmão, me desculpe.

    De longe, da janela de seu castelo uma figura alta de cabelos quase raspados os admirava, era o Conde Áquila. O negro Somo seu capitão da guarda e amigo aproxima-se e diz:

    ---- Se orgulho matasse você cairia morto agora.

    ---- E não é para ter Somo, olhe pra ele.

    ---- É uma cópia sua, claro só que com mais cabelos, (Risos) e os olhos azuis da mãe!

    O velho guerreiro mirou o horizonte por alguns segundos e Somo disse:

    ---- Eu e minha grande boca, não devia ter falado nela.

    ---- Não amigo, não se preocupe, estou bem...Inez me deixou este pedaço dela que é meu maior tesouro. Imagine se nossos inimigos soubessem que este velho cão hoje é um pai apaixonado.

    ---- Não diga bobagens homem, ele o ama e sente muito orgulho de ser seu filho.

    O conde concluiu:

    ---- E eu, de tê-lo como filho!

    ---- Você precisa superar a morte dela caro amigo, dezoito anos de luto é demais!

    ---- Mudemos de tema caro amigo ai vem Martha tua esposa. 

    A governanta do castelo Martha a bela e robusta ruiva adentra a sala e dispara:

    ---- Conde, eu já fui duas vezes chamar aqueles moleques pra almoçar, se for uma terceira quebro o braço de um.

    Áquila faz uma cara de espanto e diz:

    ---- Calma Martha, eu irei chama-los pode servir, já estaremos à mesa.

    A dama se retira e os dois descem até o pátio de pedras cercado de macieiras aonde os rapazes treinavam junto aos demais soldados, ao vê-los George corre de espada em punho e chama o pai a luta:

    ---- Lute comigo pai?

    Áquila abraça o filho e diz:

    ---- De maneira alguma não quero passar vergonha diante dos meus soldados

    Todos caem na gargalhada e o conde conclui:

    ---- Somo libere-os para o almoço.

    Tiago sorri e grita desesperado:

    ---- Nós também? 

    Áquila solta uma gargalhada e diz:

    ---- Com certeza gordinho, ou dona Martha mata um, venham vamos comer.

    Caminharam para dentro e George abraçado ao pai lhe perguntou:

    ---- Kadia é beira mar, já lutou perto do mar? Há alguma diferença?

    ---- O problema de Kadia não é ser perto do mar George, mas sim por ser uma rocha dentro do mar, sua posição é privilegiada, não há onde se proteger durante um ataque teremos que confiar em nossos escudos, mas não sofra por antecipação só diante do obstáculo é que se sabe o tamanho do salto a dar.

    Todos assentam-se à mesa e Tiago diz a Martha que servia:

    ---- Martha hoje tive um dia terrível, acho que vou adoecer, coloque comida pra mim porção dobrada sim?

    Martha semicerra os olhos mirando o gordo e diz:

    ---- E quando foi que você comeu apenas uma porção sua besta? Não leve este menino pra guerra conde, ele não vai suportar aquela comida de rancho.

    Todos caem na gargalhada e Áquila ainda rindo diz:

    ---- Imagine ele vai adorar, é comida de macho, feita sem requinte, mas muito saborosa Tiago.

    Disse o gordinho já aflito:

    ---- Como assim comida de macho?

    Martha responde batendo no ombro do jovem:

    ---- Veja esta galinha que está comendo, tenho o cuidado de escaldar, tirar todas as penas, e entranhas etc. No rancho eles não tem tanto cuidado, vai um pouco de pena e as entranhas com tudo que havia dentro da galinha, mas como disse o conde, com muito sabor.

    Tiago faz cara de repulsa e pergunta provocando risos:

    ---- Conde pelo bem de meu estomago, podemos levar Martha?

    Somo responde antes do conde:

    ---- Sinto muito Tiago, mas em hipótese alguma ficarei sem minha esposa, e Martha está exagerando um pouco, a comida não é uma maravilha mas dá pra comer bem, afinal as tropas tem que estar saudáveis pra executar sua missão.

    Áquila sorri e diz:

    ---- Mas de uma diarreia você não escapa. (Risos)

    Martha olha de cara feia pro conde e diz:

    ---- Isso não é assunto pra conversa à mesa Áquila e vou logo avisando se o meu menino voltar doente você vai comer salada por uma semana.

    John irmão de Tiago explicou:

    ---- Não estamos indo para um passeio Martha, estamos indo pra uma guerra, o que importa é voltarmos com vida, estou errado conde?

    Áquila faz um carinho no belo cabelo ruivo do jovem e diz:

    ---- Você está certo, um grande guerreiro é aquele que sabe que a guerra traz toda sorte de consequências e a morte é uma delas, é quando você presencia o melhor e o pior do ser humano, a covardia, a coragem, a desumanidade, a solidariedade e muito mais. Dizem que nós Buwers de Rady somos guerreiros por excelência, na verdade descobrimos antes dos demais que a guerra é um mal necessário quando os argumentos acabam e não se chega a um lugar comum, mas viver em paz é sempre o melhor!

    Somo acenou a cabeça afirmativamente e Tiago ainda mastigando uma coxa de frango exclama

    ---- Pior, é comer mal, dormir mal, correr risco de morte, e tudo para que Mikolos se case com uma devassa kadiana.

    Os homens explodem na gargalhada e Martha dá um tapa na cabeça do gorducho e diz:

    ---- Mas o que é isso, que falta de respeito! Essa devassa pode vir a ser a rainha de Radan menino.

    Tiago deu um sorriso e respondeu:

    ---- Eu sei Martha, e essa é minha esperança de Radan virar um grande bordel.

    Martha cobre o gordo de tampas, diante dos demais que gargalhavam quando Áquila diz:

    ---- Martha, deixe-o ele está certo, a realeza kadiana é bem amoral. E se querem saber Tiago está certo, lutar por terras, por ouro, ideais é assertivo, mas por uma vagabunda, não!

    Somo coloca de forma objetiva:

    ---- Veja assim meu velho amigo, estamos lutando para conquistar o porto e a cidade de Kadia, a princesa Leyla vira como brinde.

    George diz:

    ---- Eu não quero me casar!

    Áquila para de comer e diz:

    ---- Sei e quem herdará Rady?

    ---- Pai, não preciso casar para ter herdeiros.

    ---- Sim é verdade só tem um pequeno detalhe, a lei radaniana é muito clara, apenas herdeiros advindos de um casamento podem herdar algo em Radan, do jeito que vai o próximo rei será aquele tonto do Fabricio. E você Reno por que está tão calado?

    ---- Estou pensando, o que Gers vai dizer quando eu chegar em casa Você almoçou no palácio não é, comeu aquela comida gordurosa não é e....

    Martha interrompe e diz:

    ---- Diga aquela gorda solteirona que se um dia ela for metade da cozinheira que sou aquela confeitaria de vocês será um sucesso, hurm!

    Martha vai para a cozinha e Reno pergunta:

    ---- Essa briga é velha, mas de onde surgiu Somo?

    ---- Acho que quando Gers veio acompanhando Inez como aia, as duas brigavam por tudo, até com relação a temperatura da água do banho da condessa.

    George pergunta:

    ---- Pai porque há pessoas que se sentem felizes em servir e outras se rebelam?

    ---- Bem George desde que o mundo é mundo é assim, isso é uma pergunta pra seu primo Mikolos guarde-a, ele gostará de responder, seu pai é apenas um soldado, Mikolos é o filosofo. 

    Áquila faz um carinho no filho e prosseguem com o almoço.

    Mais tarde ao voltar pra casa, Reno olha a simpática e exuberante loira Gers fazer um drama enquanto Reno arruma seu alforje de viagem:

    ---- E se você morrer?

    ---- Depende mãe, se nós ganharmos, terei uma cova individual, caso contrário vou na vala mesmo com os demais.

    A dama explode numa choradeira:

    ---- Mãe poupe meus ouvidos com essa choradeira sim.

    ---- Vá merda, eu suportei todo seu choro, urina e cagadas, e toda sorte de nojeiras que saiam de seu nariz e boca...

    ---- Por falar em boca a sua tá bem suja hein, vai ver foi por isso que Áquila não quis casar com você.

    ---- Inez, tinha uma boca tão suja quanto. Áquila não se casou depois da morte dela por que ficou obcecado por ela...Coloque outro casaco no alforje.

    ---- Gers, Kadia é para o sul e junto do mar, lá deve fazer um calor tremendo e estamos no verão.

    ---- Você é quem sabe? Quando Áquila me trouxe você, eu não devia ter lhe adotado, desobediente! Ah mas fui tonta vi você loirinho, com esse grandes olhos verdes tão pequeno, tão frágil e me enamorei.

    ---- Nossa, esse drama todo é pra que eu leve mais um casaco? Está bem eu levo, mas devo deixar bem claro, que segundo Martha, você foi muito bem paga pra cuidar de mim ou ela está enganada?

    Gers dá uns tapas em Reno e diz:

    ---- Está insinuando que fiquei com você apenas pelo dinheiro, menino?

    Reno percebe que falou demais e que

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1