Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Os Pais Também Existem
Os Pais Também Existem
Os Pais Também Existem
E-book101 páginas1 hora

Os Pais Também Existem

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Este livro visa compartilhar meus sentimentos com os demais pais que passam pelos anos mais tenros da paternidade, mas também se destina às mães que procuram entender como a cabeça do homem funciona durante esse período difícil, mas linda fase da vida. A ideia principal é que haja união entre os cuidados despendidos pela mãe e pelo pai para que a experiência da criação possa ser ainda mais profunda e gratificante. Com o empoderamento feminino e a igualdade nas condições de trabalho e escolhas pessoais, devemos atualizar a forma como nós, pais, nos comportamos diante do nascimento de um filho. Hoje, não é mais concebível que um pai não troque fraldas, alimente, proporcione colo ou que deixe de prover qualquer cuidado em prol de uma criança. Na grande maioria das vezes, a mulher será o exemplo que devemos seguir, mesmo assim, precisamos achar o nosso próprio jeito de zelar e proporcionar as melhores experiências para os nossos filhos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de ago. de 2023
ISBN9786553555105
Os Pais Também Existem

Relacionado a Os Pais Também Existem

Ebooks relacionados

Ciências Sociais para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Os Pais Também Existem

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Os Pais Também Existem - Juliano de Andrade Serotini

    1 REALIDADE

    Esqueça qualquer romantismo inútil que lhe contaram sobre paternidade. Não pense que, no dia do nascimento ou do encontro com o seu filho, haverá algum sentimento extraordinário. Na verdade, o único sentimento nobre que tive quando minha filha nasceu foi orgulho por não desmaiar durante o parto. Lembro que estava sentado ao lado de minha esposa – que acabara de ser anestesiada – e fingia amarrar meus sapatos; tinha certeza de que, cedo ou tarde, eu estaria esticado na sala de cirurgia sendo abanado por alguém. Por sorte, não desmaiei e nem vomitei.

    Minha esposa e eu descobrimos, no final do ano de 2019, mais precisamente dezembro, que um bebê chegaria em nossas vidas. Estávamos em processo de assimilar a ideia de ter um filho e deixamos que isso acontecesse de forma natural. Em dezembro de 2019, preocupávamo-nos apenas com nomes, o quarto, trabalhos extras até o nascimento, o enxoval, dentre outras coisas cotidianas. Ouvíamos, vez ou outra, que um vírus havia tirado a vida de pessoas na China, mas nos parecia algo distante e sem qualquer efeito preocupante naquela ocasião.

    No fim de semana que descobrimos sobre a gravidez, havíamos acabado de chegar de São Paulo. Fomos a um show da Norah Jones, tomamos vinho e badalamos bastante. Quando voltamos para casa, minha esposa pediu para ir à farmácia comprar um teste de gravidez. Mesmo que ainda tivéssemos deixado acontecer, havia um certo ceticismo quanto à confirmação, mas quando o segundo risco apareceu, confesso que senti um imenso frio vindo de dentro para fora da minha barriga, seguido de grande felicidade.

    Na verdade, para ser bem sincero, a gestação não muda muito o universo masculino. Continuamos com os mesmos hábitos. Em tese, não precisamos parar de beber, mudar a alimentação ou qualquer outra coisa que possa alterar nossa rotina. Diferentemente das mulheres, nosso corpo não muda, nosso humor não se altera, nosso sono, na maior parte das vezes, continua em dia. A gravidez apenas nos afeta no dia em que nos dirigimos até o hospital. Daí em diante, tudo será diferente.

    Mas voltemos ao hospital. Depois do parto, como planejado, tudo ocorreu normalmente e, em questão de segundos, um choro estridente foi ouvido na sala de cirurgia. Era minha filha, Antonella. Senti certa emoção, mas ainda um tanto quanto perdida em uma mistura de sentimentos. Cirurgia, hospital, pandemia, será que nasceu saudável?. Nada muito além disso.

    Quando a vi, não senti nada extraordinário. Nenhum sentimento profundo havia me tomado, apenas preocupações normais. Segurei-a no colo, indefesa e magricela; era a cara do pai, para desespero da mãe, que a carregou por nove meses e que viria a se ocupar de quase todos os seus cuidados, enquanto o pai dormiria em sono profundo, praticamente em coma.

    No início, passamos por algumas dificuldades, pois minha esposa não produzia leite e nossa Antonella recusava a mamadeira. Ironicamente, minha esposa é pediatra e não, isso não é um fator que favoreça, já que as decisões que envolvem os cuidados médicos da minha filha passam antes pelo meu crivo. Lembrando que me formei em Direito.

    Segundo ditado que corre entre as mães, parte do cérebro delas vai embora junto com a placenta. Se a criança come muito, a mãe se preocupa; se não come, ela se preocupa ainda mais. Se chora muito, a mãe se desespera; se não chora, algo de errado está acontecendo, e assim por diante. Certa vez, nos primeiros meses de vida, Antonella dormiu a noite toda e, por incrível que pareça, foi a noite que menos dormimos. Conferíamos de hora em hora se ela estava respirando, se estava bem, e quando ela acordou chorando, ficamos, de certa forma, aliviados.

    As preocupações de pai são geralmente mais sutis ou mais abstratas que as de mãe (em certos casos) e, normalmente, não afetam de forma significativa a rotina da criança. Talvez por isso a conexão entre pai e filho seja um pouco mais lenta, pois temos a sensação de que alguém já está prestando todo o cuidado necessário e, mesmo que haja muito amor, temos a tendência de levar tudo em modo automático, passando, de fato, a sensação de sermos uma figura secundária.

    No entanto, aos poucos, a suposta ausência de conexão e de sentimentos vai ficando para traz, e dá lugar a uma chama que cresce incessantemente com o passar do tempo. Na verdade, o dia do nascimento é o dia em que é plantada em nosso coração uma semente, a qual será irrigada através de cada detalhe: o rostinho dormindo em paz, os olhos que mal conseguem se abrir por causa de uma réstia de luz, os espasmos do rosto que se desenham em um leve sorriso.

    Se a chama da paternidade se alimenta dos minutos que passamos ao lado de um filho, não fica difícil concluir que, após uma semana, esse sentimento já aumentou exponencialmente. Após um mês, já não somos quem éramos antes; passamos a ser pessoas cansadas, mas abobalhadas de tanto amor. Na mesma proporção que os filhos esgotam a nossa energia com os seus cuidados, eles conseguem repô-la, além do que precisávamos, com um simples sorriso.

    Portanto, não se sinta culpado se, lá na maternidade, nenhum sentimento nobre despertar em seu peito. A nobreza vem da paciência, do carinho e dos cuidados diários, e não necessariamente dos sentimentos, os quais serão reflexos dessa linda doação.

    Conheço pais que, quando do nascimento de seus filhos, deram festas, soltaram fogos de artifício e se embriagaram até cair, enquanto as mães estiveram entregues na sala de parto. No entanto, quem deseja demonstrar exageradamente o que sente pode, na verdade, padecer de uma ausência de sentimentos os quais gostaria de sentir, daí a necessidade de autoafirmação demasiada.

    Os sentimentos surgem no silêncio, na calada da madrugada, no consolar paciente de um choro sem fim, na presença física e emocional. O sentimento está em cobrir os pés gelados da mãe que amamenta, na mamadeira preparada às três da manhã, na habilidade de manter a calma enquanto o mundo desmorona ao seu lado.

    Se diante disso tudo, ainda não houver sentimento, procure uma terapia, talvez seja um quadro depressivo, mas continue sendo um bom pai. Não importa o que exista dentro de você, apenas faça o seu melhor. Como diz a canção de Almir Sater e Renato Teixeira, "Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente", pois nem sempre seremos tomados por sentimentos nobres; nestes dias, devemos manter a serenidade e continuar no mesmo ritmo e com os cuidados necessários do dia-a-dia. Qualquer sentimento que não seja amor despendido ao seu filho será motivo de arrependimento no futuro.

    Portanto, alimente em seu coração a chama da paternidade, até se tornar tão forte que as coisas pequenas não o poderão abalar. Permita-se crescer junto desse sentimento, tornando-se um pai melhor a cada dia, ou pelo menos se esforçando por isso todos os dias.

    2 FRUSTRAÇÕES

    Depois que um filho nasce, não há mais o nosso tempo. Passamos a viver no tempo deles, uma vez

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1