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Cães: só amor não basta
Cães: só amor não basta
Cães: só amor não basta
E-book254 páginas3 horas

Cães: só amor não basta

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Sobre este e-book

A maioria dos tutores ainda insiste em usar referências humanas para tentar compreender os cães e definir o comportamento que gostariam que apresentassem. Não percebem que eles pertencem a outra espécie e, portanto, possuem sua própria maneira de interpretar o mundo e reagir.

Cães não devem ser vistos como "crianças humanas" ou como soluções para conflitos emocionais, o que poderá conduzi-los à perda de identidade e, consequentemente, ao desequilíbrio emocional – razão do surgimento de comportamentos que os próprios tutores classificam como "inexplicáveis".

Quando nos preocupamos em saber quem são os cães, naturalmente mudamos de atitudes, isso porque começamos a enxergar quem eles são e não quem gostaríamos que eles fossem. Portanto, não há como padronizar o seu comportamento com base nos valores humanos e muito menos em como nos comportamos... Alguém conhece ou ouviu falar de um humano que, ao ser deixado sozinho, urinou pela casa toda, começou a gritar e destruiu o controle remoto da TV a mordidas? Enfim, não se pode negar, tentar impedir ou transformar o que eles são. Conviver com cães significa adaptar-se à sua natureza, assim como eles se adaptaram à natureza humana. Ir à contramão dessa essência é tentar impedir que eles respondam à sua herança genética.

Para educa-los, é preciso que os tutores se transformem em seus guias, em referências positivas de como devem reagir aos inúmeros desafios da sociedade humana.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de out. de 2023
ISBN9786527007982
Cães: só amor não basta

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    Cães - Gelson Leite

    QUEM SÃO OS CÃES?

    Talvez, tutores mais dedicados ao estudo dos cães respondam que são seres vivos pertencentes ao reino Animalia, filo Chordata⁴, classe Mammalia, ordem Carnívora, subordem Caniformia⁵, família Canidae, gênero Canis, espécie Canis lúpus e subespécie Canis lúpus familiaris. Mas será que esta é a resposta correta? É claro que não! Seria se a pergunta fosse: Qual a classificação científica e biológica dos cães?.

    Para saber de fato quem eles são, é preciso conhecer sua ancestralidade e essência, ou seja, o que eles têm em comum, o que os move, como se comunicam, como percebem a vida, como, agem e reagem diante do mundo, independentemente de raça, porte, sexo, idade e até mesmo da interferência do ambiente e atitudes humanas.


    4 Chordata - vertebrados.

    5 Caniformia - subordem dentro da ordem Carnivora, carnívoros "parecidos com cães

    OBEDIÊNCIA E EDUCAÇÃO CANINAS.

    O primeiro passo para ter um cão absolutamente educado é não confundir educação com obediência. Acredite, ensinar o cão a ser obediente não é o mesmo que educá-lo.

    Obediência.

    A obediência é apenas uma das ferramentas da educação canina. Usada individualmente, ou seja, sem uma correta interpretação de sua utilidade, não implantará nada além do que chamo de truques circenses, ou seja, a habilidade de realizar determinadas tarefas sob comando, tais como andar junto, sentar, deitar, ficar, cumprimentar etc.

    Educação.

    A educação tem como princípio ensinar regras de conduta ao cão por meio da realização de um rigoroso diagnóstico de suas emoções/reações diante das mais diversas situações e ambientes, para identificar a origem de comportamentos considerados inadequados pela sociedade humana, assim como os caminhos a serem seguidos para corrigi-los, tornando o cão emocionalmente equilibrado.

    Por isso, sempre digo aos meus alunos:

    ...Tornar um cão obediente é o mesmo que dirigir um automóvel, enquanto educá-lo equivale a pilotar um Airbus A380.

    O LOBO E O CÃO.

    Sabemos que lobos e cães pertencem à mesma família (Canis lupus) e possuem a mesma classificação de espécie (Canidae).

    Embora sejam animais da mesma espécie, ou seja, que podem acasalar e dar à luz descendentes férteis, lobos e cães apresentam diferenças morfológicas e comportamentais marcantes oriundas principalmente do processo de domesticação e da seleção artificial das raças promovida pelo homem.

    A história do cão doméstico (Canis lupus familiaris) remonta a pelo menos 15.000 anos e, possivelmente, até 30.000 anos, até sua domesticação original do lobo cinzento.

    Os cães evoluíram com base em um relacionamento mutuamente benéfico com os humanos, o que levou as duas espécies ao compartilhamento do mesmo espaço e fontes de alimento. A partir daí, as raças de cães foram selecionadas com características físicas e comportamentais voltadas às necessidades do homem (pastoreio, caça, guarda, faro, companhia etc). Este experimento evolutivo produziu diversas espécies domésticas, fazendo surgir uma diversidade morfológica que até mesmo excede a todo o conjunto da família Canidae.

    A HERANÇA GENÉTICA.

    O instinto.

    Como saber quem são os cães sem o pleno entendimento da força responsável por sua sobrevivência e perpetuação no planeta, há milhares de anos – o instinto?

    Mas o que é o instinto?

    O instinto é definido como o comportamento espontâneo, inconsciente e imutável de uma determinada espécie. É também designado por memória primordial ou primitiva. Tal comportamento natural está sujeito a automatismos hereditários, ou seja, a atos inatos para determinadas atividades, sem aprendizado prévio. Em outras palavras, os cães já nascem com comportamentos próprios da espécie, como caçar, enterrar alimento para protegê-lo, defender seu território etc.

    Os instintos caninos são:

    Instinto de predação.

    Evidenciado pela ação de caçar e garantir a sobrevivência.

    Instinto de territorialidade.

    Caracterizado pela proteção ou defesa do espaço físico e tudo o que é fundamental para a sobrevivência da matilha (água, alimento, abrigo, fêmeas, filhotes etc).

    Instinto reprodutivo ou de perpetuação da espécie.

    Mais acentuado nos membros mais experientes da matilha (em cães domésticos a reprodução é controlada pelo homem, o que não significa a eliminação do instinto).

    Instinto lúdico.

    Ação de brincar entre os filhotes (aprendizado da posição hierárquica na matilha) e adultos (estreitamento dos laços sociais).

    Instinto de fuga.

    Ocorre diante de uma ameaça que possa interromper a preservação do indivíduo e, consequentemente, da espécie.

    Instinto gregário.

    Instinto dos laços sociais. Fundamental para a evolução da espécie, por meio do estabelecimento da posição e função de cada um dos membros da matilha.

    Os instintos podem ser controlados?

    Sim! O cão poderá abandonar a ação instintiva para atender ao chamado de seu tutor. Portanto, podem ser controlados. Mas será que isso significa que o treinamento precede o instinto? Não. Tentar anular o instinto por meio de treinamento é ir contra a memória primordial da espécie. O que podemos fazer é aproveitar esse comportamento espontâneo, inconsciente e imutável a nosso favor.

    Instintos secundários ou aprimorados pelo homem.

    Você sabia que a seleção que definiu as raças caninas, visando explorar suas habilidades naturais, não alterou os instintos primitivos? Na verdade, eles apenas foram geneticamente amplificados ou parcialmente amputados visando estimular e ajustar funções específicas. Tais instintos modificados são chamados de instintos secundários ou aprimorados pelo homem.

    Impulsos.

    O meu cão corre atrás de tudo o que se move... Por que ele faz isso?.

    Impulsos são respostas ou reações a certos estímulos internos, ou externos, visando preencher um instinto ou necessidade. Podemos dizer que o impulso dispara o instinto. Por exemplo, o que leva um cão a perseguir, agarrar e sacudir com a boca tudo o que se assemelhar a uma presa é o instinto de predação e o movimento é o elemento estimulador ou impulso.

    A domesticação não eliminou o instinto de predação dos cães, mesmo com todas as suas necessidades supridas. Por isso estão sempre prontos para rastrear, perseguir, agarrar e sacudir tudo o que se assemelhar a uma presa (alguns indivíduos mais, outros menos). Daí a explicação de os cães perseguirem objetos.

    Tipos de impulsos.

    Os impulsos podem ser hereditários ou adquiridos, quando se manifestam por experiência direta ou treinamento, respectivamente. Estão divididos em egofílicos, ou seja, inerentes às manifestações meramente instintivas, e heterófilos, relativos à submissão ao homem.

    Devemos entender, portanto, que os cães possuem a capacidade de adquirir outros impulsos? Sim, porque podem memorizar suas próprias experiências.

    A INTERAÇÃO ENTRE HUMANOS E CÃES.

    A domesticação.

    Define-se como domesticação a capacidade do animal de interagir com o homem, pelo resultado da soma de interações positivas e negativas, construindo um aprendizado associativo.

    A domesticação pode ocorrer em função de uma interação espontânea e involuntária entre duas espécies ou ser artificial. Em ambos os casos, as características hereditárias são afetadas e transformadas.

    As teorias da domesticação.

    Buscando descobrir mais sobre esse assunto, foram comparados genomas de doze lobos e sessenta cães, identificando trinta e seis regiões geneticamente modificadas pelo processo de domesticação e adaptação evolutiva do cão. Mais da metade dessas regiões estavam ligadas a funções cerebrais, em particular ao desenvolvimento do sistema nervoso, o que poderia explicar as diferenças comportamentais entre o lobo e o cão domesticado.

    O homem e o lobo, ambos pertencentes a espécies sociáveis, compartilhavam o mesmo habitat e caçavam as mesmas presas.

    Teorias da domesticação afirmam, que os humanos teriam percebido os benefícios que poderiam obter com as habilidades lupinas, tais como olfato e audição apuradíssimos, velocidade e resistência superiores, principalmente no que se referia à localização e captura de animais e guarda de rebanhos e de acampamentos humanos... Surgia assim a ideia de domesticação...

    Mas como o homem teria realizado essa tarefa? Capturando filhotes, e pronto? Há quem afirme que foi exatamente isso o que aconteceu..., algo como homem + lobo = cão. Ora, estamos falando de um animal selvagem, dotado de instintos de sobrevivência e perpetuação da espécie. A hipótese de o homem capturar filhotes de lobos e torná-los submissos parece um tanto quanto surreal.

    Estudos revelaram genes para domesticação, que afetam as funções neurológicas dos animais. Então, por seleção, podemos domesticar uma espécie, ou seja, por seus genes. Considerando que uma espécie não pode ser construída com apenas um indivíduo, quantos filhotes de lobos seriam necessários até que ocorresse a domesticação da espécie? Além disso, seria preciso selecioná-los por comportamentos semelhantes e, ainda, reproduzi-los. E é exatamente aí que surgem as perguntas: o homem possuía há 30.000 anos (período que remonta a domesticação) tal conhecimento e, se isso fosse verdade, quais recursos teria utilizado para transformar lobos em cães?

    É mais coerente imaginar que, com o aumento da ocupação humana nos diversos pontos do planeta, o que levou milhares de anos, e com o surgimento da agricultura e pecuária e, consequentemente, o abandono da vida nômade, restrita à coleta e caça, geralmente insuficientes para suprir as necessidades cada vez maiores dos grupos humanos, ocorreu uma enorme interferência nos diversos ambientes antes ideais à alimentação e reprodução de muitas espécies animais, incluindo o lobo. Além disso, tais espécies tiveram que se adaptar à nova realidade, o que não somente promoveu a alteração de seu fenótipo⁶ e genótipo⁷, mas também possibilitou uma maior aproximação com o homem.

    Teriam os lobos se tornado coletores do lixo humano?

    À medida que os humanos se tornavam mais sedentários, mais resíduos eram produzidos, acumulando-se ao redor das aldeias, vilas, cidades... Pouco a pouco, os lobos menos ariscos teriam se aproximado e se beneficiado dessa característica humana (...que infelizmente é mantida até hoje!) para uma clara vantagem: comer. Será? Talvez. Mas quais resíduos eles comiam, se a dieta humana já não se restringia somente à ingestão de proteína da carne?

    Em outro estudo comparado dos genomas do cão e do lobo cinzento, foram identificados dois grupos de genes, que sofreram alterações drásticas nos cães. O primeiro, envolvido no desenvolvimento do cérebro e, o segundo, na digestão do amido (açúcar abundante em cereais e alimentos amiláceos⁸), o que sugere um novo pano de fundo para a questão da domesticação. Será que atraídos pelos restos de comida humana, também ricos em amido, os lobos mais capazes de digerir esses recursos viram sua busca por alimentos facilitada pela aproximação dos humanos?

    A verdade é que, por enquanto, não sabemos exatamente como a domesticação ocorreu. A única certeza que temos é que os lobos naturalmente tornaram-se cães, considerando sua capacidade de adaptação.

    Por que, então, as mídias sociais, estão repletas de tutores, queixando-se diariamente sobre os mais diversos problemas de comportamento de seus fiéis companheiros, motivo que tem multiplicado doações e abandonos? O processo de domesticação não funcionou? É claro que funcionou e continua funcionando, pois o processo de domesticação ainda não terminou. Apenas a maioria dos humanos não se preocupou em conhecer mais detalhadamente a subespécie domesticada, o Canis lúpus familiaris. Em algum momento, o egocentrismo humano tornou a posse canina mais importante que o próprio cão.


    6 Fenótipo - expressão do genótipo mais a interação do ambiente.

    7 Genótipo - constituição genética de um organismo, ou seja, o conjunto de genes que um indivíduo possui. Essa constituição genética é proveniente dos ancestrais que esse ser possui.

    8 Amiláceos, que se assemelha, de aparência idêntica ao amido.

    A SELEÇÃO DAS RAÇAS.

    Seleção natural. Mecanismo fundamental para a evolução das espécies.

    A natureza seleciona indivíduos com variações favoráveis para melhor sobrevivência e perpetuação em seu ambiente.

    E como ocorre a seleção natural?

    Os indivíduos mais bem adaptados, ou seja, com características mais adequadas em relação a um determinado ambiente, possuem mais chances de sobrevivência e reprodução, enquanto os menos adaptados não se reproduzem. Dessa forma, tais características são transferidas às gerações futuras, promovendo a evolução das

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