O Legado do Primeiro Laboratório de Psicologia na Formação de Professores Normalistas no Ceará
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O Legado do Primeiro Laboratório de Psicologia na Formação de Professores Normalistas no Ceará - Édna Maria Rodrigues Moura Barros
Sumário
CAPA
1
INTRODUÇÃO
2
ENTRE A ESCOLA TRADICIONAL E A ESCOLA NOVA
Concepção de educação tradicional
As Escolas Normais: espaços de profissionalização docente
Os embates em torno da criação da primeira Escola Normal no Ceará
Educação da década de 1920 e o movimento da Escola Nova
Lourenço Filho no Ceará: uma história de reformas educacionais
A psicologia aplicada à educação por Lourenço Filho
3
O LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA E SEU LEGADO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A evolução da psicologia experimental no Brasil
As contribuições da psicologia experimental para a formação de professores na Escola Normal
A criação do laboratório de psicologia para as práticas pedagógicas de Lourenço Filho na Escola Normal do Ceará
As concepções das normalistas concludentes sobre as práticas metodológicas de ensino trabalhadas por Lourenço Filho na Escola Normal do Ceará
4
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
SOBRE A AUTORA
CONTRACAPA
O legado do primeiro laboratório de psicologia na formação de professores normalistas no Ceará
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Édna Maria Rodrigues Moura Barros
O legado do primeiro laboratório de psicologia na formação de professores normalistas no Ceará
Dedico este livro ao meu professor, Dr. Hamilton Viana Chaves, pela brilhante ideia de me colocar frente ao enorme desafio para realização desta pesquisa, principalmente pelo comprometimento, pela disposição e pela atenção durante todo o processo.
Dedico especialmente à minha mãe, Maria Ramiro Rodrigues Moura, professora formada na Escola Normal Oficial de Picos-PI, pelo seu relevante trabalho no exercício do magistério, motivo de imenso orgulho e inspiração na minha carreira.
Dedico a toda minha família, especialmente ao meu esposo, Arnaldo Alencar de Barros Júnior, e aos nossos filhos que tanto amamos, Matheus Moura Alencar de Barros e Vitor Moura Alencar de Barros.
Dedico ao tio Adão Benvindo da Luz (in memoriam), por seguir incentivando-me a produzir conhecimentos: o senhor é uma luz de sabedoria.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Prof. Dr. Hamilton Viana Chaves, um excelente ser humano, além de renomado profissional de psicologia, que orientou todo o percurso desta pesquisa, fruto deste livro. Imensa gratidão, professor!
À mãe, Prof.ª Maria Ramiro Rodrigues Moura, por acreditar na minha capacidade de superação e nessa minha busca incessante de seguir encarando os desafios.
Ao pai, Luis José de Moura, in memoriam, meu maior incentivador e encorajador durante minha trajetória estudantil, profissional e pessoal. Eternas saudades.
Ao meu esposo, amigo e companheiro, Arnaldo Alencar de Barros Júnior, e aos nossos filhos, Matheus Moura Alencar de Barros e Vitor Moura Alencar de Barros, por compreenderem minha ausência e confiarem no meu progresso. Vocês são a minha base principal.
Ao Prof. Dr. Osterne Nonato Maia Filho, pelas orientações, críticas e sugestões valiosas para o desenvolvimento desta pesquisa.
À Prof.ª Dr.ª Gynna Silva Azar, por ter contribuído significativamente com suas análises e apontado direcionamentos durante o percurso deste trabalho.
À Prof.ª Dr.ª Ruth Maria de Paula Gonçalves, pelas sugestões indicadas, por todo entusiasmo e apoio.
Ao Prof. Me. Tales Antão de Alencar Carvalho, que dedicou horas do seu tempo ajudando-me a organizar as ideias iniciais do projeto de pesquisa sobre formação de professores.
Ao Prof. Dr. Romildo de Castro Araújo, por ter se colocado à disposição para me ajudar e por suas considerações em torno da relevância do tema para a educação.
Às pessoas que compõem o corpo técnico e o comitê científico da Editora Appris, de Curitiba-PR, pelo empenho, pela criatividade, pela eficiência e pela responsabilidade na organização deste livro.
Aos professores da Unidade Escolar Estela Nunes e da Unidade Escolar Padre João Sampaio de Bocaina-PI, fundamentais na minha formação, pelos ensinamentos em valores e ética.
Por fim, aos amigos especiais da minha amada terra natal Bocaina-PI, que guardo no coração; aos amigos da querida cidade de Picos, onde construí uma história de luta nos movimentos sociais; especialmente no SINDSERM; aos colegas de trabalho da Universidade Estadual do Piauí e a todos que apoiam, confiam e acreditam no meu trabalho.
PREFÁCIO
A vida não é o que a gente viveu, e sim o que a gente recorda, e como recorda para contá-la
— assim escreveu Gabriel García Márquez quando fez a narrativa de sua vida. Ora, o que ele nos ensina é como as narrativas, da forma como elas são elaboradas, permitem a expressão de uma vida a partir de todos os seus envolvidos.
É exatamente isso que esta pesquisa pretende apresentar ao público leitor. Trata-se de um trabalho de investigação que resgata a história e a epistemologia da formação de professores no estado do Ceará do começo do século XX. O percurso aqui apresentado exibe a confluência da relação entre educação e psicologia que se materializou nos currículos da época, uma vez que incorporaram, nas palavras de seus elaboradores, as contribuições da moderna psicologia
.
As contribuições extrapolaram os currículos e se efetivaram também nos trabalhos realizados em um laboratório de psicologia construído anexo à Escola Normal. Naquele espaço, era ensinada a psicologia de forma prática, sobretudo com as contribuições advindas da Europa a partir dos primeiros trabalhos desenvolvidos por Alfred Binet, na França.
O que se pretendia com tudo isso era compreender a dinâmica do processo de aprendizagem e reformar a educação cearense, como assim pretendia a administração estadual da época.
Essa atitude reformadora e inovadora, embora ocorrida em terras cearenses, e que já tinha similar ação no estado de São Paulo, ocupa um lugar singular na compreensão da educação brasileira em geral. O estudo da educação tem sido abordado por meio de diferentes vertentes, e em uma abordagem mais recente, presume-se o desgaste da história social em detrimento das micro-histórias
. Algo maior ocorre quando essa própria abordagem acaba por se tornar fulcro para contrapartidas mais radicais que pleiteiam o fim da história.
É justamente a isso que esta obra procura contrapor-se: fazer o resgate do laboratório de psicologia por meio de suas condições históricas e epistemológicas. Temos o convite para apreciar parte dessa história cearense e que tem muito a nos dizer sobre a educação brasileira.
Hamilton Viana Chaves
Psicólogo do Instituto Federal de Educação do Ceará
Docente da Universidade de Fortaleza
Mestre em Psicologia; doutor em Educação
APRESENTAÇÃO
O presente livro, O legado do primeiro laboratório de psicologia na formação de professores normalistas no Ceará, inicia-se a partir da introdução, na qual consta de abordagens históricas acerca do surgimento da educação nas sociedades como instrumento de transmissão dos conhecimentos produzidos, da mesma forma as transformações sofridas a partir da industrialização, e a organização nas relações de trabalho. Rememora-se o percurso escolar no processo de formação até a consagração no magistério, seus desafios e sua superação. Não obstante, esse percurso aponta para a formação de professores na Escola Normal, objeto desta pesquisa, que respondeu ao questionamento referente ao legado do laboratório de psicologia na formação de professores na Escola Normal do Ceará, pelo professor paulista, Manoel Bergström Lourenço Filho, na década de 1920. Uma fase em que a educação tradicional passou a ser questionada, levando-se em conta o surgimento de uma pedagogia científica contraposta ao modelo existente.
Tem-se, ainda, o percurso metodológico da pesquisa documental de abordagem qualitativa, por meio de um levantamento bibliográfico em livros e artigos pertinentes aos resultados. A análise epistemológica do material deu-se em interação com as dimensões filosóficas, sociológicas, científicas, sobremaneira, na educação.
O livro abre o debate "entre a Escola Tradicional e a escola nova", no qual se introduziu a concepção de educação tradicional nas sociedades primitivas, passando pelas sociedades ocidentais e capitalistas, tecendo, dessa forma, críticas à Escola Tradicional teórica e mecanicista em oposição ao ensino inovador e pragmático a partir de experiências articuladas com o desenvolvimento econômico, social em consonância às demandas de uma sociedade tecnológica do século XX. Nesse contexto, caracteriza-se os fundamentos das Escolas Normais como espaço de profissionalização docente, passando por Comenius, no século XVII, situando-as nas diferentes realidades sociais, econômicas e políticas. Retoma-se o debate das primeiras Escolas Normais após a revolução francesa do século XIX, expandindo-se pela Alemanha, pela Itália, pelos Estados Unidos até chegar ao Brasil colonial, passando pelos períodos históricos em que se sucederam as discussões e legislações em torno da formação de professores na Escola Normal.
Reporta-se os embates em torno da criação da primeira Escola Normal do Ceará, em seus diferentes contextos econômicos, sociais, políticos e culturais, desde o período provincial até as reformas educacionais do século XX,
quando o pensamento moderno no Brasil ganhou força, dadas as circunstâncias do processo de industrialização, da acelerada imigração, e os consequentes problemas sociais, aflorando-se um discurso patriótico e de liberdade, aprofundado por intelectuais que defendiam o combate à praga do analfabetismo que estagnava o desenvolvimento social e econômico.
Nesse mesmo viés, faz-se uma análise histórica sobre a educação na década de 1920 e o movimento da Escola Nova, cenário de aprofundamento das críticas em relação ao analfabetismo, que inviabilizava o desenvolvimento econômico do país, bem como a urgência por reformas educacionais a partir das ideias de uma Escola Nova contraposta ao ensino tradicional. Nessa perspectiva, tem-se os debates do escolanovista Prof. Lourenço Filho, de passagem pelo Ceará na década de 1920, com as reformas da Instrução Pública e na Escola Normal, centrada na visão de uma pedagogia científica.
Com isso, levanta-se um estudo em torno das primeiras experiências de Lourenço Filho no campo dos métodos e testes de atenção e maturidade para a leitura, aplicados por ele enquanto professor na cadeira de Psicologia e Pedagogia da Escola Normal de São Paulo, prosseguindo em Fortaleza e levado a termo de Testes ABC, em 1927.
O livro aprofunda estudos quanto ao laboratório de psicologia, seu legado para a formação de professores e os desdobramentos acerca do período evolutivo da psicologia experimental no Brasil. Considera-se as influências francesa e italiana do século XVIII, em especial, com o médico italiano Ugo Pizzoli, que inaugurou, em Crevalcore, o primeiro laboratório de pedagogia científica, vindo a ingressar no Brasil, em 1914, por intermédio do imigrante italiano Clemente Quaglio, professor primário da cidade de Amparo-SP, e em pouco tempo instalou o primeiro laboratório de pedagogia científica na Escola Normal Secundária de São Paulo, na Praça da República.
Por fim, apresenta-se as contribuições do laboratório de psicologia para a formação de professores na Escola Normal, a partir do notório reconhecimento das primeiras experiências desenvolvidas por Lourenço Filho, na cadeira de Psicologia em Piracicaba-SP, em 1920, e, por conseguinte, no Ceará, como também a criação do laboratório de psicologia experimental e a efetivação das práticas pedagógicas aplicadas por Lourenço Filho no Ceará, em seus fundamentos psicológicos no curso de formação de professores até o encerramento de suas atividades.
1
INTRODUÇÃO
Para entender a formação de professores, objeto da pesquisa deste trabalho relacionado ao desenvolvimento profissional e à constituição do sujeito, faz-se necessário refletir, inicialmente, acerca do processo educacional a partir de sua denominação mais ampla sobre o que é educação, bem como as formas como elas ocorrem e em quais espaços acontece. Na concepção de Brandão (2003), a educação acontece em diferentes espaços e de diferentes maneiras, pois, tradicionalmente, os saberes e conhecimentos são repassados e transformados com o tempo, ou seja, a educação existe também onde não há escola, existe em redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra.
De acordo com Piletti (2006, p. 9), a educação [...] ocorre também na família, na igreja e em outras instituições, sempre que se utilizam meios considerados adequados para atingir intencionalmente determinados fins, que são os fins do processo educacional em questão
. Por outro lado, o autor reforça que tanto a educação formal quanto a informal acontecem ao mesmo tempo, isto é, simultaneamente, nas situações educacionais.
Nesse sentido, a educação sempre existirá para os humanos, do mesmo modo que a aprendizagem decorrente das relações interpessoais, familiares e grupos sociais ocorrerá independentemente do ensino formalizado, visto que o processo de educar deu-se nas mais antigas sociedades primitivas, pautado em conhecimentos acumulados, os quais iam sendo repassados por intermédio dos adultos no trabalho desenvolvido na terra, nos ritos, com os artesãos, isto é, na prática diária.
Durkheim (2011, p. 46) afirma que a palavra educação foi empregada com vários sentidos e por um conjunto de influências históricas, portanto, variou em cada tempo e em diferentes países: na pólis gregas e latinas, a educação ensinava o indivíduo a se subordinar cegamente à coletividade, tornar-se a coisa da sociedade
; em Atenas, a ideia era formar cidadãos intelectos finos, enquanto em Roma buscava-se transformar a criança em homens de ação e preparados para a glória militar. Na Idade Média, a educação era acima de tudo cristã; no Renascimento, ela adquire um caráter mais laico e literário [...]
.
Assim, a educação nas sociedades ao longo da história serviu como instrumento de transmissão