Em paz com os ciclos: Uma jornada de autocuidado da menina à mulher
De Joana Viana e Duda Coutinho
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Sobre este e-book
Abordando as diferentes realidades que habitam a mesma sociedade, e com o caminho pavimentado por autores e estudos consistentes, Joana vai além e fala sobre saúde, consentimento, menstruação, história social, cuidado, segurança, técnicas e princípios do yoga, direitos, vulnerabilidade, comunicação pacífica, bem-estar e muito mais.
O objetivo deste conteúdo é claro e coletivo: uma leitura compartilhada entre gerações. Nela, professoras, educadoras, mães, cuidadoras e curiosas pelo próprio corpo – de todas as faixas etárias – poderão orientar meninas e jovens a se relacionarem com os ciclos da natureza, do corpo e do tempo, cada uma no seu próprio ritmo, a fim de que possam conduzir a si mesmas rumo a um estado de bem viver e de paz.
"Considere o autocuidado como um aprendizado gradativo, que tem a intenção de que você seja apenas você consigo mesma – uma companheira honesta – por alguns minutos do seu dia."
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Pré-visualização do livro
Em paz com os ciclos - Joana Viana
Joana Viana
em paz
com os
ciclos
Uma jornada de
autocuidado da
menina à mulher
© Joana Viana, 2023
© Editora Paraquedas, 2023
1ª edição digital, novembro de 2023
Editora TAINÃ BISPO
Edição de texto JULIANA CURY | ALGO NOVO EDITORIAL
Coordenação editorial JADE MEDEIROS
Revisão RENATA LIMA E LUCIANA FIGUEIREDO
Projeto gráfico, diagramação e capa VANESSA LIMA
Ilustrações DUDA COUTINHO
Produção de eBook: LOOPE EDITORA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Jéssica de Oliveira Molinari – CRB-8/9852
Viana, Joana
Em paz com os ciclos / Joana Viana. — 1ª ed. — São Paulo : Paraquedas, 2023.
222 p. ; EPUB ; 6.2MB
Bibliografia
ISBN 978-65-84764-89-7 (eBook)
1. Desenvolvimento pessoal 2. Saúde da mulher 3. Educação I. Título
23-4869 CDD 158.1
Índice para catálogo sistemático:
1. Desenvolvimento pessoal
2023
Paraquedas é selo editorial da Editora Claraboia.
Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.
Todos os direitos desta edição são reservados à Editora Paraquedas.
Caixa postal 79724
CEP 05022-970
www.editoraparaquedas.com.br
Às adolescentes e aos adolescentes, com amor.
Sumário
Agradecimentos
Apresentação: Preparar para o voo
A intenção do livro
Base nacional curricular comum
Por que um livro sobre menstruação?
capítulo 1: Apresentação dos fios da obra
O contexto: ser professora de adolescentes
Uma questão: a vulnerabilidade dos adolescentes
O convite: o autocuidado
Uma professora: a natureza
Suas referências: a escolha de guias
A intenção: o bem viver
Uma finalidade: a sabedoria
Um cuidado na relação: a Comunicação Não Violenta
capítulo 2: O ciclo circadiano e a organização do tempo
O ciclo circadiano: as 24 horas do dia
A importância do sono e recomendações de higiene do sono
Ciclo de trabalho e descanso
Relaxar consciente
As nossas contradições
capítulo 3: Bem viver a relação com os adolescentes
O funcionamento do cérebro e o cérebro do adolescente
A educação da mente no contexto do discurso de ódio
O despertar da sexualidade
A almejada liberdade
capítulo 4: Bem viver da pessoa que menstrua
Os ciclos da vida, o ciclo menstrual e as fases da lua
Verbo menstruar
, singular e plural
Eliminar o que não serve
Habitando um novo corpo
Útero, a nossa primeira casa
Breve histórico do estudo científico sobre o útero
A anatomia de um corpo com útero
Sexo na adolescência?
O fluxo da menstruação
Endométrio e endometriose
Ovulação e o ciclo menstrual
Hormônios estrogênio e progesterona
Higiene, absorventes e adaptações
TPM e cólica menstrual
Gravidez, gravidez não intencional e gravidez na adolescência
Modos de evitar a gravidez
Violência sexual
Infecções sexualmente transmissíveis
Microbiota vaginal
HPV
capítulo 5: Considerações finais sobre o bem viver
Alimentação
Exercício físico
Alerta para o uso abusivo de medicamentos
fim de um ciclo, início de um ciclo
vocabulário
sugestões de práticas de autocuidado
1. Mandala lunar
2. Partilha entre mulheres da família
3. Relato do seu ciclo menstrual
4. Construção de uma mandala
5. Ética pessoal
6. Criação de um rito
7. Carta para si mesma
8. Árvore da vida/Totem pessoal
9. Estudo da forma do útero
10. Jogo de adivinhação
11. Autocuidado na família e organização das receitas
12. Prática de yoga (Respiração consciente)
13. Prática de yoga (asanas
para mulheres com cólica)
referências bibliográficas
Agradecimentos
Como professora de muitos alunos, é grandioso constatar, na prática, a diversidade humana. Cada aluno e cada aluna tem uma chama acesa e, também, os seus medos. Cada aluno é filho e neto de alguém, tem histórias antes de si e histórias que ainda serão tecidas no mundo.
Agradeço a todos os responsáveis para que alunas e alunos estejam nas escolas, nutridos, descansados e disponíveis para o aprendizado. Sei que não é simples oferecer as condições básicas na cidade e no tempo em que vivo. E é pelo reconhecimento dessa dificuldade que este livro foi escrito, na intenção de convidar leitoras, cuidadoras e adolescentes ao autocuidado.
Espero que todas nós, adultas e adolescentes, possamos viver com menos medo, e que a parceria entre a família e a escola floresça como uma base sólida, para que possamos cultivar saúde, que assumo como um estado de bem viver.
Agradeço às minhas alunas e aos meus alunos por me manterem curiosa com a vida e renovada pelo frescor dos que nascem trazendo novas notícias ao mundo. Espero que se sintam bem-recebidos pelo que vocês são, na vida e nestas páginas.
Agradeço à Editora e as editoras, mulheres que acolheram o projeto e foram um norte para o seu amadurecimento.
Agradeço à minha mãe pela morada e nutrição e às minhas avós, que me assistem de outro plano, pela nutrição, a minha e a dos meus genitores.
Agradeço ao meu companheiro pelo apoio ao projeto.
Agradeço a todos os meus professores e todas as minhas professoras, especialmente os que me orientaram nas recentes investigações: Diego Koury, Carol Carvalho, doutor Ruguê e toda a equipe de professores e professoras da Escola Yoga Brahma Vidyalaya.
Agradeço à Patrícia Valentini Melo, pela revisão técnica, e à Duda Coutinho, que ilustrou essas páginas, pela contribuição com sua arte e pela parceria desde o início embrionário deste livro.
Muitos dos nossos problemas têm sido a tal ponto demonizados – como a menstruação e a menopausa – que hoje em dia são considerados doenças que precisam de muitos cuidados, quando na prática sabemos que não é bem assim. Aprendi e reconheci a capacidade inata que temos para poder curar a nós mesmas a partir da nossa consciência de autoconhecimento e autocuidado, aprendendo ferramentas básicas que a Mãe Terra nos brinda.
— PABLA PÉREZ SAN MARTÍN
As crianças indígenas não são educadas, mas orientadas. Não aprendem a ser vencedoras, pois para uns vencerem outros precisam perder. Aprendem a partilhar o lugar onde vivem e o que têm para comer. Têm o exemplo de uma vida em que o indivíduo conta menos que o coletivo. Esse é o mistério indígena, um legado que passa de geração para geração. O que as nossas crianças aprendem desde cedo é a colocar o coração no ritmo da terra.
— AILTON KRENAK
apresentação:
preparar para o voo
Olhar o céu e sonhar são modos de nos erguer do chão, assim como a paz e a liberdade. Voar seria, então, alcançar outra perspectiva. O chão dos nossos afazeres pode ser tedioso, alegre ou triste, mas o que está acima nos fascina, nos promete uma vivência sem limites – mesmo que viver no céu não seja a destinação de animais terrestres como nós. As relações de conexão com outras pessoas e com a natureza, dentro e fora de nós, podem ser os propulsores que nos direcionam a outras paisagens. E a visão se amplia quando o nosso corpo se desprende do chão. Se o sonho é amplo, a proposta deste livro é apresentar formas de nos preparar para o voo.
Afinal, as asas são formadas no ovo? E as penas? Do que sei sobre ser mamífera, nascemos peladas e necessitamos de cuidado. O crescimento de pelos, seios, ideias, relações, histórias e responsabilidade é bonito – mais do que assustador. O autocuidado que eu proponho é sobre acompanhar o seu crescimento no presente. Há crescimento enquanto houver aprendizado. O crescimento pode ser vivido de forma gradual e perene, com gentileza e atenção.
Este livro não vai apresentar nada além do chão dos nossos dias, que podem ser aproveitados com deleite quando há condições favoráveis. Chão este cuja existência precisamos lutar para garantir e que precisamos observar com consciência para reconhecê-lo diariamente. Afinal, nos sentir seguras e aterradas é uma condição para que possamos voar. É a preparação para o voo.
Nada está garantido além deste corpo neste instante. Mas se estas páginas foram impressas, um pedaço do meu sonho está em suas mãos agora. Um pouco do meu humilde voo: oferecer ferramentas e um recorte do céu que avisto da minha janela. Por favor, receba como um reconhecimento das janelas, do céu e do chão, dos nossos limites e da nossa curiosidade para testá-los e ampliá-los no arco do tempo.
A bússola para o voo aponta o norte, que são as possibilidades de:
•Bem viver a relação com a adolescente;
•Mudar a perspectiva em relação ao ciclo menstrual;
•Perceber a integração entre corpo e mente;
•Dedicar-se ao autocuidado;
•Encontrar o seu ritmo e se reconhecer no fluxo do tempo;
•Observar a natureza e os ciclos dela.
Então, vamos lá?
A intenção do livro
A intenção de um livro é diferente de seu objetivo. E minha escolha vem de não determinar expectativas. Quero estar aberta aos resultados que este material pode proporcionar aos leitores. Talvez possamos classificar que a intenção de um fruto é dispersar suas sementes. Mas este não é o objetivo dele, certo? E, na maior parte do tempo, é um resultado não alcançado quando nós, humanos, jogamos as sementes na lixeira e não na terra.
Entretanto, não há frustração propriamente. O mundo se glorifica com os frutos, e as sementes se mantêm íntegras em qualquer lugar como potência de vida. Então, quando germinadas, um novo ciclo se inicia.
Ciclos se iniciam todos os dias. Sementes metafóricas germinam novas ações, novas relações, como a cada manhã, a cada aula, a cada livro, a cada floração, a cada refeição. Por isso, sentimos a necessidade de ritualizar aniversários, viradas de ano e casamentos. A cada ciclo, começar de novo e melhor. Intuímos que o movimento seja ascendente porque aprendemos com o tempo.
Este livro foi escrito com a intenção de auxiliar professoras, educadoras e mães para que orientem, ensinem e aconselhem adolescentes no estudo sobre o corpo e na educação da mente – o que eu compreendo como autocuidado – com o destaque para o reconhecimento do próprio ciclo menstrual. Apesar de o ciclo menstrual ser um destaque do livro, outros ciclos do corpo e da natureza serão abordados. Por isso, o livro é dirigido a todos os cuidadores e adolescentes, independentemente de terem ou não um útero.
No capítulo 1 do livro, Apresentação dos fios da obra, as premissas do livro são expostas. São os meus pontos de vista, como escritora e professora de ciências e de yoga, e eu separo o meu conhecimento em fios. Como o desfiar de um tecido e o reconhecimento da função, da cor e da textura de cada saber. São os recursos usados na minha prática profissional e reflexiva. Compartilho-os com cada pessoa que lê este livro. A intenção é que esses fios possam ser aproveitados no tecer da vida de todos.
No capítulo 2, O ciclo circadiano e a organização do tempo, os ciclos da vida são apresentados, a começar pelo ciclo circadiano que determina os períodos de vigília, sono e sonho e que influencia o ciclo de descanso e trabalho. No capítulo, eu destaco o padrão do ciclo circadiano e do sono dos adolescentes, e indico o relaxamento consciente como prática capaz de equilibrar o tempo do descanso e o tempo do trabalho.
No capítulo 3, apresento propostas para Bem viver a relação com os adolescentes. Exponho o que sabemos hoje a respeito do funcionamento do cérebro, especificamente do adolescente, diferenciado em relação aos adultos, o discurso de ódio que pode cooptá-lo, o despertar da sexualidade e a tão almejada liberdade.
O capítulo 4, o mais extenso, é dedicado ao Bem viver da pessoa que menstrua. Nessa seção, mais descritiva e detalhada, serão apresentados aspectos do corpo pelo viés técnico da ciência, mas também pelo olhar amoroso e humano nas relações com a natureza que outras autoras trazem. Nessas páginas, trato sobre as questões de saúde e higiene específicas do corpo que menstrua; o autocuidado necessário para a percepção do seu limite, agência e consentimento nas relações; o ciclo reprodutivo que pode se iniciar a partir do ciclo menstrual; sobre quais são as técnicas para agenciar o seu tempo de reprodução; os cuidados com a saúde; e as fragilidades da adolescente na sociedade, a considerar os casos de abuso e violência sexual.
No capítulo 5, eu concluo com Considerações finais sobre o bem viver e incluo algumas referências para pensar a alimentação e o movimento do corpo, e alerto para a cautela no uso de medicamentos.
No capítulo 6, Fim de um ciclo, início de um ciclo, eu fecho a minha participação neste livro e passo a você a sua voz e a sua vez de escrever a própria história. Fique à vontade para usar os fios que apresentei no primeiro capítulo e combiná-los com os seus próprios fios. No caderno final, Sugestão de práticas de autocuidado, as atividades são dirigidas às adolescentes e às adultas, e apresento algumas práticas sugeridas para serem realizadas juntas.
As leitoras e os leitores1 mais jovens, adolescentes ou não, com ou sem útero, são muito bem-vindos e podem se beneficiar do presente conteúdo – aliás, eu parto da premissa de que a leitura compartilhada entre gerações pode acontecer e que as pessoas têm a oportunidade de aprenderem juntas, a partir das suas experiências comuns e singulares.
Apesar de tantas realidades possíveis, eu e você, leitor ou leitora, vivemos alegrias e dores porque pisamos no mesmo solo. Assim como a terra, o céu também é comum a todos nós. Aspiramos por necessidades parecidas, mas a realidade vivida e a interpretação dela são singulares. Não há ser humano que não deseja conexão e que não aspire à felicidade e à ausência de sofrimento. No entanto, são inúmeros caminhos, criados por cada mente humana, para alcançar esse céu. É preciso ter respeito pelo nosso corpo, o nosso equipamento humano de se viver. Há de se ter respeito por cada uma de nós, pelas nossas tentativas.
Faço aqui um primeiro pedido: na leitura deste texto, nos casos em que não houver concordância entre o que eu exponho e a sua percepção, peço que trate cada discordância como uma riqueza. Acredito que a paisagem humana precisa de todas as cores. O mundo precisa de todo mundo. As pessoas são ricas por existir e por serem diferentes, mas capazes de oferecer o diálogo. É sobre essa paisagem diversa, que combina tanto com o nosso país, que eu me disponho a sonhar. E é para dentro dela que convido você a embarcar.
Base nacional curricular comum
Nas Bases Nacionais Curriculares Comuns, publicadas em 2017, as competências são reconhecidas como norte. De acordo com o documento, uma competência é a mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Dessa forma, tão importante quanto saber algo, é saber fazer algo a partir do que se sabe. Trata-se de uma forma de valorizar a ação.
A oitava das dez competências sinalizadas na BNCC é: Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas
. Com isso em mente, este livro também tem a intenção de promover a aproximação da leitora com essa competência a partir da prática do autocuidado. A partir da premissa de que a leitora é cuidadora ou educadora, acredito que ela terá condições de orientar as adolescentes para essa competência.
Por que um livro sobre menstruação?
Eu sou uma mulher, branca, cis e professora de ciências no sistema público de ensino há vinte anos – ou seja, convivo com adolescentes no meu cotidiano. Eu falo a partir do meu corpo e da minha experiência na relação com jovens. Quando as minhas alunas pedem para sair da sala de aula e sussurram que estão naqueles dias
, eu me lembro de quando a minha avó me perguntava a mesma coisa, também sussurrando.
Então, eu me dei conta de que as meninas de hoje sentem vergonha da mesma forma que eu sentia. Principalmente, percebi que as meninas ainda têm desconhecimento e não encontram meios de se informar sobre os assuntos que envolvem a menstruação: o corpo, as emoções, as responsabilidades, os cuidados e a passagem do tempo.
O constrangimento em menstruar na escola é muito comum e agravado nos casos de pobreza menstrual, quando a adolescente não tem acesso a opções disponíveis para conter o fluxo e os banheiros não têm condições de garantir a saúde menstrual (saneamento básico, água, sabão e papel higiênico). Talvez por isso, no