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Por trás dos fatos: A psicanálise pode explicar
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Por trás dos fatos: A psicanálise pode explicar
E-book196 páginas2 horas

Por trás dos fatos: A psicanálise pode explicar

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Sobre este e-book

Esta obra baseia-se em argumentos teóricos e práticos a partir de conceitos psicanalíticos. São reflexões e relatos clínicos feitos por especialistas, e cada capítulo aborda um tema diferente, constituindo uma experiência intelectual e emocional vívida, que convida o leitor a compará-la com sua própria experiência de vida.


Trata-se de um texto de linguagem de fácil compreensão e para quem se interessa por psicanálise, seja estudante ou profissional da área ou até mesmo por quem não tem conhecimento prévio em Psicanálise.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de out. de 2023
ISBN9786553740839
Por trás dos fatos: A psicanálise pode explicar

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    Por trás dos fatos - Denir Camargo Freitas

    Prefácio

    Em muitos e muitos anos de experiência coordenando Grupos de Estudos de Psicanálise, pela primeira vez me deparo com um punhado de colegas que, estudando comigo o texto Aprendendo com a experiência (Bion) e desfrutando de uma interação muito amistosa, decide – por inspiração da experiente profissional Denir Camargo Freitas – unir-se para produzir um livro coletivo.

    Dessa proposta, surgem temas atuais e essenciais para indagação, reflexão e até mesmo tomadas de decisão sobre questões cruciais que assoberbam as pessoas nesta altura do início do século XXI.

    São abordadas desde questões relativas à compulsão a agir contra o bom senso, até questões enveredando para temas como relações amorosas aos 60, 70 anos, ou formas de lidar com o envelhecimento. E, ainda, insegurança dos pais na colocação de limites para os filhos; desorientação dos pais diante da antecipação dos papéis sexuais revelados pelas crianças. Nessa mesma linha de problemas, a descoberta de abusos sexuais no âmbito familiar, mostrando a importância da participação da mãe no desdobramento desses angustiantes conflitos. Outro assunto muito frequente e atual, é o conflito intenso no processo de fertilização artificial. E como consequência de passarmos por uma revolução demográfica, científica e tecnológica, que trouxe grandes avanços e benefícios às mães e a seus bebês, um dos capítulos explana sobre as rupturas de modelos herdados pelos pais e avós na relação mãe-bebê que também tiveram como causa tal revolução.

    A reflexão sobre esses temas torna-se bastante palpável para o leitor porque surge a partir da experiência do atendimento psicoterápico de pessoas reais, que trouxeram suas vivências cruciais entrecruzadas com as angústias e conflitos com as psicoterapeutas psicanalistas. Partindo de material autenticamente humano, enseja ao leitor identificar-se, dissociar-se, concordar totalmente, divergir parcialmente, ou mesmo discordar completamente, mas de qualquer modo constituindo uma experiência intelectual e emocional vívida, que convida o leitor a compará-la com sua própria experiência de vida.

    Conhecendo profissionalmente as autoras, vivendo com elas semanalmente as questões da teoria e da prática da psicanálise, percebendo como se envolvem séria e autenticamente na proposição de questões no atendimento de seus pacientes, não posso deixar de recomendar enfaticamente a leitura de seu sincero e generoso trabalho.

    Professor Ryad Simon

    Introdução

    A motivação para organizar este livro surgiu ao pensar no leitor leigo em psicanálise, nos amigos de áreas de trabalho diferentes da minha e nos familiares que tantas e tantas vezes me questionaram, e ainda questionam, sobre como é o meu trabalho e como a teoria psicanalítica explica certos fatos. E como, confesso, sempre me interessei pelo comportamento humano e, por isso, pelas artimanhas do funcionamento da mente, estudo psicanálise desde quando a conheci no curso de graduação em psicologia na década de 1970. Resolvi, então, propor para minhas colegas, e amigas, do grupo de estudo para a obra de W. R. Bion (psicanalista inglês com importantes contribuições à psicanálise), que formamos, há anos com nosso querido mestre Ryad Simon (psicanalista e incansável estudioso da mente humana), escrevermos um livro. Um que oferecesse informações para elucidar o leitor interessado em como e por que a psicanálise explica alguns fatos intrigantes em que às vezes nos vemos envolvidos, seja como protagonista ou alguém que conhecemos.

    Este livro foi escrito por profissionais especialistas em psicanálise, com longos anos de formação e que fazem uso em seus consultórios da teoria psicanalítica numa vertente atualizada com autores pós-freudianos. O leitor leigo em psicanálise, a partir da leitura com linguagem de fácil compreensão, poderá sentir-se atraído ao identificar-se com alguns dos casos clínicos, mencionados por meio de recortes das falas de pacientes, e motivar-se a procurar ajuda com um profissional da área. Também o leitor que se interessa por psicanálise, seja o estudante ou o profissional, encontrará uma leitura elucidativa tanto para os conceitos psicanalíticos como com a prática atual ali descrita nas vinhetas dos casos atendidos pelas autoras, ampliando em todos a percepção da subjetividade dos pensamentos e sentimentos por meio da reflexão fundamentada na teoria psicanalítica. Desse modo, encontrarão a ligação da teoria com os exemplos dos casos clínicos, e não com a expressão de sentimentos de forma estereotipada, como encontramos em alguns livros sobre o tema, algo que vai contra o que ensina a psicanálise criada por Sigmund Freud em 1900. Em toda a sua obra, Freud mostra-se contra as generalizações, dando ênfase à especificidade para a compreensão de cada ser humano. Só para exemplificar, é expressamente contra o Dicionário dos Sonhos, porque generaliza os símbolos em vez de ligá-los ao sonhador, perdendo assim sua especificidade e autenticidade.

    Não há conselhos, o livro se baseia em argumentos teóricos e práticos para o leitor sensibilizar-se, conhecer qual o material de trabalho da psicoterapia psicanalítica e como se efetua a sua prática. Em cada capítulo é mostrado porque nossas ações são realizadas na maioria das vezes por motivos que estão inconscientes, e tornando-os claros surge uma paisagem mais nítida que convida a refletir sobre uma possível mudança.

    No primeiro capítulo, Quando a ação contradiz o saber, eu mesma analiso os possíveis motivos de ações que as pessoas realizam, mesmo sabendo que não deveriam ser realizadas, pois traria, no mínimo, um desconforto, um constrangimento e até um sofrimento físico ou psíquico.

    No Capítulo 2, Leila Kim considera reprojetos de vida e faz uma reflexão sobre questões de vida e morte e relações amorosas de mulheres na faixa etária de 60 a 70 anos. Ilustra a teoria com trechos de relatos de uma psicoterapia de grupo com mulheres dessas idades.

    O Capítulo 3, de Joana d’Arc Sakai, aponta para a insegurança dos pais nos dias de hoje para educarem seus filhos e a falta de limites na relação entre pais e filhos.

    No Capítulo 4, Anajane Di Lorenzo Paciullo demonstra as sutilezas do atendimento de seus pacientes na Fase da Envelhescência, para ilustrar a teoria psicanalítica aplicada no processo do envelhecimento.

    No Capítulo 5, Patrícia Frassati discute as sensações, sentimentos, dúvidas e angústias apresentadas por suas pacientes antes, durante e após o processo de fertilização artificial.

    O Capítulo 6 destaca os desafios de Maria da Paz Pereira no atendimento a casos de abusos sexuais cometidos no meio familiar e discute a experiência emocional após o conhecimento do abuso, dando ênfase às atitudes da mãe. Para além do trauma do abuso sexual, se desdobra a trama da ruptura dos laços familiares, em que o incremento do ciúme norteia, muitas vezes, a tomada de decisão.

    O Capítulo 7, da autoria de Cássia Vianna Bittens, analisa os desdobramentos emocionais na relação da mãe com o seu bebê, tendo em vista que passamos por uma revolução demográfica, científica e tecnológica que trouxe grandes avanços e benefícios a essa dupla, por um lado, mas por outro é o responsável por rupturas de modelos herdados pelos pais e avós na relação mãe-bebê.

    No Capítulo 8, Joana d’Arc Sakai discorre sobre os vários papéis exercidos pela criança em seu imaginário infantil, entre eles o de ser namorado(a). Dirige-se aos pais quanto ao modo de entendimento de tal papel anunciado pela criança, pois os pais tendem a compreender o assunto a partir do referencial adulto. Retrata o perigo que pode ser ignorar a revelação da criança, banalizando seu sentimento ou supervalorizá-lo, estimulando a situação. 

    Finalizando a coletânea, no Capítulo 9, eu mesma, mais uma vez, faço uma reflexão sobre a obrigação de ser feliz, sentimento tão imperativo nos relacionamentos e nas mídias sociais hoje em dia.

    Muitos e muitos livros já foram escritos com fundamentação teórica psicanalítica. Este é mais um deles, porém que se liga apenas aos que transmitem a psicanálise numa linguagem leve e clara sem entrar em longas explanações científicas, tão úteis apenas para a população acadêmico-científica. Sabemos que a psicanálise é polêmica desde sua criação, atraindo leitores de todas as áreas. A razão para isso é porque Freud trouxe à tona algo de intolerável para a humanidade: a revolução do íntimo e da intimidade, a partir das teorizações sobre o inconsciente e sobre a sexualidade. Além do que, Freud não estudou a mente humana para reprimi-la ou para considerá-la apenas em sua patologia, como faziam os profissionais da área de sua época. Por meio do uso da palavra, ele excluiu a noção de moral no julgamento de nossos sentimentos, pensamentos e ações, para apenas explicar com o intuito de compreender e proporcionar a mudança que traz o bem-estar. Enfim, o prazer de ler sobre a teoria e a prática que Freud construiu está em descobrir que, para além das palavras, é sobre nós que ele está falando.

    Denir Camargo Freitas

    Julho de 2016.

    Quando a ação contradiz o saber

    Denir Camargo Freitas

    Eu sabia que não deveria ter feito isso, mas fiz. Por quê?

    (Questão de paciente durante uma sessão de psicoterapia psicanalítica)

    Há algum tempo têm chamado minha atenção determinadas ações de nosso cotidiano, aquelas em que as pessoas, mesmo sabendo que não deveriam efetuá-las, porque traria um desconforto, um constrangimento ou até um sofrimento físico, assim mesmo as realizam. Ou, ao contrário, que deveriam ser realizadas e não o são, causando o mesmo desconforto. Por que isso acontece? Certamente todos já passamos por situações desse tipo. Por que as realizamos se a priori sabemos que realizá-las não nos trariam um benefício? Por que não evitamos esse sofrimento? Que forças ocultas contribuem para isso? Essas perguntas originaram este capítulo, resultado de observações de meus pacientes no consultório e reflexões, que ora exponho, numa tentativa de esclarecê-las e também de estimular possíveis diferentes análises.

    Uma das formas de que dispomos para entender a prática de ações que levam ao sofrimento seria recorrermos à explicação dos mecanismos inconscientes, conforme postula a psicanálise. Porém, as ações que me intrigam no momento não são as movidas apenas por fatores inconscientes, pelo não saber, mas as que contradizem o saber: eu sabia que não deveria fazer isso, mas vou fazer assim mesmo! ou eu sabia que tinha que fazer isso e não fiz. As duas afirmações contêm uma parte que sabia e a outra que apesar de saber houve a opção em contradizer o que sabia. Por que isso acontece? O que move a contradição na opção que com certeza gerará o desprazer? Estariam as duas partes ligadas de alguma forma a mecanismos inconscientes? Como?

    Não estou me referindo a questões densas e complexas como o alcoolismo, a drogadição ou a obesidade, que poderiam ser compreendidas pela análise de complexos mecanismos inconscientes, porque não é este o objetivo no momento. Refiro-me a questões aparentemente mais simples e, às vezes, até engraçadas: optar por ficar assistindo à TV em vez de estudar para uma prova a ser realizada daqui alguns dias; estar numa dieta de emagrecimento e não resistir a uma caixa de chocolate; optar por ficar dormindo mais um pouco em vez de ir à academia de ginástica, em vez de ir à aula do curso de idiomas, em vez de ir à sessão de psicoterapia; não cortar as unhas dos pés antes que elas cresçam demais e cheguem a machucar (queixa constante de um paciente); não enxugar entre os dedos dos pés após o banho sabendo que poderá contrair tinea pedis (queixa persistente de uma paciente na adolescência: "por que esqueço, às vezes, de enxugar nos meios dos dedos, ao ponto de só lembrar após formadas as feridas?"; não atravessar a rua na faixa para pedestres; falar ao celular enquanto dirige um veículo; não respeitar a lei seca para dirigir o automóvel e tomar apenas um copo de vinho ou de cerveja; comer demais num rodízio de churrascaria; não lavar as mãos antes das refeições; ir dormir muito tarde sabendo que terá que levantar cedo no dia seguinte; ultrapassar os limites de velocidade das leis de trânsito, e muitas outras mais que as pessoas fazem, ou deixam de fazer, todos os dias. Enfim, são opções conscientes para o sofrimento, porque são conhecidas as consequências desagradáveis que estas opções trarão mais cedo ou mais tarde.

    A complexidade da mente humana vai além da compreensão consciente, possui questões que se manifestam e impulsionam para a ação sorrateiramente, inexplicavelmente, numa primeira análise. São contrapontos do nosso bem-querer, emoções e conflitos que interagem entre si, misturando-se e lutando constantemente por obtenção de um domínio, de uma predominância.

    A Psicanálise, originalmente através de Sigmund Freud, tenta desde 1900 explicar a complexidade dos impulsos que geram as artimanhas dos conflitos dos pensamentos. Após muita observação e estudo, Freud (1987c) tomou como premissa, grosso modo, a classificação do conteúdo psíquico existente na mente em lugares, sendo uma parte que está no consciente – tudo o que lembramos no momento –, outra parte que está no pré-consciente – em que ficaria o conteúdo inconsciente, que pode tornar-se consciente com facilidade – e outra

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