A democracia começa em casa

De Zenon Lotufo Jr. e Patrícia Lotufo de Barros

Dois temas bastante importantes convergem nestes tempos: a expansão global de ideias políticas extremistas e a educação de crianças em ambiente doméstico e suas repercussões na sua saúde mental; ambos se abraçam em um ponto: o autoritarismo, ou seja, na priorização da obediência submissa e inobjetável, obtida sobretudo através do medo. Este pequeno livro tem por objetivo maior discutir como as atitudes dos pais e cuidadores, mais do que suas palavras, transmitem mensagens que podem resultar em personalidades plenamente desenvolvidas ou, ao contrário, em sua atrofia. O critério de saúde mental aqui envolvido não é o de ausência de transtornos, mas – como focalizei em outro de meus livros, "Teologia e Plenitude Humana" – de contínuo crescimento psicológico e espiritual, realização de potencialidades, relações pessoais autênticas e harmoniosas, e uma firme e esclarecida posição pró-social. O texto que eu e minha filha Patrícia escrevemos procura apresentar aspectos práticos da comunicação saudável entre pais e filhos, sublinhando o quanto as mensagens são percebidas como "estou incondicionalmente do seu lado" (o que não significa "aprovo tudo o que você faz)" ou, por outro lado, "estou contra você" (coisa que pai nenhum admite que pretende comunicar). Para melhor embasar os conceitos que apresentamos, foram acrescentados alguns escritos que consideramos verdadeiros clássicos de uma educação que promova tanto bem-estar pessoal quanto responsabilidade social.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Dialética
• Data de lançamento: 31 de ago. de 2023
• ISBN: 9786525293066

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MENSAGENS SAUDÁVEIS X MENSAGENS TÓXICAS

1. Para mim é mais importante ser amado X Para mim é mais importante ser obedecido.

Tenho visto com certa frequência psicólogos e educadores enfatizando a importância, na visão deles, de priorizar o respeito, leia-se, a obediência, em detrimento do amor. Tenho frequentemente a impressão de que pouco entendem, seja de respeito, seja de amor.

Em famílias bem ajustadas e funcionais, cujos filhos se mostram responsáveis, interessados e proativos, podem-se encontrar, com certeza, pais que amam e são amados e, em decorrência disso, respeitam e são respeitados. Vamos analisar os fatores que estão por trás disso.

O primeiro ponto a destacar é que respeito e amor são complementares entre si, e não antagônicos. O respeito saudável existe quando e onde existe amor

Cabe observar que as análises e soluções propostas por alguns/umas psicólogos/as incorrem no equívoco de sugerir haver apenas duas alternativas no relacionamento pais-filhos: ou respeito ou amor (ser respeitado ou ser amado). A questão do respeito, do modo como essas pessoas o veem, relaciona-se à imposição de obediência através de ameaças veladas e/ou patentes. O fato é que podemos obedecer a) por medo, por constrangimentos autoritários; b) porque percebemos que quem está dando o conselho ou a ordem está do nosso lado (caso de especialistas como psicólogos, médicos, dentistas, mecânicos, etc.); c) por estar consciente de que estão exigindo cumprimento de normas que eles mesmo cumprem e sem as quais haveria más consequências; ou, finalmente, d) porque sentimos que quem quer obediência nos ama e quer nosso bem (o caso das leis de Deus; não foi o homem feito para o sábado, mas o sábado foi feito para os homens). Há um equívoco em sustentar um conceito de amor que não é o neotestamentário, nem o da boa psicologia, pois subentende que os pais que priorizam ser amados pelos filhos (acima de buscar respeito), estão interessados apenas em si mesmos, o que os levaria a ser negligentes em situações em que caberia ser firmes. Na verdade, o amor da pessoa amadurecida, que realmente se interessa pelo bem-estar dos demais, ao mesmo tempo que deseja e espera ser amada, não preclude colocar limites, ser assertivo, quando a situação o exige. Por outro lado, a educação autoritária tende a afetar a personalidade da pessoa e fazê-la perder contato com seus verdadeiros sentimentos e pensamentos, a desconectar-se de seu verdadeiro ser, querendo apenas o que os outros querem, pensando apenas o que os outros