Carne Para Os Mortos
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Carne Para Os Mortos - Carlos Antico Junior
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
de Carlos Junior
1ª Edição
2016
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
Para Meu Pai
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
"os teus mortos viverão; seus corpos
ressuscitarão(...)"
(Isaías 26:19)
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
ALVORECER
A Alma Que Se encontra na Eternidade, Desprezara a Morte
.
(City Of The Living Dead; LUCIO FULCI)
Carne Para os Mortos
Carne Para os Mortos
23 de Setembro
06:50 AM
O despertador tocou, assim como todas as manhãs,
meia hora antes do horário programado. Marcelo já havia se
acostumado a programá-lo meia hora depois do seu horário de
costume. Não via necessidade de comprar outro, aquele ainda
funcionava, apesar dos defeitos. Levantou-se da cama e
afastou as duas cortinas, contemplando o sol e o frio que se
acompanham ás seis da manhã. Nada se ouvia alem do vento
assoviando de fora pra dentro da casa, provavelmente
Jonathan havia esquecido uma das janelas aberta antes de
dormir. O despertador já havia parado de tocar por conta
própria há alguns segundos, e Marcelo tomou coragem de tirá-
lo da tomada e carrega-lo até o banheiro, onde ficava a lata de
lixo mais próxima. Urinou, escovou os dentes e tomou uma
ducha rápida na água fria, para ajudar a dar ânimo para
acordar e passar o dia na estufa.
Enxugou-se, vestiu a mesma camiseta branca e short
que usava ao acordar e foi até o quarto de Jonathan. Parou na
porta e bateu algumas vezes, esperando ouvir algum sinal de
vida, indicando que havia acordado, mas nada. Abriu a porta, e
foi até o menino, que estava todo enfiado embaixo das
cobertas.
- Jonathan – disse, puxando o amontoado de
cobertores e se deparando com o garoto nu, enrolado em um
lençol – Deus, acorda, coloca uma roupa e desce, você tem
aula.
Carne Para os Mortos
Jonathan espreguiçou e resmungou um "Filho da
Puta" antes de puxar a coberta de volta. Marcelo deixou a porta
do quarto de Jonathan aberta, caso tivesse que gritar lá de
baixo para seu irmão sair da cama e ir para a aula. Toda
manhã era uma guerra. Jonathan sempre tentava convencer o
irmão a deixá-lo ficar, mas Marcelo sentia grande
responsabilidade sobre ele. Desde a morte de seus pais em um
acidente era o responsável pela educação e pelo sustento da
casa. Quando sentia que amolecia, quase soltando um "Tudo
Bem", logo se lembrava do que sua mãe dizia quando
Jonathan tentava enrola-la. "Eu e seu Pai compramos suas
roupas, pagamos suas contas, colocamos comida na mesa e
também pagamos pelo papel que limpa seu traseiro... Sim,
você vai pra aula", dizia, sempre entre brincando e falando
sério. Marcelo não tinha a mesma autoridade que seus pais
tinham, mas fazia o melhor que podia afinal Jonathan tinha
dezessete anos, idade suficiente para saber o que está
fazendo e quais são as conseqüências, caso não fosse às
aulas.
- Jonathan... - Marcelo não teve tempo de terminar.
- Já estou descendo, nossa! – o garoto gritou,
descendo as escadas se apoiando no corrimão, pois mancava
da perna esquerda e um passo em falso era suficiente para
rolar escada abaixo. – Não quero ir pra aula!
- Come rápido porque preciso te levar e voltar
voando...
- Não vou pra aula.
-... Preciso cuidar da estufa, a Floricultura vem buscar
as encomendas lá pelo meio dia.
- Não me ouviu? Não vou pra aula!
- Porque você ainda discute? Você vai.
Carne Para os Mortos
- Eles me chamam de Muletinha
...
- Ignore... Jonathan, você não pode perder mais
aulas. Eu deixei você faltar muitas vezes e na ultima reunião já
me avisaram que você está por um fio. Fale com o Diretor, ele
saberá o que fazer. Come logo!
Jonathan engoliu um copo de leite e pegou uma
maçã, enquanto Marcelo saiu da mesa batendo a mão nos
bolsos, provavelmente procurando a chave do carro. Subiu as
escadas, entrou no quarto, olhou em volta, olhou novamente
nos bolsos, nas gavetas e ouviu o carro ligando logo abaixo da
janela do quarto.
- Jonathan... – desceu correndo as escadas e saindo
da casa – Filho da mãe. – trancou a porta, abriu a porta do lado
do motorista e empurrou o garoto pro banco ao lado.
- Não posso ir dirigindo?
- Não tem carteira.
- Então porque me ensinou a dirigir.
- Para quando tirar uma.
07:30 AM
Raquel estava acordada muito antes de o celular
tocar. Não conseguira dormir a noite pensando se havia se
esquecido de colocar os papéis do divórcio na mala, por isso ia
Carne Para os Mortos
pra cama, levantava de duas em duas horas e verificava de
novo, só pra ter certeza. Estava separada fazia três meses, e
desde então, ela e sua filha, Carla, moravam com Rosana, sua
irmã mais velha, que até então vivia sozinha e não era lá de
muitos amigos, tirando os grupos da Igreja e Padre Matheus,
que visitava alguns freqüentadores mais assíduos para
recolher doações. Até mesmo Raquel antes da separação
pouco visitava a irmã, que tinha um gênio altamente difícil e
autoritário, mas diante de algumas situações, é difícil correr
para outro lugar que não seja para a família.
A mala estava mais do que arrumada. Raquel
respirou fundo e desceu para tomar o café antes de pegar a
estrada. Carla já estava na mesa com um olhar fixo no celular
apoiado no colo, e da cozinha podia ver Rosana espiando algo
pela gigantesca janela da sala.
- Quer que eu te deixe na escola? – Raquel perguntou
para Carla, enquanto virava o bule de café na xícara – É
caminho, não será problema nenhum.
- Não precisa, a Nathi vai passar aqui, combinamos
de ir juntas. – Carla