Da Geringonça à maioria absoluta: a situação política em Portugal e na Europa
De André Freire
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Sobre este e-book
Nas partes I a IV, aborda-se a governação portuguesa desde a «Geringonça» (Parte I: 2015-2019), passando pelo «governo pisca-pisca» (Parte III: 2019-2022), até ao período da maioria absoluta (Parte IV: 2022-2023). Os posicionamentos das direitas face às alianças de esquerdas, «as direitas e as alianças políticas», são analisados na Parte II. Na Parte V, «Temas e debates na política europeia e internacional», são analisados vários tópicos de política comparada e relações internacionais. Na Parte VI, «Escritos culturais com ressonâncias políticas», parte-se de peças de teatro ou de obras cinematográficas e musicais para depois se contextualizar as mesmas e se escalpelizar as suas ressonâncias políticas.
Um excelente livro para melhor compreender as mais recentes mudanças políticas no contexto português e o seu enquadramento perante o campo geopolítico em que está inserido.
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Da Geringonça à maioria absoluta - André Freire
© Editora Gato-Bravo, 2023
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro nem o seu registo em sistema informático, transmissão mediante qualquer forma, meio ou suporte, sem autorização prévia e por escrito dos proprietários do registo do copyright.
editor Marcel Lopes
coordenação editorial Paula Cajaty
revisão Louisa Lopes, Inês Carreira
projecto gráfico Bookxpress
imagem da capa Adobe Stock
Título
Da «Geringonça» à maioria absoluta: a situação política em Portugal e na Europa
Autor
André Freire
Impressão
Europress Indústria Gráfica
ISBN 978-989-9069-46-6
e-ISBN 978-989-9069-47-3
1a edição: Outubro, 2023
Depósito legal 521569/23
GATO BRAVO
rua Veloso Salgado 15 A
1600-216 Lisboa, Portugal
tel. [+351] 91 100 8760
editoragatobravo@gmail.com
editoragatobravo.pt
Sumário
Abreviaturas
Introdução
PARTE I
A «GERINGONÇA» E OUTRAS ALIANÇAS POLÍTICAS DE ESQUERDAS NA EUROPA
As eleições autárquicas (de 2017) e a «Geringonça»
A solução governativa portuguesa vista de dentro
O PS, a política de alianças e a orientação ideológica
O bloco central sindical e o centrismo ideológico do PS
«Geringonça»: balanço e prospetiva (I)
«Geringonça»: balanço e prospetiva (II)
PARTE II
AS DIREITAS E AS ALIANÇAS POLÍTICAS
As direitas segundo um nacionalista conservador
Chega: a direita radical, plebeia e ultraliberal
«Geringonças» e «Caranguejolas»
Carta aberta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa
PARTE III
O «GOVERNO PISCA-PISCA», O CONLUIO COM O PSD E O FIM DA ALIANÇA DE ESQUERDAS
Da maioria de esquerdas ao governo pisca-pisca
Em defesa dos debates parlamentares com o primeiro-ministro
O espectro do bloco central e a «Geringonça»
Elogio dos vetos presidenciais em defesa da qualidade da democracia
Odemira: agressão ambiental, exploração imigrante e hipocrisia política
Umas presidenciais afinal competitivas
Eleições presidenciais 2021: algumas lições ignoradas
PARTE IV
A SEGUNDA MAIORIA ABSOLUTA SOCIALISTA: RAÍZES E PADRÃO DE GOVERNAÇÃO
Cenários eleitorais e pós-eleitorais para as legislativas de 2022
Maioria absoluta inesperada, «voto útil» à esquerda, fragmentação à direita
O campeão do despudor e da desvalorização
A proletarização das classes médias sob a batuta socialista
A luta dos professores, uma luta de todos nós
(Re-)instaurar a clareza das alternativas e (re-)instaurar a confiança política
Os casos, a política e as políticas
PARTE V
TEMAS E DEBATES NA POLÍTICA EUROPEIA E INTERNACIONAL
As presidenciais francesas de 2017 e a crise das democracias
Da grande recessão e do Grande Retrocesso
A crise da esquerda estado-unidense: diagnóstico e soluções
Terrorismo e refugiados: hipocrisia, ineficácia e descrédito
As presidenciais americanas de 2020: cruciais, incertas e arriscadas
A deriva autoritária no Brasil, 2018
Eleições em Espanha, abril de 2019: depois dos medos, a esperança
O difícil governo de Espanha, após as eleições de novembro de 2019, e a Catalunha
O difícil governo de Espanha
Catalunha 21D: a grande maioria pelo direito a decidir
O processo político contra o direito da Catalunha a decidir
O nacionalismo e a divisão esquerda-direita
Os nacionalismos na arena europeia
Populismo (I): um programa analítico
Populismo (II): um programa político para a esquerda?
Democracias impopulares e vagas populistas
A quarta vaga da ultradireita
Estratégias partidárias para lidar com os novos extremismos políticos
Maio de 68: mudar de sociedade ou mudar a sociedade?
Socialismo selvagem: uma história do anarquismo
Modelos de democracia na Europa do Sul, 1968-2016
A crise do euro e o défice democrático na Europa
As eleições europeias de 2019 e a reforma política do PE
Eleições europeias de 2019: uma oportunidade perdida na Europa!?
COVID-19, China e alter-globalização
A geopolítica da Europa na época contemporânea
José Cutileiro: da antropologia às relações internacionais
Nostalgia e «ocidentalofobia»
PARTE VI
ESCRITOS CULTURAIS COM RESSONÂNCIAS POLÍTICAS
A Antígona de Slavoj Žižek
A obra de Sade ao longo do tempo
A morte de Danton
A Grécia e os Balcãs sob o espectro do comunismo e das guerras: através do cinema de Theo Angelopoulos e da música de Eleni Karaindrou
Abreviaturas
A
ADSE Assistência na Doença aos Servidores Civis do Estado
AG Assembleia Geral
ALDE Alliance of Liberals and Democrats for Europe
ALE Aliança Livre Europeia
AP Administração Pública
APE Associação Portuguesa de Escritores
AR Assembleia da República
B
BCE Banco Central Europeu
BE Bloco de Esquerda
BJP Bharatiya Janata Party (Partido do Povo Indiano, Índia)
BNG Bloco Nacionalista Galego
C
CC Coligação Canária
CCDR Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
CDC Convergência Democrática da Catalunha
CDS Centro Democrático Social
CDU Coligação Democrática
Unitária
CE Conselho da Europa
CEE Comunidade Económica
Europeia
CES Conselho Económico e Social
CESOP Centro de Estudos Sociais e Pastorais da Universidade Católica Portuguesa
CGA Caixa Geral de Aposentações
CGT Confederação Geral do Trabalho
CGTP Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses
CIA Central Intelligence Agency
CIES Centro de Investigação e Estudos de Sociologia
CM Cámara Municipal
CML Cámara Municipal de Lisboa
COVID Coronavirus Disease
CRP Constituição da República Portuguesa
CSMP Conselho Superior do Ministério Público
CSU Christlich-Soziale Union (União Social-Cristã, Baviera/Alemanha)
CUP Candidatura de Unidade Popular
D
DN Diário de Notícias
E
EES European Election Study
EFDD Europa das Liberdades e da Democracia Direta
EH Euskal Herria Bildu (Reunir País Basco, Espanha)
ERC Esquerda Republicana da Catalunha
ETA Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade, Espanha)
EU European Union
EUA Estados Unidos da América
F
FAMI Fundo de Asilo, Migrações e Integração
FDR Franklin Delano Roosevelt
FEPS Foundation for European Progressive Studies
FHC Fernando Henrique Cardoso
FN Frente Nacional
FN/RN Front National/Rassemblement national (França)
FPÖ Freiheitliche Partei Österreichs (Partido da Liberdade da Áustria)
FRP Fremskrittspartiet e Framstegspartiet (Partido do Progresso, Noruega)
G
GUE/NGL Gauche Unitaire Européene/NordicGreen Left (Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde)
I
ICS Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
ICV Iniciativa pela Catalunha Verdes
IDN Instituto da Defesa Nacional
IL Iniciativa Liberal
IPRI-UNL Instituto Português de Relações Internacionais – Universidade Nova de Lisboa
IRC Imposto sobre Rendimento das Pessoas Colectivas
IRS Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares
ISCSP Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ou ISCSP-UL)
ISCTE Instituto Universitário de Lisboa (ou ISCTE-IUL)
ISIL Estado Islâmico do Iraque e do Levante (também ISIS ou IS)
J
JF Junta de Freguesia
K
KKE Κομμουνιστικό Κόμμα Ελλάδας, Kommounistikó Kómma Elládas (Partido Comunista da Grécia)
L
LAOS Λαϊκός Ορθόδοξος Συναγερμός, Laikós Orthódoxos Synagermós (Concentração Popular Ortodoxa, Grécia)
LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais
L’OBS Jornal francês Nouvel Observateur
LSE London School of Economics
M
MDB Movimento Democrático Brasileiro (partido político)
MNE Ministério dos Negócios
Estrangeiros
MRS Marcelo Rebelo de Sousa
MSI Movimento Social Italiano
N
NA+ Navarra Suma (Espanha)
NATO North Atlantic Treaty Organization
O
OMS Organização Mundial da Saúde
OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte
P
PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
PAN Pessoas–Animais–Natureza
PCP Partido Comunista Português
PCUS Partido Comunista da União Soviética
PDC Social Democratic Party
PDR Partido Democrático Republicano
PDT Partido Democrático Trabalhista
PE Parlamento Europeu
PEV Partido Ecologista Os Verdes
PIB Produto Interno Bruto
PIS Prawo i Sprawiedliwość (Lei e Justiça, Polônia)
PKK Kurdistan Workers’ Party
PM Primeiro Ministro
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PND Partido Nova Democracia
PNR Partido Nacional Renovador
PNSACV Parque Natural do
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
PNV Partido Nacionalista Basco
PP Partido Popular (Espanha).
PPE Partido Popular Europeu
PPM Partido Popular Monárquico
PPV Portugal Pró-Vida (partido político)
PR Presidente da República
PRC Partido Regionalista de Cantábria
PRD Partido Renovador Democrático
PREC Processo Revolucionário em Curso
PRM Perímetro de Regra do Mira
PS Partido Socialista
PSC Partido Social Cristão
PSD Partido Social Democrata
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PSL Partido Social Liberal
PSOE Partido Socialista Operário Espanhol
PT Partido dos Trabalhadores
PVV Partij voor de Vrijheid (Partido pela Liberdade, Países Baixos)
R
RCM Resolução do Conselho de Ministros
RDA República Democrática Alemã
RE Recenseamento Eleitoral
RFA República Federal da Alemanha
RR Ronald Reagan
RTVE Radiotelevisión Española
S
SARS-CoV2 vírus da COVID
S&D Socialists & Democrats (Aliança Progressista dos Socialistas e
Democratas, grupo político no Parlamento Europeu)
SD Sverigedemokraterna (Partido dos Democratas Suecos)
SES&P 220
SNP Scottish National Party
SNS Serviço Nacional de Saúde
SPD Sozialdemokratische Partei Deutschlands (Partido Social-Democrata da Alemanha)
SRP Sozialistische Reichspartei Deutschlands (Socialist Reich Party, Alemanha)
STOP Sindicato de Todos os Profissionais de Educação
SVP Schweizerische Volkspartei (Partido Popular Suíço)
T
TAP Transportes Aéreos Portugueses
TC Tribunal Constitucional
TNSJ Teatro Nacional de São João
TSU Taxa Social Única
TVI Televisão Independente (PT)
U
UDR União para a Defesa da República (França)
UE União Europeia
UGT União Geral de Trabalhadores
UKIP UK Independence Party (Reino Unido)
UNL Universidade Nova de Lisboa
UP Unidas Podemos (coligação, Espanha)
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
V
VB Vlaams Belang (Flandres/Bélgica)
W
WASP White Anglo-Saxon Protestant (gíria, EUA)
Y
YPG Yekîneyên Parastina Gel (People’s Defense Units, Síria)
Introdução
O presente livro une um conjunto de crónicas publicadas sobretudo no Jornal de Letras, onde o autor foi colunista regular entre meados de 2017 e meados de 2022, e no Jornal Público, entre meados de 2022 e abril de 2023 (esta última crónica foi publicada no Diário de Notícias, em versão curta, e no Blogue a Vaca Voadora, em versão extensa, ambas em 25 de abril de 2023). Acrescem ainda algumas crónicas publicadas na revista Seara Nova e na Vaca Voadora.
Os textos foram agrupados por temas, nomeadamente nas partes I a VI. Assim, temos seis grandes temáticas. Nas partes I a IV, abordamos a governação portuguesa (por vezes enquadrando-a no contexto europeu) desde o período da aliança de esquerdas, vulgarmente conhecida por «Geringonça» (Parte I: 2015-2019), passando por aquilo a que chamamos o «governo pisca-pisca» (Parte III: 2019-2022), ou seja, o governo minoritário do PS sem qualquer outro partido ou partidos de suporte no parlamento e marcado por alianças ad-hoc, e chegando ao período mais recente da segunda maioria absoluta do PS (Parte IV: 2022-2023). Antes, porém, abordamos «as direitas e as alianças políticas» (Parte II), ou seja, o posicionamento e as alianças das direitas durante a governação das esquerdas e o «governo pisca-pisca», nomeadamente passando pela aliança dos Açores, a que chamei de «Caranguejola» (por contraponto à «Geringonça») e a governação de Carlos Moedas na Câmara Municipal de Lisboa. Nestas partes I a IV abordamos, portanto, um período de cerca de sete anos, analisando os seus padrões de governação, bem como os respetivos resultados, e as respostas das oposições. Dito de outro modo, estes textos, das Partes I a IV, abrangem os recentes sete anos de governação do PS, em aliança ou a solo, os seus resultados e as respostas das oposições de direita. Dentro de cada uma destas quatro partes, que abrangem cerca de metade do livro, os textos são apresentados por ordem cronológica, com a menção, em nota de pé de página, sobre o sítio onde o texto foi originalmente publicado.
Na Parte v, intitulada «Temas e debates na política europeia e internacional», os textos focam vários tópicos, sendo, por isso mesmo, bastante mais heterogéneos. Mas também aqui os textos são apresentados por ordem cronológica, com a menção, em nota de pé de página, sobre o sítio onde o texto foi originalmente publicado. Todavia, nesta Parte V os mesmos foram agrupados em vários temas (focados em mais do que um artigo) como sejam o nacionalismo e a divisão esquerda-direita, os vários nacionalismos na arena europeia, os vários tipos de populismo, ou ainda as sucessivas vagas das direitas extremas e radicais desde a Segunda Guerra até atualidade. Outras temáticas que levaram a um posicionamento contíguo dos textos foram as «novas e velhas esquerdas radicais» (Maio de 1968 e Socialismo Selvagem), as eleições e a governação de esquerdas em Espanha (2019-2020), a luta pela autodeterminação do povo catalão, ou ainda as questões europeias (eleições europeias de 2019, governação da europa e reforma das instituições europeias). Os restantes textos nesta parte são mais heterógenos e, portanto, foram colocados apenas de forma cronológica.
Na Parte VI, «Escritos culturais com ressonâncias políticas», temos apenas quatro entradas, uma delas saída originalmente apenas na Vaca Voadora, e tomamos como mote peças de teatro («A Antígona de Zizek», «A Obra de Sade ao longo do tempo», «A morte de Danton» ou obras cinematográficas e musicais («A Grécia e os Balcãs sob o espectro do comunismo e das guerras: Através do cinema de Theo Angelopoulos e da música de Eleni Karaindrou»), contextualizando depois as obras e escalpelizando as suas ressonâncias sociais e políticas. Nesta última parte, os textos estão também organizados por ordem cronológica e as fontes originais são apresentadas em nota de pé de página para cada artigo.
Globalmente, o elemento unificador do livro é a paixão pela análise dos fenómenos políticos, sejam essas análises estimuladas pelas diferentes conjunturas políticas, sejam elas impulsionadas por obras literárias, dramatúrgicas ou cinematográficas, sendo que a lente de análise é sempre um misto de abordagens devedoras da ciência política comparativa e de um enfoque cidadão tendencialmente alinhado à esquerda, mas suficientemente analítico para agradar e interessar pessoas de vários quadrantes políticos.
PARTE I
A «Geringonça» e outras alianças políticas de esquerdas na Europa
As eleições autárquicas (de 2017) e a «Geringonça»
¹
A teoria sobre as chamadas «eleições de segunda ordem» foi desenhada em 1979, aquando das primeiras eleições para o Parlamento Europeu (PE), por dois politólogos, Karlheinz Reif e Hermann Schmitt, e dada à estampa em 1980 num artigo do European Journal of Political Research (ver Freire e Santana-Pereira, 2017). As eleições de segunda ordem são escrutínios em que o que está em jogo é muito menos importante do que nas eleições de primeira ordem, nomeadamente o controle do poder executivo (legislativas: primeira ordem) ou falta desse controle (PE: segunda ordem). Daí que as consultas de segunda ordem sejam muitas vezes disputadas pelos mesmos atores e em torno de temas associados ao poder político nacional, apesar de serem para escolher eurodeputados (ou autarcas). Dado que o controle do poder executivo não está em jogo, os eleitores estão relativamente mais livres para «votar com o coração» (isto é, ideologicamente) ou «com os pés» (isto é, em protesto) do que da forma mais usual nas legislativas, ou seja, «com a cabeça» (isto é, estrategicamente: com vista à produção de soluções de governo). As eleições locais, porém, configuram uma situação intermédia entre as eleições de primeira (legislativas) e as de segunda ordem (europeias) por excelência: o poder executivo local está também em jogo, embora os resultados sejam relativamente menos importantes para o funcionamento do sistema político no seu conjunto, e a importância dos fatores locais (candidatos, temas, campanhas) nas estratégias dos partidos e no voto são também mais determinantes.
Em Portugal, verificou-se que quer nas eleições europeias, quer nas eleições autárquicas, foi encontrada abundante evidência a comprovar o seu carácter de eleições de segunda ordem (ver Freire e Santana-Pereira, 2017). Assim, os governos nacionais, sobretudo quando relativamente impopulares e quando as consultas de segunda ordem ocorrem a meio do mandato das eleições nacionais, são geralmente penalizados. Os partidos médios e pequenos têm geralmente melhores desempenhos nas eleições de segunda ordem do que nas de primeira, os primeiros mais nas locais e europeias, os segundos apenas nas europeias. As autárquicas são muito exigentes para os partidos pequenos: a baixa magnitude média dos círculos cria elevados limiares de representação e o número de competições, muito exigente logisticamente, dificulta-lhes a vida. Nestas eleições, o bom desempenho dos partidos médios deve-se sobretudo ao PCP-PEV e à força dos seus bastiões. Nas europeias, a existência de um único círculo, menos exigente do ponto de vista logístico, e o relativamente elevado número de lugares em disputa, 23-25, facilita a vida aos pequenos e médios partidos.
Tabela 1.1 Ciclos eleitorais no Portugal democrático, 1976-2017: alterações no voto a favor do governo nacional em eleições de segunda ordem e tendências de popularidade
Fontes: No que se refere aos resultados eleitorais, os dados foram preparados pelo autor com base nos resultados eleitorais oficiais disponíveis em www.cne.pt. Notas: L = eleições locais; PE = eleições europeias.
Analisemos agora os resultados das autárquicas de 2017 à luz destas teorizações, para depois refletir sobre os possíveis impactos sobre o modelo de governo nacional em funções, a dita «Geringonça». O primeiro dado notável é a vitória do PS. Para estimar os efeitos nacionais, o procedimento usual é compararmos os resultados do partido que está no governo nas legislativas imediatamente anteriores com as os resultados das eleições de segunda ordem (europeias ou locais): subtração da primeira percentagem pela segunda (depois de desagregados os resultados de eventuais coligações). O que se pode verificar na Tabela 1.1 é que a vitória do PS é extraordinária a três títulos: é a maior de sempre para um governo em funções, 1976-2017; já não ocorria com esta magnitude desde 1985; ocorre a meio do mandato nacional. Acresce que o PS ganhou o maior número de câmaras (159/161) e de maiorias absolutas de sempre (142). A popularidade do governo, sobretudo entre os eleitores de esquerdas (ver Freire, 2017), os bons resultados na economia, a recuperação de rendimentos e direitos, a melhoria do rating da dívida da República, etc, tudo terá concorrido para esta resultado.
O negativo da vitória do PS é a estrondosa derrota do PSD. Teve o pior resultado de sempre em número de câmaras ganhas, maiorias absolutas e percentagens de votos (neste último caso, excetuando 1976, 1979 e 1982, ou seja, no período de menor concentração de voto nos dois maiores partidos). O carácter devastador desta derrota é relativamente consensual e está bem evidenciado no processo de mudança de líder em curso no PSD. Quer no caso do PS, quer no caso do PSD, há claramente efeitos nacionais e efeitos locais por detrás dos resultados, como mostra a diversidade de tendências nos diferentes municípios. Outro elemento notável nestas eleições, e especificamente de âmbito local, já que a lei só nas autárquicas permite candidaturas não partidárias, é o crescimento dos grupos de cidadãos. Com 17 presidências de câmara são claramente um conjunto em progressivo crescimento desde 2001 e destacam-se como a quarta força em termos autárquicos.
Tabela 1.2: Percentagens de votos e de mandatos das esquerdas portuguesas em eleições autárquicas (Câmaras Municipais – executivo)
Fontes: estatísticas eleitorais oficiais (definitivas, CNE, e provisórias, STAPE/DGAI/SGMAI).²
Passemos agora aos casos do PCP e do BE (ver Tabela 1.2). Por um lado, há traços de grande permanência e que tem a ver sobretudo com a natureza das eleições em causa, e com os legados do passado.
Primeiro, o PCP continua a ser um grande partido autárquico, o terceiro mais forte do sistema em percentagem de votos (9,45) e em número de presidências de câmara (24); o BE continua a ser um partido bastante fraco em termos autárquicos com 3,3 em termos de percentagem de votos, e nenhuma presidência. Todavia, em termos de tendências os resultados são bastante piores para o PCP, perdeu 10 presidências e teve a pior percentagem de sempre em autárquicas, do que para o BE, pois este teve o melhor score de sempre em eleições locais, seja em termos de percentagens de votos para os executivos (3,3), seja em termos de mandatos (12 em 2017, para 8 em 2013 e 9 em 2009). Do lado dos efeitos locais, os resultados do PCP poderão ser explicados pela usura do poder (em muitas das presidências de câmara perdidas estava há 40 anos no poder) e pelo acréscimo de concorrência no seu flanco esquerdo (BE) e direito (PS), além dos grupos de cidadãos.
No caso do BE, a sua fraqueza estrutural tem que ver com a natureza dos escrutínios autárquicos. Do lado dos efeitos nacionais, claro que o refluxo que agora se verificou no PCP-PEV pode ter a ver com a participação na «Geringonça» e uma eventual falta de explicação aprofundada dos seus contributos específicos para o sucesso desta solução específica, o reverso podendo ser dito para o BE.
Todavia, sobretudo no caso do PCP, há que relativizar quer a magnitude dos efeitos nacionais, quer a dimensão do refluxo. Por um lado, quando comparamos as percentagens de votos nas autárquicas de 2017 (9,45%) com os das legislativas de 2015 (8,25%), vemos que o PCP-PEV até progrediu. Por outro lado, é verdade que os comunistas e verdes tiveram o menor número de presidências de câmara de sempre (24), mas o refluxo de 2017 (menos 10) é menor do que o verificado em 2001 (menos 13 presidências face a 1997), quando não havia «Geringonça» nenhuma. Mais, como é sabido, o PS propôs ainda em início de 2017 alianças de esquerdas nos grandes municípios, mas os partidos da esquerda radical recusaram (ver Freire, 2017, pp. 23-24), pelo que só se podem queixar mesmo de si próprios.
Muito mais preocupante, para o futuro da «Geringonça», do que os resultados eleitorais dos comunistas, foi a forma algo nervosa e contraditória como estes reagiram a quente. Todavia, em muitos municípios, nomeadamente na Área Metropolitana de Lisboa, a necessidade de alianças pós-eleitorais entre as esquerdas para a formação de governos autárquicos estáveis é hoje mais premente do que em 2013 (ver NOBRE e PAIXÃO, 2017).
Por isso, este será o grande teste «Geringonça»: se as três forças de esquerda (PS, BE e PCP-PEV) forem capazes de cooperar (mesmo quando não são as três aritmeticamente precisas, como em Lisboa), o governo de esquerdas sairá reforçado (nacional e autarquicamente); caso contrário, poderá perder élan… e coesão… e sentido de futuro…
Uma coisa devem as três forças ter bem ciente: sucessivas sondagens (2009, 2012, 2014, 2016: ver Freire, 2017) mostram que uma maioria de votantes de todos e cada um dos três partidos de esquerda apoia esta solução.
Serão as elites partidárias das esquerdas capazes de continuar à altura dos seus constituintes? A bem da República, seria desejável que sim! Mas o futuro está em aberto…
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, André (2017). Para lá da «Geringonça»: O Governo de Esquerdas em Portugal e