Para Entender o Tempo Presente: Crônicas políticas
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Para Entender o Tempo Presente - Alexandre Aragão De Albuquerque
Copyright © 2018 by Paco Editorial
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Revisão: Márcia Santos
Capa: Wendel de Almeida
Projeto Gráfico: Bruno Balota
Edição em Versão Impressa: 2017
Edição em Versão Digital: 2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)
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Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)
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Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
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Paco Editorial
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Sumário
Folha de Rosto
Apresentação
Não há vazio em política 19 de fevereiro de 2015
A batalha dos carneiros 26 de março de 2015
Um longo caminho: da casa-grande & senzala ao estado de direito democrático 29 de março de 2015
A defesa da democracia passa pela defesa dos direitos humanos 31 de março de 2015
O sal da terra 02 de abril de 2015
Tá lá mais um corpo estendido no chão 05 de abril de 2015
Os conflitos, a democracia e a luta política 19 de abril de 2015
O primeiro de maio 02 de maio de 2015
Refundar a política brasileira 25 de maio 2015
Às portas do inferno: entre a ficção e a realidade 01 de junho de 2015
Tudo ainda é tal e qual 23 de junho de 2015
A peleja do diabo com o dono do céu 06 de julho de 2015
Elevando o nível 15 de julho de 2015&../Text/Miolo.xhtml#160;
Quando deixaremos de não ser e enfrentaremos de fato a realidade?07 de agosto de 2015
Um porco chamado garganta 08 de agosto de 2015
Ensaio sobre promessas e traições 23 de setembro de 2015
Uma voz que vem da periferia 28 de setembro de 2015
O discurso do senador contra a banalidade do mal 07 de outubro de 2015
Incongruências de um sistema político 09 de outubro de 2015
Reinventar a ação política 26 de outubro de 2015
Que formato de competição interessa à vida dos humanos? 05 de novembro de 2015
Direito de resposta: uma luta de Davi contra Golias 10 de novembro de 2015
Da entrevista de Lula ao jornalista Roberto D’Ávila 20 de novembro de 2015
Afinal, a libertação estará se aproximando?29 de novembro de 2015
A coisa pública em gestação no Brasil 07 de dezembro de 2015
Medo de mostrar as digitais 08 de dezembro de 2015
O preço da liberdade é a vigilância constante 08 de fevereiro de 2016
O que querem os comandantes do Golpe?06 de abril de 2016
Manter o eixo, o controle, a esperança 08 de abril de 2016
Da trincheira à conspiração 11 de abril de 2016
Por Deus, por minha família, por minha propriedade 24 de abril de 2016
Quem não conhece o esquema do Aécio?24 de maio de 2016
O dilema de Narciso: da insensibilidade ao entorpecimento 25 de maio de 2016
O escárnio da civilização do espetáculo 24 de junho de 2016
O Senado sob suspeita 30 de junho de 2016
A burguesia fede, mas tem dinheiro para comprar perfume francês (Cazuza)04 de agosto de 2016
Triste começo 08 de setembro de 2016
A resistência democrática 17 de setembro de 2016
O que é uma guerra não convencional? 19 de setembro de 2016
O discurso do procurador 21 de setembro de 2016
O tropeço
da democracia brasileira 28 de setembro de 2016
De volta ao pensamento único? Buscando o entendimento do nosso tempo 06 de outubro de 2016
Neoliberalismo versus neodesenvolvimentismo 16 de outubro de 2016
A capacidade de produzir solidão e infelicidade 24 de outubro de 2016
Sem poder não se faz política 29 de dezembro de 2016
Finalmente, como deve ser um governo civil? 18 de janeiro de 2017
Sobre relações sociais e dominação 26 de janeiro de 2017
O Príncipe eletrônico 08 de fevereiro de 2017
Ad novum oeconomica structurae 09 de fevereiro de 2017
O petróleo é nosso? 21 de fevereiro de 2017
Foi sem querer, querendo 23 de fevereiro de 2017
Por que somente agora? 14 de abril de 2017
De olho em Gandhi 21 de abril de 2017
28 de abril: o longo processo de conquista da cidadania brasileira 24 de abril de 2017
Da globalização ao hiperindividualismo 27 de abril de 2017
É possível uma democracia brasileira? 16 de junho de 2017
Um Senado avacalhado 12 de julho de 2017
Afinal, em uma democracia, quem é o soberano?27 de julho de 2017
O vazio das ruas 03 de agosto de 2017
Página Final
Apresentação
Desde as disputas presidenciais de 2014, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) venceu as eleições sobre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em um acirrado segundo turno, o Brasil tem vivido uma crise sem precedentes, quer na forma, na dimensão ou no conteúdo. Aprofunda-se a competitividade imanente de uma sociedade orientada por interesses cada vez mais privados que se reflete na política. Com quatro derrotas eleitorais consecutivas e sem perspectivas de retorno em médio prazo, os tucanos puseram em cheque a decisão do eleitor. Foi pedido auditoria da contagem dos votos, a anulação da eleição e mesmo a condenação da chapa vencedora por crime eleitoral, uma vez que havia uma visão de que a corrupção
era sistêmica. Não se previu que a dimensão desta crise abalaria as bases do nacional desenvolvimento com a democracia sendo arrastada junto.
Não se deu uma trégua ao governante nos primeiros meses de mandato e, desta vez, o governo foi atropelado desde o início, pois os três poderes também entram em crise buscando os contrapesos
. Uma operação jurídica tomou todo o debate público, criminalizando os poderes Executivos e o Congresso Nacional por não se elegerem pela vontade popular, mas via corrupção. Um jovem juiz federal de primeira instância trouxe para si a missão de combater esta corrupção na administração pública. A imprensa tradicional foi sua aliada e se fechou em consenso para criar um ambiente de crise permanente. No Parlamento, uma composição especial apontava para um desequilíbrio imenso a favor do poder judiciário como o salvador da pátria. O clima era sufocante não apenas na política, mas chegando também na economia, o ponto nevrálgico da legitimidade. E todos os fatos
noticiados, todas as insinuações, todas as ações e todas as decisões judiciais apontavam para os poderes executivo e legislativo, com os vencedores da eleição foram apresentados como uma organização criminosa
.
O país vivia a realidade em forma de novela. Cada manhã havia um novo capítulo na trama policial, judicial, política, midiática. Mas ninguém sabia o rumo que os fatos
tomariam, trazendo a emoção, o ódio e a tentativa de desmontar um mito. Não havia mais padrões, não havia mais limites. A democracia sentiu o impacto, as instituições paralisaram, acovardadas e cúmplices de um roteiro de desestruturação do processo normal de participação política, que são os partidos políticos. Nas Redes Sociais essa trama reverberava. O que fazer? O que dizer? Como agir? Um golpe estava em marcha? Por quê? Por que agora? Por quem? O que isso significa? O que vem depois?
Este livro de um observador instrumentado intelectualmente para captar a trama é uma resposta singular a todos esses desafios. Engajado, o autor o escreveu no calor dos acontecimentos, na absoluta incerteza de seus desdobramentos e desfechos. Os textos são datados e foram tornados públicos em cima do processo político vivo. Muitos daqueles momentos eram delicados. A maioria dos intelectuais evitou opinar, esquivou-se de analisar. E quando o fizeram, fizeram-no de maneira insegura, para não usar adjetivo mais forte. A análise política e a opinião manifestada neste livro resistem ao tempo e podem ser lidas e avaliadas mesmo muito tempo depois. E, como o leitor verá, as palavras e as ideias mantiveram sua força. Não é sequer preciso concordar com o autor para apreciar a obra, observação necessária nestes tempos em que todos podem opinar, mesmo que infelizmente predomine a intolerância.
São cerca de cinquenta textos curtos de autoria do mestre em Políticas Públicas, pesquisador com uma lupa e exímio escritor, Alexandre Aragão de Albuquerque, postados no site de análise política Segunda Opinião, entre fevereiro de 2015 e agosto de 2017, dois anos e meio que sacudiram o Brasil, produzindo uma nova e estranha realidade.
Este livro enfrenta os fatos quando eles estavam quentes e eram ainda controversos, e alguns ele até consegue antecipar, tão precisa é a análise das circunstâncias. Um exemplo é o primeiro artigo da sequência, de nome Não há vazio em política
, quando o autor aponta para o significado da eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara Federal. A clara advertência constante do texto é prova de que a presidente da República não deu ao fato a devida dimensão, não compreendeu seu alcance, e não agiu como deveria agir. E como agiria qualquer pessoa prudente que tivesse lido o clássico e básico O Príncipe, que Maquiavel escreveu há quinhentos anos. Desdobramento: o deputado Cunha abre o processo de impeachment dois meses depois.
Outro texto também volta no tempo para ilustrar uma ideia e reforçar uma análise. Cita Cervantes, do livro Dom Quixote, escrito há quatrocentos anos, quando Quixote confunde lobos com cordeiros, e se dá mal. Ainda é o primeiro trimestre de 2015 e o autor adverte que a imprensa tradicional está fechada em consenso contra o resultado da eleição legítima. Era a prática ainda pouco percebida do jornalismo de guerra
, ou, em uma outra formulação, os tempos da pós-verdade
.
O terceiro texto fala de Gilberto Freyre e sua leitura da formação social do Brasil, em Casa-grande & Senzala. E traz da história do Brasil séculos de escravidão para mostrar que ainda não consolidamos avanços na questão da divisão de classes. Somos, ainda hoje, mais de um século depois da Lei Áurea, autoritários e preconceituosos. Somos violentos, mesmo.
E aí temos o estilo do autor, que prevalece ao longo do livro. Ele traz à luz os elementos políticos, analisa-os, posiciona-se e opina claramente sobre eles, e ilustra sua visão com apoio na história e literatura, nacional ou mundial, assim como na boa teoria política. Os eventos políticos brasileiros são expostos a interessantes espelhos, como a Independência dos Estados Unidos ou a Revolução Francesa, por exemplo. E assim, pode o leitor entender os fatos a partir de uma rica perspectiva, e pode perceber como as mudanças são articuladas acima e além da vontade popular.
Nem de longe, todavia, o livro se esquiva de nomear claramente e acusar as personalidades públicas e as instituições que não cumpriram os seus papéis na preservação da democracia, na defesa da lei e na consideração dos valores maiores e dos legítimos interesses do povo. O Senado Federal e seu presidente, a Câmara dos Deputados e seu presidente, o Supremo Tribunal Federal e alguns de seus ministros, a rede Globo e outros veículos de massa, as instituições componentes da Lava Jato
e outros, seus erros e omissões no cumprimento de suas missões são apontados. Para compensar, o leitor caminhará nas páginas ao lado de Maquiavel, Gilberto Freyre, Alexis de Tocqueville, Ghandi, Tolstoi, Tzvetan Todorov, Robert Mitchels, Caio Prado Jr., Milton Santos, La Boétie, Geraldo Vandré, entre outros, em um diálogo ao mesmo tempo instrutivo e saboroso.
E quando a política desdobra-se em eventos de interesses econômicos, sejam eles confessáveis ou não, como no caso da manipulação da informação sobre a Petrobrás, no caso do excesso de poder do sistema bancário e outros, lá também está o olho crítico do autor.
O próprio comportamento da classe média, que costuma ser decisivo nos momentos de crise, é submetido ao crivo de Alexandre. É um bom exemplo dessa leitura crítica a adoção da camisa da seleção brasileira de futebol para os atos e manifestações públicas, assim como o bater de panelas na varanda dos edifícios.
Eis um trecho do texto que ilustra bem o pensamento do autor, o sabor de seu texto e a clareza de suas posições:
[...] Em 1966, a canção vencedora foi Disparada, composta pelo paraibano Geraldo Vandré e Théo de Barros, dividindo o primeiro lugar com A Banda, de Chico Buarque de Hollanda. Em Disparada, Vandré utiliza a linguagem poética para estabelecer uma comparação entre a exploração dos pobres com a exploração do gado, denunciando a opressão pela qual as populações rurais brasileiras eram submetidas diuturnamente. Um dos versos magistrais da canção diz assim: Aprendi a dizer não.
Dizer não, um aprendizado.
Étienne de la Boétie, filósofo francês (1530-1563), afirmava que a servidão voluntária expressava o desejo de servir os superiores para ser servido pelos inferiores. É uma teia de relações de força que percorrem verticalmente as sociedades sob a forma de mando e obediência. Como Vandré,