vamos fazer uma casa na árvore
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Sobre este e-book
dos versos. nem sobre métrica, ritmo, simetria. quero eu lá saber das rimas internas ou
externas ou da didática, do método, do propósito ou da filosofia da poesia. já abdiquei
dos diplomas, da sabedoria, de ser um profissional da poesia. eu erro, calo, nunca berro
e escrevo. o mecanismo da minha poesia é não saber fazê-la. reunir o que escrevo para
um livro não seria um apanhado de poesia. seria o que já apanhei da vida. minha poesia
não é sobre poesia. é sobre como morrer vinte e três horas por dia. uma hora eu sonho.
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vamos fazer uma casa na árvore - Eduardo Marques
© 2023, Eduardo Marques e Poesia Impossível
E-mail: geral@poesiaimpossivel.com
Título: Vamos fazer uma casa na árvore
Editora: Vitória Scritori
Coordenador Editorial: Vasco Duarte
Capa: Vasco Duarte
Composição Gráfica: Manuela Duarte
Revisão: Eduardo Marques
1.ª Edição: Abril, 2023
ISBN: 978-989-37-5145-9
EDUARDO MARQUES
vamos fazer uma casa na árvore
PORTUGAL | BRASIL | ANGOLA | CABO VERDE
prefácio
um livro. um convite à arqueologia das coisas fundas da vida; uma aproximação cuidadosa das raízes dos sentimentos todos que as nossas e as outras pessoas podem experimentar ao longo da existência. uma água, que mar, inunda ou refresca as almas inquietas, sempre a depender da fundura que estas podem alcançar.
eis aqui o meu primeiro livro – de única autoria -, que encosta o leitor aos sentimentos honestos e o apresenta uma dinâmica peculiar de escrita, onde a imaginação torna-se livre e a interpretação faz-se desprendida das trivialidades estéticas.
a ideia para este projeto escrito surgiu com o texto intitulado casa na árvore
– escrito por mim ao fim de 2015 -, através do qual descobri, pela recíproca que gerou à época, que as pessoas todas têm momentos pendentes que almejam reviver – o que é algo de extrema relevância, uma vez que não se pode, ainda, voltar no tempo. deste modo, as vontades todas se transformam em desejos impossibilitados de realização, porém passíveis de transformação em doces e afetuosas lembranças.
há, nesse pendular desejo de ser um construtor de palavras vivas, tudo de mim. portanto, mesmo após todos esses anos de espera, o título original permanece vamos fazer uma casa na árvore
. é, de algum modo, uma forma de prestar reconhecimento ao texto que pariu à luz a ideia fulcral do livro.
quem jamais desejou uma casa plantada à árvore? quem jamais temeu as escuridões dos quartos de descanso quando a noite avança? quem, em momento algum, perdeu sonhos e amores ou os ganhou com boa dose de sorte? quem jamais foi uma menina de vidro ou o rapaz que a fizera quebrar? foram instantes dessa simplicidade que me provocaram e possibilitaram-me erguer os sentimentos e verbalizar miudezas demasiado importantes à vida de qualquer gente.
os escritos apresentados nesta obra buscam os corações mais repletos e os olhos mais atentos, para que estes saltem à sorte, a fim de conhecerem tudo o que se pode, tudo o que se deve e tudo o que se quer.
às lágrimas por que moça
mas que ideia maluca
se sabes bem que nunca
à poça de afogam navios
Eduardo Marques
um, à semente
ato breve sobre a felicidade
guarde os tamancos menina
e vá logo se deitar e durma
que amanhã bem cedinho
vamos à feira tentar os restos
durma depressa e logo
que os barulhos da barriga
esquecem-se de ser
e vão ao sono também
depois das pessoas todas
levarem para si os excessos
ficaremos nós com o essencial
o suficiente
e depois dos homens desmiolados
gritarem os preços que não podemos pagar
sopraremos as moscas e levaremos
poucas coisas para as barrigas fundas
somos só duas e só isso dá
os verdes e os enegrecidos
raspamos e largamos no caminho
e o resto do resto fica entre nós
um dia aprenderá que tudo na vida é assim
as pessoas levam sempre os excessos
e tudo do pouco que sobra ainda é tudo
o essencial é do que precisamos e mais nada
e bem sabe que dia de aula é dia de aula
vá e aprenda as palavras bonitas
e os números e os animais
e não se dê ao desfrute que já sabe o que te acontece
seja boa e seja melhor que a mãe
que essas coisas emporcalhadas não são para ti
os lixos e os bichos da casa
não são coisas para meninas boas assim
e ela fingia um sono para que a mãe adormecesse
levantava-se sorrateira e se ajoelhava
morna ao pé da mãe desabada
e pensava que de todos os restos só a mãe lhe era inteira
tinha mesmo razão aquela velha senhora dormida
a vida levara da menina todos os excessos
e tudo do pouco que lhe sobrara ainda era tudo
a vida fez sobrar a melhor mãe de todas
era apoucada de idade
mas vivera tempo suficiente para saber
que não havia como ser melhor que a mãe
que essa coisa de ser mais era excesso
e o essencial era só saber
das coisas da escola das coisas da vida
e do amor da mãe
pois o essencial é do que precisamos e mais nada
cobriu a mãe
soprou as velas
sonhou
era feliz