Madonna: 40 anos de vanguarda
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Madonna - Thati Aquino
PARTE I
PRÉ-MADONNA
Madonna era o nome da minha mãe, ela morreu quando eu era bem pequena, eu a amava muito, por isso que esse nome significa tanto para mim. Ela era um amor, linda e trabalhadora. Às vezes eu penso se seria muito parecida com ela, mas isso eu nunca vou saber
.
Capítulo 1.1
NASCE UMA ESTRELA
Em janeiro de 1984, Dick Clark, um carismático comunicador americano, apresentava o derradeiro American Bandstand daquela temporada, ainda em clima de feliz ano novo, adeus ano velho
.
Entre as atrações, uma jovem artista de 25 anos, recém-chegada as grandes mídias, como a TV. Seis meses antes, havia lançado seu primeiro álbum, que levava o seu nome; Madonna. Não se tratava de um pseudônimo artístico, e sim nome próprio, herdado de sua mãe, Madonna Fortin. Sem imaginar o que o destino reservava para aquela pequena bebê, nascida em 16 de agosto de 1958, os pais a batizaram com um nome que, pode-se dizer, foi o primeiro ato de marketing de entretenimento de sua história, ainda que de forma espontânea e inconsciente. Um prenúncio para alguém que, 25 anos depois, entraria numa jornada faminta por fama, estrelado e reconhecimento.
No palco com Dick Clark, Madonna apresentou-se cantando Holiday, o terceiro single do seu álbum de estreia. Àquela altura, atingindo um desempenho considerável nas paradas musicais do seu país, e já com algum eco no exterior. O primeiro single, Everybody, lançado em 1982, tornou-se um hit ao redor do globo.
Ali, diante da plateia e dos telespectadores, algo singular chamava atenção. Autêntica, bonita e sensual. Vestindo saia e blusa pretas, com o umbigo à mostra. Adornada com brincos, pulseiras e crucifixo no pescoço. Tudo era demais, e também inédito. Os cabelos castanhos, com mechas loiras, propositalmente despenteados e presos por uma fita, compondo um laço. Era uma versão punk da Barbie jamais imaginada, mas prontamente encarnada. Para além do visual, Madonna encantava e sabia o que fazer. Frenética, dançava esbanjando euforia e graça, sorrindo para a público, flertando com as câmaras, seduzindo a audiência. Nos seus grandes olhos azuis, sombra e lápis preto. Na boca, batom vermelho e uma pinta, ao estilo Marilyn Monroe, logo acima do lábio superior. Tudo era marcante naquela garota. Não havia quem ignorasse sua presença.
Ao fim de sua performance, quando Dick Clark perguntou-lhe o que desejava para o ano vindouro, Madonna não titubeou: Eu quero dominar o mundo
, disse ela do alto de sua ingenuidade. Afinal, qual artista em começo de carreira não carrega o desejo de conquistar as multidões? Porém, nesse caso, tratava-se de uma resposta profética. Aquele momento seria lembrado ao longo de uma carreira que causaria um imenso impacto na indústria fonográfica, numa escala jamais vista em se tratando de uma mulher. O mundo conhecia Elvis Presley, os Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, David Bowie, Marvin Gaye e Michael Jackson, conhecia também Diana Ross, Donna Summer, Grace Jones, Cher e Debby Hary. Mas ninguém havia ocupado o lugar que estava vago e reservado, desde a revolução sexual dos anos 60, para alguém como Madonna. O showbusiness estava pronto para ela, que não apenas cumpriria o que se esperava dela, como iria muito além de toda e qualquer expectativa.
Madonna cresceu numa casa simples, em Pontiac, subúrbio de Detroit. Padaria ser mais específico, no número 443 da rua Thors. Em sua época, um promissor bairro ocupado por operários da indústria automobilística, hoje um lugar esquecido e devastado. Seus avós paternos, Gaetano e Michelina Ciccone, vieram de navio da Itália na década de 20, provenientes da região de Abruzzo. Dos seis filhos, somente Silvio, o mais novo, conseguiu chegar à faculdade. Não foi à toa que, desde cedo, Madonna desenvolveu uma notável consciência política. Como neta de imigrantes, alvos do preconceito naquela época, ela conheceu de perto a marginalização