O Espírito Santo No Novo Testamento

De Jideon F Marques

Na igreja primitiva, as operações milagrosas do Espírito Santo eram normais e normativas. Hoje, um número cada vez maior de cristãos em todo o mundo se identificam como pentecostais ou carismáticos. O livro mostra que isso significa que a igreja precisa de uma interpretação das Escrituras centrada no Espírito, informada por lentes pentecostais. Em O Espírito Santo no Novo Testamento , Fornece uma introdução acessível ao Novo Testamento que discute temas e passagens de particular interesse para leitores pentecostais. Cada capítulo explora a presença do Espírito num livro bíblico e depois oferece aplicações devocionais para ajudar os leitores a responder ao texto. Em Mateus, por exemplo, descobrimos que não existe era messiânica separada do Espírito. Para Paulo em Romanos, o Espírito Santo é o poder autenticador e o coração emotivo de Deus. E o Apocalipse é permeado pela voz iluminadora do Espírito do começo ao fim. Uma leitura centrada no Espírito quebra as divisões entre razão e espírito, mente e emoção. Este livro abre um diálogo entre a academia e a igreja, demonstrando como a exegese sólida fala aos cristãos cheios do Espírito. No mundo e nos escritos dos autores do Novo Testamento, continuamos a encontrar a presença reveladora de Deus.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 31 de jan. de 2024

Pré-visualização do livro

O Espírito Santo no Novo Testamento

O Espírito Santo no Novo Testamento

Um Guia Pentecostal

Por Jideon Marques

© Copyright 2024 Jideon Marques – Todos os direitos reservados.

O conteúdo contido neste livro não pode ser reproduzido, duplicado ou transmitido

sem permissão direta por escrito do autor ou do editor.

Sob nenhuma circunstância qualquer culpa ou responsabilidade legal será

responsabilizada contra o editor, ou autor, por quaisquer danos, reparações ou

perdas monetárias devido às informações contidas neste livro, seja direta ou

indiretamente. Notícia legal:

Este livro é protegido por direitos autorais. É apenas para uso pessoal. Você não pode

alterar, distribuir, vender, usar, citar ou parafrasear qualquer parte ou o conteúdo

deste livro sem o consentimento do autor ou editor.

Aviso de isenção de responsabilidade:

Observe que as informações contidas neste documento são apenas para fins

educacionais e de entretenimento. Todos os esforços foram realizados para

apresentar informações precisas, atualizadas, confiáveis e completas. Nenhuma

garantia de qualquer tipo é declarada ou implícita. Os leitores reconhecem que o

autor não está envolvido na prestação de aconselhamento jurídico, financeiro, médico

ou profissional. O conteúdo deste livro foi derivado de diversas fontes. Consulte um

profissional licenciado antes de tentar qualquer técnica descrita neste livro.

Ao ler este documento, o leitor concorda que sob nenhuma circunstância o autor é

responsável por quaisquer perdas, diretas ou indiretas, que sejam incorridas como

resultado do uso das informações contidas neste documento, incluindo, mas não

limitado a, erros, omissões ou imprecisões.

PREFÁCIO

A INTENÇÃO DESTE TRABALHO É DUPLA: selecionar os temas do Novo Testamento

que são de interesse para os pentecostais e carismáticos e relacionar esses temas com

a igreja. Embora o Espírito Santo seja o foco de cada capítulo, a abordagem enfatizará

o que o Espírito faz, e não quem o Espírito é.

Quanto ao método, O Espírito Santo no Novo Testamento enfatiza a práxis sobre a

teoria. O leitor não deve apenas ser informado biblicamente, mas também

transformado espiritualmente. O objetivo não é apenas dominar o conteúdo da Bíblia,

mas também ouvir a voz do Espírito na Bíblia. Assim, uma ênfase evidente no

discipulado e na formação espiritual fará parte de cada capítulo.

Alguns podem se sentir desconfortáveis em combinar o estudo bíblico sério com lições devocionais incisivas. Esta sensação de desconforto demonstra o quão alienada

a academia se tornou da igreja e vice-versa. Também mostra a necessidade de uma

abordagem mais integrada do tipo encontrado no Espírito Santo no Novo Testamento.

Esses tipos de objetivos afetam necessariamente o formato e o estilo de escrita. Por

exemplo, cada capítulo será aberto com um versículo chave que tipifica a mensagem

central que o Espírito transmite nesta seção e cria o tom espiritual para todo o

capítulo. O que se segue é um tratamento biblicamente informado de temas que são de

particular interesse para os pentecostais e carismáticos. Um breve resumo completará

o capítulo, seguido pela pergunta O que isso significa para mim? parte. É aqui que as

reivindicações espirituais do texto são exercidas sobre o leitor. A eficácia desta seção

depende da disponibilidade do leitor para ouvir o que o Espírito está dizendo através

do texto.

Tudo isso afeta o estilo de escrita do Espírito Santo no Novo Testamento. O texto deve

ser lido com conforto e devoção. Além de assuntos introdutórios, o uso de fontes

secundárias e notas de rodapé é reduzido ao mínimo. A fonte primária da obra é o

texto grego do Novo Testamento.

As Escrituras servem como pedra de toque para todo o trabalho. É crucial que o leitor

procure cada citação enquanto estuda. Por uma questão de continuidade, talvez seja

melhor ler todo o capítulo e depois voltar e ler os textos de apoio.

É minha sincera esperança que o Espírito Santo no Novo Testamento não seja apenas

uma fonte de conhecimento bíblico, mas também um meio para o crescimento pessoal

no Espírito Santo.

Uma palavra de gratidão está reservada para os estudiosos pentecostais que

estabeleceram um padrão tão elevado de excelência. Notáveis como Gordon Fee e,

mais recentemente, Craig Keener, vêm à mente. Esses estudiosos uniram sua exegese

magistral da Palavra com sua comunhão sincera com o Espírito. Um agradecimento

especial a Paul Conn, presidente da Lee University. Seu compromisso com a excelência

acadêmica e com o desenvolvimento contínuo do corpo docente tornou este projeto

possível. Minha estada na Tyndale House, em Cambridge, e o incentivo constante de

meus colegas de lá, foram de grande ajuda para mim. Por fim, meus alunos são uma

inspiração constante. Eles são a igreja do futuro e, em todos os aspectos, o futuro está

em boas mãos.

INTRODUÇÃO

Por queum GUIA PENTECOSTAL para o ESPÍRITO SANTO?

CONSIDERANDO A GRANDE VARIEDADE de fontes sobre os movimentos pentecostais

e carismáticos, precisamos realmente de outro livro sobre o Espírito? O abismo entre

a cadeira do estudioso e o banco da igreja nunca foi tão grande. Este livro procura

preencher a lacuna entre o estudo sério da Bíblia e a necessidade de discipulado

prático na igreja. Além disso, a demografia atual demonstra a necessidade de um livro

como este. O número de crentes que se identificam como pentecostais ou carismáticos está crescendo a um ritmo surpreendente. Este setor da igreja em rápida expansão

precisa de um estudo bíblico informado que aborde o papel do Espírito Santo na vida

cotidiana. Este trabalho atual busca atender a essa necessidade.

UM ESCLARECIMENTO DE TERMOS: PENTECOSTAL . . . ETIQUETA OU LENTE?

Os rótulos são úteis quando servem para esclarecer, definir e descrever. Contudo, o

valor limitado de um rótulo torna-se evidente assim que é aplicado. Todo rótulo tem a

tendência de fixar, restringir e excluir. Como tal, nenhum rótulo pode capturar

totalmente todos os aspectos e valores de uma coisa. A vida simplesmente tem um

jeito de escapar dos limites de qualquer rótulo. Isto é especialmente verdadeiro com

rótulos religiosos. Reformado. . . evangélico. . . Pentecostal . . . A simples menção destes termos dá origem a interpretações tão variadas que, em pouco tempo, o rótulo perde o

sentido. Como devemos então rotular a presença viva e dinâmica do Espírito Santo na

igreja? Por outras palavras, pode a graça carismática do Espírito na vida de uma igreja

cada vez mais diversificada e global ser rotulada?

Em resposta, o termo pentecostal neste presente estudo não é usado como um rótulo

que define, mas como uma lente através da qual olhar. Pentecostal nesta obra não se

refere a uma denominação específica ou mesmo a um fenômeno religioso histórico

particular. Nem significa atribuir a um conjunto de Escrituras uma importância que

vai além do resto das Escrituras Sagradas. Pelo contrário, pentecostal, neste contexto

atual, refere-se a um tipo especial de grade interpretativa. O pentecostal está sendo

usado aqui como uma lente hermenêutica que informa toda a realidade – Deus, a

humanidade, a criação – e enquadra essa realidade como uma interação contínua de

tudo o que é verdadeiro.1O tema da verdade que colore esta lente é a presença viva do Espírito de Deus.

Mesmo assim, o que está no cerne do Pentecostal assim descrito? Em resumo,

Pentecostal significa o colapso do transcendente. Uma lente pentecostal é enquadrada

por esta premissa central: Deus tornou-se imanente entre o seu povo por meio da

presença vibrante do Espírito Santo (Ap 21:3). O poder, a presença e a práxis do

Espírito invadiram este mundo e estabeleceram o povo de Deus como uma base para a

recuperação de toda a criação (Tg 1:18). Neste sentido, há um aspecto decididamente

encarnacional numa grelha interpretativa pentecostal. O Espírito habita nos

redimidos e, por meio dos sacramentos preeminentes que fluem de Jesus e das

Escrituras, o Espírito capacita os crentes a verem as coisas como elas realmente são

(1Co 2:11-12). Paradoxalmente, o colapso da transcendência dá origem a outro tipo

de transcendência pela qual aqueles imersos no Espírito não são mais definidos, ou

melhor, confinados a este mundo presente (Fp 3:20). À medida que os fiéis "andam no

Espírito" (Gl 5:16), a presença do reino é apresentada e, em certa medida, realizada

em suas vidas.

Tudo isto significa que a tarefa de interpretação (hermenêutica), o ensino claro da

Bíblia (exegese) e o estado atual da igreja (eclesiologia) exigem um guia

particularmente pentecostal sobre o Espírito Santo no Novo Testamento.

UMA LENTE PENTECOSTAL PARA INTERPRETAÇÃO: HOLÍSTICA E INTEGRADA

Pode-se ver facilmente que a interpretação centrada no Espírito tem enormes

implicações para experimentar Deus e compreender a sua Palavra. Esta forma de

abordar as Escrituras é holística e integrada. É holístico porque envolve a mente, o

coração e o espírito humanos. O local da revelação do Espírito não se limita ao

pensamento humano, mas inclui também a emoção e a adoração humanas (Lc 10:27).

Uma abordagem pentecostal é integrada porque une a experiência compartilhada do

Espírito ao longo do tempo. O Espírito gerador no alvorecer da criação (Gn 1:2) é o

mesmo Espírito que inspirou e realizou milagres através dos profetas (Nm 11:29).

Este é o mesmo Espírito que não apenas concebeu Jesus na Virgem Maria (Lc 1,34-35),

mas também capacitou carismaticamente Jesus ao longo de sua vida (Lc 4,18) e o

ressuscitou dentre os mortos (Rm 1,4). O Cristo carismático batiza a igreja no mesmo

Espírito (Mt 3:11) e capacita os primeiros crentes a pregar o evangelho até os confins

da terra (Atos 1:8). Este evangelho não é apenas compartilhado em palavras, mas

também no poder milagroso e na demonstração do Espírito (1Co 2:4).

Em suma, uma lente pentecostal vê a pessoa primordial e a obra do Espírito como

sendo a mesma pessoa e obra do Espírito que operou na vida dos fiéis ao longo dos

tempos, incluindo a nossa. Em relação aos antigos, a história deles de Deus é a nossa

história de Deus e a experiência deles no Espírito é a nossa experiência no Espírito.

Em outras palavras, há uma fusão desimpedida de paisagens espirituais, do mundo

bíblico do Espírito e de nossa atual comunhão no Espírito. Desta forma, o crente

contemporâneo participa da vida do Espírito que sempre existiu, agora existe e

continuará a existir.

Tudo isto tende a desmantelar o muro de separação tão evidente em muitos modos

de interpretação modernistas e ocidentais. Com isto quero dizer aquela barreira

artificial construída para distanciar o estudo acadêmico da formação espiritual. No

entanto, pentecostal não significa o deslocamento de estudos bíblicos sólidos por uma

experiência devocional irreflexiva. Pois o que está no cerne de ser pentecostal é um

profundo senso de revelação. Isto significa que a proto-revelação do Espírito, isto é, as

Escrituras, é a pedra de toque oficial para qualquer estudo pentecostal. Além disso, o

Espírito não revela apenas em palavras, mas também no mundo (Lucas 3:1-3). Deus

fala na história, então o próprio contexto histórico é revelador para o pentecostal (Gl

4:4). Linguagem . . . gramática. . . história . . . são todos imbuídos do Espírito e são parte integrante da revelação de Deus. No entanto, esta revelação pluriforme é destinada a

nós, para ser ativa em nós e expressa através de nós (Rm 10:8).

Uma interpretação centrada no Espírito desconstrói aquela divisão inventada que

aliena a razão do espírito, o pensamento do coração e a mente da emoção. Uma

rubrica pentecostal celebra aquela simpatia divina com a Santíssima Trindade, pela

qual a alegria do reino (Rm 14:17) e o fruto sincero do Espírito (Gl 5:22-23) são uma

realidade sempre presente. Às vezes, este diálogo divino-humano excede as restrições

da fala humana. É então que o discurso é tão dirigido pelo Espírito que expressa a

devoção numa linguagem enquadrada mais pela gramática do céu do que pela da terra (Atos 2:4; 19:6; 1 Coríntios 14:39). Tudo isto significa que uma lente pentecostal

substitui uma compreensão antropocêntrica de Deus pela comunhão viva do Senhor

ressuscitado, mediada pelo Espírito que habita em nós. O existencialismo moderno dá

lugar a estar em Cristo (2 Coríntios 5:17) como transformado através do Espírito (2

Coríntios 3:18). Não há cessação dos dons de Deus (Tg 1:17), mas uma continuação da

benevolência divina concedida para o bem comum (1Co 12:5-7).

A interpretação pentecostal não objetiva a Escritura como um artefato antigo a ser

dissecado e analisado. Pelo contrário, a Palavra está viva e exerce um efeito

interpretativo mais poderoso sobre nós do que nós sobre a Palavra (Hb 4:12). Isto

significa que as Escrituras devem ser estudadas devocionalmente (2Tm 3:16-17). Eles

não foram dados apenas para serem dominados pela razão humana, mas para serem

obedecidos por servos piedosos (Tg 1:22; 2:17). A revelação não foi dada para ser

domesticada para poder acomodar a modernidade. Pelo contrário, a própria revelação

torna-se o arquétipo pelo qual os filhos de Deus devem conformar-se e ser

transformados (Rm 12:1-2). Em outras palavras, a intenção original dos autores das

Escrituras tornou-se paradigmática para nós e o Espírito espera que respondamos de

acordo (Rm 15:4).

UMA LENTE PENTECOSTAL PARA INTERPRETAÇÃO: AMBORA ABRANGENTE

E CÓSMICA

Se tudo isto soa como um mandato dramático e definitivo vindo do alto. . . isso é. As

lentes pentecostais de interpretação fornecem uma visão ampla que é ao mesmo

tempo abrangente e cósmica. Abrange tudo, do começo ao fim, e informa tudo o que

está no meio. Isto significa que uma lente de interpretação pentecostal é

necessariamente uma lente escatológica. O prometido derramamento do Espírito

Santo sobre os primeiros crentes (Atos 2:1-21) marcou o cumprimento da profecia de

Joel nos últimos dias (Joel 2:28). Esta obra do Espírito no fim dos tempos não só

capacitará o povo escolhido de Deus, mas também restaurará toda a criação (Rm 8:19-

23). A vinda do Espírito é uma obra importante de Deus no tempo do fim, na ordem da

encarnação e ascensão. A invasão do Espírito no Pentecostes foi um evento que

moldou um paradigma que alterou para sempre a estrutura do cosmos (Atos 2:19-20).

Esta recuperação do Espírito no fim dos tempos começou com aqueles que foram

criados à imagem de Deus e consagraram os santos de tal forma que seus corpos

físicos se tornaram a única morada do Espírito na terra (1Co 6:19). O Espírito

começou conosco, mas não terminará conosco, pois o próprio Espírito é uma espécie

de primícias (Rm 8:23) ou pagamento inicial (2 Cor 1:22) da redenção cósmica de

Deus ainda está por vir (Ef 1:13-14).

É claro que para o pentecostal, escatológico ou tempo do fim não significa "totalmente

futuro". Para o pentecostal, o derramamento do Espírito representa uma espécie de

prolepse, ou uma consumação antecipada de todas as coisas aqui e agora. Com

certeza, mesmo enquanto atualmente andamos no Espírito (Romanos 8:4),

esperamos no Espírito (Gálatas 5:5) pela nossa redenção completa. É esta presença antecipatória do Espírito que geme no nosso espírito e aguarda ansiosamente a

redenção dos nossos corpos (Rm 8:23). Tudo isto significa que, para os pentecostais, a

distância entre o já do reino de Deus e o ainda não do nosso estado presente foi

estreitada. Na verdade, uma interpretação pentecostal percebe que a separação entre

esta era e a era por vir não é uma separação impenetrável, mas divinamente

permeável (Lc 11,20). Por meio do Espírito Santo, a presença e os poderes do reino de

Deus estão fluindo para a vida da igreja agora mesmo (1Co 12:8-10).

A SÓ EXEGESE BÍBLICA CHAMA UM ESTUDO PENTECOSTAL DO NOVO

TESTAMENTO

Quando Deus estabeleceu sua aliança com os hebreus do passado, ele já estava

anunciando a vinda de uma aliança qualitativamente nova, que foi completamente

infundida pelo Espírito (Jr 31:31-33). Ezequiel profetiza que Deus colocará seu

Espírito em nossos corações e nos fará andar em seus estatutos e observar suas leis

(Ez 36:26-27). A seguir, Jesus fala de uma ligação orgânica entre a nova aliança no seu

sangue (Lc 22,20) e o derramamento do Espírito Santo sobre os seus discípulos (Act

1,4-5). No momento em que esta promessa é cumprida na igreja, é feita uma ligação

direta com a profecia de Joel a respeito do derramamento do Espírito nos últimos dias

(Atos 2:16-21). Lucas consistentemente retrata a igreja como uma comunidade

carismaticamente capacitada que faz com que o poder redentor do reino seja exercido

pelo poder do Espírito (Atos 8:13; 19:11-12). O mesmo vale para o apóstolo Paulo. Ao

aludir às profecias de Jeremias e Ezequiel, o apóstolo entende que uma nova aliança

foi promulgada por meio do Espírito Santo (2 Cor 3:2-3). Para ele, os gentios cheios do

Espírito são o cumprimento da aliança de Deus com Abraão (Gl 3:1-9). É o "Espírito de

adoção (Romanos 8:15) através de quem eles clamam: Aba! Pai!" (Gl 4:6). O escritor

do Apocalipse diz que ele foi arrebatado no Espírito no dia do Senhor (Ap 1:10).

Esta rápida visão geral das Escrituras produz uma conclusão inegável. Os escritores

do Novo Testamento, do início ao fim, entendem que o plano cristocêntrico de Deus

estava sendo realizado por meio do Espírito Santo. Este ensino claro e consistente da

Bíblia é de especial interesse para os pentecostais e carismáticos e requer um estudo

especial próprio.

A IGREJA GLOBAL PEDE UM ESTUDO PENTECOSTAL DO NOVO TESTAMENTO

A morte relatada da igreja foi muito exagerada. A igreja não está morrendo;

simplesmente mudou de endereço. Embora haja sinais de declínio no Ocidente, há um

enorme crescimento no Sul Global, em África e na China.2Uma grande parte deste crescimento surpreendente compreende aqueles que se autoidentificam como

pentecostais ou carismáticos. As descobertas de megaestudos como a Enciclopédia

Cristã Mundial (2ª ed.) e o Centro de Pesquisa Pew para Religião e Vida Pública são

surpreendentes. O facto de estes mega censos dedicarem secções inteiras aos

pentecostais e carismáticos é revelador. Por exemplo, em 1900, o Banco de Dados

Cristão Mundial contava com menos de um milhão de pentecostais e carismáticos.

Hoje estima-se que existam mais de 670 milhões de pentecostais e carismáticos em

todo o mundo.3Atualmente, mais de 25 por cento da cristandade é pentecostal ou carismática. Este mesmo censo projecta que até 2050 o número total de pentecostais e

carismáticos será superior a mil milhões, com um em cada três cristãos afirmando ser

pentecostais ou carismáticos.4

Fica claro que qualquer tentativa de numerar pentecostais e carismáticos é como

amostrar um rio. No exato momento em que uma xícara cheia é tomada, o assunto

mudou. Qualquer censo global do movimento fica desatualizado assim que é realizado.

É por esta razão que as estimativas de miniaturas variam enormemente. Uma

estimativa fala de 40.000 pentecostais e carismáticos sendo acrescentados à igreja

diariamente, enquanto outra afirma que o número está mais próximo de 70.000!

Assim, George Weigel afirma que os pentecostais e os carismáticos constituem o

fenômeno religioso que mais cresce na história religiosa mundial.5

Os dados do Pew Forum não são menos impressionantes. Dos protestantes

pesquisados em quase vinte nações da América Central e do Sul, todas as nações,

exceto uma, relataram ser mais de 50% pentecostais.6Os protestantes em três desses países (Brasil, Panamá e Nicarágua) foram determinados como sendo pelo menos

80% pentecostais. Além disso, quase 60 por cento dos católicos no Brasil, o país

católico mais populoso da América do Sul, identificam-se como carismáticos. Da

mesma forma, o número de católicos carismáticos no Panamá ultrapassa os 70 por

cento.

E depois há a África. A partir da década de 1970, a população cristã em África

quintuplicou. A maior parte desse crescimento ocorreu entre os pentecostais e

carismáticos. Enquanto estudava em Cambridge, no verão de 2018, recebi dois

comentários não solicitados de líderes religiosos em África. Independentemente,

ambos disseram simplesmente: A África é Pentecostal. Reconhecidamente

anedóticos e claramente um exagero, seus comentários foram reveladores. Mais perto

da verdade está a afirmação do Pew Forum de que os pentecostais em todas as nações

africanas, de cima a baixo, representam entre 10 e 20 por cento de toda a população

nacional.7

Devido a uma série de factores, entre os quais o que Fenggang Yang chama de

aparelho de controlo, a população cristã na China não pode ser determinada.8No

entanto, o Cristianismo é a religião que mais cresce na China. Yang estima que até

2025 a população cristã na China será superior a 160 milhões, tornando a China a

nação cristã mais populosa do mundo.9Se a presença global de pentecostais e carismáticos for replicada na China, e ao que tudo indica, este é o caso, os números são

surpreendentes.10

Contudo, o número de pentecostais e carismáticos é apenas parte da história. O seu

impacto global no cristianismo global é digno de nota. Há mais de vinte anos, Ralph

Martin comentou: "Minha pesquisa me levou a fazer uma declaração ousada: em toda

a história da humanidade, nenhum outro movimento humano não político, não

militarista e voluntário cresceu tão rapidamente quanto o movimento carismático

pentecostal. nos últimos 25 anos. 11Luis Lugo, diretor do projeto Pew Forum, chegou ao ponto de dizer que a fé está a caminho de se tornar pentecostalizada .12John Allan fala do avanço implacável do pentecostalismo" que não mostra sinais de

desaceleração. Ele chega ao ponto de dizer que o pentecostalismo pode ser

exatamente aquilo que salva o cristianismo do esquecimento.13

Algumas razões para este crescimento incrível foram expressas por Harvey Cox há

mais de um quarto de século. Ele diz que os pentecostais exploraram a

espiritualidade primordial, expressa na fala primordial, vivida na "piedade

primordial, que dá origem à esperança primordial" .14Embora as razões para o incrível crescimento dos movimentos pentecostais e carismáticos estejam além do

escopo deste trabalho, a razão auto-relatada é praticamente universal: a presença viva

do Espírito Santo.15Além disso, mesmo que as razões do crescimento sejam debatidas, o efeito do movimento não o é. Não é nada menos que uma nova Reforma,

cujas consequências são ainda maiores que as da primeira Reforma.16

RESUMO DE PENSAMENTOS

A igreja do primeiro século nem sequer teria usado os termos pentecostal ou

carismático. A presença milagrosa e o poder do Espírito Santo eram um dado

adquirido e não exigiam rótulos especiais. A incessante benevolência do Espírito

manifestada em dons milagrosos era normal e normativa. Era exatamente assim que

as coisas funcionavam entre o povo de Deus. Por estas razões, os escritores das

Escrituras simplesmente se dirigem aos santos como a igreja.

Espiritualmente, a situação atual da igreja é diferente daquela do primeiro século, mas

estamos nos aproximando a cada momento. Uma parcela cada vez maior da igreja

global se identifica como pentecostal ou carismática. Então, em resposta à pergunta:

Por que um guia pentecostal para o Espírito Santo no Novo Testamento? a resposta

mais simples é: Porque a igreja exige isso.

No entanto, há uma última razão pela qual este tipo de estudo é tão crítico para os

nossos tempos. Esta razão abrange todas as outras justificativas para uma abordagem

das Escrituras centrada no Espírito e constitui a contribuição única deste livro. Na

mente de muitos, os mundos acadêmico e religioso estão alienados há muito tempo. O

que é desesperadamente necessário é o que Alister McGrath chama de "teologia

orgânica" .17O que é necessário é um intercâmbio mais dinâmico entre os respectivos dons do estudioso e os carismas dos santos; um diálogo mais fluido entre a academia e

a igreja.18Este tipo de interdependência deve necessariamente transferir a intenção e as expectativas do Espírito para aqueles que estudam as Escrituras. Reciprocamente,

aqueles que dedicaram a vida ao estudo das Escrituras devem ser ouvidos por aqueles

que estão cheios do Espírito. Isso significa que a intenção devocional do Novo

Testamento deve fazer parte de um estudo da Bíblia centrado no Espírito. No entanto,

elementos históricos e linguísticos também fazem parte da obra do Espírito. Além

disso, uma abordagem que se apropria do mesmo Espírito que inspirou o Novo

Testamento em primeiro lugar é uma abordagem que espera que o texto seja crido e

obedecido. Portanto, o que Craig Keener chama de compromisso epistêmico com as

reivindicações das Escrituras e com a voz viva do Espírito deve ser suposições a priori

para qualquer hermenêutica cheia do Espírito.19É exatamente essa suposição que orienta e molda cada capítulo deste livro.

1

OESPÍRITO SANTO em MATEUS

MARCA DO REINO

Eu te batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém que é mais

poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de carregar. Ele te batizará com o

Espírito Santo e com fogo.

MATEUS 3:11 NVI

O ESPÍRITO É MENCIONADO apenas uma dúzia de vezes em Mateus. No entanto, este

baixo número desmente a sua importância. O Espírito literalmente coloca o Evangelho

de Mateus entre colchetes do começo ao fim. Começando com a obra geradora do

Espírito no nascimento virginal e continuando até as últimas palavras de Jesus na

Grande Comissão, o Espírito Santo estabelece a agenda para o Evangelho de Mateus.

Para Mateus, não existe era messiânica separada do Espírito. Doença, opressão

demoníaca e pobreza esmagadora não são páreo para a invasão do reino. Este reino é

exercido exclusivamente pelo Ungido, Jesus de Nazaré, que opera no poder do Espírito

de Deus.

Aqui reside a mensagem cheia de esperança para nós, como crentes. A representação

do Espírito feita por Mateus nos assegura que os céus não estão fechados, mas

abertos. O Espírito fala ao seu povo por meio de revelações, sonhos, profecias e

milagres. A presença encarnada do Espírito em Jesus cria um intercâmbio aberto entre o Criador e a criação. Desta forma, o Messias ungido de Deus produz uma

solidariedade infundida pelo Espírito entre o céu e a terra. Ainda mais maravilhoso,

João Batista promete que Jesus nos batizará no Espírito Santo e no fogo. Isto significa

que os crentes estão imersos no mesmo Espírito que inaugurou, sustentou e até agora

leva adiante o plano de Deus para o tempo do fim para todos os tempos. Para Mateus,

o Espírito não está sobre este mundo ou contra este mundo, mas neste mundo e para

este mundo. O Espírito trabalha no ventre de Maria no nascimento virginal e