O Circo Hediondo

De Ronald Rahal/miguel Carqueija

Este pequeno conto da autoria de Miguel Carqueija em parceria com Ronald Rahal nos remete às space opera. Como não poderia deixar de ser, a aventura detalhista nos leva aos habituais vilões confrontando os habituais heróis que, como sempre, não deixam de correr riscos o tempo todo e no fim, naquela eterna luta entre o bem e o mal, conseguem salvar o dia.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 10 de jan. de 2024

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INTRODUÇÃO

O REENCONTRO

Trevor Smith coçou o tapa-olho e amaldiçoou o feixe laser que lhe tirara a vista esquerda vinte anos atrás. E a pessoa que lhe fizera isso, já não estava mais na prisão como fora informado recentemente. E isto só poderia significar uma coisa: mais problemas.

Mas, naquele instante, depois de uma série de medidas tomadas, — radicais por sinal, — isso era um perigo bastante remoto e voltou sua atenção para o que estava fazendo. Tinha certeza de que suas pesquisas arqueológicas correriam mais rapidamente se ainda contasse com uma visão intacta.

O holograma à sua frente, emanado de um artefato esférico fixado ao solo pedregoso da caverna que escaneava suas paredes mostrava um grande número de sinais gráficos de um alfabeto desconhecido. Há mais de um século os exegetas vinham tentando decifrá-lo sem êxito e, no entanto, eles eram imprescindíveis para que se pudesse desvendar o mistério que cercava os Antigos que tinham habitado aquele planeta.

"Há certo padrão aqui, pensou Trevor. Com um pouco de tempo, espero conseguir decifrá-lo."

De repente sua atenção voltou-se para um inesperado tumulto do lado de fora da caverna. Eram gritos, vozes iradas... E o que parecia ser um começo de briga. Então, ele deixou o que estava fazendo para verificar qual era a razão daquela confusão toda, espantado e aborrecido. Mas, antes mesmo que desse os primeiros passos para sair da caverna, dois de seus auxiliares praticamente foram empurrados, por assim dizer, para dentro dela, rasgando a cortina de proteção que fora posta na entrada. Eram o Victor e o Simon, dois de seus auxiliares mais prestativos naquele grupo de pesquisa arqueológica e que, às vezes exerciam também o cargo de seguranças. Eles estavam caídos no chão irregular da caverna tentando se recuperar do violento golpe que haviam sofrido. "Quem fizera isso e por qual razão", foi a primeira pergunta que Trevor se fez. Afinal, não poderia estar relacionada àquela recente fuga da prisão sobre a qual um dos seus colegas, ainda na ativa da polícia extragaláctica, o informara. Fosse isso ou não, precavido ele apalpou a sua arma laser e preparou-se para o pior. Mas, para surpresa de Trevor, na entrada da caverna apareceu o vulto de uma garota alta e magra; descabelada e com expressão irada, trajando calças de verdoflex que logo se aproximou dele.

          — O que está acontecendo aqui? Quem é você? Por qual razão atacou os meus auxiliares? — Indagou Trevor indignado.

          — Eu vim falar com você, Trevor Smith. Seus auxiliares não queriam que eu entrasse na caverna e fui obrigada a agir dessa forma. E diga a eles para não tentarem me expulsar daqui.

          Trevor, como policial extragaláctico reformado que era, possuía treinamento para controlar pessoas recalcitrantes, inclusive mulheres metidas a valentonas. Ele a encarou com seu olhar duro:

          — O quê a obrigou a agir dessa forma? Por que não chamou pelo meu nome? Teria facilitado as coisas, não concorda? E quem é você, afinal?

— Eu? Oh... Olhe bem para mim? Eu sou Ágata, Trevor. Não se lembra mais de mim? Ágata, a sua filha!

— Ágata! — Murmurou ele, estupefato e depois a olhou melhor. — Sim... De fato é você mesma... Os mesmos traços de sua mãe. Impulsiva como ela. A última vez que eu a vi, você tinha só 14 anos... Como cresceu!

        — Sim, eu sou Ágata, sua filha. Vim procurá-lo neste fim de mundo porque preciso urgentemente de sua ajuda.

        — Olha, menina, eu folgo realmente em vê-la, mas não posso ajudar mais do que já faço. Todo mês transfiro doze mil créditos galáticos para sua mãe, e...

Ela deu-lhe um empurrão...

Fosse um filho homem, ele o esmurraria. Mas, com uma filha colérica à sua frente, Trevor ficou sem ação por alguns instantes, que ela usou para cuspir o recado:

                — Não vim aqui para pedir esmolas para você, pai. O que eu quero é que nos ajude a encontrar a minha filha! Entendeu? A minha filha!

              — Sua filha?

              — Érika, minha filha! Sua neta! Ela tem nove anos. Você não a conhece, mas é um ex-policial e sabe muitos macetes para nos ajudar. Érika foi sequestrada!

Trevor levou alguns segundos para processar a informação. Ela não esperou resposta e explicou o resto:

— Ela foi sequestrada, com mais trinta alunos de uma escola situada na lua Mondor, onde eu moro. E quem as sequestrou foi Megaine Thrown, um criminoso dono de um circo-museu clandestino e itinerante que alguns chamam de O Circo Hediondo. Já ouviu falar dele? Muitos políticos inescrupulosos de vários mundos o encobertam. Esse Megaine costuma exibir números exóticos em suas andanças pela galáxia e para isso, costuma sequestrar seres