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Memórias E Confidências
Memórias E Confidências
Memórias E Confidências
E-book297 páginas4 horas

Memórias E Confidências

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Sobre este e-book

Maranho produziu este livro – como é mencionado no seu subtítulo – para “contar histórias não contadas por outros meios ou mal contadas”, advertindo, portanto, na sua introdução, que não se trata de sua biografia, mas, sim, das histórias (verdadeiras e comprovadas) de sua atuação, como protagonista central ou secundário, em trabalhos, criações e contribuições em instituições acadêmicas, políticas, sociais, religiosas, empresariais e militares, destacando o fato de que a maioria dessas histórias – algumas delas já narradas por outros veículos da mídia- ou não narraram “as histórias completas” ou não concederam os créditos aos cidadãos e cidadãs que, generosa e despretenciosamente, ofereceram magnífica contribuição para a geração, desenvolvimento ou manutenção dessas mesmas – e todas muito importantes – instituições. Por isso, não tem preguiça em citar seus honrados nomes. Se outros veículos não fizerem justiça aos mesmos nomes, que este modesto livro de memórias o faça, é o que aspira. Os limites territoriais onde essas histórias aconteceram alcançam os municípios paulistas de Potirendaba (terra natal do autor, onde viveu sete anos), Votuporanga, onde viveu dos sete aos dezesseis anos), Campinas, onde viveu 62 anos, Paulínia, com mais cinco anos e, agora, Uberaba, com dois anos. Acrecente-se dois anos de idas e vindas para a instalação da fábrica da Clark em Pederneiras, SP. Maranho é Cidadão Campineiro, por decisão de sua Câmara Municipal, desde 2000 e, de Pederneiras (por ter sido o principal responsável pela construção da fábrica da Clark naquela cidade, em 1976).
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de jan. de 2024
Memórias E Confidências

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    Memórias E Confidências - José Antonio Maranho

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho [ 2 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    ÍNDICE ....................................................................................... 03

    MENSAGEM DOS EDITORES .................................................. 0 8

    JUSTIFICATIVAS DO AUTOR .................................................. 09

    PARTE I - ALGUMAS EXPERIÊNCIAS NO C ONCORRIDO

    E DESAFIANTE MUNDO CORPORATIVO ............................... 1 2

    01) 31 DE MARÇO DE 1964 - UMA REVOLUÇÃO

    OU UM GOLPE? ............................................................ 1 2

    02) 1964 - 1965 - TESTES DE CONFIANÇA: MINHAS

    RELAÇÕES COM OS MILITARES ................................... 2 6

    03) 1959 - INAUGURANDO A PRIMEIRA FÁBRICA

    DA CLARK NO BRASIL ................................................... 6 7

    04) 1973 - 1975 - VEIO COMPRAR UMA MÁQUINA E

    GANHOU UMA FÁBRICA ................................................ 6 9

    05) 1964 - 1972 - ALGUNS PROGRAMAS ICÔNICOS

    NO CIESP - CAMPINAS................................................... 81

    06) 1962 - 1964 - VIVENDO UMA DESAGRADÁVEL

    EXPERIÊNCIA ................................................................. 8 4

    07) 1964 - 1972 - O MILAGRE BRASILEIRO: HISTÓRIAS

    NÃO CONTADAS OU MAL CONTADAS ........................ 8 7

    08) 1965 - 1966 - A FUNDAÇÃO DA ABRH- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E A CRIAÇÃO DO CONARH- CONGRESSO NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS ........................................................................ 91

    09) 1979 - 1985 - COOPERATIVISMO MÉDICO:

    CONTRIBUINDO PARA O DESENVOLVIMENTO D A

    UNIMED-CAMPINAS......................................................... 106

    10) 1988 - 2010 - AVIESP E AVIESTUR: A VEZ E A

    VOZ DO INTERIOR ........................................................... 10 9

    11) 2000 - CAMPINAS E REGIÃO CONVENTION & VISITORS

    BUREAU: FINALMENTE IMPLANTADO! ......................... 1 13

    12) 1969 - 1971 - UMA EXPERIÊNCIA EM MINERAÇÃO ..... 1 15 13) 2007 - UM AMBICIOSO PROJETO DA PETROB RAS

    QUE NÃO EVOLUIU........................................................... 11 8

    [ 3 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    14) 1991 - 2017 - DESTACADAS EXPERIÊNCIAS EM

    CONSULTORIA ................................................................ 1 24

    a) COM A IBM ................................................................... 1 24

    b) COM A SIEMENS ......................................................... 1 31

    c) COM A BRASMOTOR .................................................. 1 35

    d) COM A SMCC ............................................................... 1 45

    e) COM O GRUPO RAC ................................................... 1 50

    PARTE II - EXPERIÊNCIAS NO COMPLEXO

    MUNDO ACADÊMICO ............................................................... 1 56

    1) 1957 - 1982 - TEMPOS EMBLEMÁTICOS NO

    PÁTEO DOS LEÕES ................................................... 1 56

    2) 1992 - 2004 - 12 ANOS NO CONSU- CONSELHO

    UNIVERSITÁRIO DA UNICAMP..................................... 1 59

    3) 1979 - 1980 - UM RELACIONAMENTO MUITO ESPECIAL E UMA CANDIDATURA A REITOR DA

    UNICAMP QUE NÃO VINGOU ...................................... 162

    4) 1964 - 1968 - UMA SAUDÁVEL EXPERIÊNCIA NO

    MAGISTÉRIO SUPERIOR ............................................. 1 65

    5) 1967 - UMA EXPRESSIVA CONTRIBUIÇÃO PARA A CRIAÇÃO DAS FACULDADES DE ENGENHARIA DA

    UNICAMP........................................................................ 1 69

    6) 1977 - TENTANDO DESTRUIR O FOSSO ENTRE A

    UNICAMP E A COMUNIDADE ...................................... 1 72

    PARTE III - EXPERIÊNCIAS COM A DINÂMICA VIDA

    ASSOCIATIVA ........................................................................... 1 80

    1) 1962 - 1970 - NO GRUCA - GRUPO DE EXECUTIVOS DE RECURSOS HUMANOS DA REGIÃO DE CAMPINAS ..1 80

    2) 1965 - 1992 - NO GRUPO DIÓGENES - GRUPO (BRASIL) DE EXECUTIVOS DE RECURSOS

    HUMANOS ..................................................................... 1 82

    3) 1995 - 2002 NA ABEOC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE EVENTOS: TRÊS RELEVANTES

    HISTÓRIAS..................................................................... 1 84

    a) 1995 - Congresso Nacional de

    [ 4 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    Organizadores de Congressos ....................... 1 84

    b) 1992 - Reconstruindo a ABEOC .................... 1 85

    c) 2002 - Prêmio Caio, em Campos do Jordão:

    que sufoco! ..................................................... 1 86

    4) 1997 – 2000 - NO GRP - GRUPO DE EXECUTIVOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAMPINAS .. 1 95

    5) 1962 - NA APARH - ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE

    ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL ................................. 1 97

    PARTE IV - EXPERIÊNCIAS COM O DIFÍCIL E SOFRIDO

    MUNDO DA BENEMERÊNCIA E DO VOLUNTARIADO .......... 1 99

    1) 1977 - 2021 - 44 ANOS NO PROJETO CEMICAMP ..... 1 99 2) 1966 - 2022 - FEAC-FEDERAÇÃO DAS ENTIDADES ASSISTENCIAIS DE CAMPINAS: EXEMPLO DE VITORIOSA AÇÃO COMUNITÁRIA .............................. 202

    3) 1978 - CENTRO INFANTIL DOUTOR BOLDRINI: UMA SEMENTINHA QUE SE TRANSFORMOU

    NUMA PORTENTOSA ÁRVORE .................................. 207

    PARTE V - EXPERIÊNCIAS NO MUNDO POLÍTICO E

    POLÍTICO-ADMINISTRATIVO ................................................... 212

    1) 1969 - 1970 - PRIMEIRA EXPERIÊNCIA POLÍTICA:

    QUASE DEPUTADO ...................................................... 212

    2) 1967 - RUY NOVAES: UM GRANDE PREFEITO

    INJUSTIÇADO .............................................................. 2 17

    3) 1976 - 1979 - O OUTRO LADO DO MURO: A

    EXPERIÊNCIA COM PAULÍNIA .................................... 2 23

    4) 1978 - 1979 - UMA DIFÍCIL DECISÃO NA PREFEITURA D E PAULÍNIA: PERMANECER OU NÃO CONTINUAR? .... 2 53

    [ 5 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    PARTE VI - EXPERIÊNCIAS NO FASCINANTE MUNDO DOS

    EVENTOS E DO TURISMO ....................................................... 26 0

    1) 1984 - 2021 - 37 ANOS ORGANIZANDO EVENTOS

    REFERENCIAIS ............................................................ 2 60

    2) 2008 - 2022 - A SUGESTIVA E EXEMPLAR HISTÓRIA

    DO EVENTO INTERGASTRO .................................... 26 2

    3) COLABORANDO COM O CLUB MED: EVENTOS OU

    LAZER? ......................................................................... 2 71

    4) 2007 - 2008 - IDENTIFICANDO MELHORES ESPAÇOS

    PARA EVENTOS ........................................................... 2 74

    PARTE VII – 1970-2022 - INOLVIDÁVEIS EMOÇÕES ............. 2 76

    1) ACABOU A ESCURIDÃO! ............................................. 2 76

    2) 1984 - UMA GRATA DEMONSTRAÇÃO DE

    GRATIDÃO .................................................................... 2 78

    3) 2000 - UM INESPERADO ENCÔMIO ........................... 2 80

    4) 1963 - 2022 - RODANDO PELO MUNDO ..................... 2 84

    5) DEZEMBRO DE 2022 - FINALIZANDO

    E AGRADECENDO ....................................................... 2 85

    6) DO AUTOR..................................................................... 2 87

    7) OUTRAS OBRAS DO AUTOR....................................... 2 91

    [ 6 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    À minha (única) mulher, esposa, parceira, amante, confidente Neusa Maria, in memoriam, pela infatigável assistência na lavratura deste livro e em tudo o mais que ela realizou e se comportou, de forma irrepreensível, nos 55 anos em que, sempre juntos, enfrentamos os dissabores normais, mas, também, os sabores, mais que agradáveis, de uma existência jamais monótona.

    À nossa amada filha Paula, por tudo que ela representa para nós, como única filha que nos restou e pela sua ajuda permanente no trato tecnológico que a produção deste livro exigiu e que eu, na qualidade de pobre Homo Sapiens Offline , não conseguiria satisfazer.

    À nossa inesquecível, amada e talentosa filha Sicília, que nos deixou aos 35 anos, nosso preito de admiração e gratidão eterna pela melhor herança que avós poderiam desejar de uma filha: nossa neta Júlia, alegria permanente de nossa casa e de nossa família, agora, mais do que nunca, ao completar seus 14 anos de idade, no ano de edição deste livro.

    A Marcos Roberto Silva, diferenciado amigo desde o nosso primeiro minuto em Uberaba, seja pela sua reconhecida cortesia mineira, seja pela sua desinteressada disponibilidade, para ajudar em qualquer coisa, em qualquer hora e em qualquer situação, mas, notadamente, pela sua insaciável ânsia em ampliar seus conhecimentos sobre todas as coisas da existência – como um moderno Sócrates jamais satisfeito com o pouco que sabe e o muito que ignora e quer aprender, fato não somente raro nos nossos dias, como - EUREKA! - permitindo a esse idoso encontrar em Uberaba o inte rlocutor que, por tanto tempo procurava, mas não encontrava, tornando esses dias que, certamente serão os seus últimos, em um qualquer coisa, menos em uma sofrida e cruel solidão intelectual. AVE, MARCOS!

    [ 7 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    1.0 - MENSAGEM DOS EDITORES

    Embora possa parecer uma autobiografia, o objetivo colimado pelo autor, ao produzir o presente texto, está identificado no próprio título e no subtítulo do livro. O autor não pretendeu discorrer unicamente sobre sua vida, repleta de acontecimentos que, ainda que expressivos, exigiriam, para sua narrativa completa, outro livro.

    Decidiu, então, contar, da forma mais sintética, sem concessão para

    fatos inverídicos, todos facilmente comprováveis, apenas algumas passagens nas quais considerou-se o principal protagonista ou

    apenas um contribuinte que, além de testemunhar, colaborou, de forma expressiva, nas ações geradoras dos fatos.

    Perceber-se-á, claramente, ao final da leitura do livro, que o autor não somente participou, como principal ou secundário protagonista, como testemunhou fatos relevantes ocorridos, notadamente, na Região Metropolitana de Campinas, onde residiu por 66 anos, com significativo, mas não maior destaque para Paulínia, da qual foi prefeito municipal, assim como para Pederneiras, da qual recebeu o título de Cidadão Pederneirense da sua Câmara Municipal, por

    relevantes serviços prestados ao município (e que o autor conta, com muitos detalhes, de quais serviços se trataram). Sua infância, vivida em Potirendaba, sua terra natal, e em Votuporanga, cidades paulistas, onde viveu dos sete aos dezesseis anos, mereceram, também, bons registros do que constituiu sua passagem por esses dois municípios.

    Obviamente, ao tentar descrever, com a maior fidelidade possível, alguns fatos que considerou dignos de figurar no livro, foi impossível ao autor não produzir uma espécie de semibiografia, uma vez necessária a informação sobre os fatos, os personagens, os locais e outros dados esclarecedores daqueles e, é óbvio, da participação do

    autor.

    Da leitura atenta das memórias contadas, duas conclusões importantes sobrepõem- se:

    [ 8 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    a) como quer o subtítulo da capa do livro, alguns fatos narrados pelo autor complementam histórias incompletas ou não contadas, ocorridas nos locais onde o autor atuou como forte protagonista e quiçá narradas por livros ou pela mídia disponível nas épocas e locais onde ocorreram e, por isso mesmo, o livro pode e deve ser utilizado, mormente pelas bibliotecas públicas e pela academia, para ajudar a esclarecer, complementar ou melhorar o entendimento das histórias narradas, anteriormente, por outros meios de co municação;

    b) a julgar pela quantidade e variedade de instituições que contaram com as iniciativas ou com a expressiva contribuição do autor para sua criação, implementação ou consolidaç ão, não ficaria, de forma alguma, descabido qualificá-lo como um semeador, tendo merecido, por isso mesmo, os encômios, as loas, sob a forma de tantos prêmios, títulos e homenagens recebidos ao longo de sua vida.

    Por fim, não pareceria um despropósito utilizar, copiar ou repl icar algumas virtuosas iniciativas e ações do autor ocorridas em várias instituições.

    Aos leitores, todas as histórias contadas neste livro, além do seu inegável valor histórico e didático, servem, por igual, como boas lembranças para as pessoas (ou seus familiares) pelo registro dos seus nomes, seja como protagonistas, seja como testemunhas dos fatos narrados pelo autor. E mesmo para aqueles não enquadrados nessa situação, a leitura vale não somente pela importância das

    histórias narradas, como pela elegância e leveza da linguagem utilizada pelo autor.

    Boa leitura, portanto!

    [ 9 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    2.0 - JUSTIFICATIVAS DO AUTOR

    Durante os últimos trinta anos, amigos, parentes e conhecidos, sugeriram-me que contasse minha história em um livro. Confesso

    que nunca me passou pela cabeça tal iniciativa. Teria que estar falando de mim mesmo, o que me parecia ser, sempre, um ato de auto louvação.

    Contudo, durante essa pavorosa pandemia do COVID-19 (durante 2020, 2021 e parte de 2022), como minha família – eu à frente –fico u proibida de exercer seu negócio de gestão de eventos e, portanto, de faturamento zero, dentre outras coisas, e como jamais parei de trabalhar (como contarei neste livro), desde os nove anos, mesmo tendo ultrapassado a marca dos oitenta e cinco anos de idade, não

    consegui permanecer parado, preso nas quatro paredes de nossa casa em Campinas, até junho de 2021, sem qualquer coisa para fazer e, principalmente, de algo que fosse construtivo, como sempre procedi em minha vida.

    Nada tendo, portanto, para me ocupar, me dediquei a rever livros, jornais e revistas, bem como a exercícios de memória de tudo que me aconteceu ou que simplesmente aconteceu no mundo e foi digno de registro na mídia disponível à época, durante todo esse tempo. De repente, dei-me conta de quantas lacunas as histórias que andei revisitando nessa mídia continham falhas ou informações incorretas

    ou nenhuma informação. Obviamente, tratavam-se de

    acontecimentos ocorridos na área de meus relacionamentos e que pude testemunhar ou fazer parte deles, ora como principal protagonista, ora como apenas um contribuinte, na maioria das vezes como voluntário, na região administrativa de Campinas, em São Paulo, bem como nas cidades onde nasci e vivi por sete anos (Potirendaba), depois, onde vivi os próximos dez anos (Votuporanga) e, daí, na região de Campinas (61 anos nessa cidade), além de cinco anos em Paulínia, não me esquecendo o tempo que atuei em Pederneiras, conforme também contarei neste livro.

    Para maior facilidade de compreensão, decidi contar histórias ocorridas em específicos segmentos: corporativo, acadêmico,

    político-administrativo, de benemerência, midiático, assim como em

    [ 10 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    várias e expressivas ações comunitárias, sociais e de voluntariado. Por isso mesmo, não segue, obrigatoriamente, uma linha do tempo, sendo algumas histórias contadas antes de outras porque o que me pareceu mais importante foi contar, simplesmente, cada história compreendida dentro do seu segmento específico, sem deixar de

    registrar a data ou o período em que ocorreram.

    Tomei o cuidado, também, de registrar, onde cabia, os principais nomes de companheiros e parceiros de cada história, para que ficassem registrados num livro e que, de alguma forma, não se perdessem, notadamente pelos seus méritos, através do tempo, principalmente quando não registrados ou pouco lembrados, em outros meios de comunicação. Se não servir para coisa melhor, que sirva este livro, para esse mister.

    Finalmente, como se trata de histórias, com atos, nomes, datas, é

    possível que eu tenha feito alguma confusão ou cometido alguma omissão. Peço, portanto, ao raro leitor que, se perceber qualquer

    falha, nesse sentido, que se manifeste, de qualquer maneira, a fim de que seja sanada, em tempo.

    De resto, confesso que, no mínimo, relembrar todas essas h istórias para produzir este despretensioso livro, constituiu um agradabilíssimo labor para driblar o mau humor causado pela pandemia do Coronavírus. Espero que, aos leitores, principalmente os com mais de trinta anos, também sirva de alguma forma, como elemento de informação de um tempo e de personagens que nele viveram, amaram, sofreram, cada qual procurando sua felicidade e ou, por

    igual, a felicidade dos seus contemporâneos. Um abraço forte e cord ial.

    José Antonio Maranho

    [ 11 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    PARTE I - ALGUMAS EXPERIÊNCIAS NO CONCORRIDO E DESAFIANTE MUNDO CORPORATIVO

    01)31 DE MARÇO DE 1964 - UMA REVOLUÇÃO OU UM GOLPE?

    O dia amanheceu bem quente, apesar de estarmos no final do Verão, prevendo-se muita chuva para o período da tarde e da noite. Resido, com meus pais e meu irmão caçula numa residência alugada da Rua Maria Monteiro, 1749, esquina com a Rua dos Alecrins, no final do bairro Cambuí, na cidade de Campinas, interior do Estado de São Paulo. Acordei cedo, mas minha mãe já tinha, como sempre, meu café da manhã pronto com frutas (banana, maçã, mamão e abacate), além de uma fatia de pão com queijo fresco, suco de laranja e café.

    O telefone toca, atendo e é o Wilson que, sem me cumprimentar, todo esbaforido, foi despejando:

    - Chefe, parece que o General Mourão Filho, Comandante da 4ª Região Militar, sediada em Juiz de Fora, está se dirigindo para o Rio, comandando uma tropa com muitos soldados. O senhor está vindo para a Delegacia? Já tem gente das indústrias associadas, perguntando o que devem fazer, se continuam estocando combustíveis e armas ou o que.

    - Diga-lhes - respondi – que se acalmem e que aguardem nossa orientação. Vamos falar com a gente da FIESP e do CIESP, em São Paulo, analisar a situação em nossa região e, depois decidir procedimentos. Até que eu chegue na Delegacia, procure o maior número de informações. Telefone para redação do Correio Popular, fale com o Carlos Tôntoli, meu amigo da Redação do jornal e veja o que ele sabe a respeito.

    [ 12 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    Wilson Roosevelt Claudino Gomes era o Secretário Administrativo da Delegacia Regional de Campinas do CIESP - Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, uma espécie de faz-tudo, ainda jovem, mas muito inteligente, dinâmico e fiel, que cuidava daquela Delegacia como se fosse sua empresa. Conectado com todos os meios de informações de que se dispunha na época, adiantava-se em saber o que acontecia e que tinha qualquer relação com o setor industrial da grande região de Campinas para me atualizar, às quatro da tarde quando eu, quase sempre pontual, chegava na Delegacia para mais um dia de atividades confiadas para um Delegado Regional (hoje, Diretor Regional Titular) da entidade representativa das indústrias da região. Na verdade, eu nem estava, naquele momento, como Delegado Titular, mas, sim, como substituto do titular Alcides Modesto de Camargo, que pedira licença do cargo em razão de um trabalho no Paraná. E isso acontecera fazia apenas dois meses.

    Havia solicitado ao Wilson que convocasse todos os conselheiros para uma reunião urgente, às 10h00 (a Delegacia Regional era dirigida por um Delegado Titular, um Vice - Delegado e trinta Conselheiros, representando, tanto quanto possível, tanto os diversos segmentos de atividades industriais, como as diversas microrregiões que compunham, no seu todo, a grande Região de Campinas). O Estado de São Paulo era dividido em grandes regiões e cada uma delas tinha sua Delegacia Regional do CIESP. Cada Delegacia deveria seguir as rigorosas diretrizes emanadas da matriz. Por exemplo, éramos orientados para nos manifestarmos perante a mídia e as autoridades regionais, em assuntos internaciona is, nacionais ou regionais, sempre de acordo com as decisões ou o posicionamento da nossa sede. A ideia era a de que a indústria mantivesse o mesmo posicionamento em qualquer assunto de alguma relevância. Para isso, havia uma reunião mensal, na sede da FIESP-CIESP, em São Paulo, com todos

    [ 13 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    os delegados regionais, comandada pelo Diretor do DECOR – Departamento de Coordenação dos Organismos Regionais, quando éramos informados de todos os principais assuntos do mês, além dos problemas que envolviam as indústrias e as decisões tomadas pela Diretoria do CIESP e da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (a FIESP era uma instituição sindical e o CIESP uma entidade de caráter civil e, mesmo assim, suas Diretorias eram compostas pelos mesmos diretores e a sede única, em só local, em São Paulo, inicialmente, no chamado Palácio Mauá e, depois, na Avenida Paulista). Até onde estou informado, as duas instituições continuam com as mesmas naturezas jurídicas e no mesmo local (que ficou muito mais conhecido, ultimamente, por aglutinar, diante do seu imponente e diferenciado arranha- céu, ruidosas manifestações, tanto os da esquerda, como os da direita do espectro político- ideológico).

    No caminho entre minha residência e a Delegacia do CIESP, detive-me refletindo sobre a importância e o tamanho da bagunça que poderia redundar aquela iniciativa do Gener al Mourão. Eu já ficara sabendo, nas longas e quase diárias conversas com Jorge Delatorre, meu chefe na empresa que eu

    representava - a Equipamentos Clark, subsidiária da

    multinacional Clark Equipment Company dos EUA - em razão do meu cargo de Gerente de Relações Industriais (uma soma de Relações com Empregados, na época Administração d e Pessoal - ou RH de agora - e Relações Públicas (relações com a comunidade ou Relações Institucionais de agora), que estaria havendo alguns grupos empresariais e mil iares trocando informações sobre o futuro do país e a conjuntura daquele momento, muito preocupante em razão da forte e continuada campanha comunista, no Brasil, estimulada e financiada pela União Soviética e por Cuba. Contudo, engrossando as fileiras de comunistas sérios, havia de tudo: intelectuais com uniforme de comunistas, mas bebendo uísque

    [ 14 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    com caviar, políticos demagogos desejando aproveitar brechas proporcionadas por ações comunistas para promover- se, politicamente, gente do clero católico, com boas ou más intenções tentando abrir um espaço para uma igreja revolucionária, mais próxima dos pobres. Havia, também, uma quantidade de líderes sindicais interessados em empolgar o poder político, assim como militares desgostosos pela forma como as forças armadas eram mal tratadas e mal remuneradas, sem falar em barulhentos estudantes – mui tos deles generosos, mas ingênuos, cativados pela catilinária soviética e cubana por um mundo melhor e mais igualitário. E sempre contra o capitalismo, culpado de todas as mazelas do mundo moderno. Na verdade, nada diferente do que ocorre, no Brasil, neste momento em que elaboro este texto, neste final de 2021 e início de 2022, em que esquerda e direita trocam insultos de toda natureza, sem respeito pela história recente, quando muitos deles eram posicionados no lado contrário ao que se posicionam, hoje .

    Uma vez na Delegacia, Wilson já me passa o telefone pois está com Clóvis de Oliveira, nosso coordenador do DECOR do CIESP, na linha, que nos orienta para aguardarmos mais algumas horas, quando se poderia fazer uma melhor leitura dos acontecimentos e decidir como procedermos. De qualquer forma, pede-nos para que as indústrias não alterem suas programações, mas fiquem atentas aos menores detalhes e acontecimentos envolvendo principalmente ações de líderes sindicais nas cercanias ou no interior das fábricas. O correndo qualquer movimento estranho, deveriam comunicar a Delegacia e essa comunicar ao DECOR.

    Às 10h00, já temos uma boa quantidade de conselheiros na Delegacia enquanto o telefone não para de tocar. São executivos de indústrias, tanto de Campinas, como de toda a região abrangida pela Delegacia Regional, procurand o

    [ 15 ]

    Memórias e Confidências, por José Antonio Ma ranho

    orientação. Wilson tem seu radinho ligado, tentando obter informações, bem como o aparelho de TV, cujo único assunto é o de uma iminente conflagração. Informa-se que, deflagrada a sublevação, por inciativa de Mourão, aguardava-se a decisão de outras unidades militares, tanto do Exército, como da Marinha e da Aeronáutica. Pela TV, soubemos que o 1º BCCL (Batalhão de Carros de Combates Leves) de Campinas já estava embarcado, em trem especial, sendo transportado, em direção ao Rio de Janeiro, efetivo que enfrentaria outro efetivo, naquele momento procedente do Rio de Janeiro, em direção ao sul. Com isso, percebemos que a Gal. Mourão não estava, sozinho, em sua inciativa e que estaria recebendo apoios de muitas unidades de vários lugares do país. A conclusão a que chegávamos, naquele momento, era de que era inevitável o confronto das forças leais ao Presidente Goulart, com as for ças da oposição.

    Transmiti aos conselheiros todas as

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