Cartas Para Pedro

De Sergio Neves Wolp

Cartas para Pedro é uma obra tocante, na qual o autor compartilha reflexões e conselhos através de cartas endereçadas a Pedro, um menino cuja inocência ainda não foi tocada pela complexidade das letras e das palavras. O livro traz em linguagem acessível ensinamentos e descobertas, escritas com a intenção de iluminar não só o caminho de Pedro, mas também da sua mãe, muitas vezes surpreendida com questões cujas respostas ela própria desconhece. O autor nos convida a refletir sobre temas que vão desde os mais simples aspectos do cotidiano até os mais intrincados conceitos sobre Deus, liberdade, vida e morte. Cartas para Pedro é mais que um livro; é um apelo emocionante para a emancipação através da educação e do pensamento livre. É um convite para que leitores de todas as idades reflitam sobre a necessidade de aprender a pensar em um mundo que frequentemente tenta moldar e restringir o espírito humano. Uma leitura indispensável para aqueles que valorizam a liberdade e buscam ser, verdadeiramente, espíritos livres.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 28 de dez. de 2023

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PRIMEIRA PARTE

Nesta primeira parte, as Cartas para Pedro serão encaminhadas para que a mãe dele as leia e pense sobre o que contém, e em como poderão ajudar a ele.

Ela não me pediu para tratar sobre temas específicos, portanto não se trata de questões que me foram propostas por ela.

Trata-se de temas que considero importantes para ele.

Introdução

Penso que todo livro tem uma história.

Deve nascer de uma pessoa que o criou, que nele pensou, que em algum momento o acariciou, que se acarinhou por ele. Que queria o bem para ele.

Esse foi assim.

Um dos motivos que me levaram a escrever este livro foi o de ajudar ao Pedro. Ele estava na barriga da mãe há seis meses quando fiquei sabendo de sua existência.

Resolvi então perguntar à mãe do Pedro sobre o que ela gostaria que eu escrevesse. E sobre o que ela não gostaria que eu escrevesse.

A resposta recebida foi: de que ela gostaria de receber os temas que eu entendesse serem importantes para a vida dele, agora e no futuro.

E temas sobre os quais ela poderia ter dificuldade de tratar com ele.

Assim foi o pedido que recebi.

Espero que um dia Pedro se interesse por ler o que lhe ofereço como um presente. Quando isto acontecer espero que ele não seja muito crítico, pois estou escrevendo para ele criança.

É preciso que Pedro consiga enxergar, além das palavras escritas, as intenções.

Acho que este livro não agradará muito a quem tenha espírito crítico, ou que goste de emaranhar citações, conceitos, nomes de autores famosos, para decidir se gostaram ou não do que leram. Poderia ter sido mais fácil escrever desta maneira, mas meu objetivo não é outro que não seja o de ajudar aos pedros que existem no mundo.

Ele está entrando em um mundo muito complexo e interessante.

Conseguir vê-lo e enxergá-lo assim é fascinante, e é mérito de quem consiga fazê-lo.

Enquanto escrevia tomei contato com outras mães de crianças com a mesma idade de Pedro, e pude ver que a condição delas era semelhante à da mãe dele.

Enquanto escrevia vieram a mim dois pensamentos intimidadores.

O primeiro foi o de que poderia perder algum amigo, que poderia não gostar de algumas de minhas ideias.

O segundo foi o de que poderia desagradar a pessoas extremistas e elas viessem a reagir com violência.

Sim, passaram estes pensamentos por mim.

Quase impediram que eu publicasse o livro. Por medo.

E eu falo ao Pedro para ser valente, falo que não deve passar por tolo ou covarde deixando de falar o que pensa. Na minha oportunidade de mostrar que sei do que estou falando vou pipocar?

Esse é um aspecto da história do livro.

Economia x pujança

Como eu já disse, quando tive a ideia de enviar-lhe cartas você ainda estava na barriga de sua mãe.

Ela sempre me pareceu ser uma boa pessoa, e de fato é.

Ela, como todas as mães nesta época de hoje, está bastante inquieta com relação ao futuro.

Preocupa lhe saber como vai educá-lo.

Eu lhe disse que se trata de uma preocupação correta. Nunca me pareceu fácil educar filhos, principalmente o primeiro. Mais ainda nos dias de hoje.

Esta frase é bem comum, mas sem sentido prático. É difícil criar um filho seja em que época for, se não se está preparado. Esta sensação é individual. É natural pensar sempre que se é o centro de tudo...

Perguntei a ela se sabia como iria atuar.

Me disse naquela época que não sabia ao certo.

Recomendei que aprendesse, porque para ofertar algo é necessário que se tenha esse algo. Ninguém dá aquilo que não tem.

Essa frase é de uma lógica e profundidade que a mente assimila mesmo sem estar querendo. É porque é.

Falei isto de maneira sincera e com bastante afeição, embora possa parecer rude.

A vida não é simples, e tentar suprimir dela a densidade e substância é um engano imperdoável e que certamente tem um alto preço a ser pago.

Quase quatorze bilhões de anos é a idade estimada da terra, ou melhor, do universo físico conhecido. Da maneira como algumas mentes conseguem percebê-lo.

Pessoalmente acho que é muito mais. Ou muito menos. Isto mesmo, Pedro, para mim a dimensão que se dá ao tempo é algo confusa. Não vejo nexo e importância nesta avaliação. Mas, eu não sou intelectual. Não estou escrevendo para mostrar que sei algo que de fato não é do meu tempo.

E o que lhe interessa saber disso, recém-chegado a essas paragens?

Espero que você vá percebendo o porquê de muito do que irá conhecendo.

Mas pode lhe interessar saber algo sobre como o que você irá conhecendo chegou até este momento.

Muitas mudanças nas condições ambientais provocaram a criação e o extermínio de formas de vida que passaram pela terra.

Um universo cujas dimensões são aparentemente infinitas, ou seja: não tem fim.

Um número finito de elementos químico físicos compondo o que se denomina matéria.

Cento e poucos elementos químicos compõem a tabela periódica.

O que chega e chegou até a nós, vindo do universo, é somente isto.

A combinação destes elementos pode chegar a números bastante grandes.

No sentido inverso, o aprofundamento na estrutura dos elementos leva a números pequeníssimos.

O limite já foi o átomo, comum a todos os elementos.

Economia em termos de matéria e pujança, quase exagero, em termos de espaço e tempo.

O conceito de infinito é usado tanto para espaço quanto para tempo.

Infinito, espaço e tempo.

Não são grandezas físicas, que se pega com as mãos. São, então, grandezas metafísicas. Não palpáveis com as mãos.

Existem como tais.

E os seres humanos as usam colocando-as dentro dos limites de suas mentes.

O certo, entendo, é ampliar a mente.

No centro disto tudo está você, meu amiguinho.

Os seres confusos

Mais um assunto para você: Pensar que pode haver vida em outra parte do universo é interessante. É possível que isto o inquiete em algum momento.

De onde vem você? Em que estrela estava até este momento?

Pensar que haja vida inteligente em outras partes do universo também é interessante.

O desenvolvimento da espécie humana como a conhecemos hoje necessitou de poucos milhões de anos.

Nesta escala de grandeza pode-se pensar que na terra pode ter havido seres humanos antes, entre um período e outro de renovação. Mas o que interessa isto neste momento?

Bastam alguns elementos químicos, e alguns milhões de anos entre cada período, para que uma nova espécie de vida substitua a anterior. A vida já foi extinta e voltou a existir.

Os seres vivos podem ser definidos como aqueles que nascem, se reproduzem e se transformam constantemente. Quimicamente os seres vivos que existem na terra possuem em sua constituição o elemento químico carbono.

Por isso a afirmativa anterior. Basta tempo e elementos químicos para tudo ser refeito.

Por isso acho que é certo pensar que há outras formas de vida, com características e possibilidades semelhantes às da raça humana, em outras partes do universo. Pelas mesmas razões do parágrafo anterior: elementos químicos e tempo.

Especulando um pouco: mas pode ser de maneira bastante diferente em termos de aparência, constituição mental, aspirações existenciais, estado de evolução, por exemplo. E também em termos dos elementos químicos que o constitui.

As explicações dadas sobre o que existe são basicamente dadas por evolucionistas, por criacionistas e por seres indecisos ou confusos.

O que foi escrito anteriormente é a explicação sobre a criação do universo e do homem dentro do evolucionismo, basicamente: a criação do que existe responde às transformações evolutivas da matéria. Esta explicação deixa que se façam estas e muitas outras perguntas e se pesquise sobre elas.

Há uma outra explicação, denominada criacionismo.

A explicação dentro do criacionismo não abre espaço para pesquisa científica, para comprovação. Segundo esta concepção o universo e os seres vivos foram criados instantaneamente por um ser denominado Deus. Desta maneira tudo é e sempre foi como se apresenta agora, a partir de um momento específico.

O destino, tanto do universo quanto do ser humano no aspecto físico, e das demais espécies vivas, também tem um final definido em termos de tempo.

Um dos pontos em comum entre estas duas correntes de pensamento é a afirmação de que houve um início para a criação do universo, e do homem em especial.

Outro ponto comum é a minimização do conceito de tempo. Antes não havia o tempo, para nenhuma delas. Tudo começou quando começou...

Outro conceito é o de espaço.

Para o criacionismo, antes da criação do que existe, o que existia era o que se denominou de verbo. O espaço não é mencionado como contendo o verbo.

Para o evolucionismo, no início do tempo existia toda a energia que hoje percebemos, concentrada em um ponto. O espaço no qual essa energia se espalhou, e se espalha, não é mencionado como estando presente desde o início.

Ao longo de sua vida é possível que estes conceitos de tempo e espaço, como grandezas metafísicas, e não apenas físicas, estejam tendo lugar nas mentes humanas. Não me parece que haja outra alternativa que não seja neste sentido.

Para o criacionismo o início de tudo foi através de Deus.

Para a outra hipótese o início foi uma geração espontânea, que se chamou de Big Bang. A partir deste início a matéria foi se transformando e evoluindo.

A primeira foi a adotada pelas crenças religiosas. Para cada religião foi Deus quem a criou também, e ambos, Deus e a religião, se pertencem.

A segunda foi a adotada por alguns ramos da ciência. Para eles Deus não existe. Este tipo científico dá a impressão de que, quando chegar a descobrir a origem do ser humano, se proclamará Deus.

Há também aqueles que atuam como cientistas quando se trata da origem material do universo e como crentes quando se trata da origem do homem. São seres confusos.

Parece que os primeiros pensam que são donos de Deus, os segundos pensam que são Deus, e os outros são seres confusos.

O sono dos ingênuos

Por um lado, escrevi estas primeiras palavras apenas para você se situar melhor dentro do contexto do universo em que está entrando, uma vez que muito do que você passará requer esclarecimentos que estão em sua origem. Mas não é este o objetivo central desta carta, e se algum dia você tiver interesse em pesquisar sobre isso, existe uma vasta bibliografia que atende tanto ao evolucionismo quanto ao criacionismo.

Pessoalmente penso que deve haver outra possibilidade. Menos imaginativa, menos humana, mais criativa, mais digna de ser considerada a obra de uma sabedoria esfuziante.

Caberá a você descobrir o que de fato é o objetivo de tudo isto, e, dentro deste todo, o que veio fazer aqui neste mundo.

Você recebeu, sem pedir, a capacidade de fazer perguntas sobre você mesmo, sobre sua origem e destino. Recebeu também a possibilidade de ignorar tudo e viver apenas usufruindo do mundo externo que o cerca. Bilhões de seres humanos fazem e fizeram isto ao longo dos tempos.

É como muitas outras possibilidades que acontecerão em sua vida, e sobre as quais terá que decidir o que fazer: aproveitar ou não.

Alegria ou tristeza, sofrimento ou prazer, acertar ou errar, o bom e o ruim, o bem e o mal, ser valente ou covarde,