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O Segredo de Cynthia
O Segredo de Cynthia
O Segredo de Cynthia
E-book402 páginas5 horas

O Segredo de Cynthia

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Sobre este e-book

Um dia, a vida de Carmina Kavalcanti, uma adolescente de quinze anos, era perfeita; no outro, havia sido virada de cabeça para baixo. Sua família, sua casa, quase tudo que conhecia. Sozinha nas ruas, ela não podia confiar em ninguém, mas também não conseguiria seguir adiante sozinha.

Nilo Corveira é o investigador do caso Kavalcanti. Ele sabe que precisa desvendar a teia de mentiras e encontrar Carmina o mais rápido possível; caso contrário, não haverá ninguém para salvar.
 

IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mar. de 2024
ISBN9781667471464
O Segredo de Cynthia
Autor

P.D. Workman

P.D. Workman is a USA Today Bestselling author, winner of several awards from Library Services for Youth in Custody and the InD’tale Magazine’s Crowned Heart award. With over 100 published books, Workman is one of Canada’s most prolific authors. Her mystery/suspense/thriller and young adult books, include stand alones and these series: Auntie Clem's Bakery cozy mysteries, Reg Rawlins Psychic Investigator paranormal mysteries, Zachary Goldman Mysteries (PI), Kenzie Kirsch Medical Thrillers, Parks Pat Mysteries (police procedural), and YA series: Medical Kidnap Files, Tamara's Teardrops, Between the Cracks, and Breaking the Pattern.Workman has been praised for her realistic details, deep characterization, and sensitive handling of the serious social issues that appear in all of her stories, from light cozy mysteries through to darker, grittier young adult and mystery/suspense books.

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    O Segredo de Cynthia - P.D. Workman

    CAPÍTULO UM

    Carmina pôde ver os giroflexes antes de chegar à sua propriedade. Ela sabia que estavam perto e estava curiosa para saber o que os vizinhos estavam fazendo para que a polícia estivesse lá. Júlio, o pai dela, estava sempre desconfiado sobre o que seus vizinhos estavam tramando, então não foi surpresa alguma para Carmina que eles estavam em apuros.

    Mas ao se aproximar, ela percebeu que os veículos não estavam, de fato, na frente da casa do vizinho. Eles estavam na casa dela. Ela diminuiu o passo e depois parou.

    Seu primeiro pensamento foi que alguém estava ferido. Talvez sua mãe tivesse escorregado das escadas ou se cortado. Ela sempre reagia exageradamente quando se machucava e achava que precisava de pontos, gesso ou algo assim. Mas as luzes piscantes não eram de uma ambulância, eram de carros de polícia. Mas não carros regulares de polícia. Eram carros pretos sem identificação. Federais.

    Carmina escondeu-se atrás de uma das grandes árvores e observou, seu estômago e peito estavam formigando. Homens de terno preto entravam e saíam da casa. Dois deles saíram com o pai dela entre eles, com as mãos algemadas atrás das costas. Eles o colocaram em uma das viaturas. Então, alguns minutos depois, outros saíram de dentro da casa com a mãe dela. Os longos cabelos loiros de Esther Kavalcanti voavam levemente para trás com a brisa. Mesmo à distância, Carmina não conseguia deixar de admirar e invejar a beleza da mãe. Seu próprio cabelo era bastante escuro. Sua pele era mais escura e seus traços faciais mais redondos e não tão finos. Esther sempre parecia impecavelmente arrumada, sua maquiagem perfeita, seus cabelos brilhantes, até mesmo quando ela estava realizando suas pinturas logo pela manhã, tentando pegar a luz da manhã.

    Esther estava aborrecida. Ela tentava se afastar dos dois agentes que a seguravam. Esther odiava as pessoas em seu espaço pessoal. Ela não gostava que a sua rotina fosse quebrada. Carmina engoliu em seco, desejando poder simplesmente ignorar o sentimento de apreensão. Às vezes, ela acordava de manhã cedo com uma sensação inexplicável de desgraça iminente, e ela dizia a si mesma como estava sendo boba. Ela não tinha motivos para se preocupar. Carmina tinha uma vida boa e nada de horrível lhe ia acontecer. Mas, desta vez, ao ver seus pais sendo escoltados para fora de casa e colocados nas viaturas à espera, ela não conseguia encontrar palavras reconfortantes para dizer a si mesma.

    Talvez fosse tudo um mero engano. Talvez fosse apenas algum tipo de erro administrativo. Ou erro de identidade. O pai dela muitas vezes a avisou sobre como era fácil para alguém roubar a sua identidade, fazer coisas em seu nome e estragar o seu crédito e a sua reputação. Aquilo tinha de ser o que havia acontecido. Ou foi um erro ou alguém roubou a identidade de seus pais. Eles levariam Júlio e Esther Kavalcanti até a delegacia de polícia ou qualquer prédio onde esses agentes estivessem trabalhando, e eles se sentariam para conversar, e descobririam que tudo não passava de um engano. Era tudo um grande mal-entendido.

    Um onda de tontura passou por Carmina, e ela se afastou da cena por um momento, apoiando-se contra a árvore e fechando os olhos. Ela respirou fundo. Calma. Ela tinha de manter a calma. Pense um pouco. O que seu pai lhe diria para fazer? Eles o algemaram e o colocaram na viatura, prenderam-no. Desta vez, ele não conseguia explica para ela, não podia dizer-lhe o que fazer. Ela teve que pensar em tudo o que ele havia te ensinado e descobrir por conta própria.

    Ela olhou para trás ao redor da árvore em direção à casa. Com ambos os pais em carros separados, os federais aparentemente não estavam perdendo tempo movendo o processo. Com pelo menos meia dúzia de agentes ainda dentro da casa, os dois carros se afastaram da casa e seguiram de volta pela longa e sinuosa entrada em direção a Carmina. Ela se escondeu atrás da árvore da melhor maneira que pôde e os observou passar por ela. Ela sabia que não deveria espreitar para vê-los passar. Mas ela tinha de ver. Ela tinha de saber tudo o que podia sobre o que estava acontecendo à sua família.

    O carro preto com Esther passou primeiro. As luzes vermelhas e azuis piscavam. Havia um agente conduzindo e outro estava no banco do passageiro. A cabeça de Esther estava inclinada. Carmina não estava perto o suficiente para ver lágrimas, mas tinha certeza de que estavam lá. A correr pelo lindo rosto da Esther. Elas não manchariam sua maquiagem à prova de água. Ela ficaria perfeita, como sempre. Esther não olhou pela janela. Não viu sua filha se escondendo atrás da árvore, imaginando o que estava acontecendo e o que ela deveria fazer.

    O carro com Júlio seguiu logo atrás. Sua cabeça não estava baixa como a da mãe dela, mas erguida, girando para cá e para lá, observando tudo. Seus olhos escuros brilhavam debaixo de sobrancelhas negras e espessas, capturando cada pedaço de informação sobre o ambiente. Era como se estivesse pronto para qualquer oportunidade de fuga que surgisse. A cabeça de Júlio parou de se mover momentaneamente quando o carro passou pela árvore. Ele não fez nenhum gesto indicando que a tinha visto, adicionando essa nova informação a todo o resto. Não fez nada que atraísse a atenção dos agentes para Carmina. Não tentou fazer gestos labiais ou fazer qualquer gesticulação para ela. Ele apenas a observou pelos poucos segundos que o carro levou para passar pela árvore, então sua cabeça começou a girar novamente.

    Carmina esperou até que os carros tivessem saído da longa entrada, passando pelos portões altos, desaparecendo de sua vista na rua residencial. Ela olhou em direção a casa para se certificar de que ninguém a veria, e então começou a voltar pelo caminho da entrada da mesma forma que tinha vindo, desta vez mantendo-se próxima das árvores, escondendo-se atrás delas ou em suas sombras. Ela sabia o que tinha de fazer. Sabia o que seu pai lhe diria. Ele não queria que ela ficasse por perto para ser presa. Ele não queria que ela estivesse em perigo. Ela tinha de desaparecer antes de começarem a procurá-la. Talvez já estejam em sua cola.

    Nilo Corveira parou do lado de fora da casa para olhar pela longa entrada e garantir que Júlio e Esther Kavalcanti estivessem fora do caminho. Ele não seria o responsável por fazer os inquéritos iniciais, ele tinha que ficar na casa e supervisionar a busca e apreensão de qualquer coisa suspeita. Ele tinha que garantir que tudo fosse feito conforme as regras e que a cadeia de evidências fosse preservada, para que tudo pudesse ser usado em tribunal quando chegasse o momento.

    A folhagem ao redor da pista era exuberante e espessa. Era um lugar bonito. Havia poucas pessoas que recusariam viver num casarão como a Mansão Kavalcanti. Era luxuosa e impecavelmente bem cuidada. Era tarefa do Nilo descobrir todos os seus segredos. Considerando todo o trabalho que tinha ido para a investigação até agora, Nilo suspeitou que seria um processo longo. Havia muitos segredos na Mansão Kavalcanti.

    Outros agentes haviam começado o processo de empacotar os arquivos do escritório de Júlio e estavam carregando-os nos porta-malas dos veículos à espera. Nilo também encomendou uma van, depois de dar uma olhada no escritório do sujeito. Eles não estavam falando apenas de algumas gavetas de arquivo em uma mesa. Júlio tinha várias fileiras de arquivos laterais, todos cuidadosamente catalogados e rotulados. Seriam necessárias semanas de trabalho para passar por todos eles.

    Precisariam de uma segunda van só para as telas para pintura da Esther. Os Kavalcanti não os armazenavam todos na Mansão Kavalcanti, a maioria deles estaria nas galerias. Mas ainda havia muitos deles no estúdio dela. Nilo reconheceu cópias de algumas das pinturas mais famosas, mas a maioria delas era obscura demais para ele saber. Ele não era especialista em arte. Na maior parte do tempo, o melhor que ele podia fazer era discernir quais das pinturas eram originais de Esther Kavalcanti e quais eram cópias do trabalho de outra pessoa. O trabalho original de Esther era leve e arejado, muitas cores suaves, vento e água, animais fantásticos e elfos com as feições de sua filha. Suas cópias percorriam toda a gama da história da arte. Ela parecia igualmente capaz de reproduzir uma peça renascentista, uma surrealista e uma obra moderna. Seria necessário um perito para distinguir as reproduções dos originais, e Nilo não era um perito em arte.

    Maicon largou uma pilha de caixas e enxugou a testa com a parte de trás do braço. E o quarto da garota?

    Hein? Ah, sim. Bem, examine cuidadosamente, mas com respeito. Deixe as coisas onde estão, a menos que algo seja claramente suspeito.

    O computador dela?

    É melhor pegá-lo.

    Há obras de arte no quarto dela também.

    Pegue. Certifique-se de que está rotulado como vindo do quarto dela e não do estúdio.

    Maicon acenou com a cabeça. Ok. Alguém vai à escola buscá-la?

    Nilo olhou para seu relógio. "Matilde. Mas ela não sai até as três e meia, então ainda temos algumas horas.

    Pobre criança. Isso vai devastá-la.

    Nilo sentiu uma pontada de culpa. Mas eles não podiam deixar os criminosos operarem só porque tinham filhos. Não era culpa de Nilo o fato de a família Kavalcanti estar sendo despedaçada. Isso era culpa dos pais. Suas escolhas levaram a isso. Pelo menos ele não teve que tirar criancinhas chorando dos braços da mãe. A adolescente tinha idade suficiente para entender o que estava acontecendo. Com idade suficiente, ela teria apenas alguns anos em um lar adotivo ou com parentes antes de poder viver por conta própria.

    Ela ficará bem, ele disse para Maicon. As crianças são mais duras do que você pensa.

    Maicon deu de ombros e acenou com a cabeça, voltando para a casa para continuar com o trabalho de remover todas as evidências. Nilo esperou até que Maicon estivesse dentro novamente antes de colocar um comprimido Pepto-Bismol na boca, mastigando-o bem antes de engolir e esperando que fizesse efeito.

    Assim que Carmina se afastou da casa, ela parou para organizar suas ideias. Ela estava sozinha. Ela não podia contar com a ajuda de ninguém, ia ter de lidar sozinha. E sobre aquelas vezes em que ela secretamente pensava que seus pais a sufocavam, e ela só queria um pouco de liberdade e independência? Bem, esse tempo chegou. E agora não tinha tanta certeza de que estava pronta para isso.

    Ela sentou-se numa grande pedra, sob uma árvore com uma copa larga, verde e farfalhante. Havia um pequeno riacho a seus pés. Fundo o suficiente para esconder alguns peixes ou para molhar os shorts, caso ela decidisse percorrê-los. Se ela estivesse usando short. Carmina abriu o zíper da mochila e lentamente olhou o interior.

    Os livros escolares estavam fora. Ela não iria precisar mais deles. Embora o texto sobre design gráfico...ela ainda quisesse mantê-lo. Carmina o abriu. Seu nome estava cuidadosamente escrito em tinta no manuscrito impresso de sua mãe na primeira página. Carmina o arrancou. Ela imaginou que se o arrancasse rapidamente, como um curativo, não machucaria tanto. Detestava rasgar um livro. E esse era um favorito específico. Mas ela não podia manter nada que a identificasse. Ela colocou os livros e a página descartados em um monte arrumado aos seus pés.

    O almoço ainda estava na mochila. Ela se sentiu doente na hora do almoço. Essa era uma refeição a menos para se preocupar, agora que estava sozinha. Ela a colocou ao lado. Empurrando outros itens, ela buscou do fundo da mochila seu kit de emergência.

    Júlio sempre insistiu que eles mantivessem kits de emergência com eles o tempo todo. No carro, na mochila da escola de Carmina, na bolsa de Esther. Júlio tinha pequenos kits que cabiam nos bolsos de seu terno. Carmina apertou-o contra o peito, ouvindo suas palavras frequentemente repetidas.

    Você nunca sabe quando e onde estará quando uma emergência acontecer. É por isso que você deve estar preparado. Sempre.

    Ela lentamente abriu o zíper do topo da mochila. Nada caiu ou saltou para fora. Tudo estava bem organizado. Manta térmica de emergência para reter o calor do corpo. Barras de granola, goma, tempero em tabletes. Corda, fio e um multiferramenta. Alfinetes de segurança. Um minúsculo kit de primeiros socorros. Ela não retirou nada, não querendo arriscar perder nada ou não ser capaz de colocá-los todos de volta corretamente. Ela o fechou novamente e o colocou de volta em sua mochila. Havia outro pacote bem no fundo da mochila. Carmina retirou uma pochete. Dando uma breve olhada ao redor para se certificar de que ainda estava sozinha e inobservada, ela puxou sua blusa e afivelou a pochete, pressionando-a para que ficasse plana e colocando-a no lugar. Ela não a abriu para observar quanto de dinheiro tinha ali dentro.

    Sua carteira continha sua identificação, que ela nunca tinha sido capaz de memorizar, sua provisória, sua identidade escolar e seu cartão de crédito. Isso também teria que ir embora. Ela reabriu o kit de emergência para remover a multiferramenta e a abriu em um grande par de tesouras robustas. Ela cortou os cartões em pequenos pedaços e os enterrou junto com a carteira sob um tronco próximo.

    Carmina olhou para seu telefone por um bom momento. Se pelo menos ela pudesse ligar para alguém e dizer o que estava ocorrendo. Mas ela não podia envolver mais ninguém. Não podia confiar em mais ninguém. E quem ela realmente tinha para poder contar algo? Não era como se ela fosse popular ou até mesmo tivesse uma melhor amiga. Sua melhor amiga era sua mãe, e como Esther era tão reclusa, eles não tinham um grande círculo de amigos que saíam juntos para assistir filmes, tomar chá ou fazer compras. Eram apenas Carmina e Esther. E Júlio. E Esther e Júlio não podiam se comunicar com ela agora.

    Carmina jogou o telefone no riacho. Fez um pequeno som de ‘pluft’ e desapareceu.

    Agora ela realmente estava por conta própria.

    Nilo olhou para o relógio. Eles já estavam na quarta van, e não havia sinal de que terminariam de limpar as gavetas com os arquivos de Júlio Kavalcanti tão cedo. Sua chefe, Matilde Fonseca, uma mulher negra de baixa estatura, mas resistente como aço, estava saindo de seu carro e se aproximando da mansão. Ela estaria procurando por algum tipo de previsão de quando terminariam com a casa.

    Estamos trabalhando o mais rápido possível, disse Nilo, levantando-se.

    Ele só estava sentado na grande escada que levava à porta da frente por um instante. O resto do dia ele estava de pé, e estava realmente sentindo dor neles. Ele aliviou as pernas e os pés com firmeza.

    Não estou aqui para apressá-lo, declarou Matilde. "É mais importante ser minucioso e fazer tudo certo do que ser rápido e fazer tudo errado. Vamos pegar tudo o que pudermos.

    Nilo concordou com a cabeça. Tá bom. Então... e aí?

    Ela não precisava verificá-lo no meio de uma investigação. Eles tinham planejado tudo corretamente e ela sabia tudo o que estava acontecendo sem precisar entrar pessoalmente no meio disso.

    Matilde olhou para ele. Ela passou uma mão pelas suas trancinhas e franziu os lábios carnudos. Ela parecia cansada ao redor dos olhos. Como se ela tivesse estado acordada a noite toda antes da operação, revisando os arquivos e garantindo que tudo estivesse em ordem.

    Temos um problema.

    O coração de Nilo acelerou imediatamente, e ele teve que se lembrar de que ‘um problema’ quando estava em deveres reduzidos não era o mesmo que um problema quando estava no campo perseguindo os bandidos. Derrubar criminosos de colarinho-branco como Júlio e Esther Kavalcanti geralmente não envolvia tiroteios ou perseguições em alta velocidade. Foi a primeira vez que Nilo saiu do escritório policial em semanas.

    O que foi? ele perguntou.

    É a garota.

    Nilo tentou lembrar dos detalhes que sabia sobre a filha de Júlio e Esther, que havia sido apenas incidental à investigação. Carmen?

    Carmina, corrigiu Matilde.

    Carmina. Qual é o problema? Pensei que você fosse buscá-la na escola.

    Esse é o problema. Ela não está lá.

    Nilo franziu a testa para ela. Onde ela tá? Gazeando?

    Aparentemente, ela não estava se sentindo bem e saiu da escola no início da tarde.

    Nilo olhou para os veículos do governo que invadiam a entrada da garagem em frente à mansão. Ele olhou para a estrada que conduz até a casa. Às matas ainda selvagens ao lado da estrada. Ele começou a pensar em possíveis possibilidades em sua mente.

    Ela pode estar gazeando, saindo com amigos.

    A escola acha que não.

    Claro que não, isso sugeriria um problema com o monitoramento da frequência. Por que eles iam pensar o contrário?

    Aparentemente, ela realmente não tem um grupo de amigos com quem sai. Deixarei que você os contacte sobre os pormenores. Mas, até então... ela não está lá, e também não está aqui.

    É melhor lançarmos um alerta de pessoa desaparecida.

    Concordo.

    Nilo olhou para a estrada da garagem novamente e suspirou. Acho que é melhor eu retirar os rapazes da coleta de arquivos e começar uma busca. Provavelmente ela deva apenas ter saído com um amigo, mas se viesse aqui e observasse intrusos, talvez ficasse assustada.

    Matilde concordou. Os arquivos terão de esperar. Não queremos que ela fique por aí sozinha quando começar a escurecer.

    CAPÍTULO DOIS

    Deixando os outros agentes para vasculhar os arredores da Mansão Kavalcanti e o bairro próximo, Nilo verificou os detalhes da escola e se dirigiu até lá.

    A escola particular de Carmina era convenientemente próxima. Embora ela normalmente pegasse um ônibus de ida e volta, a escola era perto o suficiente para ir caminhando, se você não se importasse com um pouco de esforço. Com o estômago apertado e ligeiramente enjoado, Nilo caminhou pelos corredores vazios e ecoantes até a diretoria da escola e mostrou seu distintivo.

    Agente Nilo Corveira. Estou aqui para falar com a diretora Nogueira.

    Os olhos da recepcionista eram grandes. Ela concordou com a cabeça. Irei chamá-la para você imediatamente!

    Nilo olhou para a placa de identificação da diretora perto da porta, se lembrando das coisas que aprendeu quando estava na escola. O diretor é gente boa. Ele se perguntou se havia algum aluno que já tivesse considerado o diretor da escola como gente boa. Nilo certamente não tinha, e ele tinha sido um bom aluno. Não era um encrenqueiro. Mas ainda assim problemático.

    Agente Corveira. Entre

    A diretora era bonita, um pouco mais baixa que Nilo, talvez parte hispânica ou indiana, com um bronzeado natural que a fazia brilhar. Ela estava vestida com um blazer conservador e uma saia, mas acabou parecendo na moda nela. Como se fosse uma modelo. Ela o levou para o seu escritório e fez sinal para a cadeira.

    Me chamo Augusta Nogueira. Sente-se, por favor.

    Obrigado. Nilo se sentou e flexionou os pés, tentando soltar os músculos e tendões rígidos. Ele esfregou os joelhos e olhou para a diretora Nogueira.

    Então, diga-me o que você sabe sobre Carmina, mencionou Nilo. Quando ela saiu, para onde ela poderia ter ido, com quem ela poderia estar se encontrando?

    Ela saiu pouco depois do almoço. Ela disse que não estava se sentindo muito bem e precisava ir para casa.

    E um aluno não precisa de permissão ou supervisão, eles podem simplesmente ir embora?

    Bem... sim... aqui não é uma prisão, Sr. Corveira. Os alunos vêm e vão. Às vezes têm compromissos, ou um período livre, ou... não se sentem bem.

    Mas ela disse a alguém que não estava se sentindo bem e precisaria ir para casa?

    Sim. A Carmina é boa em nos informar se vai para casa. Algumas crianças simplesmente saem, mas ela verifica com a enfermeira ou o escritório antes de sair.

    Nilo anotou isso em seu bloco de notas e olhou para a diretora. Ele não disse nada no início. O silêncio era muitas vezes mais importante do que as perguntas para obter informações das pessoas. A diretora parecia desconfortável. Culpada.

    Ela suspirou profundamente. Não gosto de falar mal da Carmina. Ela é uma menina adorável...

    Nilo assentiu. Sim...?

    Ela costuma ir para casa com... problemas de estômago..., mas nós realmente não poderíamos contrariá-la, sugerir que ela poderia estar fingindo um pouco... seus pais disseram que ela tinha alguns problemas médicos e se ela dissesse que não estava se sentindo bem, ela deveria ter permissão para ir para casa.

    Nilo acenou com a cabeça e inclinou a cadeira ligeiramente para trás sobre duas pernas. E você acha que talvez ela estivesse aproveitando um pouco da situação?

    Eu vi aquela garota se alimentando, Sr. Corveira. Não há nada de errado com o estômago dela. E nunca houve atestados médicos ou mesmo anotações de casa dizendo que ela não estava bem. Eu acho que..., a diretora Nogueira bateu com a caneta na mesa à sua frente. Eu acho que ela pode ter sido um pouco mimada. Filha única, pais ricos, eles imaginam o pior sempre que ela come demais ou quando é picada por um inseto..., ela encolheu os ombros expressivamente. Como eu disse... não gosto de dizer nada negativo sobre Carmina. Acho que é uma boa menina. Ela nunca nos deu problemas. Eu só acho...bem...

    Que ela pode ser um pouco mimada, resumiu Nilo.

    Sim. Não é uma grande falta de caráter nem nada. Apenas... ela é muito próxima da mãe.

    Nilo assentiu, escrevendo mais algumas palavras em seu bloco de anotações. Obrigado por me informar sobre isso. Então ela saiu um pouco depois do almoço. Não se sentindo muito sinto bem.

    Foi o que ela disse, inseriu a diretora Nogueira.

    Foi o que ela disse, Nilo repetiu, franzindo a testa. E ela recebeu permissão para ir para casa.

    Claro.

    Alguém se ofereceu para levá-la?

    Bem... não. Não fazemos isso. Isso atrairia responsabilidade...

    Mas deixá-la ir para casa sozinha doente, não há responsabilidade.

    A diretora parecia nunca ter pensado nisso antes. Ela franziu a testa. Se ela estivesse realmente doente, poderia ter ficado na enfermaria. Ela estava bem o suficiente para voltar para casa, como sempre.

    Mas você não sabe se pode ter ocorrido algo mais grave desta vez. Ela poderia ter desmaiado a caminho de casa... ter ficado desorientada... ou qualquer coisa, na verdade.

    Bem... suponho, Nogueira claramente não gostou dessa ideia. No entanto, eu te disse, ela foi para casa sozinha porque estava sempre doente. Não era nada de novo. Por que ela desmaiaria?

    Eu não sei. Mas ela não chegou em casa, né?

    A diretora sentou-se lá, franzindo a testa.

    Você não acha que ela poderia sair com um amigo?, Nilo perguntou.

    Não, disse Nogueira categoricamente. Ela balançou a cabeça. Ela não tá com um amigo.

    Nilo esperou novamente, deixando o silêncio se prolongar. Ele flexionou o pé e pressionou os calcanhares, desejando poder tirar os sapatos e esticar e massagear os pés adequadamente.

    Carmina é uma garota excêntrica. Ela não compartilha muitos interesses com outros estudantes. Ela guarda para si mesma. Talvez se os pais dela a pusessem em atividades extracurriculares, clubes... ela não tem realmente ninguém com quem ela conviva. E mais ninguém esteve visivelmente ausente esta tarde."

    Que você notou.

    Estamos presentes em todas as aulas. Não vi ninguém que estivesse ausente das últimas aulas com quem Carmina tivesse alguma coisa a ver. Ninguém no seu grupo social.

    Talvez ela tenha um namorado...?

    Carmina? Ah, não! Nunca a vi sequer olhar para um garoto, muito menos dar as mãos ou conversar no corredor com algum. Ela ainda não... está tão madura assim.

    Seus amigos podem contar uma história diferente.

    A diretora deu um pequeno encolher de ombros.

    Há mais alguma coisa que devamos saber? Nilo perguntou. O que você acha que aconteceu?

    Não sei... espero que ela não esteja ferida, raptada ou algo assim. Ela é uma garota tão boa. O pai dela é um homem de condições. Talvez ela apenas... não sei... tenha mudado de ideia e decidido ir ao zoológico ou algo assim.

    Ao zoológico. Bem, espero que não tenha sido nada grave e que ela apareça em casa a qualquer momento. Mas estou preocupado.

    Nogueira acenou com a cabeça. Posso perguntar... como você está envolvido...? Não parece o caso de uma criança matar aula por uma tarde... não justifica realmente um boletim de desaparecimento. Ainda.

    Nilo não a esclareceu. A notícia estava fadada a ser divulgada pelos jornais matinais, mas ele não seria o responsável por divulgar os detalhes. Ele particularmente não queria que Carmina ouvisse o que estava acontecendo pela videira e fugisse.

    Obrigado pela sua ajuda, Srta. Nogueira. Vou deixar o meu cartão contigo, caso lhe aconteça alguma coisa, ou se ouvir alguma coisa. E eu vou precisar dos nomes de qualquer um dos colegas de classe de Carmina que você acha que pode ser útil...

    Carmina saiu do outro lado da floresta, onde havia um parque público. Ela observava pessoas correndo e andando de bicicleta, passeando com cães, brincando com seus filhos e fazendo piqueniques. Era um dia quente e ensolarado e parecia que todos estavam fora.

    Carmina não sabia o que fazer. Como é que ela devia viver agora? Ela se sentia sem esperança e desamparada. Sua mãe normalmente colocaria o jantar na mesa agora, fazendo perguntas a Carmina sobre como foi a escola hoje. Falando sobre seus últimos desafios em suas pinturas, quais projetos ela estava pensando em fazer. Júlio sentava-se e ouvia. Talvez pegasse seu caderno de anotações para anotar um lembrete para si mesmo. Ela lhe perguntou uma vez o que os códigos em seu caderno significavam, mas ele apenas balançou a cabeça, sua boca fina ficando ainda mais fina e apontando para baixo.

    Às vezes você precisa manter registros, anotar as coisas, explicou ele. Mas você nunca deve escrevê-los de uma forma que outra pessoa possa entendê-los.

    Carmina olhou para o seu bloco de notas aberto. Ela tentou lê-lo ao contrário para ver se fazia sentido dessa forma. Mas ainda parecia uma cifra. Nem a mãe dela conseguia ler. Júlio era o único.

    Eu hoje tive aula de design gráfico, sussurrou Carmina para si mesma, como se estivesse à mesa, contando para sua mãe sobre o dia, como deveria ser. O Sr. Barbosa gostou da minha proposta de projeto. Ele disse que eu deveria me concentrar na mudança social. O que vocês acham?

    Ninguém podia ouvi-la sussurrando. Ela não conseguia nem ouvir a si mesma devido ao barulho do parque ao seu redor. Ela não queria que alguém pensasse que ela era uma maluca e tentasse levá-la ao hospício ou pior. Mas foi reconfortante, algo para ligá-la de volta à sua família. Estar longe deles fez com que ela se sentisse invisível. Inexistente.

    O que diria a mãe dela? A mudança social não era algo que estava no topo da sua lista de afazeres. No que diz respeito ao Sr. Barbosa, a mudança social era a vocação mais elevada e nobre. A razão pela qual você faz alguma coisa. Mas para Esther, a vocação mais elevada e nobre era a arte. Arte por si só. Você não desenha, pinta ou projeta para influenciar o rumo da vida de alguém, suas decisões. Você pinta para lhes dar beleza, equilíbrio ou cor. Para Esther, a arte verdadeira sempre foi arte, não um veículo para mudança social ou influência.

    Havia um grande grupo no parque celebrando. Talvez uma festa de aniversário. Havia muitas crianças e alguns cães.

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