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Espinho No Crânio
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Espinho No Crânio
E-book225 páginas2 horas

Espinho No Crânio

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Sobre este e-book

Sabrina,  uma garota aparentemente normal. Eduardo, um filhinho de papai. Elizabeth, uma mulher de carreira. Antônio, um desocupado siciliano. Giovane, um conquistador em série. Vidas já escritas, se não fossem inesperadamente penetradas pela presença de um mendigo misterioso com um passado obscuro. Um mendigo que acaba projetando a vida deles no mundo da PNL, do crescimento pessoal e do coaching. Eles pensam que conhecem a si mesmos, mas descobrem que só conhecem a superfície da própria existência. E a vida os obriga a mergulhar em seu passado e na própria identidade, fazendo-os descobrir sabores inesperados e surpreendentes em um clima de suspense psicológico. Que os conduz a uma conclusão que responde a todas as questões da alma. Nada é o que parece . Na verdade, mesmo um homem vestido de trapos pode ser um coach extraordinário. Do encontro com o mendigo, desencadeia para cada um o caminho da mudança. Uma mudança que custa a todos uma grande perda, mas que conduz os personagens naquela dimensão obscura, mas central, que é dominada pelo cérebro e as emoções. O mundo interior. Uma mudança para ver a vida deles com olhos novos. Uma mudança que é sempre possível, porque «se qualquer outro o fez, você pode muito bem fazer também». Neste romance as histórias dos personagens são cheias de sabores dos mundos da PNL e crescimento pessoal, que têm tido sucesso em todo o mundo. A leitura se torna um tipo de viagem dentro de si mesmo, entre as instâncias de nossa interioridade que se confrontam com os arquétipos dos personagens e suas dinâmicas. E no final, o leitor, junto com os personagens, terá percorrido um caminho cheio de surpresas e encontros inesperados que lhes farão entender que «vales muito mais do que isso». Não é só um romance de formação. É uma história que se torna um verdadeiro livro de crescimento pessoal que tornará a PNL fácil de entender.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de out. de 2017
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    Pré-visualização do livro

    Espinho No Crânio - Paolo Gambi

    PARTE I

    ERA UMA VEZ

    SABRINA

    Uma menina de oito anos, cabelos lisos como uma cascata, brincava que era uma pintora. Sentada perto da mãe, no gramado do grande parque daquela cidadezinha, pintava concentradíssima os retratos das pessoas que amava, mordendo sua língua.

    «Mamãe posso ir até aquela pequenina árvore?» pede quando perde sua concentração.

    A jovem mãe, com os olhos pousados sobre um livro, acena que sim com a cabeça, serenamente. Naquela pequena cidade todos se conheciam, podia ficar tranquila. E a boa menina, deixando seus instrumentos de trabalho sobre uma grande toalha, vai saltitando até um gigantesco carvalho, a algumas centenas de metros de distância. Abre-se diante de seus olhos o horizonte do mundo: havia plantas que subiam pelas redes e postes, capim verde e grande que limitava o caminho, o gorjeio dos passarinhos, o ar puro que desenvolve as plantas e, à distância, as casas, que sinalizavam o final do parque.

    E, acima de tudo, erguia-se ele, um carvalho secular que parecia querer abraçar o mundo lá do alto. Era majestoso, maior que qualquer árvore jamais vista. Mesmo assim, ela gostava de chamá-lo de «pequenina árvore», mas só porque no fundo gostava muito dele.

    Lá longe vê um cachorro que corre ao redor do carvalho. Não sabe se o espanta ou vai ao seu encontro. Foi o cão que lhe tirou desse embaraço, indo até ela com o rabo abanando. Era marronzinho, pequeno, de pêlo curto, bonito, limpo e cheiroso. Um vira-lata acostumado com carinhos.

    «Oi cãozinho, como está?» disse estendendo a mão para acariciá-lo.

    O cachorro aceita as carícias, olhando-a com a língua de fora e o rabo balançando como um pêndulo, depois se vira e corre para o carvalho. Embaixo da árvore há um banco, e, enquanto olha o cachorro, a menina percebe que no banco está sentado um homem com barba. O cachorrinho marrom se senta aos pés dele. A menina se aproxima intrigada e vê que o homem tem a roupa toda rasgada, a barba comprida e um cheiro de lixo, então, a mãe a chama para que volte.

    «Oi» diz plantando-se diante dele.

    «Oi» responde o homem, abrindo um belo sorriso no rosto.

    «Olha que mãos sujas eu tenho. É porque eu desenhei. Quando crescer serei uma pintora».

    «Oh, com certeza será uma pintora. Mas só se não parar de ver o mundo com os olhos que tem hoje».

    A menina fica pensativa por um momento. Depois, com a nitidez própria dessa idade, diz:

    «Por que, que olhos terei quando crescer?».

    «Isso dependerá de você».

    «Como se chama o cachorrinho?» pergunta então a menina, mudando de assunto como as crianças fazem quando o raciocínio se torna muito difícil.

    «Chama-se Rolf».

    «Por que se chama Rolf?».

    «É uma história longa e não é adequada a uma menina da sua idade».

    «Você me conta assim mesmo?».

    O mendigo sorri. E diz:

    «Um senhor esteve na segunda guerra mundial, uma coisa muito feia que aconteceu já faz tempo. Quando chegou na Alemanha, fizeram ele se vingar de um oficial nazista, que tinha feito coisas muito más. E atirou nele».

    A menina rompe aquelas palavras de violência com seus olhos tenros e grandes.

    «O oficial se chamava Rolf. Assim que o senhor voltou para casa são e salvo, pegou para si um cachorro e o chamou de Rolf».

    «Por que lhe deu o nome daquele homem? Por que atirou nele?».

    «Para se recordar que em todas as pessoas, mesmo nas mais desprezíveis, há algo de sagrado que sobrevive à nossa maldade. E a parte boa daquele oficial nazista como que se reencarnou no cão. Desde então, todos os seus descendentes são chamados de Rolf. Este é o nono».

    «Para mim parece uma fêmea», diz a garota estudando-o por baixo.

    O mendigo sorri novamente. E responde:

    «Sim, mas nestes tempos é um detalhe de importância secundária».

    «Lúcia! Deixa o senhor em paz».

    A mãe deixou sua acomodação confortável e, visto que a menina não voltava, foi buscá-la. Aproxima-se em ritmo acelerado, vendo que Lúcia estava com um mendigo, pega-a pela mão sorrindo forçadamente para o desabrigado.

    «Não mamãe, quero ficar aqui conversando com este senhor».

    A mãe olha a menina, olha o mendigo. Tinha algo de familiar. Alguma semelhança, com alguém vagamente presente entre seus conhecidos, estava sepultada sob a sujeira daquele corpo negligenciado e colocado à prova pela vida na rua. Mas antes que pudesse descobrir onde já o havia visto, depara-se com o cão entre suas pernas.

    «Que lindo cãozinho» exclama surpresa, quase involuntariamente, inclinando-se para acariciá-lo. «Como é limpo e cheiroso».

    A menina se aproxima do rosto da mãe e, segurando-o com suas mãozinhas doces, diz:

    «Este cãozinho se chama Rolf como... como uma pessoa má, não entendi bem. Mamãezinha, podemos ficar?».

    A moça sorri. E diz:

    «Não, Lúcia, vamos deixar este senhor e vamos para casa».

    «Você já está indo, Sabrina?» pergunta o homem.

    A jovem se vira de imediato, profundamente surpresa.

    «Como sabe o meu nome?».

    O maltrapilho sorri e diz:

    «O nome é apenas o invólucro, não é difícil conhecê-lo. Mais complicado é ir além dele e descobrir o que tem dentro. Você já experimentou?».

    A moça permanece suspensa entre o desejo de escapar junto com a menina, e o de entender o que estava acontecendo. Naquele limbo, uma pergunta do mendigo a apanha:

    «Sabrina, vim aqui para te contar uma história. Quer ouvi-la?».

    A moça fica ainda mais um tempo naquele limbo e depois, um pouco perplexa, diz temerosa:

    «Pois bem».

    «Era uma vez...».

    ERA UMA VEZ EDUARDO

    O metrô estava particularmente lotado naquela noite.

    «Mas por que não peguei o táxi?» se pergunta interiormente Eduardo, irritado. Empacotado em seu terno Armani casual chique, percebia no corpo um profundo desconforto ao cruzar com os olhares dos outros passageiros da linha, que levava de Cernusco sul Naviglio ao centro de Milão. Sua Lamborghini Gallardo tinha estragado, amaldiçoou os seus filipinos que nem foram capazes de procurar um carro substituto e, desajeitado pela falta de seu fiel carro, optou pelo metrô. A última vez que pegou a linha metropolitana do metrô ele era um menino, e foi com seu pobre avô, o pai de seu pai. Mas, desde que tomou consciência de ser um filhinho de papai, e de ter sempre sido carregado confortavelmente pelo dinheiro do pai, absteve-se de fazer qualquer coisa que não fosse para pessoas de um certo nível. E seu carro era um claro sinal de que ele não era como os outros.

    Seus usuais amigos desocupados o aguardavam para um de seus aperitivos habituais, que resultaria em uma noitada com jantar dedicado a qualquer improvável etnia subdesenvolvida – como os libaneses ou os japoneses – e ao final, não teriam falado coisa alguma até o tédio. Motivo pelos qual eram forçados quase sempre a encontrar alguma coisa para rompê-lo, aquele maldito tédio. Os outros normalmente o faziam com modelos afeto-repelentes. Ele não. Considerava-se muito acima desse bárbaro entrelaçar de corpos. O mero pensamento a respeito o deixava nervoso. Sim, a cocaína começava a deixá-lo nervoso por coisas cada vez menores. Mas era seu único modo de sair do tédio. Embora nem gostasse dela de verdade.

    «Minha parada» pensa com alívio, começando a descer assim que lê «Garibaldi». Com um profundo senso de desgosto se deixa transportar pelo fluxo de passageiros que saem junto com ele.

    «Que gente bruta» diz a si mesmo.

    Seus olhos quase se recusaram a lhe mostrar a cena um pouco mais adiante, no acesso de saída. Dois vigilantes levantavam do chão um saco de trapos com barba, um sem-teto. Eduardo tenta parar, afastar-se para não passar perto, mas o fluxo de pessoas que saem o obriga a seguir em frente, e caminhar direto em direção à cena. Conforme ia se aproximando a cada movimento do maltrapilho, começa a sentir baforadas de odores indescritíveis, modulações de fedor que suas narinas nunca tinham experimentado. Sente uma ânsia de vômito que emerge de suas entranhas mais profundas. Fecha todos os seus sentidos, se retrai por dentro e tenta passar perto do maltrapilho contido pelos vigilantes, fingindo não ver nada. Mas, quando estava a dois metros de distância daquele saco de trapos, barba e fedor, de repente surgem dois olhos. Dois olhos que depois de voar sobre a multidão indistinta pousaram sobre os dele. Ou melhor, se fixaram sobre ele. E depois, não eram mais dois olhos, mas quatro. Porque um cachorro vira-lata, parado entre as pernas do mendigo, olhava na mesma direção do mestre.

    Havia dezenas de pessoas amontoadas que marchavam para a saída, mas ele se deu conta de que aqueles olhos estavam grudados nos seus. Eduardo tenta desviar o olhar, mas percebe que o mendigo continua a encará-lo. E com ele o cão. Ele se sentia profundamente desconfortável. Sua raiva pós-moderna começava a emergir, um misto de resíduos de coca e metropolitanos nervosos. Dá os poucos passos que o separavam daquele ser e, sem olhar para ele, ouve sair palavras de sua boca, esbarradas num estranho sotaque americano, mas fluídas e reconfortantes como um riacho de montanha:

    «Eduardo, você acha que é feliz assim?».

    O rapaz precipita seus olhos nos dele, dá um passo atrás e para o fluxo de gente que passava. Como sabia o seu nome? Com um movimento, o mendigo desvincula-se do aprisionamento dos vigilantes, e ao fazer isso colide com o rapaz, que sente sobre si todo o odor daquele mundo do qual sua história favorecida o privou.

    «Deve ser duro estar sem tua Lamborghini Gallardo branca» continua o mendigo, repreendido com força novamente pelos dois vigilantes.

    Não era possível. Eduardo volta a caminhar sem se virar e procura tirar os pensamentos da mente. Pensamentos que o convenciam de que o que ouvira era apenas uma alucinação. Uma brincadeira de seu cérebro, que pesava com o excesso de cocaína. Na manhã seguinte certamente iria consultar com seu médico de confiança. Ou, melhor, aquele que desde o primário era amigo de seu pai. Mas, se uma parte do seu cérebro tentava dizer que nada aconteceu, a outra se dá conta de que o sem-teto só tinha lido seu pensamento. E foi essa a parte a prevalecer, porque Eduardo, encravado entre a multidão que pegou o metrô, vira-se.

    E o maltrapilho, agora entre os braços dos dois vigilantes que o levavam embora, com o pescoço torcido para trás olha nos olhos mais uma vez e lhe lança uma pergunta simples, mas mordaz como um dardo:

    «Se continuar a viver a vida como faz, não receberá nada além do que já tem. Lembre-se de que se quer vencer deve perder. Eduardo, quer mudar?».

    O rapaz se sente imerso num profundo sentimento de desconforto e embaraço. E um pouco incerto sussurra um débil «sim, ok».

    A última coisa que vê do mendigo é seu rosto sorridente e apaziguado, sobre o qual aparece uma improvável piscadela.

    Eduardo estava fora de si. Ou talvez entrou excessivamente dentro. Havia um mundo que o circundava, mas era como se não houvesse. Via entorno a si seus companheiros de jantares, com os quais compartilhava a luta contra o tédio, tinha sua rotina reconfortante para abraçá-lo. Mas era como se não visse nada. Tinha nos olhos, nos ouvidos e no nariz aquele mendigo que lhe leu sua mente. Como era possível?

    Uma lindíssima moça estoniana, meio embriagada, tenta sentar em seu colo. Mas ele, com um rígido embaraço, reage dizendo:

    «Não, desculpa».

    A moça faz uma careta de desgosto e se afasta com desinteresse. Mas isso não era novidade, sua porta dourada estava fechada para as fêmeas e elas, mais cedo ou mais tarde, notavam. A novidade eram os pensamentos que martelavam seu cérebro como um pica-pau num tronco de árvore: seria possível ler pensamentos como agora alguém o estava fazendo? Tinha um homenzinho dentro da mente que navegava pelas suas imagens? Aquele mendigo estava lhe roubando os pensamentos? Não conseguia bloquear aqueles olhos. Sentia interiormente sensações com as quais não estava habituado, emoções fora da rotina. Aquele mendigo fedorento o estava monitorando também? Como poderia ter feito? Será que simplesmente não estava ficando louco?

    Aos seus amigos não parecia importar muito os seus pensamentos. Bebiam, cheiravam pó e se esfregavam com quatro modelos que tinham encontrado. Havia Henrique Jucker, um vagabundo hereditário, Marcelo Bica, um grande promotor financeiro de origem meridional, e Armando Fumagalli, aparentemente um importantíssimo tubarão das finanças. Ninguém lhe tinha perguntado por que não veio de carro, ninguém lhe perguntou por que estava tão quieto e pensativo. Ocasionalmente, ouvia os ecos do que diziam, falavam de futebol, mulheres e fofocavam sobre as pessoas ausentes. Como de costume. Tudo embalado por um misto das usuais músicas de pista e daquelas de qualidade não elevada, que compõem a trilha sonora da vida dos ricos.

    Tenta provocar uma conversa com um deles, Marcelo:

    «Não sabe o que me aconteceu».

    Nos olhos do outro imediatamente aparecem cenas de orgia dignas do Game of Thrones. Que Eduardo interrompe com um início de frase:

    «Conheci um mendigo...».

    «Não, por favor!», o interrompe de imediato o outro, abrindo os braços, «não me diga que deu uma de Madre Teresa de Calcutá. Sério» diz sacudindo as mãos, «não consigo ouvir uma história do gênero a esta hora».

    «Qual é», replica Eduardo com compostura, «a história é realmente estranha».

    O outro continua a olhá-lo de modo interrogativo.

    «Conheci um maltrapilho que leu minha mente».

    Seu interlocutor o olha nos olhos por um instante. Então, não contendo o fluxo de energia que sobe de suas profundezas mais íntimas. Desanda a rir.

    «Desculpe Eduardo, tentei mas não consegui me conter. Sim, você dizia... Leu tua mente».

    De repente percebe que, a nenhuma daquelas pessoas com quem passava tanto tempo, importava nada sobre ele. Se algum dia tivesse precisado de algo, nenhum deles saberia. Para dizer a verdade, toma consciência de que nem mesmo a ele importava algo sobre os outros. Eram apenas máscaras que, por algum mistério do universo, se encontravam para atuar no mesmo palco dourado.

    Sente uma profunda exigência de deixar cair aquele invólucro no qual estava vivendo.

    «Ok rapazes, desculpa mas eu vou para casa» diz ainda um pouco perdido.

    «O que você tem?» pergunta um deles.

    «Nada, nada. Só alguns pensamentos. A gente se fala amanhã».

    Levanta-se e, sem dizer mais nada, vai embora. Não havia uma meta onde focar, apenas um lugar de onde se afastar. Assim que sai, a sinfonia de fofocas sobre ele começa, visto que quando estava presente parecia ausente, no grande jogo da hipocrisia metropolitana. Mas nada disso lhe importava. Sentia dentro somente um profundo desgosto que o arrastava para longe.

    E daquele atoleiro emocional permanecia só a lembrança da pergunta do mendigo: «Quer mudar?». Tinha respondido sim quase como uma cortesia burguesa. Mas agora percebia que aquele «sim» ressoava dentro dele: era como se

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