Argumentos Cristãos
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Sobre este e-book
Este ensaio leva os leitores a uma jornada de profunda reflexão sobre os fundamentos da fé cristã, explorando temas que têm sido alvo de inspiração, questionamento e diálogo ao longo dos séculos. Cada capítulo proporciona uma oportunidade para uma contemplação cuidadosa das complexidades dos argumentos cristãos diante de questões cruciais que influenciam nossa compreensão do divino, do humano e do cosmos.
No primeiro capítulo, examinamos o argumento cristão sobre a existência de Deus, evidenciando a presença de um Criador por trás da criação. No segundo capítulo, adentramos as concepções do Céu e do Inferno, convidando os leitores a considerar a possibilidade de uma vida após a morte baseada nas tradições cristãs e nas Escrituras Sagradas.
O terceiro capítulo defende a ressurreição de Jesus como um evento histórico e transformador, oferecendo esperança e redenção. No quarto capítulo, abordamos a questão da origem do mal e como a fé cristã lida com essa realidade. O quinto capítulo destaca a voz profética da fé na busca pela justiça social, enquanto o sexto explora o impacto das mudanças sociais na fé cristã na era pós-moderna.
Os últimos capítulos tratam de temas sensíveis, como a perspectiva cristã sobre a sexualidade e a importância do diálogo inter-religioso em uma sociedade cada vez mais diversificada. Este ensaio não busca ser exaustivo, mas sim abrir portas para reflexão e diálogo, promovendo o entendimento mútuo com respeito e colaboração.
Que esta obra inspire uma reflexão contínua sobre os temas que moldam nossa visão de mundo, incentivando os leitores a alcançarem uma compreensão mais profunda e significativa da fé cristã.
Luis A R Branco
Married for thirteen years and a father of two beautiful girls, I was born in the city of Petrópolis, RJ, Brazil, in January 1974. I hold an undergraduate degree in Biblical Studies and Theology (BA), a Master Degree in Church Administration and Leadership (MA), a Doctor Degree in Ministry (D.Min.) and actually pursuing a Doctorate in Philosophy. My work includes serving as a local clergyman and a seminary professor. I'm member of the Society of Christian Philosophers, member of the Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas, member of the Movimiento Poetas Del Mundo, member of the União Brasileira de Escritores and member of the Academia de Letras e Artes Lusófonas and affiliated with the Mission Board of the National Baptist Convention. By working in several countries, it gave me of a major cross-cultural experience. My theology is reformed and as a poet, I've a melancholic style following the pattern of the ultra-romantics of the XIX Century, as a humanist I'm characterized by the idea that man gets his true essence in the knowledge of God. I live in Lisbon with my family and have published books on spirituality, theology, philosophy and anthologies.
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Argumentos Cristãos - Luis A R Branco
PREFÁCIO
Este ensaio se propõe a ser uma jornada de reflexão profunda sobre os pilares fundamentais da fé cristã, explorando temas que têm sido fonte de inspiração, questionamento e diálogo ao longo dos séculos. Cada capítulo é um convite à contemplação, oferecendo uma abordagem cuidadosa sobre as complexidades dos argumentos cristãos em face de questões cruciais que moldam nossa compreensão do divino, do humano e do cosmos.
No primeiro capítulo, exploramos o argumento cristão quanto à existência de Deus. Reconhecemos a singularidade da divindade, compreendendo que Deus não pode ser submetido à análise científica como uma matéria tangível. Entretanto, apresentamos evidências confiáveis que sugerem a existência de um Criador, destacando como a própria existência do universo aponta para uma mente divina por trás de toda a criação.
No segundo capítulo, adentramos os domínios do Céu e do Inferno. Procuramos apresentar os pressupostos que fundamentam a crença nas dimensões eternas, convidando o leitor a considerar a possibilidade de que a vida após a morte transcende o visível. A existência do Céu e do Inferno é apresentada como uma narrativa que encontra suas raízes nas tradições cristãs e nas Sagradas Escrituras.
O terceiro capítulo concentra-se no argumento cristão quanto à ressurreição de Jesus. Defendemos que a ressurreição não é apenas um mito simbólico, mas um evento substancial e transformador. Exploramos as evidências históricas e teológicas que sustentam a afirmação de que o corpo de Jesus experimentou a ressurreição e a glorificação, oferecendo esperança e redenção.
No quarto capítulo, abordamos a complexa questão da origem do mal. Reconhecemos a presença do mal no mundo e buscamos compreender como a fé cristã lida com essa realidade. Exploramos a teologia que considera o mal como uma escolha humana.
O quinto capítulo proclama o argumento cristão quanto à justiça social. Em um mundo marcado pela injustiça, afirmamos a voz profética da fé, confiando que Deus é o garante da verdadeira justiça. O entendimento bíblico nos assegura que o sucesso temporário da injustiça será substituído pela justiça divina.
No sexto capítulo, exploramos o impacto das mudanças sociais na era pós-moderna sobre a fé e a vida cristã. Reconhecemos os desafios e oportunidades dessa época de transição, buscando compreender como a fé cristã pode permanecer relevante em meio a um mundo em constante transformação.
O sétimo capítulo é dedicado ao argumento cristão quanto às metanarrativas, uma tentativa de desconstruir a negativa em relação às grandes narrativas religiosas. Buscamos preservar a visão holística da história, evitando que a grande imagem se desvaneça de nossos horizontes.
No oitavo capítulo, adentramos o tema delicado do homossexualismo, esclarecendo a perspectiva cristã sobre a sexualidade. O nono capítulo, por sua vez, explora o imperativo do diálogo inter-religioso, reconhecendo a necessidade de coexistência pacífica em um mundo cada vez mais cosmopolita.
Este ensaio não aspira à exaustividade, mas sim à abertura de portas para reflexão e diálogo. Que cada capítulo seja uma oportunidade para aprofundar a compreensão e promover o entendimento mútuo em um espírito de respeito e colaboração.
Que este trabalho sirva como um convite à reflexão e ao diálogo construtivo, abrindo espaço para a diversidade de pensamento em busca de uma compreensão mais profunda e significativa da fé cristã.
Boa leitura e que este ensaio inspire uma reflexão contínua sobre os temas que moldam nossa visão de mundo.
Luis Alexandre Ribeiro Branco
ARGUMENTO CRISTÃO QUANTO A EXISTÊNCIA DE DEUS
Encontramo-nos numa época em que muitos deduziram que haveria um declínio da religião, em especial da fé diante das evidências naturais contra a existência de Deus. Com o avanço da ciência, em especial da arqueologia e da astronomia a oposição a algum sistema de fé passou a ser uma realidade constante na sociedade, em particular na sociedade ocidental. Jovens crentes são desafiados em sua fé nas universidades e muitos acabam por renunciar a fé e a entrarem pelo caminho do ceticismo. Uma reportagem de Rachel Nuwer publicada em 2014 pela BBC News diz: «Um número cada vez maior de pessoas – milhões delas, em todo o mundo – diz acreditar que a vida definitivamente acaba depois da morte e que não existe Deus nem um plano divino. Esse movimento parece estar ganhando força. Aliás, em alguns países, o ateísmo assumido nunca foi tão popular.»[1] A reportagem diz ainda que «segundo uma pesquisa do instituto Gallup International, que entrevistou mais de 50 mil pessoas em 57 países, o número de indivíduos que se dizem religiosos caiu de 77% para 68% entre 2005 e 2011, enquanto aqueles que se identificaram como ateus subiram 3%, elevando a 13% a proporção dessa parcela.»[2] Em Portugal, o percentual de ateus ronda os 6%.[3]
Entretanto, temos outras pesquisas sobre o assunto que mostram um cenário um pouco diferente. «De acordo com o que prova o estudo do Centro de Pesquisas Pew, a religião está em ascensão, e o surgimento desses novos ateus
, mais ruidosos e beligerantes, pode na verdade ser um reação à persistência e mesmo a ressurgência de uma religiosidade vibrante. Tampouco o florescimento da fé está acontecendo só entre pessoas menos instruídas. Ao longo da última geração, filósofos como Alasdair Macintyre Charles Taylor e Alvin Platina têm produzido um importante conjunto de obras académicas em apoio à crença em Deus e criticando o secularismo moderno maneiras que não são nada fáceis de responder.»[4]
As estatísticas apontam que o século 21 será menos secular do que o anterior. Isto porque o cristianismo tem crescido na África subsaariana, China, América Latina e mesmo nos Estados Unidos e na Europa. E para além do cristianismo temos outras religiões e expansão como o islamismo, hinduísmo e budismo. Na verdade, o budismo está entre as religiões que mais crescem em Portugal.
São duas pesquisas distintas com um panorama diferente. No entanto, acredito que a realidade encontra-se entre estas duas realidades onde não há uma diminuição exacerbada da fé, como também não há um crescimento exponencial dos teístas. A verdade é que em algumas regiões do mundo a religiosidade cresce enquanto que em outras regiões decresce. Sabemos que o secularismo e a cultura pós-cristã avança na Europa, pois tal realidade é perceptível na cultura de resistência ao cristianismo que se desenvolve no continente. Entretanto, é possivel observar também um crescimento pontual do islamismo e mesmo do cristianismo entre as comunidades imigrantes na Europa. Um outro grupo crescente é o paganismo que ressuscita a adoração e o culto pagão na Europa.
Neste artigo buscarei apresentar uma proposta que visa indicar o caminho para o teísmo cristão. Esta análise segue em forma de argumentos para facilitar a reflexão sobre o tema da existência de Deus. A realidade é que a crença Deus traz respostas importantes para a existência humana. Leon Tolstói, em seu livro A Confissão conta que tinha uma vida muito bem-sucedida até começar a perceber, por volta dos trinta anos, que todo ser amado seria levado embora de sua vida e tudo o que ele escrevera acabaria sendo esquecido com o tempo. A realidade de uma vida inteira de realizações e um fim dramático como a morte agoniza a mente de muitos. Isto se dá justamente pela falta da crença na existência de Deus e uma perspectiva da continuidade da vida após a morte. Como disse Ariano Suassuna, sem Deus, a vida seria um tormento, bastaria a morte. É justamente Deus que nos ajuda a seguir em frente, mesmo diante de toda adversidade.
A Bíblia não nos dá uma explicação clara sobre a existência de Deus, ela simplesmente diz: «Disse o néscio no seu coração: Não há Deus...» (Salmos 14:1). O texto bíblico começa com a seguinte frase: «No princípio, criou Deus os céus e a terra.» (Génesis 1:1). É interessante observar que o texto não começa com uma preocupação em explicar a existência de Deus, simplesmente diz que «criou Deus». Na verdade a Bíblia não tem a preocupação de explicar aquilo que para os escritores bíblicos parecia óbvio. Entretanto, alguns teólogos e filósofos teístas ocuparam-se desta tarefa ao estabelecerem princípios, métodos e argumentos sobre esta realidade, não só no cristianismo, mas também em outras religiões, como por exemplo, o islão. Dentre as várias propostas apresentadas pelos pensadores muçulmanos está o argumento cosmológico Kalām. Este argumento é apresentado de forma simples:
Tudo o que começa a existir tem uma causa;
O universo começou a existir;
Logo, o universo tem uma causa.
Al-Ghazali, teólogo muçulmano, explica: «De acordo com a hipótese considerada, foi estabelecido que todos os seres do mundo têm uma causa. Agora, deixe que a própria causa tenha uma causa, e a causa da causa tenha outra causa, e assim por diante, ad infinitum. Não é bom para você dizer que um retorno infinito das causas é impossível.»[5] Esta mesma ideia é defendida pelo filósofo cristão William Lane Craig: «[...] transcendendo o universo inteiro, há uma causa que levou o universo a ser ex nihilo [...] todo o nosso universo foi levado a existir por algo além dele e maior do que ele. Não é segredo para ninguém que uma das concepções mais importantes do que os teístas entendem por Deus
é o Criador do céu e da terra.»[6] Um dos grandes pensadores cristão, Tomás de Aquino, do Séc. XIII, deixou-nos cinco argumentos sobre os quais podemos nos debruçar para perceber o tema da existência de Deus. Aquino, apresenta cinco argumentos, denominados por ele como «As cinco vias», onde ele combina as ideias da teologia com o pensamento racional e as observações do mundo natural para provar a existência de Deus. Nos parágrafos seguintes serão analisados as «cinco vias», que preferi denominar de os «cinco argumentos» de Tomás de Aquino.
O Argumento do Motor Imóvel[7]
Podemos ver que existem coisas que estão em movimento neste mundo. Qualquer coisa que esteja em movimento foi posta em movimento por algo mais que estava em movimento. E esse objeto está em movimento porque foi posto em movimento por outro que estava em movimento, e assim por diante. No entanto, isso não pode retroceder infinitamente porque não haveria o motor original (e, então, não haveria o movimento subsequente). Portanto, tem de haver um motor imóvel no início, que seja entendido como Deus.
O teólogo cristão Wayne Grudem fala sobre um senso interior que a humanidade tem de Deus no qual ele explica que: «Todas as pessoas em todos os lugares possuem o profundo senso interior de que Deus existe, de que elas são suas criaturas e de que ele é o Criador delas. Paulo diz que até os gentios conheceram Deus, mas não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças
(Rm 1.21). Ele diz que os ímpios descrentes trocaram a verdade de Deus pela mentira (Rm 1.25), sugerindo que eles rejeitaram de forma ativa e intencional alguma verdade que conheceram a respeito da existência e do caráter de Deus. Paulo diz que
o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre