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João das Quantas e a Alcateia de Vila Nova
João das Quantas e a Alcateia de Vila Nova
João das Quantas e a Alcateia de Vila Nova
E-book85 páginas46 minutos

João das Quantas e a Alcateia de Vila Nova

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Sobre este e-book

João da Quantas é um homem desafortunado com sina para o macabro e o fantasioso. Ele corre Brasil afora na companhia de um Pererê pra lá de mal humorado, expurgando criaturas por algum troco.

Chamado à pequena Vila Nova, se depara com um povo ribeirinho em conflito com indígenas assentados. A região é assolada por capelobos: bestas meio homem, meio tamanduá capazes de retalhar quem se meter a besta com elas.
Na lida com um deles, João contrai uma maldição e fica com um tempo pra lá de curto para se livrar dela. Para isso, precisa dar cabo do patriarca dos Capelobos com a ajuda de seu Pererê e por fim as mortes e tensões da população local.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de mai. de 2024
ISBN9786583009067
João das Quantas e a Alcateia de Vila Nova

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    João das Quantas e a Alcateia de Vila Nova - Willa Costa

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    CAPELOBO

    João das Quantas abriu seu último corote e o sorveu até a metade num gole só. O veneno lícito queimou sua garganta e arrancou uma praga qualquer do homem, fazendo-o esquecer a dor. Ao seu lado, o corpo do tinhoso estava aberto com as tripas pra fora, deixando a clareira miasmar merda e sangue.

    Jogou um pouco da cachaça na ferida da perna onde o demônio o rasgara. Aquilo era ruim: se ele não encontrasse rápido o patriarca dos capelobos da região, logo estaria tão feio quanto o defunto ao seu lado. Pelos cresceriam por seu corpo e sua cara ficaria chupada como a de um tamanduá em toda noite de lua.

    João se recostou num ipê e cortou o jeans velho com um canivete. O corte feito pelas garras do capelobo eram superficiais, mas seria uma adição e tanto para sua coleção de cicatrizes. Por entre as sombras, alguém zombou:

    — Ha-ha-ha-ha! Vô me livrar de vossemecê logo, logo, preto véio.

    — Cala-te boca, tinhoso! — João retrucou. — Ocê armou pra riba d’eu, carniça!

    Os olhos vermelhos do Pererê se destacaram no breu adiante. Ele se moveu pela vegetação como se fosse fumaça e se formou na frente dele, chupando dedo. A carapuça que todos costumam retratar, nada mais era que o prolongamento rugoso da sua cabeça. Era um tentáculo manchado de vermelho que se destacava na sua pele carvão. Os braços eram secos, desproporcionais para o corpo diminuto. O único membro inferior era bem mais longo, terminando num pé com quatro falanges afiadas, sendo duas delas invertidas para dar sustento ao corpo feito um papagaio. Ao contrário do que se costuma ver dos pererês nos livros, esse era o próprio cão encarnado!

    — Não tenho estima por vossemecê, preto véio. Num se faça de perdido.

    — Diacho! — João resmungou enquanto puxava uma garrafa que trazia atrelada ao corpo por uma corda. — Ocê para de me encher os pacovás ou eu balanço essa garrafa até ocê se borrar todo, visse?

    O sorriso do Pererê esmaeceu e ele se foi com a bruma.

    João guardou a garrafa e se levantou com dificuldade. Agarrando o corpo peludo do capelobo pelas pernas, arrastou-o pela mata numa marcha pesada. A cada passo dado o defunto ficava mais leve, pois a carcaça se desprendia e revelava um corpo humano por baixo. João praguejou e aumentou o passo.

    Alguns paroquianos de Vila Nova ficaram horrorizados ao ver o corpo do pároco naquele estado. O rosto ainda tinha as feições de tamanduá, o que por si só corroborava com a história de João, evitando qualquer desavença.

    — Minha Nossinhora! — exaltou-se Joaquim, latifundiário da região que havia contratado o caçador. — Então o tinhoso era o padre Zé!

    — Era. — João confirmou com um sinal da cruz. — Mas não devia de ser o único não, visse? Acertei o parceiro dele nas ventas, mas não consegui dar cabo dele.

    As pessoas da vila começaram a sair de suas casas, curiosas pela

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