Contos Breves
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Sobre este e-book
Neste opúsculo estão reunidas pequenas narrativas inconscientes: digo isto porque na altura em que foram redigidas era tão jovem que nem sabia que estava a escrever um tipo específico de conto.
O conjunto daqui resultante é uma selecção e revisão de textos criados entre 1999 e 2007, período que corresponde, aproximadamente, à minha colaboração do DN Jovem (suplemento do Diário de Notícias direccionado para os jovens). Muitos dos textos aqui presentes foram lá publicados. Contudo, estão também incluídos alguns que estavam inacabados, tendo sido agora trabalhados.
Olinda P. Gil
Olinda Gil, mestre em Ensino pela Universidade Nova de Lisboa, é atualmente professora de Português no Ensino Básico e Secundário, mas reúne diversas experiências profissionais no currículo. Estreou-se na escrita no "DnJovem", suplemento do "Diário de Notícias". Foi 3o prémio do concurso literário "Lisboa à Letra" em 2004, na categoria de prosa. Editou, a título independente, em 2013 “Contos Breves”, e, pela Coolbooks, chancela da Porto Editora, “Sudoeste” (2016, 2014 em ebook) e “Sobreviventes” (2017, 2015 em ebook). Tem diversos contos publicados em ebook. Colabora com frequência em coletâneas e diversas publicações. Pertence à Direção da ASSESTA – Associação de Escritores do Alentejo.
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Contos Breves - Olinda P. Gil
por Sónia Duarte, editora do DnJovem entre 2001 e 2007
Consigo precisar a data em que conheci pessoalmente Olinda Gil. Coincide com um determinado evento da história do DN Jovem: uma tertúlia de confraternização realizada a 28 de Junho de 2003, nas proximidades da Avenida da Liberdade, conhecida sede do Diário de Notícias, em Lisboa. Do anúncio oficial, na página do suplemento, constava: «Não percam a ocasião para comentar ao vivo o trabalho daqueles que preenchem estas páginas e que irão estar presentes no encontro. (…) Todos, sem limites etários nem geográficos, serão bem vindos, inclusive ex colaboradores e aqueles que residem fora do distrito de Lisboa e que possam juntar se a nós». Foi o caso da Olinda que, sendo de Aljustrel, ficara em Lisboa propositadamente para o efeito, numa generosa demonstração de disponibilidade para com o outro que é tão característica da juventude, em especial, a que habita regiões menos povoadas, como o Alentejo, e que, talvez por isso mesmo, prezam mais a comunidade entre os seres.
O pintor e escritor alentejano Álvaro Lapa declarou certa vez: Disponível, disponível é a juventude. Mesmo que seja incapaz, incompetente, estouvada, destrutiva. Mas é disponível
. É, pois, para render justiça à disponibilidade e, logo, juventude, de Olinda Gil, que não pude recusar o convite para prefaciar este seu livro Contos Breves.
Recolecções pessoais à parte, nem sempre se tece o devido elogio à disponibilidade para a escuta e aprendizagem em que se coloca aquele que se submete à apreciação por juízo alheio, situação que é a do jovem que envia um seu trabalho para ser apreciado por um júri editorial de uma qualquer publicação.
Podemos evocar aqui algumas críticas que se tornaram famosas muito devido ao imprevisível desfecho que tiveram.
O caso Artaud Rivière em que o director da Nouvelle Revue Française recusou publicar uns poemas do jovem Antonin por os julgar inconsistentes, porém, este reclamou lhes direito à existência («…reivindico, com tanta insistência e inquietude, essa existência também abortada. E a pergunta para a qual eu gostaria de uma resposta é a seguinte: Você acredita que se pode conferir menos autenticidade literária e poder de acção a um poema defeituoso, mas semeado de intensas belezas, do que a um poema perfeito, mas sem grande repercussão interior? (…) Não se trata, para mim, nada menos do que saber se eu tenho ou não o direito de continuar a pensar, em verso ou em prosa.» - 05/06/1923) e, após uma longa mas cortês troca de correspondência, o sensível Rivière acaba por ser persuadido e acede a publicá los, na condição de serem acompanhados pelos argumentos da fértil discussão que se iniciara por carta («Julgue essa prosa sem considerar a questão de tendência, de princípios, de gosto pessoal, julgue a com a caridade da sua alma, com a lucidez essencial do seu espírito, repense a com o seu coração. Ela provavelmente indica um cérebro, uma alma que existem, a quem a um certo lugar retorna. Em favor da irradiação palpável dessa alma (…)» - 29/01/1924; «Eu estou disponível para a poesia. É apenas por causa de circunstâncias fortuitas e exteriores às minhas reais possibilidades que não me realizo.» - 07/05/1924).
No incidente Orpheu Dantas, a contra crítica teve uma repercussão tal que, ao longo do tempo, foi eclipsando cada vez mais a invectiva a que serviu de resposta: «Alguns rapazes, com muita mocidade e muito bom humor, publicaram, há dias, uma revista literária em Lisboa. Essa revista tinha apenas de notável a extravagância e a incoerência de algumas, senão de todas as suas composições. Como a recebeu a imprensa diária? Com o silêncio que merecia? Com as duas linhas indulgentes e discretas que é de uso consagrar às singularidades literárias de todos os moços? Não. A imprensa recebeu essa revista com artigos de duas colunas – na primeira página. A imprensa fez a essa revista um tão extraordinário reclame, que a primeira esgotou se e já se está a imprimir a segunda. Ora semelhante atitude está longe de ser inofensiva ou indiferente. Em primeiro lugar, consagra uma injustiça fundamental; em segundo lugar, favorece e prepara uma selecção invertida. Eu bem sei que o reclame a certas obras é às vezes feito à custa da veemente suspeita de alienação mental que pesa sobre os seus autores. Mas neste caso, como em outros muitos, é justo confessar que os loucos não são precisamente os poetas, mais ou menos extravagantes,