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Conto Branco de Saudade
Conto Branco de Saudade
Conto Branco de Saudade
E-book72 páginas57 minutos

Conto Branco de Saudade

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Sobre este e-book

Como lidar com a dor da perda? Com a culpa?

O branco que lhe impede de escrever pode vir do vício que tenta retomá-lo, da vida de que vem fugindo, da lembrança de seu fracasso, de toda forma de miséria que parece escolher para se punir. Revisitar o passado pode ser a única forma de escapar do ciclo, de buscar uma nova chance.

Contanto que acredite merecer.

IdiomaPortuguês
EditoraSonja Petz
Data de lançamento18 de dez. de 2014
ISBN9781311223753
Conto Branco de Saudade
Autor

Sonja Petz

Sonja Petz é uma poeta que às vezes escreve em prosa, embora sua prosa guarde um muito de poesia.Descendente de poloneses, Sonja se considera uma cidadã do mundo, sem pouso fixo, sem amarras, sem nacionalidade.Hoje aqui, amanhã...quem sabe?sonjapetz@outlook.com

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    Conto Branco de Saudade - Sonja Petz

    ~ Conto Branco de Saudade ~

    Sonja Petz

    Copyright © 2014 Sweet Thirteen Books & Sonja Petz

    Conto Branco de Saudade é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, locais e eventos são produtos da imaginação da autora ou usados ficticiamente.

    Capa: FerrisBar

    Um pouco atarantado, ele se sentou ao computador para escrever.

    Percebeu que o computador lhe causava medo. Vinha sentindo muito medo, desde que parou de sair com a Susi. Nem tanto pela Susi, mas pela cocaína da Susi, que foi embora junto com ela, e ele já havia se habituado bastante com ela (a Susi) chegando e jogando o saco de pó antes mesmo de beijá-lo, e não sabia bem se devia procurar sozinho, até por que achou que seria bom ficar sem cocaína, pelo menos por um tempo. Estava começando a se sentir fraco frente a ela (a cocaína), e não queria se (re)viciar, então fingia que não conseguiria sem a Susi, e que a falta que sentia era dela, e não do pó.

    Lembrava de Drummond e da poesia que não saía e inundava a vida inteira do poeta, e sentia-se um pouco assim com sua peça, que não saía, mas alagava sua existência. Há alguns meses acordava e vinha para o computador e escrevia textos desconexos e medíocres, que deletava logo em seguida. Mas sabia que um dia ela viria, a sonhada peça, e ele poderia digitar por dias e dias a fio, sem pensar em Susi, nem em cocaína, nem em nada, só no teatro lotado e no sucesso. Já estavam começando a cobrar, que sua última peça, a mais elogiada, estava fora de cartaz há meio ano e desde então não produzira mais nada. O dinheiro começava a acabar, ele começava a se desesperar, e vinha então uma vontade quase incontrolável de ligar para Susi e pedir que ela voltasse.

    Não podia dizer que ela fosse sua musa inspiradora, até porque o que menos fazia quando com ela era escrever, ou mesmo tentar. E, mesmo, não sentia falta dela, não tanta assim. E podia ser que sem ela conseguisse enfim vomitar o texto premente, e quem sabe não seria esse o melhor de todos, que todo mundo dizia que ele era um talento ainda pouco explorado, que podia render muito mais. E será que no fim não era a pressão de tudo isso que o impedia de escrever? Ou será que não passava tudo de desculpa para um branco que lhe esvaziava a mente?

    O medo fazia saber que não conseguiria antes mesmo de se sentar para escrever, e já começava sentindo-se derrotado. As teclas pareciam monstruosas, a tela vazia assustadora, o cinzeiro cheio nojento, e tudo feio e vulgar, sujo, grande e pegajoso.

    O apartamento parecia sufocante, e, enquanto derrubava cinza de cigarro nas teclas do computador, ele pensou que talvez devesse sair e ver pessoas, situações, coisas…refrescar a mente do que costumam chamar por aí de vida.

    Ultimamente só saía até a casa da Susi, que aliás era a casa mais casa que ele já havia visitado. Nunca antes havia visto tanto luxo, e tantas salas, quartos, banheiros, móveis, escadas, piscinas, tudo, tudo que ele pudesse querer, ou mesmo não querer, dentro de seu estilo quase socialista, como dizia ser.

    Era tudo não só delicioso, como cobiçante, e quando ia lá procurava se mostrar indiferente, mas via dentro de si uma inveja incontida do dinheiro que podia proporcionar tudo aquilo nas mãos da Susi, que não trabalhava, não produzia, não fazia nada além de cheirar e comer jovens talentos culturais—que gostava de cultura, lá isso era verdade, mas no fundo gostava mesmo era de saber que tinha na cama o mais novo talento do teatro, televisão ou cinema, não importando sexo, cor ou idade, que a Susi era mesmo muito eclética.

    E como ele sabia de tudo isso, aceitou ser comido, até por comodidade, por que sempre detestou buscar novos relacionamentos, e ela é que havia ido até ele. Era só relaxar e gozar. Sempre soube que não duraria, mesmo por que os jornais pararam de falar nele, a não ser para perguntar onde estava e por que não produzia mais, ou para dizer que o público continuava ansioso por mais uma peça. Foi mais ou menos por aí, quando a cobrança começou a ficar constante e direta, que ela anunciou que não vinha mais, e que ele também não deveria aparecer; que ela tinha planos maiores para o futuro, que talvez fosse viajar, e alguns daqueles et ceteras que sempre conseguimos para convencer o outro de que não é nada pessoal, mas ele sabia que ela já vinha sendo vista com a jovem escultora considerada a nova revelação no mundo das

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