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Guerreiros Escarlates
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Guerreiros Escarlates
E-book328 páginas5 horas

Guerreiros Escarlates

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Sobre este e-book

Deus investiu seus esforços em duas criações completamente diferentes, na terra que tinha criado em sete dias e chamado de Éden, fez o homem e depois a mulher a sua imagem e semelhança, nos céus onde reinava, bem antes de Adão e Eva, ELE tinha dado a vida a milhões de seres celestiais. E os amou e a toda a criação durante muito tempo. Contudo, depois de tanto tempo, ELE começou a perder algo que o mantinha e a todos que faziam parte de sua crença vivos no sentimento: a fé
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jun. de 2021
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    Guerreiros Escarlates - Thainá N Silva

    GUERREIROS

    ESCARLATES

    FICHA CATALOGRÁFICA

    GE1 Silva, Thainá Nascimento da.

    Guerreiros Escarlates/ Thainá Nascimento da Silva – Catu, 2007— 10/02/2020.

    215P

    Saga Guerreiros Escarlates.

    1. Anjos. 2. Fantasia. 3. Romance. 1º Título.

    GE, 1ª edição/2020

    Declarado em 08/12/2020 às 09:32

    O presente certificado comprova, mediante as tecnologias de hashcode (SHA 256), TimeStamping (Padrão UTC fornecido pelo BIPM - Bureau International des Poidset Mesures) e Assinatura Digital que a pessoa supra indicada se declarou autor da obra supra citada. O presente comprovante está em conformidade com: Berne Convention (INTL), Metre Convention (INTL), Lei 9.610 (BR), WIPO

    Copyright Treaty (INTL), US Copyright Law (US), UCC Geneva (INTL) e demais legislações pertinentes ao Direito Autoral de países membros da Convenção de Berna (INTL) e da Convenção do Metro (INTL).

    Quaisquer inconsistências quanto à autoria da obra supra declarada são de exclusiva responsabilidade do declarante e se falsas, podem configurar crime em alguns países.

    Catu/BA

    Índice

    Prólogo .................................................................................................................. 6

    A minha história .................................................................................................... 7

    À primeira vista ................................................................................................... 15

    Uma particularidade ............................................................................................ 27

    Eis que aparece .................................................................................................... 45

    Despertei para um novo dia ................................................................................. 65

    Um sinal de sorte ................................................................................................. 76

    Mais perto do que parece .................................................................................... 95

    O aguardado baile à fantasia ............................................................................. 104

    Você o conhece mesmo? ................................................................................... 121

    Maus agouros ao nosso redor ............................................................................ 140

    Aprendi que nada é por acaso ........................................................................... 151

    Então o que vocês são? ...................................................................................... 161

    Atrás do objeto almejado................................................................................... 181

    Quem é você? .................................................................................................... 194

    A batalha é só a propaganda da guerra.............................................................. 204

    Quando nada volta ao normal ........................................................................... 214

    Quando o ser humano teme a própria morte e quando ele começa a acreditar que há algo com qual não possa lidar, primeiro ele entra em negação e depois sente medo, e esse medo o destrói.

    Sasha Archan

    Prólogo

    No início, quando tudo o que existia era apenas as trevas, Deus fez a luz e dessa forma a escuridão separou-se do brilho e disso, se fizeram noite e dia. Daí em diante, ele fez os mares e ergueu terras em todas as partes destes, criou diversas espécies amenamente pensadas para se completarem e conviverem bem umas com as outras.

    Também fez o céu, o qual durante o dia reinava o astro de luz chamado sol e durante a noite, a lua e milhões de estrelas, das mais puras luzes, iluminavam o horizonte.

    Para se encarregar de toda essa criação, Deus investiu seus esforços em duas criações completamente diferentes, na terra que tinha criado e chamado de Éden, fez o homem e depois a mulher a sua imagem e semelhança, nos céus onde reinava, bem antes de Adão e Eva, ele tinha dado a vida a milhões de seres celestiais. E depois de tantos feitos e algumas decepções no meio do caminho, Deus descansou.

    Foi nesse período de seu descanso que ele recebeu a visita do anjo que o traiu, em uma história muito antes da criação. Ele se colocou em sua presença alegando estar coberto por um véu de humildade, coisa que o Príncipe Soberbo não tinha, não mais.

    Então eles tiveram uma longa conversa e desde já um acordo foi feito entre as duas potências, depois disso o demônio deixou o céu e Deus se ocupou com o destino de sua nova criação.

    Ele esteve muitos anos caminhando lado a lado dela, recebendo renúncia, traição ao seu nome, desonra e repulsa a sua existência, mas ainda havia muitos que honravam seu nome, que oravam e clamavam por suas famílias e filhos, e por conta destes, Deus amou a toda a criação durante muito tempo. Contudo, depois de longas décadas, Ele começou a perder algo que o mantinha e a todos que faziam parte de sua crença vivos no sentimento: a fé.

    A minha história

    Mia estava sentada na janela do apartamento encarando os carros lá embaixo cruzarem a rua como normalmente faziam, mas cansou de observar aquele mesmo movimento de um lado a outro e voltou-se ao seu livro esperando encontrar um conteúdo melhor do que a vida das outras pessoas lá fora que ela não conhecia.

    Percebeu quando encarou a folha do livro à frente do seu rosto que não se lembrava mais o que tinha lido nas duas páginas anteriores. Perguntou-se quantas vezes tinha lido aquelas páginas para entender o que havia nelas, ela precisava terminar a resenha daquele livro estúpido para a disciplina de literatura ou acabaria tento que repeti-la.

    Só que sinceramente tudo o que ela menos tinha naquele feriado, era paciência para ler aquela coisa, então deixou o livro de lado atirando-o sobre a mesinha de centro da sala. O professor Adam que a perdoasse, mas de toda a forma prometeu a si mesma que mais tarde tentaria novamente, afinal não queria ficar com um histórico ruim.

    Andou pela sala desviando do sofá a sua frente dirigindo-se até o seu quarto, no apartamento havia mais dois, e estes pertenciam as suas duas melhores amigas, Dulce e Lua. Mia as tinha conhecido a exatos oito meses atrás quando adentraram a universidade juntas e resolveram alugar um apartamento na cidade invés de se locomover todos os dias até lá.

    No momento Dulce e Lua não estavam presentes, elas tinham saído da cidade sob desculpa de ir visitar a família, mas elas logo estariam de volta. Mia por sua vez não tinha essa necessidade, ela se comunicava bem com seus pais pelo telefone, então não precisava viajar para vê-los. Além do mais, não era a pessoa mais apegada do mundo, principalmente sendo filha adotiva.

    6

    Enquanto caminhava, passou pelos quadros coloridos pendurados em sua parede, tinha molduras de cores diferentes e proporcionavam lembranças de alguns dos momentos mais importantes e divertidos de sua vida, como seu aniversário de quinze anos em que tinha viajado sozinha para a Chapada Diamantina, o lugar de todo o mundo que ela mais queria conhecer na vida. Entretanto, lembrou-se que seus pais tinham ligado para ela o tempo inteiro para saber como estava e se esteve se cuidando fazendo parecer que eles estavam lá o tempo todo. Havia um quadro dos dois na sala também e por mais que não fosse tão afetuosa, os amava demais, só não era do tipo de demonstrar.

    Em um dos quadros havia uma foto de Mia com suas duas melhores amigas. Mia tinha encontrado naquelas duas tudo o que precisava, quando estavam juntas sempre havia risos e muito divertimento e elas tinham criados laços de amizade muito forte, tão fortes que parecia que se conheciam por uma vida inteira, embora ela ainda faltasse saber muito sobre as duas.

    Ela parou para olhar a foto em que estavam as três de frente ao apartamento, contentes por tê-lo conseguido. Depois voltou a caminhar em direção ao banheiro, queria dar uma volta, pensou primeiro em ir em uma livraria e quem sabe pudesse depois disso sair pela cidade tirando algumas fotos, era seu hobbie preferido.

    Mia tinha descoberto, depois de uma recomendação, que livros nacionais eram sua nova paixão, se surpreendia pela quantidade de criatividade e dedicação que tinham os autores nacionais, num cenário tão precário e seletivo quanto o mercado editorial brasileiro. No entanto, ainda era apaixonada pelos bons internacionais, não faria escolha de suas leituras pela nacionalidade.

    Depois que saiu do chuveiro procurou pela toalha e a enrolou no corpo, dirigiu-se até o espelho e ficou por um tempo encarando a bela negra que tinha surgido, de longos cabelos ondulados que muito a assemelhariam a uma índia se acaso não os tivesse pintando no tão popular estilo sereia, ela tinha grandes cílios que a atrapalhavam as vezes, principalmente quando inventavam de cair dentro dos seus olhos.

    Foi até o guarda-roupa, vestiu-se com uma peça confortável, voltou ao banheiro apenas para passar o pente nos fios e evitar que eles embaraçassem. Calçou os pés e então pegou seu celular, seus fones de ouvido, uma câmera fotográfica profissional que 7

    tinha ganhado do seu tio que morava no exterior e gostava de passar na cara de todos o quanto sua vida estava indo bem, não que ela ligasse para isso, por que sinceramente só estava começando a dela.

    Jogou tudo isso em uma bolsa pequena, capturou os óculos escuros sobre a cômoda do seu quarto, colocou-os sobre a cabeça e caminhou em direção a porta do apartamento, sem esquecer de antes de sair pegar suas chaves e suas companhias de bolso, pequenos livros de literatura de verdade. Com tudo isso, ela estava mais do que pronta para passar uma ótima tarde sozinha.

    Seguiu pelas escadas do apartamento por que tinha fobia de andar de elevador e mesmo assim, ele sempre estava lotado de gente, talvez daí viesse o seu medo.

    Na portaria cumprimentou a todos os vizinhos que não se importavam em sequer saber o nome dela e quando estava na rua, enfiou os fones nos ouvidos e os óculos no rosto e embarcou em uma viagem sem volta até os seus pensamentos.

    Ora ou outra em que se perdia em uma das várias fantasias que tinha enquanto sua mente trabalhava ao estilo musical de Lindsay Stirling, sentia uma pontada de culpa surgir por sua despreocupação em terminar o trabalho. Somente parou de pensar nisso quando prometeu a si mesma que quando chegasse, ela finalmente sentaria para fazer o trabalho.

    Caminhou pelas ruas até o ponto de ônibus mais próximo, antes de qualquer coisa ela precisava almoçar e como não tinha paciência para ficar atrás de um fogão por muito mais do que dois minutos, resolveu que almoçaria na rua em algum restaurante local confortável. Pensando nisso, ela pegou o próximo ônibus que passou no seu ponto de visão, não importava muito qual deles pegasse, todos paravam no centro.

    Entrou ainda distraída nas suaves notas do violino, então se sentou na cadeira mais próxima a saída, pois sabia que não demoraria a chegar. Encarou-se pela janela de vidro e então se permitiu olhar além do seu reflexo o mundo que corria diante dos seus olhos.

    Mia tinha muitos sonhos para o seu futuro, tinha muitas coisas planejadas para aquele ano, tinha prometido que as viveria uma de cada vez. Antes de tudo o seu principal objetivo era passar em todas as disciplinas sem precisar fazer prova final de 8

    nenhuma delas, pensou em participar mais dos eventos acadêmicos que aconteciam em outras cidades e quando tivesse tempo, passear com Dulce e Lua, afinal fazia pouco tempo que estavam nela, precisavam conhece-la ao máximo antes de se formarem.

    Ficou observando o movimento das pessoas ao entrarem e saírem do ônibus, tinha algo de muito espetacular nas histórias que sua cabeça criava para cada pessoa. Mas achou que era melhor encerrar sua atividade antes que elas se sentissem incomodadas, só estava a alguns meses na cidade, não sabia ainda como era a personalidade das pessoas dali.

    Ultimamente, ela tinha se sentido bastante solitária, não só por que Dulce e Lua não estavam no apartamento, mas por que tinha terminado com seu namorado e eles dois tinham vivido juntos por dois anos inteiros. Ela tinha a noção de que muitos relacionamentos ainda mais duradouros tinham terminado por menos, mas era um pouco complicado quando ela já tinha o costume de fazer tudo ao lado dele, eram bons amigos e parceiros, e quando se separaram, ela teve de reaprender a fazer tudo sozinha.

    Por um lado, até que tinha sido um bom autoconhecimento de si mesma, e Deus sabe o quanto ela esteve precisando disso.

    Só que, às vezes, na calada da noite, enquanto estava sozinha em sua cama, ela pensava nele e no quanto ainda o amava. Teria sido mais fácil esquecê-lo se ele tivesse cometido um erro sequer, mas ele tinha sido perfeito, atencioso, gentil e um verdadeiro amigo, a razão que os levaram a estarem separados era por que Mia ia começar uma vida nova em um lugar distante demais para ele desistir de tudo e simplesmente ir com ela, e ela sequer poderia pedir que ele fizesse algo como isso. Ele tinha a própria vida, os próprios sonhos, então eles apenas decidiram juntos seguir caminhos diferentes sem nunca esquecer o quanto o outro os ensinou.

    Viu seu ponto se aproximar e levantou-se da cadeira, saltando do ônibus logo quando parou. Seguiu caminhando pela rua procurando algum lugar que chamasse sua atenção, então avistou um restaurante familiar do outro lado da rua e a atravessou.

    Assim que chegou à porta do estabelecimento, sentiu o cheiro maravilhoso que vinha do lado de dentro, decidiu que era o lugar perfeito para parar.

    9

    Ela entrou, deu uma boa olhada no ambiente, não estava tão cheio quanto esperava, serviu-se e sentou-se na mesa para degustar sua comida. Mal colocou uma garfada na boca quando seu celular começou a tocar, aproveitou-se de ainda estar com o fone para atender a ligação.

    — Bom dia Mia! – ela ouviu a voz de Dulce na ligação.

    — Fiquei imaginando quando receberia uma ligação de vocês, me esqueceram completamente – ela brincou tentando falar e comer ao mesmo tempo.

    — Não seja tão dramática, além do mais eu liguei para te avisar que estou voltando amanhã.

    Pelo menos uma boa notícia! Ela pensou sozinha e então notou que seu celular vibrava em sua mão e que havia outra ligação esperando ser atendida.

    — Um momento Dulce – visualizou a tela do aparelho celular apenas para confirmar que quem ligava para ela era Lua.

    Mia as colocou em uma chamada em vídeo e sem demora as duas garotas surgiram em minúsculos quadrados no canto de sua tela. Ela ficou realmente agradecida por suas colegas de apartamento serem pessoas boas que desejavam verdadeiramente o melhor para ela, assim como ela desejava as duas. Era não era a pessoa mais paciente do mundo, então não saberia como lidar com pessoas que achavam que eram o sol e tudo o que respirava girava em torno delas.

    — Liguei em boa hora – Lua comentou passando o olho no prato de Mia, mesmo que ela também estivesse almoçando.

    — O que andam fazendo? – Mia conseguia sentir o olhar observador das pessoas sobre ela, mas não se importava muito com a opinião delas, então continuou do mesmo jeito que estava.

    — Estou arrumando as malas para voltar – Dulce abriu a visão da câmera do celular para algumas peças de roupa — Gente eu adoro viajar, mas odeio arrumar mala.

    — Você já está voltando? – Lua a questionou.

    — Sim, amanhã de manhã cedinho – avisou a mesma, pelo menos era essa sua pretensão.

    10

    — Hum sendo assim acho melhor eu comprar minha passagem – Lua deixou de lado seu prato semivazio para pegar o notebook e Mia foi percebendo que pouco a pouco a ligação que era para ela, foi se transformando em uma conversa das duas — Ei soube que abriu um shopping novo por aí, o que acha de amanhã depois de chegarmos irmos até lá?

    — Acho uma ótima ideia – Mia concordou enquanto terminava o seu almoço, pensou que poderia só deixa-las falar enquanto fazia isso, mas seu celular vibrou novamente e ela pensou que uma das meninas tinha enviado alguma coisa para ela, mas ao direcionar o olhar para a tela ficou surpresa ao perceber que era uma mensagem do seu ex-namorado, fazia um tempo desde que eles tinham conversado, quase duas semanas.

    Ela sentiu seu coração bater mais forte e como se conseguisse ler a sua vida, a música de fundo só ajudou a se sentir ainda mais boba.

    — Que cara é essa? – Dulce questionou quando a viu através do seu visor, aquela expressão no rosto da sua amiga só podia significar uma coisa, e Dulce sabia bem do que se tratava.

    — Ah nada! – omitiu se concentrando antes em terminar o almoço e a conversa com as meninas, para depois conferir com mais calma a mensagem — Eu espero que cheguem cedo!

    — Passagem comprada! – Lua avisou as duas distraídas — Bem lindas, agora eu vou ter que ir, tenho que arrumar a bagunça que fiz na casa antes de ir embora, então beijo e tchau meninas!

    — Tchau tchau – Mia acenou um tchauzinho para a câmera e Lua sumiu de sua visão — Eu vou ter de desligar também, já estou de saída.

    — Tudo bem, eu ligo mais tarde – Dulce decidiu não insistir demais no assunto, afinal ela não tinha nada a ver com aquilo.

    Mia assentiu desligando a chamada. Ficou com um pouco de receio de conferir a mensagem e se deixar levar, ela já estava bem com a ideia de terem terminado ou tentando ficar na verdade, tudo o que ela menos precisava naquele instante eram esperanças. Depois pensou que não havia nenhum mal em verificar a mensagem, eles 11

    tinham dito que continuariam sendo amigos, então provavelmente ele apenas queria conversar.

    Acessou o aplicativo apenas para ver um bom dia, admitiu para si mesma que aquela mensagem era um pouco decepcionante, pois no fim ela estava totalmente certa.

    Ainda assim, respondeu com um bom dia acrescentando um rostinho feliz a mensagem, para comunicar a ele que estava tudo bem com ela.

    Terminou o seu almoço e levantou-se da mesa logo em seguida, seguindo a recepção para pagar a conta e deixar o estabelecimento.

    Mia deixou o estabelecimento muito satisfeita com a refeição, seguindo para a praça para descansar um pouco do almoço. Passou um tempo apenas sentada em um banco de pedra com seus fones de ouvido, vendo alguns idosos sentados jogando dominó, alguns pombos passeando em meio as pessoas em busca de qualquer coisa que pudesse cair no chão e alimentá-los, das pessoas que iam e vinham e começou a pensar nas diversas histórias que aquele banco onde estava sentada contava. Quantas pessoas estiveram sentadas nele observando o mundo como ela fazia? Não achou que muitas, o mundo atualmente estava apressado demais para um momento com aquele.

    Se fosse na época dela, a praça estaria cheia de crianças brincando de se esconder ou de amarelinha, era trágico ver uma criança de quatro/cinco anos de idade com um celular na mão e os olhos grudados na tela. Mas tinha que admitir, as mães tinham ficado mais jovens desde a geração anterior, elas não sabiam muito bem como cuidar de crianças dessa geração. Ela ficava se perguntando se foi isso que aconteceu com ela, se sua mãe biológica a tinha dado para a sua mãe de criação por que era jovem demais e não sabia como lidar com ela.

    Cada vez que ela se sentava em algum lugar para refletir sozinha, acaba chegando à conclusão que todo problema acarretava mais de um acontecimento para existir. Tudo dependia de um fator anterior, ela só tinha interesse em saber quais os fatores anteriores a levaram até sua família, por que ela sabia exatamente o que a levou a ser como era.

    Mia removeu sua câmera da bolsa achando que havia algumas cenas valiosas a se capturar, então se aproximou dos senhores pedindo licença para tirar uma bela foto 12

    deles, eles foram simpáticos e disseram que estava tudo bem, ainda assim não pararam a jogatina por nada, e ela fotografou cada sorriso e cada emoção por vencer uma partida.

    Se aproximou dos pombos esperando longos minutos até poder capturar o momento exato em que um deles voava, e também encontrou um curioso morador de rua meio alcoolizado, ele começou uma conversa fiada sobre como ela era bonita e ela lhe devolveu na mesma gentileza e pediu para tirar uma foto dele, o homem se empolgou e fez pose, uma atrás da outra e as lentes da câmera de Mia capturaram cada pequeno momento que fazia do próprio ato da vida algo tão esplêndido.

    — Obrigada! – ela disse com um grande sorriso para o homem que se afastou satisfeito indo perturbar outras pessoas.

    Como não ficaria ali a tarde inteira, comprou um sorvete para sustentar seu vício em doces e então seguiu de volta ao ponto de ônibus, seu próximo destino era a praia.

    Ela não morava muito distante da praia, tinha escolhido o apartamento pensando principalmente nisso, então o caminho até lá foi curto.

    Ela desceu do ônibus sentindo a brisa salgada tocar seu rosto, removeu seus sapatos colocando-os dentro da bolsa, ela teve de ficar aberta, mas não tinha nenhum problema nisso. Caminhou até mais próximo da água, não havia nada no mundo mais lindo e infinito para Mia que o mar, a visão das ondas se quebrando e o barulho que elas faziam, o incrível movimento finito de ir e voltar sem ultrapassar seus limites, era algo que ela não conseguia explicar.

    Ergueu sua câmera como alguém que sempre está à espera do momento certo.

    Fotografou o sol no céu, os surfistas nas ondas, elas quase nem mais existiam, o mar começava a se acalmar naquele horário. Ela registrou a briga entre dois pequenos siris por um buraco, o trabalho árduo e suado de alguns dos vendedores que perambulavam a tarde toda na praia e depois de tudo isso, ela colocou a bolsa no colo, guardou a câmera, foi até a sombra de um coqueiro, abriu o seu livro e colocou-se a ler linhas e mais linhas de pura e fantástica literatura.

    Sem se importar com a areia no corpo, ela se entreteve com a história desconstruída de uma princesa que salva a ela mesma cansada de esperar por um príncipe, embora ela fosse em boa parte como aquela princesa, uma parcela de Mia 13

    desejava ainda que existisse um conto de fada em sua vida, e que encontrasse o seu príncipe, não para salvá-la de qualquer coisa, mas para viverem uma longa vida de amizade, companheirismo e amor.

    Ela removeu os olhos do livro por alguns segundos para fitar as pessoas e o mar, se perguntou se talvez tivesse deixado seu príncipe encantado para trás quando terminou seu relacionamento, se esse fosse o caso ele certamente a alcançaria, mas ela não podia voltar para trás ou ficar parada no meio do caminho, sabia que não era o melhor para nenhum dos dois.

    Voltou a sua ficção sem ver o sol baixar hora atrás de hora, ela estava ocupada demais em seu próprio mundo.

    ...

    Por muito pouco Mia não tinha perdido seu ponto, saltou às pressas do ônibus agradecendo pelo mesmo parar bem perto de seu apartamento. Esfregou os olhos tentando acordar direito e mal percebeu quando um jovem se aproximou correndo, ele agarrou sua bolsa e achou que iria muito longe com ela, mas Mia agarrou-o pela gola da camisa atirando-o no chão.

    Desde sempre seus reflexos de sobrevivência ou defesa eram muito bons, ela não sabia exatamente por que conseguia fazer as coisas que fazia, mas os anos em que seus país tinham investido em aulas de karatê não a tinham ajudado a controlar seus impulsos.

    — Me desculpe! – pediu ela ao garoto que estava no chão resmungando da dor nas costas.

    — Você é um ninja ou alguma coisa assim tia? – aquilo com certeza não era nenhum elogio.

    Mia revirou os olhos para a pergunta dele, já tinha ouvido isso de outras crianças, mas não era algo da qual se orgulhava, acaba machucando muitas pessoas por causa disso.

    — Cai fora daqui! – ela puxou a bolsa de volta para si.

    14

    O garoto fechou a cara e ergueu-se do chão, depois fez uma expressão feia com o dedo do meio e simplesmente se afastou dali correndo. Bem, pelo menos Mia não tinha perdido as suas coisas, entretanto tinha ganhado a atenção das pessoas na rua. Ela realmente detestava chamar a atenção das pessoas para ela.

    Adentrou o apartamento parando na recepção apenas para dar um oi a Jorge, o porteiro do turno da tarde. Cumprimentou a pequena Laurinha quando a viu correr pelo corredor com sua mãe nada interessada na criança vindo logo atrás dela, grudada ao telefone como sempre, não que Mia quisesse ser mãe, mas se fosse jamais descuidaria de sua criança daquela forma.

    Ainda observando as duas sumirem pelo corredor, girou a chave na porta e assim que entrou o livro sobre a mesinha de centro foi a primeira coisa que saltou as suas vistas, como um lembrete de que sua tortura não tinha acabado ainda.

    — Não tem outro jeito, não é mesmo? – questionou o livro como se ele pudesse responde-la.

    Aproximou-se dele pegando os materiais necessários para começar logo a produção daquela resenha. Cada linha lida era uma tortura mental diferente, então para aliviar um pouco o clima da sala resolveu ouvir um pouco de música. E ao som de sua banda preferida foi muito mais suave retirar o trabalho de sua mente.

    15

    À primeira vista

    Dulce mal via a hora de oficialmente atravessar a porta do apartamento e poder dizer que finalmente tinha chegado em casa, o seu final de semana não tinha sido o suficiente para descansar da faculdade e o voo não tinha sido um dos mais tranquilos por causa de um animal doméstico que alguém tinha levado consigo. Mas estava agradecendo por estar finalmente diante do seu temporário lar.

    Complicou-se um pouco para pegar a chave em sua bolsa, não queria que nenhuma das várias sacolas com as lembranças que tinha trazido caíssem no chão, mas quanto mais tentava, mas coisas caiam de suas mãos e no fim estava frustrada com metade de suas compras espalhadas no corredor.

    — Espero que não deixe nada disso aí – a adorável Rosa com sua educação de ouro fuzilou a garota fazendo um questionamento mental.

    Dulce por sua vez apenas a encarou da mesma forma por alguns segundos e colocou-se a pegar cada uma de suas coisas, até por que não tinha a intenção de deixa-las por ali mesmo. Ficou surpresa quando uma mão conhecida estendeu a ela alguns dos objetos recolhidos e depois ficou feliz

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