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O fim da América: Carta de aviso a um jovem patriota
O fim da América: Carta de aviso a um jovem patriota
O fim da América: Carta de aviso a um jovem patriota
E-book265 páginas3 horas

O fim da América: Carta de aviso a um jovem patriota

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Sobre este e-book

Um país é uma comunidade política e cultural organizada em torno de uma narrativa, de um mito das origens, de um conjunto de ideais com que se relaciona e que o ajudam a estruturar. Um país é uma ficção verdadeira.
Uma coisa em que muitas pessoas decidem acreditar. O país de ideias de Naomi Wolf é feito pela Carta dos Direitos e pela Constituição, pela Magna Carta e pelo habeas corpus, e por uma tradição de diversidade e acolhimento. (…) Esse país está ameaçado, não pelos terroristas, mas pela reação dos americanos ao terrorismo.
Uma das passagens mais impressionantes do livro (…) é aquela em que a autora cita cartas e diários de pessoas que viveram sob o nazismo.
E nós perguntamos: mas elas não sabiam? Sabiam, em parte, e poderiam descobrir o resto. Mas essas pessoas vindas do passado poderiam também encarar-nos e perguntar: e vocês, não sabem agora?
Por detrás dessa pergunta está a explicação de por que é que os países que não se perdem são todos iguais: os países que não se perdem precisam de ser ganhos todos os dias, com conhecimento todos os dias, com ação todos os dias, com civismo todos os dias. Não perder um país é a coisa mais difícil de todas: exige esforço quotidiano. Mas perder um país, — essa é grande lição deste livro — embora cada país se perca de uma maneira diferente, é a coisa mais fácil do mundo: basta não fazer nada.

Como perder um país (do prefácio) - Rui Tavares
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de set. de 2012
ISBN9789898407641
O fim da América: Carta de aviso a um jovem patriota
Autor

Naomi Wolf

Naomi Wolf is the author of seven books, including the New York Times bestsellers The Beauty Myth, Promiscuities, Misconceptions, The End of America, and Give Me Liberty. She writes for the New Republic, Time, the Wall Street Journal, the New York Times, Huffington Post, Al Jazeera, La Repubblica, and the Sunday Times (London), among many other publications. She lives with her family in New York City.

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    O fim da América - Naomi Wolf

    Naomi Wolf

    o fim da américa

    Carta de Aviso

    a Um Jovem Patriota

    como perder um país

    Considerem-se três notícias recentes, todas portuguesas:

    — Um tribunal de primeira instância ordenou que o movimento de jovens trabalhadores precários apagasse, no seu blogue, comentários que denunciavam práticas ilegais de recrutamento e utilização de mão-de-obra porque a empresa em questão se sentiu «atingida na sua honra». O tribunal não quis averiguar se os factos relatados por pessoas que diziam ter sido vigarizadas por esta empresa eram reais ou não. Na prática, considerou que a «honra» de uma empresa merecia mais proteção do que as denúncias das vítimas dessa empresa.

    — Um outro tribunal, mas de recurso, condenou um advogado por este ter gravado e denunciado uma tentativa de corrupção e ter colaborado com as autoridades na investigação da mesma, dando assim mais proteção ao corruptor do que à descoberta da verdade. Na prática, a mensagem é: se souber de alguma tentativa de corrupção, não a denuncie nem colabore com as autoridades.

    — Para terminar, um ex-diretor dos serviços secretos, agora no setor privado, mandou reunir um dossiê sobre um competidor direto dos seus novos patrões, incluindo rumores sobre a sua vida privada. Em paralelo a este caso, uma jornalista foi ameaçada com a divulgação na internet de boatos sobre a sua vida privada, por um ministro incomodado com as investigações dos vínculos que mantinha com o ex-espião.

    Todo o português informado, num dia de 2012, conhece estas três histórias, talvez até pelo nome: «caso precários inflexíveis», «caso Ricardo Sá Fernandes», «caso secretas/Miguel Relvas». No momento em que foram publicadas, todas estas notícias geraram escândalo, cada qual à sua maneira. Mas em nenhum caso o escândalo inverteu a dinâmica que já vinha de trás: as decisões judiciais estavam tomadas e, no último caso a jornalista demitiu-se, mas não o ministro. Em dias, semanas ou meses serão esquecidos os pormenores, os nomes, os «casos». Ficará apenas o sentido, que julgo ser o seguinte: um jogo tão viciado que a justiça se tornou numa simples ferramenta de execução e reforço das desigualdades, e no qual os poderosos têm as suas próprias regras.

    Quando estas notícias tiverem desaparecido, serão substituídas por outras, até ao ponto em que entrarão no sistema circulatório, e um dia serão como a linfa e o sangue da nação. Em lugar delas ficará apenas a sensação de que o país já não pertence aos seus cidadãos, a suspeita de que provavelmente nunca chegou a pertencer, que um país com mais de 800 anos pode ser um lugar no qual as pessoas são apenas uma espécie de inquilinos tolerados pelos donos do lugar enquanto tiverem alguma utilidade e convidados a emigrarem quando deixarem de a ter.

    É assim que se pode perder um país.

    Podem até perder-se países que nunca chegámos a ter. Enquanto escrevo, as notícias mais recentes são sobre a crise da zona euro. Políticos alemães aconselham políticos gregos a voltarem para a sua antiga moeda, o dracma. Títulos da dívida espanhola vendidos apenas a juros de nível insustentável. Depositantes em bancos italianos transferindo o seu dinheiro para bancos luxemburgueses. Empresas portuguesas pagando os seus impostos na Holanda. Dizia Robert Schuman, em 1950: «não se fez a Europa, tivemos a guerra…». As velhas inimizades que o projeto europeu era suposto enterrar renascem agora em versão menor, ou simplesmente mesquinha.

    ***

    No célebre início de Guerra e Paz, Tolstói escreveu que «todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz à sua maneira». Também todos os países que não se perdem são iguais. Mas cada país perdido foi perdido à sua maneira. Um país pobre não se perde como um país rico. Um país poderoso perde-se pelos seus poderosos, e um país impotente perde-se pela sua impotência. Um império e uma colónia podem perder-se de forma concomitante, se o que os une/divide é o mesmo colonialismo, mas não se perdem da mesma maneira.

    O livro de Naomi Wolf que o leitor tem entre mãos é fundamentalmente motivado por este sentimento de perda — a noção de que o país da autora está à beira do fim e pode acabar. É claro, quando um país acaba o território não sai do lugar; embora, em alguns casos de países desaparecidos, desapareçam a bandeira o hino e as instituições eleitas, não é disso que Naomi Wolf fala em O fim da América; neste caso, a autora não está receosa de que as fronteiras saiam do lugar; não teme que uma potência estrangeira substitua o presidente por uma marioneta; e não espalha o medo de que uma «quinta coluna» leal a um país estrangeiro conspire para tomar o poder por dentro.

    Mas um país é mais do que linhas de demarcação e guaritas nas fronteiras. Um país é uma comunidade política e cultural organizada em torno de uma narrativa, de um mito das origens, de um conjunto de ideais com que se relaciona e que o ajudam a estruturar. Um país é uma ficção verdadeira. Uma coisa em que muitas pessoas decidem acreditar.

    O país de Naomi Wolf, em consequência, é uma coisa mais fácil de destruir por dentro do que por fora. Paradoxalmente, sendo um país poderoso, Naomi Wolf acredita que ele fica mais fraco quando faz demonstrações de força. Fazendo de si mesmo um império, destrói a república que foi. Ao achar que defende os seus valores contra tudo e contra todos, é a sua alma que aniquila.

    O país de ideias de Naomi Wolf é feito pela Carta dos Direitos e pela Constituição, pela Magna Carta e pelo habeas corpus, e por uma tradição de diversidade e acolhimento. Podemos discutir o que há de imaginário e de real nesse país, como no país de cada um de nós. Nos Estados Unidos da América do novo milénio, sob o trauma dos ataques terroristas a Nova Iorque e a Washington, esse país está ameaçado, não pelos terroristas, mas pela reação dos americanos ao terrorismo. Pelas prisões secretas. Pelos sequestros e «rendições extraordinárias». Pelo campo de concentração de Guantánamo. Pelos tribunais sem garantias de defesa, Pelas escutas telefónicas a cidadãos nacionais e estrangeiros. Pela pilhagem dos dados pessoais de toda a gente que faz uma transferência bancária, viaja num avião ou envia um email. Pela retórica de caça às bruxas. Pelo assédio a todos os que não trazem o patriotismo na lapela.

    É sobre essa degradação de uma ideia de país que escreve Naomi Wolf. Mas quando o génio sai da lâmpada não só é difícil voltar a pô-lo lá dentro como é impossível evitar que ele não contamine os outros países. Os custos do Grande Medo que durou toda a primeira década do nosso milénio ainda não foram contidos.

    Alguns pagam-se muito perto, e quanto menos lembrados, mais perigosos são.

    É pouco conhecido que os eua pilharam, a partir de 2001, os dados das transferências bancárias dos europeus, sem dar conhecimento do facto aos que eram os seus maiores aliados. O escândalo só veio a ser descoberto em 2006 e chamado de «caso swift» — pelo nome em inglês do sistema mundial de transferências financeiras interbancárias — e, menos conhecido, pelo acrónimo tftp do programa da administração americana «Terrorist Finance Tracking Program». Após anos de negociações, os europeus acabaram por fazer um acordo para a pilhagem dos seus próprios dados(!), que chumbou numa primeira passagem pelo Parlamento Europeu, acabando por ser aprovado numa segunda versão após algumas concessões. Passado alguns anos, a Comissão Europeia apresentou o seu próprio programa eu-tftp, que permitirá aos europeus fazerem a si mesmos aquilo que tanto os escandalizou que lhes fosse feito pelos norte-americanos.

    Algo de muito semelhante se passou com o programa pnr — de «Passenger Names Records» — que segue os movimentos de toda a gente que viaja de avião para os eua, e recolhe as informações de milhões de pessoas em 19 campos diferentes, incluindo morada, cartão de crédito, número de telefone, email, preferências alimentares (que permitem inferir a religião do passageiros) e muitos outros dados. Essa recolha era feita ao abrigo de um acordo provisório que, segundo a convicção de muitos juristas, violava a diretiva de proteção de dados da União Europeia — e o Parlamento Europeu chegou a pôr o acordo em tribunal para prová-lo. Não só a Comissão Europeia e a Casa Branca assinaram um novo acordo, como a Comissão avançou também com uma proposta para fazer um sistema equivalente a nível europeu — eu-pnr — não só dedicado às viagens para a União Europeia como às próprias viagens internas entre estados-membros.

    No quadro desse programa pode ser puxado para uma vigilância mais apertada um simples passageiro que faz uma viagem de fim-de-semana com uma bagagem cujo peso é considerado excessivo. Este é apenas um exemplo de um novo paradigma de investigação que está a nascer sob os nossos olhos, mas acerca do qual não fomos avisados pelas autoridades. Considere o seguinte: antes, o leitor só poderia ser investigado se fosse suspeito de um crime. Sendo que as suspeitas são muitas vezes equivocadas, isso significava que uma parte das investigações acabava por ter como objeto pessoas inocentes, o que era desafortunado, mas compreensível. Com o novo paradigma, já não se investigam suspeitos mas padrões de comportamento, partes de uma nebulosa da qual só é possível fazer sentido com algoritmos próprios do «garimpo de dados». Isso significa que as investigações policiais deste novo mundo têm como objeto principal pessoas que nem sequer são suspeitas de crime algum. Já não é apenas por defeito que um inocente será investigado; por feitio do sistema, 99,99% dos investigados são inocentes. O leitor pode concordar ou não — mas alguém o avisou da mudança?

    Alguém lhe pediu permissão? O processo comum aos casos swift/tftp e pnr é: os eua fazem aos europeus; os europeus ficam escandalizados primeiro, e acabam por aceitar depois; finalmente, os europeus fazem a si mesmos.

    E isto são só as democracias, que a partir deste momento perdem autoridade moral para pedir às ditaduras que não façam o mesmo. Ora, estas bases de dados são enormes, e podem ser cruzadas. A partir daí, tornam-se perigosas. Torna-se possível saber com quem viajou o passageiro x, em que hotel dormiu — e com quem — saber se tem um caso extraconjugal e dívidas, ou seja, se é chantageável, etc. Parece claro que todos os nossos emails e chamadas, tweets e mensagens privadas de facebook, são também analisados. Um jovem promissor hoje pode ser um político caído em desgraça daqui a uns anos — se for necessário. Como é evidente, as autoridades dão garantias de que os dados não são usados desta forma. Mas estas garantias têm sido muitas vezes violadas. As ditaduras violam essas garantias todos os dias. As democracias em degradação violam-nas também — ou terciarizam a violação para as ditaduras.

    Sim, porque o que está acima é apenas o que acontece a 99,99% de nós. Depois há o outro 0,01%, que é o dos azarados. Esses azarados podem ser culpados, mas podem ser também inocentes. Os azarados são o tipo com um nome árabe, parecido com outro nome árabe, que é raptado, enviado para uma prisão secreta, torturado, reenviado para Guantánamo e depois — quando o erro é finalmente reconhecido — abandonado à noite numa estrada deserta dos Balcãs. Isto aconteceu, e as democracias ainda não nos disseram como. Ainda não abriram as prisões secretas, ainda não mostraram toda a documentação, ainda não permitiram que fosse feita justiça. E enquanto não o fazem, continuam a perder a alma, pouco a pouco.

    ***

    Uma das passagens mais impressionantes do livro de Naomi Wolf não é a que revela todas estas malfeitorias. Pelo contrário, é aquela em que a autora cita cartas e diários de pessoas que viveram sob o nazismo. Se há país que se perdeu foi a Alemanha da República de Weimar, engolida pouco a pouco pela noite do racismo, da arbitrariedade e da violência. Pensamos nós que, tendo sido este um acontecimento tão brutal, as pessoas tenham dado por isso e se tenham sobressaltado. Não é isso que as cartas e os diários dizem: enquanto o nazismo asfixiava a democracia, as pessoas escreviam sobre os seus casamentos e funerais, alegrias e tristezas, coisas menores e maiores. E os dias iam passando.

    E nós perguntamos: mas elas não sabiam? Sabiam, em parte, e poderiam descobrir o resto. Mas essas pessoas vindas do passado poderiam também encarar-nos e perguntar: e vocês, não sabem agora?

    Por detrás dessa pergunta está a explicação de por que é que os países que não se perdem são todos iguais: os países que não se perdem precisam de ser ganhos todos os dias, com conhecimento todos os dias, com ação todos os dias, com civismo todos os dias. Não perder um país é a coisa mais difícil de todas: exige esforço quotidiano.

    Mas perder um país — essa é grande lição deste livro — embora cada país se perca de uma maneira diferente, é a coisa mais fácil do mundo: basta não fazer nada.

    Rui Tavares

    Para Arnold Hyman e Wende Jager Hyman

    e para Chris e Jennifer Gandin Le,

    que amam esta nação

    Tal como o cair da noite não acontece de uma só vez, nem assim é a opressão. Em ambos os casos, existe o crepúsculo quando tudo o resto permanece aparentemente imutável. E é neste crepúsculo que todos nós devemos tomar consciência da mudança no ar — embora suave — para que não nos tornemos vítimas involuntárias da escuridão.

    Juiz William O. Douglas

    Nós começámos com liberdade.

    Ralph Waldo Emerson

    prefácio

    Escrevi este livro porque já não conseguia ignorar os ecos entre os acontecimentos do passado e as forças em ação atualmente.

    Quando discuti estes assuntos informalmente com uma boa amiga, filha de sobreviventes do Holocausto — e que ensina a alunos o sistema de governo americano como um tipo de resposta ao que aconteceu à sua família —, ela insistiu que eu apresentasse esta argumentação.

    Também o escrevi desta forma porque, no meio da minha pesquisa, assisti ao casamento de Christopher Le e Jennifer Gandin.

    Jennifer é uma das nossas pós-graduadas — uma jovem escritora talentosa, filha de um pastor do Texas. As suas raízes têm origem em gerações passadas que durante séculos habitaram o coração da América.

    Chris — o «jovem patriota» do subtítulo — é um ativista nato, um líder natural do povo, e professor. Ele ajuda a assegurar a Linha Nacional de Prevenção de Suicídio e é um elemento ativo em variados quadrantes. Eles são os típicos jovens idealistas — americanos idealistas — que precisam de levar a nossa nação para fora desta crise.

    Estive no casamento de Chris e Jennifer num dia quente de início de outono. Foi uma cena da cultura americana perfeita: liberdade, abundância e abrigo, o melhor que a nação tem para oferecer.

    A cerimónia teve lugar numa encosta verde ao longo do vale do rio Hudson. A família de Jennifer decorou o local da cerimónia e da recepção com chiffon branco ondulante; a mãe de Chris e outras mulheres da família cozinharam durante dias para criar magníficos pratos vietnamitas. Jennifer apareceu para os próprios votos brilhando, num branco ao dai, o vestido de casamento tradicional vietnamita, e depois trocou de roupa para o baile — aparecendo igualmente radiante — num vestido de baile americano de cor roxa. Havia crianças a brincar, árvores murmurando ao vento, o sol a pintar a cena; houve brindes e presentes, um ótimo DJ e piadas fracas. Amigos de diferentes raças e origens dançavam e conversavam e partilhavam no afeto que todos tínhamos pelo jovem casal. Foi o retrato de como tudo deveria ser neste país.

    Eu estava nesse lugar e, tendo emergido da minha leitura, não pude ignorar as terríveis nuvens tempestuosas que se aglomeravam na nação em geral, e senti que o jovem casal necessitava de mais uma oferenda: os instrumentos para tomar consciência e defender inteiramente a sua liberdade; os meios para se assegurarem que os seus próprios filhos nasceriam em liberdade.

    Este não foi um pensamento académico. A mãe de Chris, Le Mai, que recebeu os convidados com inteligência e elegância, é uma heroína. Fugiu do Vietname quando era jovem, refugiada — uma boat person[1] — com o seu Vu (nome de nascimento de Chris) com menos de dois meses nos braços. Ela sabia que tinha de arriscar a sua própria vida e a do seu filho pela possibilidade de viver em liberdade.

    Com a nossa, até há bem pouco, abundância de liberdade, dificilmente conseguimos perceber o valor precioso da liberdade como ela. Mas temos de alcançar depressa este tipo de entendimento para lutar contra a crise que enfrentamos e para agir com a urgência que os tempos exigem.

    Chris e eu falámos acerca de liberdade e da sua fé na capacidade de o pêndulo «voltar para trás». Ele também acredita que muitos dos seus pares têm pouca ligação com a democracia porque as gerações anteriores não lhe deram vida.

    Não são apenas os jovens que estão desligados das tarefas democráticas mesmo nos momentos em que as liberdades da nação estão a ser desmanteladas; nas minhas viagens pelo país, ouvi pessoas de todos os meios que se sentem alienadas em relação à ideia dos Fundadores que são eles são que devem liderar; são eles que têm de decidir e confrontar e estabelecer limites. São eles quem interessa. Este livro é escrito para eles.

    Tais cidadãos precisam da chave para a compreensão do legado fundamental dos Fundadores. Precisam de perceber como déspotas se encarregaram do seu trabalho. Carecem de uma cartilha para que eles e os que estão à sua volta estejam bem equipados para a batalha que se avizinha.

    Para que a possam lutar bem.

    Para que as nossas crianças possam continuar a viver em liberdade.

    Para que possamos todos.

    Naomi Wolf

    Nova Iorque

    24 de junho de 2007

    [1] N.T. Designação dada aos refugiados vietnamitas que saíam do seu país em grandes grupos em busca de asilo, em fuga ao regime comunista, e recorrendo a barcos de condições precárias.

    introdução: os dez passos

    A América abriu-se depois de a maldade feudal ter sido gasta. Começámos bem. Sem inquisições, aqui, sem reis, sem nobres…

    Ralph Waldo Emerson

    Caro Chris:

    Estou a escrever-te porque temos uma emergência.

    Aqui estão as manchetes norte-americanas de uma publicação quinzenal do final do verão de 2006:

    22 de julho: «trabalhadora da CIA diz que mensagem sobre tortura levou

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