É Por Isso Que a Vovó Comprou Aquele Carro ...E Outras Histórias e Versos
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Sobre este e-book
Contos e poemas da humorista e novelista de mistério Anne R. Allen. Algumas dessas histórias são sátiras, como Vive La Révolution, que teve sua primeira aparição na revista Opium de humor cáustico; outras são mais cordiais, apesar de retratos cômicos de mulheres rebeldes.
Desde a envelhecida Betty Jo, que se sente tão ignorada que cogita assaltar um banco, até a negligenciada Maude, de 10 anos, que busca em um Elvis de fantasia o amor negado por sua família patrícia; e também a versão sanguinária e adolescente de Madame Defarge. Essas mulheres, velhas e jovens, rebelam-se contra os estereótipos e papeis tradicionais que as reprimem.
E é por isso, claro, que a vovó comprou aquele carro.
Anne R. Allen
Anne R. Allen is the author of seven comic mysteries including the bestselling Camilla Randall Mysteries. She's co-author of How to be a Writer in the E-Age: a Self-Help Guide, written with NYT bestseller Catherine Ryan Hyde. She blogs at Anne R. Allen's Blog...with Ruth Harris, which Writer's Digest named to their Best 101 Websites for Writers in 2013. Anne is a graduate of Bryn Mawr College and spent twenty-five years in the theater—acting and directing—before taking up fiction writing full time. She is the former artistic director of the Patio Playhouse in Escondido, CA and now lives on the Central Coast of California.
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É Por Isso Que a Vovó Comprou Aquele Carro ...E Outras Histórias e Versos - Anne R. Allen
É Por Isso Que a Vovó Comprou Aquele Carro ...E Outras Histórias e Versos
Anne R. Allen
traduzido por
Mauricio Goldani Lima
É Por Isso Que a Vovó Comprou Aquele Carro ...E Outras Histórias e Versos
Escrito por Anne R. Allen
Copyright © 2016 Anne R. Allen
Todos os direitos reservados
Distribuído por Babelcube, Inc.
www.babelcube.com
Traduzido por Mauricio Goldani Lima
Editado por JEAN PIERRE BARAKAT
Babelcube Books
e Babelcube
são marcas comerciais da Babelcube Inc.
Prefácio
Eu geralmente incentivo escritores novatos a escreverem ficções curtas, tanto em meu blog quanto em meus trabalhos impressos. (Meu artigo Short is the New Long, publicado na Writer’s Digest em Novembro de 2014).
A era da internet fornece muitas oportunidades de publicação para ficções curtas: antologias, e-books, assim como revistas online e também na tradicional versão impressa.
Escrevi pouquíssimas obras curtas desde que comecei a trabalhar com ficção. Em vez disso, passei todo meu tempo como aprendiz de escritos compondo romances impublicáveis. Algo que não recomendo.
Aqui está um punhado de histórias, a maioria previamente publicada; algumas até diversas vezes (o que demonstra a versatilidade da ficção curta). Intercalei-as com alguns de meus poemas e versos que apareceram em jornais literários e antologias.
Algumas dessas histórias são sátiras, como Vive La Révolution, que teve sua primeira aparição na revista Opium de humor cáustico; outras são mais cordiais, apesar de retratos cômicos de mulheres rebeldes.
Desde a envelhecida Betty Jo, que se sente tão ignorada que cogita assaltar um banco, até a negligenciada Maude, de 10 anos, que busca em um Elvis de fantasia o amor negado por sua família patrícia; e também a versão sanguinária e adolescente de Madame Defarge. Essas mulheres, velhas e jovens, rebelam-se contra os estereótipos e papeis tradicionais que as reprimem.
E é por isso, claro, que a vovó comprou aquele carro.
Anne R. Allen
É Por Isso Que a Vovó Comprou Aquele Carro
Ela sonhava andar com Kerouac, com ToddandBuzz,
em um Corvette vermelho pela Rota 66—
liberdade em seus cabelos.
Mas ela empacou na biologia/destino perfeitos,
e no sorriso besta que aquele fazendeiro lhe dava,
junto com seu coração frágil.
Ela o amava mais que a si própria, quarentas anos—
até que o coração dele parou de vez e ela o enterrou
no chão entupido de raízes dessa cidade velha.
Mas para ela a estrada ainda está aí.
E nesse sonho, ela não está na carona:
ela está ao volante.
O Retorno de Betty Jo Stevenson
Na manhã da segunda-feira após as bodas de prata, Betty Jo Stevenson achou um caroço no seio. Ela tomava seu banho matinal quando o sentiu, uma coisinha ínfima, como uma pedrinha chata presa embaixo da camada esponjosa de carne do seio esquerdo. Como não o percebera antes?
Esforçando-se para respirar, ela desligou a agua da torneira e apalpou-o mais uma vez. Ali estava: o caroço existia de verdade. Há quanto tempo estivera ali? Ela provavelmente não se examinava com a frequência que deveria. Nunca conseguira superar a sensação que se tocar era de certo modo uma safadeza, e, além do mais, não gostava de lembrar-se do impacto que cinquenta e dois anos de gravidade tiveram em seu corpo.
Saiu da banheira ainda com um pouco da espuma do sabão no corpo, segurando com a mão em concha o saco pesado que era o seio, mantendo um dedo no caroço. Precisava contar a Bob, que estava em pé bem ali, só de cuecas brancas, barbeando-se, mas não sabia como o fazer A luz acima da pia estava brilhante demais, será que fora sempre assim? Quase teve que franzir os olhos para olhar para ele.
Foi acometida por uma lembrança ridícula: uma vez no ensino médio quando as amigas lhe disseram que o motoqueiro bad boy chamado Frankie Russo tinha uma foto dela de suéter de líder de torcida colada no armário. Bem ao lado da foto de Raquel Welch com um biquíni de mulher das cavernas.
— Ele chama você de Betty Peituda — alguém disse. Provavelmente Lucinda. Ela sempre estava por dentro de todas as fofocas, até mesmo naquela época. — Você deveria tomar alguma atitude. Senão ele vai achar que você é uma Maria Motoqueiro.
Mas Betty Jo meio que gostava de saber que Frankie Russo achava que ela era algum tipo de piranha. Ela sentia o corpo inteiro formigar quando passava pelo armário dele, e um pouco de orgulho também, o oposto de como se sentia agora, de pé no meio do banheiro, com a espuma de aromas herbais pingando do seio com caroço, assistindo ao marido de vinte e cinco anos barbeando o restolho grisalho do queixo.
Será que voltaria a sentir aquele formigamento algum dia?
Bob parecia falar com o espelho. —...meu casaco esportivo azul? Ele desapareceu. Gosto de usá-lo com minha gravata Rotary. Você sabe que eu tenho um encontro Rotary agora pela manhã.
— Caroço — ela disse.
— E por que as coisas ficam sumindo