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Destruído: A Autobiografia de Ahab Cormier
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E-book319 páginas4 horas

Destruído: A Autobiografia de Ahab Cormier

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Sobre este e-book

"Eu sei que disse que não me arrependo de nada que eu fiz na minha vida. Porém, após a contemplação adjacente a escrita das memórias de alguém, eu agora tenho um arrependimento, algo que eu não fiz..."

Criado em um ambiente não convencional, Ahab Cormier viaja com determinação por dois caminhos paralelos: encontrar seu principal objetivo e rastrear o homem que matou sua mãe. Seus inextinguíveis desejos sexuais o levam a vários casamentos fracassados e uma transformação física que mais mais tarde alimenta suas obsessões. Mas sua busca obstinada pelo homem que poderia ser seu pai termina em um acidente mutilante que resulta em um encontro que muda sua vida e um surpreendente anúncio que o força a refletir sobre sua vida como um homem destruído.

IdiomaPortuguês
EditoraSteven
Data de lançamento17 de dez. de 2017
ISBN9781547511334
Destruído: A Autobiografia de Ahab Cormier

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    Destruído - Steven Rosenberg

    SUMÁRIO

    PRÓLOGO - ATENÇÃO

    APRESENTANDO AHAB CORMIER

    SONS QUE ME INCOMODAM

    PESSOAS QUE ATIRARAM EM MIM

    ÁRVORE GENEALÓGICA

    LUGARES DOS QUAIS EU FUI EXPULSO

    MEUS CASAMENTOS

    O QUE ACONTECEU COM A MINHA PERNA

    POR QUE MARNEY DORMIU COMIGO

    A CARTA QUE DEVERIA TER ME AFETADO

    MEUS ASSIM CHAMADOS AMIGOS

    TRINTA DIAS RESTANTES

    EPÍLOGO

    SOBRE O AUTOR

    PRÓLOGO - ATENÇÃO

    Ao virar a próxima página, o que você está para experienciar, por bem o por mal, sou eu. Eu não sou uma pessoa comum, e não vivi uma vida comum. Eu gosto de pensar em mim como alguém bem complexo, mas também sei que muitas pessoas que entraram na minha vida discutiriam essa afirmação. Elas estão erradas, claro; porém, se você achar que deve, pode julgar por si mesmo. Seja o que for que você achar que sabe sobre mim, apesar de complexo ou simples você imaginar que meu mundo seja, isso não importa, porque aquilo em que você está para embarcar é a verdade, a minha vida.

    APRESENTANDO AHAB CORMIER

    Meu nome é Ahab Cormier - sim, você leu corretamente, Ahab -, como o capitão da ficção concebida por Herman Melville. Minha mãe, desde sempre uma ávida leitora, coincidiu de estar profundamente absorta no romance Moby Dick à época em que eu nasci. Mas, antes de condenar minha mãe pelo nome incomum (e alguns podem dizer, cruel) que ela me atribuiu, lembre-se de que poderia ser pior - ela poderia estar lendo Judas, o Obscuro[1], ou Beowulf[2]. Se meu nome fosse Grendel, minha vida seria diferente? Meu sobrenome, Cormier, é franco-canadense, ou assim me disseram. Meu pai era originalmente da província de Quebec, mas na infância eu nunca o conheci ou sequer o encontrei pessoalmente. Minha existência neste planeta teve a ver com uma convergência de eventos em uma única noite em Bow, em New Hampshire.

    Minha mãe nunca tinha se casado, seu sobrenome de solteira era Darden. Seu primeiro nome era Ellen, mas, dependendo da boate ou da época de sua vida em que fazia performances, a maioria das pessoas a conhecia como Candy, Amber, Tiffany ou Lexi (seus vários apelidos no mundo stripper).

    Meu pai a conheceu como Amber - Amber Rodeo - quando ela dançava na boate Fox Hunt, na cidadezinha de Bow, em New Hampshire. Cormier (assim minha mãe sempre se referia a ele, apesar de eu não ter certeza se é porque ela não se lembrava de seu primeiro nome ou se ela pensava que isto não era um detalhe importante) não era um cliente regular, segundo minha mãe, e nem tinha fama de ser um tarado por strippers, o que no fim das contas pesou em grande parte na atração que minha mãe sentiu por ele. É sempre esquisito o que atrai um ao outro - lembre-se disso, ela sempre dizia.

    Minha mãe não era nem um pouco fácil - ela não era nem embarcar em encontros de uma noite só -, ela era simplesmente uma mulher solitária. O que ela queria na vida mais que qualquer outra coisa era ter um filho para lhe fazer companhia; uma criança para ela criar do jeito que ela achava que uma criança deveria ser criada; uma criança para amar do jeito que ela achava que uma criança deveria ser amada. Cormier só ocorreu de estar no lugar certo e na hora certa.

    Toda vez que a minha mãe contava a história daquela noite - a noite que culminou com a minha concepção -, nenhum mínimo detalhe mudava. Embora sua adequação pudesse ser questionada às vezes, minha mãe nunca mentiu para mim. Tipicamente em uma silenciosa manhã de sábado, geralmente sentada sobre uma das pernas em uma cadeira que ela puxava para junto da minha cama, minha mãe recitava com vívida precisão aquela história para mim.

    A fixação da minha mãe por ter um filho seu já durava mais de um ano naquela época. Porém, seu desejo não incluía um marido, nem mesmo um namorado. Homens eram seu trabalho e ela não era alguém que levava trabalho para casa. Além disso, o plano tinha dois lados. De um, minha mãe tinha que achar o homem com aparência certa (e eu não estou falando de aparência física), pois ele tinha que parecer de fora da cidade, de preferência, de outro estado; ele não podia ser obsessivo e nem um pouco grudento; e ele tinha que ser limpo, entre outras coisas (uma qualidade que ela costumava julgar pela quantidade de pelos que o homem deixava no rosto).

    De outro lado, minha mãe tinha que estar pronta, biologicamente falando. Seduzir qualquer homem seria a parte fácil, já que o número de propostas que ela recebia a cada noite antes, depois e durante suas performances a fez perceber isso. Falando de uma riqueza de experiências, quase todos os homens que passavam pela soleira de um clube de strip já teve uma fantasia em que saía com uma das stripers nos braços. Por isso, minha mãe manteve um olho atento para o homem de seus sonhos, como ela o chamava, de forma sarcástica, mas também de algum modo verdadeira.

    Noites e mais noites de decepção foram vividas por minha mãe, até que, finalmente, um candidato em potencial adentrou as portas da boate. Ele estava aparentemente sozinho e tentando colocar várias notas de dólares canadenses no bikini de uma das moças - uma prática não tão incomum na Fox Hunt, dada a posição fronteiriça do estado de New Hampshire, mas uma das meninas não gostou.

    As reclamações entre as dançarinas da pista chegaram ao vestiário, onde as garotas avisavam umas às outras para não insistir em tentar arrancar nenhum centavo do Canadense (um rótulo normalmente usado em sentido pejorativo).

    Porém, minha mãe, ao escutar sobre o canadense que falava muito pouco inglês, colocou sua fantasia predileta - uma tanga branca que envolvia seu quadril arredondado e um sutiã combinando, destacado por uma jaqueta branca detalhada com franjas, botas de cowboy e um chapéu branco de rodeio que era um pouco maior do que sua cabeça. Ela era Amber Rodeo, ainda assim, mas sempre que eu imaginava essa parte da história, eu a via mais como um anjo do que como um cowboy. O DJ colocou para tocar These Boots are made for Walking[3] e minha mãe se empertigou em direção ao palco, sem nunca tirar os olhos do Canadense.

    Cormier já tinha acabado com suas notas de dólar canadense na metade da dança da minha mãe, mas isso não a fez parar de ignorar todo mundo que acenava com dólares americanos na beira do palco. Naquela noite ela estava dançando por algo mais valioso do que dinheiro.

    Depois da dança, minha mãe estava vestida apenas com sua tanga branca e um roupão translúcido azul claro, amarrado bem justo na cintura e caindo delicadamente de seus ombros para acentuar seu grande decote. Cormier estava esperando em uma mesa adjacente ao palco, como um filhotinho de cachorro em frente a porta no primeiro dia em que seu dono sai para trabalhar.

    Sem trocar nenhuma palavra, Cormier pagou três danças individuais com um cartão de crédito depois que o segurança o informou (rasgando algumas notas) que, apesar de seus dólares pagarem algumas dançarinas no palco, suas grandes notas canadenses não pagavam este serviço na Fox Hunt. Minha mãe sabia que ela estava muito perto de ter o filho que ela queria tão desesperadamente. Mesmo antes de eu nascer, minha mãe dançava pelo meu bem estar.

    Diferente das outras moças, ela não poderia ter  se preocupado menos com as gorjetas de Cormier em dólares canadenses - sua preocupação era apenas sobre o fato de que ele preenchia os requisitos. Enquanto dançava para meu futuro pai, minha mãe propositalmente, mas secretamente, derrubou três dos seus drinks - o álcool, lhe disseram, diminuía a secreção do esperma masculino, e ela não queria perder nenhum. Ela até o fez se esforçar um pouco para levá-la em casa, oferecendo danças individuais para outros homens e assistindo enquanto Cormier comprava rosas e mais rosas da vendedora de flores, e esperava até que minha mãe voltasse. Eu aprendi muitas coisas sobre mulheres com a minha mãe, mas a que mais se destaca é que a mulher que sabe usar sua feminilidade é uma mulher perigosamente poderosa.

    Cormier não era nem  bonito nem feio. Como minha mãe o descrevia, uma parede de vidro seria mais identificável. Seu rosto era sem descrição; sua altura não se destacava; seu cabelo não parecia ter corte; seus trejeitos careciam de personalidade; sua voz nunca variava. Cormier falou apenas o inglês suficiente para se relacionar, o que funcionou bem para minha mãe, já que falar não estava nos seus planos naquela noite. Do pouco que ela conseguiu entender, ele era um tipo de vendedor-itinerante, como eram alguns outros clientes do Fox Hunt naquela época.

    Com seu limitado vocabulário de inglês, eu não estou certo do quão efetivo ele foi nos seus negócios ao sul da fronteira canadense, mas nada disso interessava à minha mãe naquela hora. Assim como minha mãe antecipou, Cormier passou a noite no clube. Quando minha mãe saiu pela porta dos fundos com duas outras strippers, ele a esperava com uma dúzia caríssima de rosas na mão - cada uma comprada a 5 dólares da vendedora de flores. Ele aproveitou, levantou-se e beijou a mão esquerda da minha mãe, e assim eles partiram.

    Na primeira vez Cormier chegou lá em menos de dois minutos, sussurrando freneticamente alguma coisa que soava sem sentido até mesmo em francês, o que minha mãe entendeu como uma desculpa para seu rápido orgasmo.

    Inabalável, minha mãe - sempre durona - não o deixou descansar por mais do que alguns minutos antes de estar novamente em cima dele pela segunda vez. Após a quinta vez, e com o pênis cada vez mais flácido, Cormier implorou para que ela o deixasse dormir.

    Em uma situação habitual, minha mãe teria se ofendido pela rejeição, mas naquela noite ela estava mais do que satisfeita. Além disso, quanto de esperma a sexta tentativa ainda poderia produzir, ela gostou da piada.

    O sol da manhã estava rapidamente surgindo, e ela precisava descansar. Minha mãe precisava estar pronta para o trabalho à noite; afinal, ela logo teria uma criança para sustentar. Minha mãe saiu do quarto de motel com um sorriso e uma boa sensação na barriga. Até onde ela soube, Cormier partiu para nunca mais dar notícias, mas ele deixou para trás o maior presente que minha mãe jamais recebeu (e isso vale muito bem para mim também).

    Duas semanas depois, três testes caseiros de gravidez contaram à minha mãe exatamente o que ela queria saber. E duas semanas mais tarde, minha mãe quase pulou nos braços do médico que confirmou os resultados oficialmente.

    Minha mãe continuou a se apresentar no Fox Hunt até não poder mais esconder a barriga da gravidez. Apesar de não assustado com o nascimento iminente, em vez de demiti-la definitivamente, o dono simplesmente a mandou para casa descansar até que ela resolvesse seu pequeno problema.

    Prevenida como sempre, minha mãe havia guardado dinheiro suficiente para se permitir uma vida confortável sem trabalhar por alguns meses antes do meu nascimento. Por pegar turnos extras e gastar mais tempo na pista, depois que descobriu que estava grávida, minha mãe aumentou substancialmente sua renda líquida, e economizou cada centavo possível. Eu nasci em 11 de abril - domingo de Páscoa daquele ano. Qualquer significado religioso escapou à minha mãe. Ela estava, como eu disse, imersa nos desafios e provações de Moby Dick.

    Minha mãe voltou para a dança na boate logo depois que eu nasci. Ela trabalhou duro para limitar seu ganho de peso durante a gravidez (dizia que o pole dancing a ajudava a evitar os quilos a mais), e trabalhou ainda mais duro para perder o peso extra depois.

    Como a maioria das pessoas, minha memória dos primeiros quatro anos de vida é limitada, e também distorcida pelo que os outros me contaram, mas pelo que eu me recordo, meus primeiros anos foram passados no camarim da boate Fox Hunt sendo mimado e passado entre strippers a cada noite.

    A rotina de camarim das moças se tornou não apenas fofocas, retoque de maquiagem e troca de fantasias entre as apresentações, mas também troca de fraldas, papinha e brincadeiras com o pequeno Ahab, com elas gostavam de me chamar. Meu álbum de bebê se parece mais com uma edição da Playboy do que um álbum de fotos infantil, e isso até hoje deixa meus amigos homens com inveja.

    Porém, pouco tempo depois do meu quarto aniversário, as noites na Fox Hunt chegaram a um fim abrupto. Eu me lembro de dizer tchau a todas as colegas da minha mãe, não entendendo muito o que tchau significa de verdade, mas sentindo que era um tipo diferente de despedida.

    Houve muito mais abraços - e naquela ocasião eles foram acompanhados de lágrimas - do que os que eu ganhava toda noite quando íamos para casa. Na mesma noite, em nosso apartamento de um quarto, eu ajudei minha mãe a empacotar nossos poucos pertences, que se resumiam às suas roupas. Enquanto eu combinava suas calcinhas e sutiãs - uma das minhas atividades favoritas da infância, porque me lembrava de quando ficava no camarim da Fox Hunt ajudando as meninas a escolher suas fantasias de palco -, minha mãe me enchia de histórias sobre como seria a nossa nova vida, como algum dia teríamos uma casa de verdade sem ninguém morando em cima ou em baixo, e escadas começando por dentro, em vez de por fora.

    Depois de embalarmos tudo, eu mal dormi, tentando imaginar como Ohio seria diferente de New Hampshire. De vez em quando eu fazia umas perguntas para ninguém em especial, mas minha mãe sempre me dava uma resposta grogue, meio sonolenta.

    De manhã, saímos de New Hampshire, mas não tão cedo, já que ficamos acordados pela noite adentro fazendo as malas. O Nissan Sentra da minha mãe estava cheio de caixas e um monte de sacos pretos cheios de roupas. Ainda muito ansioso para dormir, eu amolei minha mãe com mais perguntas ainda. Como eram as pessoas lá? Eu poderia ver suas novas amigas se fantasiando? Veríamos seus velhas amigas de novo? Seguimos pela estrada até depois do pôr-do-sol.

    Finalmente, minha mãe anunciou que ela estava cansada demais para dirigir e parou em um estacionamento em algum lugar distante a oeste de Nova York. A localização exata de nosso ponto de parada foi definida por uma desgastada placa vermelha ao lado da estrada com letras brancas dizendo Pousada Lanyard 300 metros à direita. Aquela noite seria lembrada como minha primeira experiência de ficar em um quarto de hotel - de verdade, minha primeira vez dormindo em qualquer outro lugar que não o nosso apartamento ou o sofá do camarim da Fox Hunt - e minha primeira vez dormindo em uma cama só para mim.

    As duas camas de solteiro do quarto eram separadas apenas por uma pequena mesa de cabeceira muito desgastada, com uma luminária coberta de poeira acumulada de anos. O quarto inteiro tinha um cheiro estranho que nos invadia assim que abrimos a porta, mas aquilo me distraiu apenas por alguns segundos até eu começar a abrir todas as gavetas da cômoda de madeira igualmente desgastada.

    A pousada de um andar só era perto o suficiente da estrada para ver suas luzes brilhando periodicamente através das janelas mal-cobertas - os reflexos no espelho empoeirado do banheiro projetavam sombras que se moviam rapidamente no teto. Como eu me lembro desse rápido descanso, tudo era muito divertido para a minha mente de quatro anos de idade. Minha mãe também parecia estar examinando atentamente os detalhes do quarto enquanto me colocava na cama. Talvez este fosse o velho quarto de hotel que a deixasse nostálgica, assim como eu dormia enquanto ela me contava de novo a história da minha concepção.

    De Nova York, continuamos em direção ao sul e ao oeste - parando apenas para cafés-da-manhã em fast foods e para encher o tanque do Nissan - para a cidade de Perry, em Ohio. Foi em Perry que minha mãe fez sua segunda cirurgia de aumento de seios, adotou o pseudônimo de Tiffany Timbers e trabalhou para a boate masculina Forever Fantasy.

    Segundo a minha mãe, a Forever Fantasy era um passo adiante no mundo das boates - semelhante a sair de uma liga amadora para as ligas profissionais. Mamãe fez isso até o grande momento - se eu não tivesse quatro anos de idade na época, eu teria me orgulhado muito.

    Vivíamos em um pequeno apartamento na segunda metade da primavera, mas antes de muito tempo, como minha mãe prometeu, teríamos uma casa de bom tamanho - nada muito extravagante, mas para uma mãe solteira e seu filho, quatro quartos era mais do que suficiente - com dois andares que necessitavam de reforma (pelo menos na minha cabeça, na época) e uma escada por dentro!

    A casa ficava na rua Abgrund, número 52, e, com muito espaço entre as casas vizinhas, não era nada igual à nossa antiga vizinhança em New Hampshire. Minha mãe até contratou uma empresa para construir uma piscina no quintal de trás - não a piscina retangular onipresente que eu tinha visto nos filmes e na TV, mas uma piscina com curvas suaves, uma pequena queda d’água com pedras falsas em uma das extremidades e uma banheira de hidromassagem acoplada do outro lado.

    Nas manhãs de final de semana, ela me ensinava a nadar, ou pelo menos a não me afogar, já que minha mãe não tinha formação nenhuma em natação. O resto do jardim era todo gramado com algumas árvores altas distribuídas pelo perímetro e uma cerca alta de madeira que nos isolava dos outros vizinhos que nunca chegamos a conhecer. O quintal era grande o suficiente para eu, como uma criança, correr dando voltas, assim como para, algum dia, dar boas festas quando fosse um jovem adulto.

    Dentro da casa, tudo era novo. A casa tinha sido originalmente construída para outra família que, por razões desconhecidas, não foi capaz de adquiri-la, saindo a uma boa bagatela para a minha mãe. O corredor no andar de cima ao final da escada, que se prolongava à largura da casa, conectava os quatro quartos, sendo o meu quarto diretamente adjacente ao topo da escada. A maior parte dele tinha uma vista aberta para o lado de baixo, o que bem facilitou meu processo de amadurecimento.

    No andar de baixo, minha mãe e eu passávamos a maior parte do nosso tempo na sala e na cozinha (que era separada apenas por um curto gradeado e um único degrau que descia da cozinha para a sala).

    Embora houvesse três outros quartos naquele andar, eles permaneceram intocados - e nos primeiros meses, sem móveis. Desde que nosso primeiro apartamento em Ohio foi mobiliado, quando nos mudamos para a casa, havia pouquíssimos móveis para mencionar - eu dormi no chão com meu saco de dormir por duas semanas - mas, lentamente, grandes caminhões começaram a parar ao lado da casa para enchê-la de móveis.

    Quanto ao novo trabalho da minha mãe na Forever Fantasy, ela me disse que a nova boate era sofisticada, e que na minha idade, isto significava que eu não podia perambular pelos camarins enquanto ela trabalhava.

    Eu me lembro de ficar triste no começo - dormir em um quarto separado da minha mãe, e agora não poder passar as noites com ela foi um choque no meu sistema de quatro anos de idade - mas eu fui ficando acostumado com as novas regras. Não tanto por coincidência, foi a mesma época em que Rebecca se mudou para um dos nossos quartos extras.

    Rebecca tinha dezesseis anos e raramente usava sutiã (isso era a primeira coisa que eu dizia sobre ela quando alguém perguntava sobre a minha babá). Seu cabelo era longo, grosso e loiro - bagunçado e selvagem, alguns diriam - e ela tinha um piercing no umbigo que estava sempre exposto e brilhava magnificamente na luz do sol. Aos quatro anos de idade, eu experimentava minha primeira paixão.

    Rebecca estava começando seu ano de caloura no ensino médio. Ela estava sempre estudando para sua prova de equivalência de ensino médio - havia sempre um livro de estudos aberto em algum lugar da casa - o que, para o meu conhecimento, ela nunca completou.

    Rebecca não era uma fugitiva por assim dizer, porque seus pais sabiam que ela era minha babá, mas eles também não estavam contentes com sua recém-descoberta independência. Quando não estava estudando, Rebecca estava constantemente no telefone - mesmo aos quatro anos, eu podia dizer que o telefone era uma das poucas coisas que faziam Rebecca feliz de verdade. Ao que parecia, o que realmente a fazia feliz eram os garotos do outro lado da linha, mas na época, ela era muito jovem para perceber isso.

    Rebecca quase sempre recebia no mínimo um grupo de amigos na nossa casa enquanto minha mãe estava no trabalho - o que eram pelo menos cinco noites na semana e às vezes seis. Ela tentava me manter entretido no meu quarto, me colocando na frente de uma pequena televisão para assistir uma novela ou outra à noite, mas eu sempre dava o fora. Os acontecimentos do andar de baixo eram sempre mais interessantes do que a luz da televisão.

    Depois de algum tempo, Rebecca desistiu de se importar se eu estava no meu quarto ou não. A curiosidade me atraía a todos os lugares da casa para espiar Rebecca e seus amigos. Eu não queria nada mais do que ser aceito por eles, até ser eles; ser o cara cujo colo Rebecca se deitava sobre; o cara que fazia saltos ornamentais para a alegria das meninas nas quais ele espirrava água durante o processo; ou o cara que todas aplaudiam quando aparecia com uma caixa de cerveja.

    Eu estava lá quando Rebecca e seus amigos beberam cerveja atrás de cerveja; eu estava lá quando eles fumaram maconha na banheira de hidromassagem; eu estava lá quando várias combinações de garotos e garotas fizeram sexo em quase todas as dependências da minha casa (inclusive meu quarto).

    Ver Rebecca e suas amigas nuas não era um choque, afinal eu passei meus quatro anos anteriores em um clube de strip. Mas ver como elas entrelaçavam seus corpos com os dos garotos era tanto repulsivo quanto fascinante.

    Mas do que tudo, eu queria passar o máximo de tempo possível com Rebecca e seus amigos, e por causa desse intenso desejo, ela sabia que eu nunca contaria à minha mãe o que acontecia todas as noites em casa. Porém, eu tenho que acreditar que minha mãe suspeitava (se é que não sabia de todas as atividades extracurriculares de Rebecca), mas também acredito que ela estava bem com o que acontecia enquanto eu estivesse seguro e feliz.

    Em várias ocasiões ela me fez sentar e perguntou sobre como Rebecca me tratava enquanto ela estava no trabalho. E quando minha mãe perguntava sobre o que eu achava de ter Rebecca como babá, minha resposta era sempre entusiasmadamente positiva, o que era verdade. Todos os amigos da Rebecca eram legais e amigáveis comigo, e todos gostavam de Rebecca, especialmente os meninos. Pelos quatro anos seguintes, Rebecca, seus amigos e os eventos do número 52 da Rua Abgrund continuaram a me moldar.

    SONS QUE ME INCOMODAM

    Sem uma ordem especial, o lixar de uma unha, uma broca de dentista, e o som de uma lâmpada se esgotando.

    Minha primeira esposa lixava as unhas com muita frequência. Suas unhas tinham um belo formato, eu admito, mas eu me retraía toda vez que eu ouvia o som nauseante e excruciante da lixa contra a parte externa da unha dela. Talvez não fosse muito pelo som, mas pela reação tão visceral que eu sempre tinha diante do toque de uma lixa em qualquer parte do corpo humano.

    O ato me parecia o limite de alguma forma de tortura arcaica. Jill não podia ter se importado menos; e a minha hipótese é que ela lixava as unhas com mais frequência do que o necessário só para me irritar. Nossas conversas a respeito do barulho ofensivo eram quase sempre assim (com pequenas variações de vez em quando):

    - Você tem que fazer isso agora?

    - Sim.

    - Você sabe que eu odeio esse barulho.

    - Eu sei.

    - Bom, então por que você está fazendo isso?

    - Porque você não dorme de conchinha depois do sexo.

    Naqueles momentos eu estava bem certo de que Jill me odiava, então eu aprendi a ignorar. Minha insegurança se baseava em parte devido ao início duvidoso de nossa vida de casados. Na nossa lua-de-mel, Jill me acusou de dormir com a instrutora de scuba[4] do resort, uma acusação completamente infundada. Eu tinha dormido com a instrutora de scuba, uma vez, mas Jill não tinha nenhuma prova, então sua acusação era infundada. Ciúmes e paranoia eram uma parte de sua personalidade, e ela estava fazendo uma acusação grave.

    Mesmo antes de nosso casamento, Jill me

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