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Flores Para Joseph
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E-book150 páginas1 hora

Flores Para Joseph

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Sobre este e-book

Alyssa mora em uma cidadezinha no sul do Brasil. Sua adolescência é marcada por poucos amigos, nenhuma pretensão amorosa e muito apego aos estudos. Sua vida pessoal acaba sendo afetada pelos constantes problemas familiares e financeiros enfrentados pela garota.Em meio a dilemas e imprevistos, muita coisa acaba mudando na vida de Alyssa, mas nenhuma a fará mudar tanto quanto ter conhecido Joseph, o rapaz que começa a balançar sua mente e seu coração. É a partir daí que ela começará a descobrir que a vida não é tão sem cor como imaginava, é a partir daí que algumas emoções começarão a florescer pela primeira vez em seu coração, mas é também a partir daí que Alyssa descobrirá o valor da amizade e do amor, e que ninguém passa por nossa trajetória sem deixar uma marca e uma lição de vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de mar. de 2022
ISBN9781526050458
Flores Para Joseph

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    Flores Para Joseph - Jamila Mafra

    VIDA

    Meu nome é Alyssa Schulze Collins. Decidi contar um pouco da minha história porque acredito que ela possa ser útil pra alguém.

    Começo falando a respeito da minha terra natal, das minhas origens, da minha querida família que tanto amei e ainda amo. Passe o tempo que passar, haja a distância que houver, o amor que sentimos pelas pessoas continua sempre conosco, dentro do coração, no fundo da alma.

    Minha mãe, Hannah Schulze, era neta de alemães que imigraram para o Brasil, exatamente para a cidade de Pomerode, no fim dos anos cinquenta, e meu pai, Darin Richard Collins, era filho de norte-americanos negros, nascido na cidade de Boston, Massachusetts.

    Meus pais se conheceram aqui mesmo no Brasil, no carnaval no Rio de Janeiro, na década de oitenta. Depois de se casarem, moraram por um tempo nos Estados Unidos, mas minha mãe não se adaptou à vida na América do Norte nem suportou ficar longe de seus pais. Ela era muito nova, tinha só dezenove anos, e assim convenceu meu pai a voltar para o sul do Brasil e residir definitivamente no pequeno sítio que pertenceu aos meus avós maternos, na época ainda vivos.

    Você deve estar se perguntando o que uma pessoa tão jovem como eu teria de tão importante pra dizer. Talvez não sejam tantas coisas, mas uma experiência em especial marcou muito a minha vida.

    Como eu disse no início, vivíamos na cidade de colônia alemã chamada Pomerode. Era pequena, pacata, possuía uma arquitetura europeia e festas típicas o ano todo. Eu amava a exposição das orquídeas, o festival de gastronomia, a festa pomerana que acontecia todo mês de janeiro e a festa de Natal. Os trinta mil habitantes da cidade eram predominantemente brancos. Localizava-se no Médio Vale do Rio Itajaí-Açú. Eu amava viver em Pomerode. Era uma cidade tranquila, charmosa e reconhecida por suas tradições, belezas naturais e sua ótima qualidade de vida.

    Tanto a cultura norte-americana quanto a germânica me encantavam. Eu falava alemão básico e dominava o inglês. Meus pratos e iguarias americanas favoritas eram, primeiramente, os famosos donuts, que são pequenos bolos em forma de roscas. São feitos com massa açucarada frita e cobertos com diversos tipos de doces, como chocolate e confeitos coloridos.

    Eu amava também o churrasco americano feito com o Capitão Beef Angus. Eram bifes bovinos grandes e bem grossos, com ossinho no meio. E também o Prime Rib, um dos cortes de carne mais tradicionais nos Estados Unidos, que, além de ser muito macio, é a parte mais saborosa da costela. E tudo isso com molho barbecue feito geralmente de molho de tomate, vinagre, especiarias e adoçantes. Meu pai sabia fazer um churrasco americano delicioso.

    Eu adorava cada cantinho da minha cidade, inclusive de sua culinária tão variada. Havia restaurantes especializados na cozinha alemã, italiana e portuguesa. Dentre meus pratos preferidos estão o marreco recheado, a pizza, os doces tradicionais da Alemanha, que sempre tinham um toque especial de ingredientes brasileiros. As cucas caseiras eram divinas.

    Era assim a entrada da cidade:

    O Strudel era minha iguaria típica preferida, uma espécie de pão doce de massa folhada, recheado de maçãs com canela, passas de uva, ginjas e queijo branco.

    Meus pais não eram ricos, o sítio dava muitas despesas, as dívidas de tempos em tempos se acumulavam e meus avós americanos muitas vezes tinham que mandar uns dólares para nos salvar das dificuldades.

    Hannah fazia doces coloniais e geleias pra vender e também criava galinhas e patos. Eu gostava muito de ajudar minha mãe a cuidar dos bichos e a fazer os doces. Meu pai era mecânico, trabalhava em uma oficina no centro da cidade.

    Para falar a verdade, Darin nunca estava plenamente feliz com a minha mãe. Os conflitos eram constantes. Ele sempre quis voltar para Boston, terra natal dos meus avós paternos, lugar onde meu pai cresceu, mas minha mãe não queria deixar o Brasil por nada, de modo algum.

    Depois das dívidas, esse sempre foi o maior motivo das brigas entre eles. Não brigas comuns de casal; eram brigas feias, com muitas ofensas e gritos. Muitas vezes eu duvidava que meus pais se amassem de verdade. Havia tempos em que tudo ficava em paz (pelo menos aparentemente), mas em outros tempos as coisas pioravam.

    Durante a minha adolescência, eu fui uma garota introvertida, tímida, falava pouco, tinha poucas amigas (na verdade, somente uma, a Maria). Convivemos durante todo o ensino médio. Com ela eu conversa bastante.

    Talvez minha timidez fosse depressão por presenciar as brigas dos meus pais, que se tornaram cada vez mais constantes conforme os anos se passavam, já que meu pai não tinha sua vontade realizada.

    Meu pai Darin dizia sempre que seu desejo era que eu tivesse uma boa educação nos colégios americanos. Cogitou a possibilidade de eu viver em Boston com os meus avós, mas Hannah se recusava a permitir.

    Até os doze anos eu havia visitado os Estados Unidos duas vezes. Adorei conhecer tudo por lá. Eu percebia a falta que aquele lugar fazia na vida do meu pai. Adorei fazer bonecos de neve em Boston, a paisagem era toda branquinha, congelava. Na semana do Natal então! Tudo colorido com as luzes pisca-pisca, todo tipo de enfeite natalino, o pinheiro enorme no canto da sala dos meus avós... Era um mundo encantado pra mim. Passei até três meses por lá de férias. Foi incrível. Tudo que eu via nos filmes da TV estava lá.

    Sempre fui apaixonada pelas estrelas, pelos astros do universo, pela ciência. Os Estados Unidos eram praticamente o polo das ciências e oportunidades de estudos e trabalho nessa área. Falando nisso, os estudos e os livros eram mais atrativos pra mim do que as festas e as baladas. Eram mais interessantes para mim do que os rapazes bonitos e os convites para sair.

    Eu nasci branca, cabelos castanhos claros e olhos verdes como os da minha mãe. Muitas pessoas perguntavam se meu pai era meu padrasto. Parece que as pessoas não entendem o que é a probabilidade genética e acham que um homem negro não pode ter uma filha branca.

    Muitas pessoas lançavam olhares de surpresa quando viam meus pais juntos. Casais de etnias diferentes chamam mesmo a atenção das pessoas em uma sociedade que estabeleceu padrão para tudo.

    Eu gostava muito dos meus tios americanos. Vinham nos visitar algumas vezes no Brasil. Eram muitos divertidos. Dois também moravam na Califórnia e o outro em Massachusetts com meus avós.

    Eu estive também na Califórnia em uma das minhas férias de verão. Lá era inverno, um pouco menos frio do que Boston. Eu adorava aquele clima, vestia lindos casacos.

    A minha irmã mais nova, Kimberly, sempre ia comigo e com meu pai nessas viagens. Como eu amava a minha irmã! Ela parecia não sofrer tanto com as brigas dos nossos pais. Era mais extrovertida, tinha muitas amigas e estava sempre saindo para passear.

    Frequentávamos uma igreja protestante, e até na igreja me achavam um pouco estranha. Muitos criticavam minha introversão. Às vezes parecia que ser tímido era um crime.

    Acho que eu era uma adolescente atípica, do tipo que não se preocupava em ser cortejada pelos rapazes. Aliás, eu nem dava bola pra eles. Eu não corria trás de namorados, apesar dos meninos na escola correrem atrás de mim o tempo todo, coisa comum entre os adolescentes.

    Eu me perguntava o que aqueles garotos viam em mim, uma moça, digamos, sem graça, desajeitada, inteligente, mas um pouco distante de tudo. A verdade era que nenhum deles conseguia conquistar meu coração, muito embora fossem jovens lindos. 

    Mas isso não significa que eu não me apaixonava. Muito pelo contrário, eu me apaixonava sim, e muito, mas eram amores fora de hora e que não podiam ser correspondidos, por isso eu nem tentava nada. Eu não tinha maturidade para esse tipo de coisa e não eram todos que entendiam isso.

    Os rapazes queriam ficar comigo. Naquela época, nos anos 2000, havia a moda do tal de ficar, que era o beijo sem compromisso. Ah, eu nunca me esqueço das minhas colegas indo atrás da escola só para beijarem os meninos durante todo o recreio.

    Os meninos viviam me perseguindo, queriam me roubar um beijo. Como eu disse, sei lá o que eles viam em mim, mas a verdade é que eu não queria beijo casual, eu não queria nada disso.

    Uma vez aconteceu algo engraçado. Eu tive até que fugir da escola porque um rapaz queria me dar um beijo de qualquer maneira. O relógio marcou 17:30, o sinal da escola tocou indicando a hora de ir embora. Eu já estava no portão de saída quando o meu colega Sérgio correu em minha direção e disse nervoso:

    — Alyssa!

    — O que foi Sérgio? Aconteceu alguma coisa?

    — Aconteceu! Foge agora! Corre, porque o Claudio disse que vai te pegar para te dar um beijo, custe o que custar.

    Juro que naquele instante eu não contive a minha risada. A situação foi por demais engraçada, o meu colega estava mais desesperado do que eu. Confesso que apressei o passo a caminho de casa. Levava uns trinta minutos.

    O Claudio me perseguia na escola já havia dois meses. Vivia me mandando bilhetes, cartinhas, querendo se encontrar comigo. Mas a verdade é que eu, com treze anos, não sentia vontade de ficar com ninguém. Engraçado que naquela época ainda não havia acesso a celulares nem à internet como existe hoje, então as cartas e os bilhetes eram muito comuns.

    Sinceramente, eu não me achava tão bonita assim. Me achava estranha, mal conversava com as pessoas. Até hoje eu me pergunto como pode os meninos

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