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E-book366 páginas4 horas

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Sobre este e-book

Trip Wirley costumava ser só o menino novo e lindo do colegial católico de Layla Warren. Anos mais tarde, ele se torna o galã mais cobiçado de Hollywood. 

Você se lembra? é o primeiro livro de uma trilogia romântica New Adult que se passa inteiramente entre os anos 1990 e 1991. Ela te levará de volta para aquela época em que o mundo real ainda não tinha começado, aquele limbo entre a adolescência e a vida adulta, aquela provação de estar preso ao passado e, ao mesmo tempo, tentando entender os caminhos do futuro.

Com um romance de cortar o coração, cenas ardentes de amor e referências hilárias aos anos 80, leitores de todas as idades se verão na torcida por Layla e sonharão com Trip por anos e anos. É uma viagem encantadora pelo desafiador universo da amizade, da família e do colegial…

… e pela lembrança daquele cara incrível que seu coração parece não ser capaz de superar.
 

LEIA QUANDO ESTIVER A FIM DE ALGO:

Melosinho, divertido, sexy e nostálgico.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de set. de 2021
ISBN9781667412979
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    você se lembra - T. Torrest

    Trip Wirley costumava ser só o menino novo e lindo do colegial católico de Layla Warren. Anos mais tarde, ele se torna o galã mais cobiçado de Hollywood.

    Você se lembra?

    Anos antes de Trip Wiley poder ser visto em cinemas pelo mundo todo, era possível encontrá-lo na carteira atrás de mim, durante minhas aulas de Literatura no colegial.

    Isso foi lá em 1990. Estou dizendo o ano pra evitar pegar você de surpresa quando aparecerem referências a penteados super armados e leggings coloridas, mas, pensando bem, sou do Norte de Nova Jersey e talvez isso, por si só, já seja explicação o suficiente. A gente era adolescente na época, bem antes de qualquer um, inclusive ele, sequer sonhar que ele viraria a super estrela hollywoodiana que é hoje.

    Tenho certeza de que não preciso te dizer quem é Trip Wiley, mas pro caso de você ter passado a última década vivendo numa caverna isolada, saiba que atualmente ele é o principal ator com quem todos os diretores de elenco querem trabalhar. Ele é incrivelmente talentoso e loucamente lindo, uma combinação que deixou ele super rico, super famoso e super desejado.

    E não só por diretores de elenco.

    Não posso confirmar os boatos sobre os primeiros anos dele em Hollywood, mas com base no que soube sobre sua vida antes de ele virar uma celebridade, posso dizer que a ideia de Meninas-se-atirando-pra-cima-do-Trip não tem nada de novo.

    Eu saberia. Fui uma delas.

    E minha vida não foi mais a mesma depois disso.

    Você se lembra? é o primeiro livro de uma trilogia romântica New Adult que se passa inteiramente entre os anos 1990 e 1991. Ela te levará de volta para aquela época em que o mundo real ainda não tinha começado, aquele limbo entre a adolescência e a vida adulta, aquela provação de estar preso ao passado e, ao mesmo tempo, tentando entender os caminhos do futuro.

    Com um romance de cortar o coração, cenas ardentes de amor e referências hilárias aos anos 80, leitores de todas as idades se verão na torcida por Layla e sonharão com Trip por anos e anos. É uma viagem encantadora pelo desafiador universo da amizade, da família e do colegial...

    ... e pela lembrança daquele cara incrível que seu coração parece não ser capaz de superar.

    ––––––––

    LEIA QUANDO ESTIVER A FIM DE ALGO:

    Melosinho, divertido, sexy e nostálgico.

    Você se lembra?

    Uma comédia romântica

    Para Michael

    Prólogo

    BEM-VINDOS AO PARAÍSO

    Anos antes de Trip Wiley poder ser visto em cinemas pelo mundo todo, era possível encontrá-lo na carteira atrás de mim, durante minhas aulas de Literatura no colegial.

    Tenho certeza de que não preciso te dizer quem é Trip Wiley, mas pro caso de você ter passado a última década vivendo numa caverna isolada, saiba que atualmente ele é o principal ator com quem todos os diretores de elenco querem trabalhar. Ele é incrivelmente talentoso e loucamente lindo, uma combinação que deixou ele super rico, super famoso e super desejado.

    E não só por diretores de elenco.

    Não posso confirmar os boatos sobre os primeiros anos dele em Hollywood, mas com base no que soube sobre sua vida antes de ele virar uma celebridade, posso dizer que a ideia de Meninas-se-atirando-pra-cima-do-Trip não tem nada de nova.

    Eu saberia. Fui uma delas.

    E minha vida não foi mais a mesma depois disso.

    Trip e eu nos conhecemos quando a gente era adolescente, bem antes de qualquer um, inclusive ele, sequer sonhar que ele viraria uma estrela hollywoodiana. Isso foi lá em 1990. Estou dizendo o ano pra evitar pegar você de surpresa quando aparecerem referências a penteados super armados e leggings coloridas, mas, pensando bem, sou do Norte de Nova Jersey e talvez isso, por si só, já seja explicação o suficiente.

    Não se engane, não estou fazendo a caveira de Jersey. É meu lar, onde nasci e cresci, e é meu lugar favorito na face da Terra. Temos praias lindas, quilômetros de shoppings, a melhor comida do país e a maior cidade do mundo a apenas alguns minutos da nossa porta de entrada. Se já veio pra cá, nem preciso te dizer, você já viu com seus próprios olhos.

    E se não veio... bom, então por favor não acredite em tudo que vê na TV.

    É esse tipo de mentalidade que faz nossos rabos de cavalo torcerem: quando qualquer um de fora do nosso Estado dos Jardins – como somos conhecidos – sente que tem o direito de fazer comentários negativos sobre ele.

    Só pra evitar qualquer ferimento corporal quando vier nos visitar, fiz uma listinha de regras pros de-fora-da-área. Nós, de Nova Jersey, não achamos os seguintes comentários sobre nossa suposta pronúncia engraçados:

    1. "Ah, você mora em Nova Jérrzei? Qual saída?"

    2. "Ei, vamos dar um rolé na orrla?"

    3. "Cara, dexissupralá!"

    Seguem alguns outros comentários que, na certa e rapidinho, podem te ajudar a tomar uma na cabeça:

    Qualquer coisa que se refira aos nossos pedágios de acesso, cheiro, depósitos de lixo tóxico ou pântanos. Isso inclui também, mas não se limita a, referências à máfia, ao trá-pra-cá a coppa ou ao Bada Bing, ainda que a gente secretamente ame a Família Soprano.

    A grande maioria de nós não se parece em nada com as pessoas que você pode ter visto em Jerseylicious ou The Real Housewives of New Jersey. E nem me fale daqueles paspalhos de Jersey Shore.

    Mas, é claro, estou me precipitando.

    Em 1990, o pessoal de Jersey não tinha que lidar com representações tão negativas. Antigamente, a gente era visto como a cidade West Orange do laboratório de Thomas Edison e a Paterson do poema de Allen Ginsberg. Sayreville reinvindicou Bon Jovi como seu, Elizabeth era o lar de Judy Blume e Freehold era Springsteen dos pés à cabeça. Hoboken foi onde Frank Sinatra pendurou suas chuteiras e Metuchen onde David Copperfield tirou seu primeiro coelho da cartola. Naquele tempo, até Martha Stewart estava apenas começando a mostrar todas as coisas boas que aprendeu como uma adolescente engenhosa de Jersey que vinha de Nutley.

    E até mesmo na tediosa Norman, a gente flertava com essa grandeza – ainda que não fizéssemos ideia disso naquela época. Hoje em dia, podemos levar crédito por ter produzido o galã mais disputado de Hollywood. Porque hoje, Norman é o lugar que Trip Wiley sempre chama de casa.  

    PARTE UM

    1990

    Capítulo 1

    LISA

    Sou amiga da Lisa DeSanto desde que ela se mudou pra cá, quando tínhamos sete anos. A família dela veio de Atlantic City (o que parece incrivelmente exótico e mundano ao mesmo tempo), só pra seguir pro Norte e criar raízes no pequeno e esquecível subúrbio de Norman. Graças a Deus, aconteceu de eles comprarem uma casa na mesma rua em que eu vivi toda a minha vida.

    Lembro de ficar super animada quando descobri que uma menina da minha idade ia viver a três casas de distância! Até então, tinha de me rebaixar a andar pelo bairro com o meu irmão mais novo e os quatro meninos dos McAllister, que moravam ao lado da gente. As únicas outras meninas na nossa rua eram Flora e Phoebe Kopinsky, que na época eram bem pequenas.

    Não é que passar minha primeira infância com esses meninos tenha sido completamente ruim. Jogo queimada muito bem e sou famosa por, de vez em quando, lançar uma bola curva animal no baseball. Até hoje, sou capaz de escalar cercas sem esforço algum e é provável que minha tolerância à dor seja um pouco maior do que a da maioria das meninas que conheço.  

    Ao olhar pelos álbuns de família, consigo contar em uma mão o número de fotos minhas sem joelhos ralados ou curativos em algum lugar do meu corpo. Até as da minha Primeira Comunhão mostram uma garotinha aparentemente despretensiosa, mãos inocentemente em pose de oração, com um vestido branco e cheio de babados... e um gesso no antebraço. Não vou contar a história toda aqui, mas os motivos específicos pra eu ter quebrado meu pulso naquela primavera envolvem uma fantasia da Mulher Maravilha, um avião invisível e o teto da garagem dos McAllister.

    Lisa, por outro lado, sempre foi uma verdadeira menina mais do que eu. Não tinha percebido que eu era tão moleca até ir pra casa dela pela primeira vez. Por fora, era igualzinha à minha, dois andares e tudo mais, mas por dentro, uau, como tinha diferenças.

    Quando entrei no quarto da Lisa, logo fui avisada de que a mãe dela tinha deixado ela decorar o lugar quase inteiro sozinha. Era pintado de rosa, tinha cortinas brancas com ilhós nas janelas e uma colcha de arco-íris cobria sua cama de vime. Minha única tentativa de decorar naquele tempo tinha a ver com um cobertor do Scooby-Doo que ganhei no calçadão. As fotos nas paredes dela eram de David Cassidy, Scott Baio e Donny Osmond, meio distante dos pôsteres dos Yankees – feitos em 1978 pelo Burger King – e dos Beatles – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – pendurados nas minhas.

    Independentemente das nossas diferenças, ou talvez por conta delas, Lisa e eu somos melhores amigas desde então. Parece que foi nos dez minutos da primeira vez que nos vimos que ela me ensinou a repicar o cabelo, fazer presilhas enfeitadas com fitas e desenhar um unicórnio que se preze, atividades necessárias à sobrevivência de qualquer menina no final dos anos 70.  

    Ao longo dos anos, ela me arrastou pro shopping direto e me fez comprar jeans Fiorucci e Guess, calças de tactel cheias de zíperes, e, finalmente, pro meu completo constrangimento, pares de calças com pregas. Ela me guiou pelo corredor da morte à procura de maquiagem e roupas o suficiente pra me ajudar a montar uma personagem convincente a tempo do colegial.

    Antes disso, eu era meio sem noção. Jogava futebol com os meninos durante as férias e passava mais tempo subindo em árvores do que brincando com bonecas. Essas coisas de moleca não davam em nada durante o ginásio, mas na sexta série meus peitos já tinham começado a aparecer e foi aí que todos os meninos começaram a me olhar de um jeito meio estranho.  

    Isso é, todos os meninos menos aquele de quem eu tinha começado a gostar.

    Eu tinha uma hiper queda pelo Brian Hollander naquela época e não conseguia entender o porquê das minhas habilidades superiores nos esportes não chamarem a atenção dele. Foi quando a Lisa chegou e explicou gentilmente que os meninos gostavam de meninas que pareciam mais com, bom... meninas, e eu teria maiores chances com ele se começasse a agir como uma, e bem rápido.

    Foi nas férias de verão entre a sétima e a oitava séries que a Lisa deu total uma de Frankenstein pra cima de mim. Ela me muniu de um frasco de Giovanna Baby, um batom Boka Loka em bastão e me deu uma aula completa sobre beleza. Ela mostrou como passar maquiagem de acordo com meu tom de pele e cabelo e foi comigo comprar roupas que ressaltassem melhor meus novos peitos, sem me fazer parecer vulgar. No final das contas, levei um susto com quem me encarava de volta do espelho. Até aquele momento, não tinha percebido que queria ser... bonita. Mas lá estava eu, toda montada, cabelo feito e vestida como uma verdadeira menina. E percebi que a descrição da Lisa não era totalmente sem fundamento.  

    A mudança de visual fez maravilhas pela minha autoestima. Não que qualquer um fosse me confundir com a menina mais popular da escola (esse título pertencia exclusivamente à Lisa), mas me sentia confiante de que seria capaz de construir uma boa posição social pra mim mesma, independentemente do fato de eu ter pegado carona na fama dela.  

    Não podia esperar pra trombar com Brian e os amigos dele no lago, no parque ou algo assim. Já me imaginava fazendo uma entrada tão chocante quanto a da Sandy no final de Grease. Chegaria no parquinho, ou algum lugar em que todos os nossos amigos estivessem numa nice, e destroçaria um cigarro com os meus saltos altos. Todos os meninos ficariam de queixo caído e depois começaríamos a cantar We Go Together.

    No entanto, essa fantasia foi por água abaixo quando meu pai se recusou a me deixar comprar um par de calças reluzentes de lycra que encontrei na Clothing Town, uma loja de roupas aqui perto. Além do mais, tive um probleminha com o permanente que fiz, porque ele me deixou mais parecida com a Maria Bethânia do que com a Olivia Newton-John.

    Lisa gastou sua mesada inteira em um kit caseiro de permanente e me explicou que se a gente o passasse no meu cabelo, penteasse e deixasse agir por alguns minutos, meu cabelão devia diminuir.

    Acabou que ela estava certa, porque o tratamento me deixou com as madeixas levemente onduladas. Graças a Deus, porque senão eu teria passado o verão com o cabelo parecido com o do Fofão.

    Ao longo da nossa amizade, Lisa sempre amou o desafio de me apresentar novos filmes. Ela é responsável por alguns dos meus favoritos de todos os tempos, dentre eles Grease, que acabei de mencionar, e Vidas sem rumo, de quando minha feminilidade finalmente aflorou o suficiente pra eu desmaiar por Danny Zuko e Sodapop Curtis. Isso foi antes de me formar em verdadeiros longas-metragens, como Um bonde chamado desejo e Um lugar ao sol, que foi quando nossas quedinhas amadureceram e passamos a incluir Marlon Brando e Montgomery Clift nas nossas listas de desejo.

    Ela sabia tudo sobre tudo e, diariamente, tentava transmitir sua sabedoria super vasta pra mim. O assunto desses conhecimentos ia da moda ao rímel e a como dar um beijo de língua. E esse último me levou a trocar meu primeiro beijo de verdade com Brian Hollander no porão da casa da Lisa, durante uma partida de verdade ou desafio.

    Na certa que era marmelada, porque o sortudo do Brian era o único menino que estava lá quando ela sugeriu que nós três jogássemos. Concordamos e Lisa, sempre a melhor das amigas, discutia a direção pra qual a garrafa estava apontando sempre que ela parava perto dela. Nas duas vezes que não conseguiu negar que tinha que ser ela, Lisa simplesmente deu um selinho em Brian e deixou que eu fosse a única a trocar saliva mesmo com ele. É claro, o prazer de Brian ao perceber que eu seria a mais fácil de ganhar o levou a me guiar pra uma verdadeira sessão de amassos no banheiro. Até deixei ele colocar a mão no bolso de trás do meu jeans! Foi mesmo uma tarde memorável.

    Ainda que beijar Brian devesse ter sido inesquecível por si só, tem outro motivo praquele famoso dia não desgrudar da minha mente.

    Foi quando minha mãe abandonou a gente.

    Depois de todos esses anos, ainda é difícil falar sobre isso sem ter papas na língua.

    Quando você é uma criança que foi abandonada, isso vira o cerne de quem você é como pessoa. É que nem quando um dos seus pais morre, mas sem nenhum tipo de conclusão. De repente, você passa de alguém normal, e pra quem ninguém liga, para A-menina-que-não-tem-mãe.

    Pra piorar as coisas, enquanto milhões de perguntas rodopiam pela sua cabeça, tem os interrogatórios feitos pelos seus amigos, conhecidos e pessoas que você mal conhece. Você tenta ser educada e solícita com todos que perguntam sobre a sua situação, mas, na real, só quer dar um tapa neles e mandá-los irem cuidar da própria vida.

    Mas os piores são aqueles que não se incomodam em perguntar nada. São os que pensam que entenderam tudo e não precisam ir atrás da verdadeira história. São aqueles que vão fazer comentários cheios de pena pelas suas costas, tipo: ah, pobre menininha, ou o homem envelheceu dez anos da noite pro dia quando aquela mulher o deixou. De vez em quando, eu ouvia, por acaso, alguém dizer algo como aquela mulher, a tal de Kate Warren, o que sempre me deixava de cabelo em pé.

    Rolou muita fofoca naquele verão, mas, ainda bem, não soube da maioria delas até a minha adolescência. Acho que estava muito envolvida com meus próprios sentimentos pra me atentar, ou ligar, pro que qualquer um na cidade podia pensar do assunto. Estava ocupada demais lidando eu mesma com isso, presa aos meus pensamentos durante as semanas que se seguiram à ausência dela.

    No final das contas, passei por maus bocados durante parte daquele verão e dou à Lisa o crédito por ter me tirado dessa. Parece que ela estava lá em cada um dos momentos – os mais importantes e os mais banais –, durante toda a minha vida.

    Um dos nossos momentos mais espetaculares foi quando começamos o último ano do colegial e faltava cerca de um mês pra eu completar dezessete anos. E por isso, minha mente tinha ainda mais motivos pra se distrair durante aquele dia específico de setembro[1], em 1990.

    Era um dia lindo, ensolarado e meus pensamentos estavam tomados pela minha liberdade veicular iminente – eu ia tirar a carta![2]

    Portanto, eu não estava preparada pra bomba que ia estourar daqui a pouco na minha aula de Literatura em Língua Inglesa, no que, em outras circunstâncias, seria uma tarde normal de segunda-feira.

    Capítulo 2

    TRIPWIRE

    Era o quinto período e eu estava na aula de Literatura em Língua Inglesa da prof.ª Mason quando aconteceu.

    Era só a segunda semana do novo ano escolar, meu último ano (finalmente!) no hiper prestigiado St. Nicetius Parochial High School – já que era a única escola católica da cidade, era chamado informalmente de St. Norman – e eu já contava os dias pra formatura. Menos cinco; faltavam mais cento-e-setenta-e-cinco.

    Não é que eu não gostasse da escola. É só que o tempo ainda estava perfeito em setembro, então era difícil voltar pro modo-instituição com o sol brilhando maldosamente através das janelas da minha cela amarelo-manteiga de concreto; o calor de um raio solar contra a minha pele me tentava com um tique-taque quase audível, enquanto o verão fazia a contagem regressiva de suas horas finais.

    Eu observava o lado de fora, inspirava o cheiro de grama quente recém-cortada e pensava em dar um mergulho na piscina no final do dia. A piscina era meu paraíso, o lugar pra onde podia ir sempre que queria me fechar pro mundo. Viver em Nova Jersey deixava uma janela de só cinco meses pra essa atividade, mas às vezes meu pai ficava com pena de mim durante o inverno e torrava grana numa diária pro uso da piscina do centro comunitário judaico. Porém, como ainda era setembro, sabia que faltavam pelo menos algumas semanas até isso ser um problema. Eu tinha conseguido a proeza de dar uma corridinha antes da escola naquele dia depois de levantar antes do meu alarme tocar, o que me deu tempo pra nadar um pouco também. Voltei meu rosto pro meu ombro e inspirei pra sentir o restinho de cheiro de cloro sob a camada de laquê da Wella em meus cabelos, promessa da tardezinha preguiçosa e flutuante que estava por vir.

    Há algumas semanas, eu tinha tido uma fase ruim por conta de um clareador que deixou meu cabelo, castanho-escuro, com mechas de um dos mais horríveis tons de laranja queimado. Depois de rir histericamente do meu mico, Lisa, minha melhor amiga, veio e me ajudou a pintar de volta pra cor natural. Eu teria achado isso super prestativo, não fosse o fato de que foi Lisa, em primeiro lugar, quem insistiu pra que eu fosse seu ratinho de laboratório e testasse essa marca de clareador.    

    Eu olhava melancolicamente pela janela, pro tempo ensolarado. Sonhava acordada em pegar um bronzeado, andar por aí no velho e surrado Dodge LeBaron da Lisa com a capota abaixada e dar mais uma corridinha quando chegasse em casa da escola.  

    O segundo sinal nem tinha tocado e eu já estava viajando na maionese, dobrada sobre a minha carteira e esperando a prof.ª Mason continuar com o segundo ato de Romeu e Julieta. Eu tinha lido o livro inteiro durante o final de semana, mas não podia comentar nada, já que Mason tinha nos instruído, claramente, a não ler além do pedido.

    Meus ouvidos voltaram à ativa quando escutei a professora falar por cima do barulho da sala, que ainda estava agitada:

    – Obrigada. Você pode se sentar naquela carteira atrás da senhorita Warren, perto das janelas – os professores sempre tentavam transmitir uma ilusão de respeito ao chamar a gente pelo sobrenome.

    Meus pais me atribuíram um nome lamentável: Layla. Meu pai sempre explicava que minha mãe estava no meio de uma fase rock and roll bem intensa na época do meu nascimento, o que explica – mas não justifica – o fato de o meu irmão se chamar Bruce Springsteen Warren. Sem brincadeira.

    De qualquer forma, eu não estava prestando muita atenção na prof.ª Mason até escutá-la dizer meu nome. Olhei e vi alguém novo entregar uma tira de papel pra ela e depois se virar na direção que o dedo dela apontava. A vista que me esperava foi o suficiente pra parar meu coração.

    Se eu estivesse num filme, os acordes iniciais de Crazy Train tocariam e criariam uma trilha sonora pro menino lindo que caminhava até mim em câmera lenta. Nossos olhares se encontraram por um segundo antes de eu perceber que estava encarando e, de repente, olhar pro outro lado.

    Tentei parecer entretida pelo meu livro, virava páginas e evitava fazer contato visual enquanto ele andava pelo corredor e ocupava a carteira atrás da minha.

    Eu costumava adorar o fato de os lugares serem feitos alfabeticamente, de acordo com o sobrenome. Na maior parte do tempo, eu acabava nas carteiras próximas às janelas e quase sempre ficava com o último lugar da fileira. Não podia imaginar ser alguém como Sonny Aetine, que normalmente acabava com a primeira carteira perto da porta da sala. Sempre ficava fula da vida quando o Art Zarelli estava na aula comigo, porque era a única vez em que tinha que lidar com alguém sentado atrás de mim. Mas, agora, aqui estava esse cara novo na carteira atrás da minha e, de repente, a ideia não parecia ser tão ruim assim. Ele mal teve tempo pra se acomodar e o sinal bateu, indicando o início da aula.  

    A professora se levantou e anunciou o óbvio: 

    – Boa tarde, turma. Vocês devem ter reparado que temos um aluno novo hoje e eu gostaria de convidá-lo a vir aqui se apresentar.

    Meu Deus, que tipo de curso sobre sadismo os professores frequentam que encoraja a tortura dos novatos? Se tivesse que encarar a sala inteira e apresentar um resumo da minha biografia, eu provavelmente morreria, mas o Novato andou tranquilamente até a frente da sala sem o mínimo constrangimento. E então, porque todos os olhos estavam sobre ele, tive uma desculpa pra olhá-lo diretamente.

    Ele tinha cabelos cor de areia, com alguns reflexos naturais. Eram mais longos na parte de cima, mas curtos o bastante perto da nuca, de forma que a Irmã Jean não o arrastaria pela orelha até sua sala para raspar sua cabeça – como, segundo boatos, já tinha feito. Eu esperava que ele escapasse dessa, porque seria um crime raspar uma juba dessas.

    Ele sorria e expunha seus dentes brancos e brilhantes enquanto colocava uma das mãos em seu bolso traseiro, o que fazia o músculo de seu braço se destacar por baixo da manga branca de sua camisa social.    

    Meu Deus.

    Ele desarrumava a parte de trás de seu cabelo com sua mão livre enquanto a prof.ª Mason o apresentava pra classe como Terrence C. Wilmington Terceiro, o que o fez corrigi-la imediatamente:

    – Todo mundo me chama de Trip.

    Sua voz suavemente grave me pegou de surpresa. A professora devia estar um pouco afetada também, porque não encrencou por ter sido questionada e simplesmente sorriu de volta para o olhar direto e o sorriso charmoso de Trip.

    Ele se voltou à nossa classe e começou com a facilidade de alguém que já tinha tido que suportar esse ritual primitivo muitas vezes antes.

    – Meu nome é Trip. – Repetiu. – Minha família acaba de se mudar pra cá de Indianápolis.

    Não sei o porquê, mas a frase caipira de Indiana crescido à base de milho me veio à cabeça nessa hora. Indianápolis está longe de ser cheia de campo e fazendas, mas eu não considerava nenhum lugar, a não ser Nova Iorque, uma cidade. Até onde eu sabia, tudo o que ficava a oeste daqui era composto por ondas douradas de plantações. Mas, ainda que tivesse a aparência de alguém que poderia perfeitamente ser escalado como cuidador sexy de cavalos, ele era refinado demais pra ser confundido com um mero trabalhador rural. Independentemente de ter crescido no campo.

    – Antes de Indy, a gente viveu em Seattle, Phoenix, Los Angeles e Chicago, que foi onde eu nasci.

    Ah, beleza. Mais cidades.

    A prof.ª Mason interrompeu seu discurso nessa hora:

    – Seu pai faz parte do exército, Trip?

    – Hm, não. Ele trabalha com hotéis, mas acho que entendo por que você teve essa impressão de que sou um mala do exército. Segundo minha irmã, a parte do mala me define muito bem.

    Algumas meninas deram risadinhas da piada, que teria sido recebida com barulhos de grilo se tivesse sido contada por alguém menos lindo. Ri silenciosamente desse pensamento e torci pra que ninguém tivesse reparado.

    – Meu pai gosta

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