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O Homem Que Não Beijava as Mulheres
O Homem Que Não Beijava as Mulheres
O Homem Que Não Beijava as Mulheres
E-book250 páginas6 horas

O Homem Que Não Beijava as Mulheres

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Sobre este e-book

Fue una vez que me gustó, cruel, manipulador, com sentimentos de ferro, que segundo día fue incapaz de preguntarle a alguien. Más de repente se puede ver este tema para obtener información sobre cómo sentir, amarlo y sofocarlo como una persona más mortal. Adolf Hitler, Adolfo Hitler. Seus medos, suas paixões, seus pensamentos and asitudes más incompatibles de su vida. Además, el lector se revela un único romance revelado. Una edición está dedicada a un romance: “Una obra está escrita en primeira pessoa, ne ne o autora narra internamente o bien que se produzcan los protagonistas, desenvolverse en la profundidad de la vida y el prendendo y la lectura desde el principio. El tema de la aplicación de los datos personales en cuestión se refiere a los temas de salud y desarrollo. O romace se inspire en livros místicos como Meu Amigo Hitler, o Varsovia 1944, además de contar con un importante trabajo de documentación e investigación como poder de aprendizaje a lo largo de todas las partes. Una obra que aborda todos los aspectos de um best seller: segredos, escándalos, terror, conflitos bélicos, personaje carismático, Adolf Hitler, uma trama cheia de mistério, amor, saudade, dor, rejeição, arte, música, pintura, romance, E Tudo isso amalgamado con un estilo fresco, rápido, dinámico, que no ha sido publicado en el calendario. O autor consiguió una maestría en una obra realmente interessante, abordo un trama y un subtrama con una simplicidad digna de nota. Conseguiu contar grandes feits com palavras justas y de uma elegância realmente extraordinária, fazendo por conseguinte com que o leitor fique preso à narrativa do início ao fim. Semejante tipo de dúo, esta obra muestra algunos aspectos de los enigmáticos y los desconfiados de Hitler, junto con las historias históricas y las redes sociales.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento11 de set. de 2019
ISBN9781547527786
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    O Homem Que Não Beijava as Mulheres - MOHAMED BOUZITOUNE

    O ruído de um beijo não é tão forte quanto o de um canhão, mas seu eco dura mais, muito mais. Nenhum amor é tão verdadeiro quanto aquele que morre sem ser revelado.

    Viena, 6 de fevereiro de 1972

    PRIMEIRA PARTE

    Não posso mencionar meu nome, minha origem nem tampouco, possivelmente, meu porvir. Porque por mais que o faça, careceria de veracidade. Tudo mudou para mim em tão pouco tempo, de uma forma inesperada e avassaladora... A tal ponto que embora eu seja um psiquiatra experimentado em meu ofício e familiarizado com os mais estranhos delírios humanos, hoje minha própria vida me parece o mais inverossímil de todos os delírios.

    Meus anos nos hospitais austríacos – os mais intensos de minha vida – transformaram-se nestes últimos meses num universo caótico e cheio de uma lógica inquietante. Estarei ficando louco? Isso não seria estranho para um psiquiatra, mas não é o caso; eu simplesmente estou buscando ordenar o caos em que se encontra minha existência. É um paradoxo, mas agora que sei tudo sobre meu passado, sobre meus pais, tudo quanto se encaixava perfeitamente em minha vida é agora um labirinto e é hoje que eu menos sei de mim, e muito menos sei o que vou fazer daqui por diante. Não sei, simplesmente não sei. Deixem-me narrar-lhes como cheguei a este ponto.

    Até os treze anos, minha existência era normal. Vivia pela comuna de Mittelland, num bairro tranquilo de Berna, chamado Gäbelbach. Tinha pais carinhosos, um lar confortável e pacífico, amigos no bairro e quase todos os vizinhos me conheciam.

    Meu pai se chamava Klaus Hüttler e era tabelião; minha mãe, Ada Strauss, era professora de jardim de infância. Não eram diferentes da maioria das famílias burguesas suíças: beijos de encontro ou despedida, abraços e presentes nos aniversários ou após alguma encenação boba no colégio. Estava acostumado a pedir pouco, pois meus pais pareciam antecipar-se a meus desejos.

    Eles costumavam me paparicar, porém, na realidade, agora que os avalio de outra perspectiva, parece que eles eram um pouco servis em seu carinho. Recordo com afeto especial aqueles passeios de sábado à tarde pelas arcadas da cidade velha, até a catedral de Münster e a Feira da Cebola em agosto, que nunca perdíamos. 

    Meu pai parecia um tanto chato na lida, às vezes inclusive meio bobo, mas eu gostava dele assim, com aquela formalidade desgastada de funcionário. Minha mãe, por sua vez, acredito que sentisse por mim um amor sincero. Ela parecia ler em meus olhos quando eu estava triste, quando eu estava com algum dilema, inclusive quando eu mentia para ela. Seus abraços foram sempre um refúgio irrefutável diante de qualquer bobagem ou medo irracional de minha parte. Ela nunca me falava de meus primeiros anos, daquelas emoções maternais que se tem com os primeiros passos ou as primeiras palavras, nem de outros episódios familiares dos quais esses primeiros anos da inexperiência maternal sempre estão repletos. Apenas sorria e dizia: Você sempre foi um anjo de menino e muito curioso, como ainda é... Eu ficava com aquela resposta vaga que nem sequer correspondia em nada a minha própria imagem. Não me lembrava de mim mesmo como um menino pequeno, exceto por alguns pesadelos muito estranhos que costumavam aparecer em minha mente. Eram estalidos cheios de brilho e que pareciam me ensurdecer, embora eu não ouvisse imaginariamente nenhum som. Nesses sonhos esporádicos eu só via sombras se desvanecendo, voando ou caindo em abismos escuros. Às vezes eu procurava identificá-las com alguma festa noturna cheia de fogos de artifício, como as que alguns povos do sul realizam.

    Todo espelho era objeto de minhas perguntas absurdas. Parecia armar-se uma realidade paralela naquela imagem virtual que, quando eu tentava palpar, só tinha a frieza de um vidro inexistente, povoado apenas pelas imagens confusas nele refletidas. Fazia caretas diante deles, gesticulava, me mexia e acreditava ver um duplo meu... que sempre estava ali, bem à minha frente ou dentro de mim.

    Quando ficava sem sono eu recordava na cama aquelas imagens e acabava sonhando com elas, completamente disparatadas. Sentia-me só e não entendia por que não tive irmãos nem irmãs. Ao perguntar sobre isto, notava um certo rubor em minha mãe e uma ponta de inquietude em meu pai. Ele simulava uma certa seriedade ao dizer: filho, não foi fácil para nós ser pais e, ao ter você, sua mãe ficou muito doente; talvez por isto não quisemos arriscar sua vida. Desculpe-nos. Além do mais, não se preocupe, os filhos únicos como nós somos muito mimados e não precisamos compartilhar nada nosso com ninguém. Isto era o que eu menos gostava de ouvir daquela historinha recorrente e terna. Nada teria me alegrado mais do que ter um irmão de quem eu pudesse ser às vezes cúmplice, às vezes adversário.

    Nunca contei isso a meus pais, mas certa vez fiz a pergunta a Herr Singer, que era nosso médico de família, amigo de infância de meu pai e cuidava da minha família desde sempre. Perguntei-lhe com aquela gaiata inocência que se tem quando criança: Minha mãe ficou muito mal quando eu nasci? Ante aquela pergunta o ingênuo médico afirmou que minha mãe nunca teve nada, fora uns resfriados. "Uma saúde de ferro!", disse. Eu me limitei a sorrir; alguém ali estava mentindo. Mas isto não tinha a menor importância; eu tinha muitos amigos entre os rapazes do bairro e do colégio. Fazíamos todas as travessuras que nos desse vontade de fazer. Raramente eu era punido por isto, exceto uma vez, quando entramos com Gunther e Ralph na capela do colégio pela janela e roubamos umas velas, mas isto é história de meninos.

    Considerava minha família numa posição econômica confortável, embora não se pudesse dizer que fôssemos ricos. Percebia, contudo, algumas contradições entre a receita de meus pais e o colégio Herberststrasse em Salem, onde eu estudava. Era um dos colégios mais caros e privilegiados da cidade, e as famílias de meus companheiros de classe eram as mais poderosas da sociedade de Berna. Ali a educação era extremamente rígida. Só se falava em alemão. Costumavam organizar atividades extraescolares com a encenação de obras de teatro medievais de origem pangermânica. As exigências pecuniárias também eram consideráveis. Eu procurava explicar essa aparente contradição entre a educação que recebia e a relativa liberalidade de minha casa, entre a confortável modéstia de meus pais e o alto dispêndio com minha escola. Diante de qualquer comentário meu a esse respeito, explicavam-me que isso não era problema, que qualquer gasto que parecesse um encargo extraordinário, faziam-no para o meu bem. Além disso, sempre surgia uma explicação para muitas coisas: a herança de meu avô vienense.

    Eu era um dos poucos que usavam os velhos bondes urbanos de Bernmobil para ir às aulas e delas voltar, mas este fato não me causava qualquer problema, fora ouvir alguma ironia eventual de meus companheiros que vinha à escola e voltavam para casa diariamente em automóveis luxuosos.

    A primeira impressão que rompeu com meu esquema doméstico cotidiano foi pouco depois que fiz treze anos. Certo dia voltei para casa mais cedo que de costume. Ao chegar, encontrei a porta semiaberta e fui entrando, despreocupado. Meu pai estava no corredor dos fundos, numa acalorada conversa telefônica; pelo tom de sua voz, devia estar falando com algum empregado ou funcionário...

    – Isto não pode ser, senhor. O senhor acha que nós temos uma fábrica de dinheiro? Já são dois meses que o depósito de seu banco atrasa. A Escola do rapaz nos custa muito caro, e agora ainda nos exigem pagamento extra pelo uso do ginásio e pelas visitas que se realizam. Entenda, eu não passo de um simples tabelião com salário modesto e...– alguém respondia do outro lado da linha com frases tranquilizadoras.

    – Está bem, está bem, mas que não passe de dois dias. Lembre-se de nosso compromisso. – desligou o telefone e, ao me ver parado ali perto, mudou de expressão, procurou dissimular sua zanga e passou a me dar explicações desnecessárias sobre um suposto cliente seu que o estava agoniando com um trâmite pendente.

    Cumprimentei-o como de costume e, ao chegar a meu quarto, comecei a divagar sobre o que tinha (ou acreditava ter) ouvido. Por que meu pai se referia a mim como "o rapaz"? Quem lhe pagava por meus estudos e por que fazia isso? Que tipo de compromisso existiria entre um funcionário de banco e meu pai? Teria tudo isso algo que ver aqueles envelopes que recebíamos sem falta nos primeiros dias de cada mês? Conforme as perguntas me inundavam, senti um vago desassossego. Procurei fazer meus deveres de casa e esquecer aquela situação inquietante que começava a me perturbar.

    Passaram-se os dias e o incidente virou uma lembrança insignificante. No entanto, meus jogos com os espelhos começaram a ganhar novo sentido. Arrumei uma foto do casamento de meus pais e a coloquei na cômoda, junto a meu espelho. Sem querer eu olhava com mais atenção os traços de meu pai e os de minha mãe. Certos detalhes como seus olhos, seus narizes e até suas poses. Aquela fotografia não foi o suficiente. Comecei a rever alguns álbuns fotográficos familiares com muita atenção e (que casualidade!) em nenhuma foto existente eu aparecia com menos de três anos de idade. Em fotos dos anos iniciais de casamento, meus pais sempre estavam sós; a primeira foto que tinham comigo era na plataforma de uma estação ferroviária. Não era a estação Zofingen, em Berna.

    Segundo eles, eu nascera em setembro de 1939, no povoado de meu avô: Linz, em Viena. O casamento de meus pais, aquela breve estada vienense e os detalhes de meu nascimento jamais me eram mencionados. Supostamente, eles tinham se casado em Berna e passaram um ano em Viena, com meu avô. Uns sorrisos bobos e ações evasivas citando criancices. Quando eu lhes perguntava diretamente sobre isto, a resposta sempre soava superficial. As fotografias de mim em bebê teriam ficado com meu avô e aquela de quando nos despedimos dele na estação, que conservávamos em nossa sala, mostrava somente nós três. Que coisa mais estranha, meu avô não estava na foto. Jamais insisti; julguei tratar-se de coisas de família.

    Minha mãe tinha cabelos ruivos, olhos de pálpebras caídas e íris escuras, nariz pequeno e arrebitado, lábios carnudos e finos. Meu pai também tinha cabelo castanho claro e era meio calvo; em contrapartida, tinha olhos alongados e negros, um nariz longo que se destacava e apesar do grande bigode que lhe cobria os lábios, facilmente se podia adivinhar que eles eram protuberantes. Meus jogos no espelho me aborreceram e acabei por não perder mais tempo com essas bobagens. Além do mais, algumas moças do bairro que eu observava com maior interesse quando passeava pelo parque ali pertinho passaram a ocupar meu tempo livre.

    O tempo apaziguou minhas hesitações. Tudo voltou à normalidade, embora eu começasse a levar comigo, na carteira, fotos de meu pai e de minha mãe. Sempre que podia eu as colocava junto a uma das minhas e comparava nossos traços. Com quem eu me parecia? Eu fazia a mesma pergunta a alguns dos amigos, conhecidos e professores meus. As respostas eram variadas e contraditórias; todas soavam com uma pontinha de hipocrisia gentil. Meu pai e minha mãe não tinham, nenhum dos dois, olhos de cor azul celeste nem cabelo preto e liso, como eu. Ante minhas dúvidas, mencionavam apenas que devia ter sido herança de meu avô. A grande guerra era um assunto que ninguém mencionava em casa e que eu, à falta de qualquer lembrança própria possível, ignorei por completo. Naqueles anos de infância e puberdade, senti um pequeno resquício de melancolia incurável em meu caráter. Eu me apaixonava, chegava mesmo à mais extremada paixão; lembro-me de uma moça chamada Karina, um pouco mais velha que eu. Trabalhava como enfermeira num centro de saúde municipal. Conheci-a quando fui fazer uma curativo por um leve acidente em meu dedo indicador esquerdo. A delicadeza com que me tratava despertou em mim uma imagem erótica. Convidei-a para um cinema e ela me respondeu claramente:

    Saio às cinco, espere-me lá fora, iremos a minha casa...– Nada respondi, só fiquei parado em frente ao prédio onde ela trabalhava desde as quatro e meia. Saiu tranquila, virou à direita e, ao me ver, fez um gesto para que eu a seguisse. Depois de dobrarmos a esquina, fomos caminhando juntos. Era ela quem fazia as perguntas: meu nome, onde eu estudava, onde morava, com quem e outras coisas mais. Eu respondia com timidez e prolongava um pouco cada resposta para dar a ela a impressão de ser um pouco mais velho do que era. Devemos ter caminhado umas cinco quadras, e chegamos a uma casa de dois andares onde se entrava por uma espécie de saguão. No centro havia umas escadas. Subimos. Ela abriu a segunda porta do corredor dos fundos.

    Entre – disse-me. Entrei com lentidão, observando tudo ao meu redor; tirou o chapéu e a pequena capa de pano que levava.

    Sente-se e coma uma das maçãs que estão na mesa. Eu vou tomar um banho, não devo demorar muito.

    Hesitei por alguns minutos e, por fim, peguei uma daquelas frutas e comecei a comer com ansiedade; mal terminei, vi-a sair. Aquela moça atraente e recatada que eu acompanhara tinha se convertido numa bela mulher. Seus cabelos úmidos, parcialmente recolhidos numa toalha, uma bata leve e umas sapatilhas delgadas, converteram-na em uma imagem extraordinária.

    Acompanhe-me, venha – disse, e entramos no que teria sido seu quarto.

    Por favor, ajude-me a secar as costas - disse, enquanto deixava cair a bata e me entregava uma pequena toalha. Ela estava nua e me puxou para si, deu-me um beijo devorador e molhado. Senti seus lábios invadirem os meus de um modo compulsivo. Perdi a timidez e me lancei sobre ela, beijando-lhe o pescoço inteiro e depois fui descendo até os seios. Seus mamilos ganharam uma dureza suave e sensível. Ela os pegava por baixo e era como se os entregasse a mim. Aquela tarde durou até as dez da noite. Quando despertei do cochilo, ela ainda estava dormindo. Vesti-me apressadamente, com cuidado para não despertá-la e saí à rua como um guerreiro ou um escravo, já que me sentia essa duas coisas. Em casa me deram uma bronca, imaginando que eu tivesse feito trapaças em nada parecidas com o paraíso que tinha vivido naquelas horas.

    Passaram-se três dias e eu não me atrevi a voltar. Na sexta-feira subi com temor aquelas escadas semiescuras, hesitei diante da porta e escutei algum movimento lá dentro. Ao cabo de alguns segundos a porta se abriu, com certa lentidão. Apareceu um sujeito de cabeça rapada que parecia ter-se levantado de uma longa sesta e estava de mau humor.

    O que é que você quer? Está procurando alguém? – disse ele com torpeza; eu o vi aturdido, creio que balbuciei um desculpe-me depois fugi na direção das escadas. Ouvi as expressões mal-humoradas daquele homem como um rumor distante. Nunca mais voltei lá. De quando em quando passava pela frente da casa, murmurando Karina, Karina. Nunca soube o que aconteceu, se o homem era seu pai, seu amante, seu marido ou se, quem sabe, fui eu que errei de porta em minha confusão. Mas aquela experiência ficou em minha mente como uma lembrança confusa e amável. Tive outras namoradas no colégio, mas nunca passei das simples fanfarronices e fantasias colegiais. Fui homem antes de conhecer o amor e de uma forma tão intensa, que qualquer beijo roubado ou jogo louco de lençóis na vida adolescente me pareciam pouca coisa.

    O tempo foi passando e a certeza do carinho de meus pais sempre se mesclou com uma leve ameaça de orfandade.

    Assim que concluí o ensino médio, decidi estudar medicina. Na verdade, nem estava muito convencido de que fosse exatamente o que eu queria fazer, mas isso me permitiria ir à Escola de Medicina de Viena, cidade de meu avô. Os preparativos duraram semanas, que me pareceram meses. Afinal, chegou o dia da minha viagem e apesar da despedida sentimental que tive, senti algo que tinha mais o gosto da liberdade e um regozijo íntimo. Estava convencido de que longe deles eu encontraria melhor a mim mesmo e acharia meu próprio caminho.

    Após longas horas de sono, passamos por um longo trecho do lago Konstanz para chegar depois a Zurique e dali, passando por Bulach, até a Áustria. Cheguei à estação Westbahnhof de Viena numa noite úmida da primavera de 1958. Assim que desci numa das plataformas um homem maduro, vestido de preto, me fez sinais com certa familiaridade, como se me conhecesse desde sempre. Aproximou-se com passo apressado. Tinha um rosto abatido, delgado e com bigode grisalho; quase sempre permanecia calado. Podia-se notar um gentil e permanente sorriso no fundo de seus olhos verdes.

    – Bem vindo a Viena, querido Ritter, não imaginava você de outra maneira! Que bom que esteja aqui, – abraçou-me com efusividade. Ao notar minha surpresa, disse – Homem, você não me conhece, obviamente. Sou August. Sou muito amigo de seu avô e de seus pais. – apertou minha mão efusivamente e me deu mais um abraço, para afinal me mostrar a saída da estação. Pegou minha bagagem e continuou falando comigo sem parar.

    Tomamos um taxi e chegamos a uma casa no 1127 da rua Wolkersbergenstraße. Era uma casa pequena de dois andares com um pequeno jardim na entrada cheio de peônias. Dentro, um pequeno saguão com uma lareira sobre a qual havia um pequeno quadro de Klimpt, muito belo. A sala de jantar tinha uma mesa ovalada e ao fundo ficava a cozinha. Nas paredes em verde claro havia pequenas vistas de Berlim emolduradas em dourado. Nos fundos da casa havia dois quartos contíguos; num destes morava frau Helen com o netinho. Ela foi apresentada como minha governanta e cozinheira. No segundo andar, subindo umas escadas de caracol, à esquerda ficava meu dormitório com um banheiro amplo e uma banheira de bronze. Uma porta de carvalho unia o quarto a um amplo estúdio com uma escrivaninha ampla e outros móveis. Nas paredes laterais, estantes guardavam uma considerável biblioteca. Livros de Medicina, filosofia, literatura e outros. Um pequeno paraíso para um estudante como eu. De nada podia me queixar, era um lugar muito cômodo; da janela via-se ao longe o Danúbio serpenteando entre os edifícios e as casas. Meu ainda desconhecido benfeitor me disse que se ocuparia de todas as minhas necessidades. Ele me deixou um número telefônico, uma caderneta de poupança aberta no Berenberg Bank em meu nome e se despediu apressado.

    No dia seguinte ele apareceu logo após o café da manhã. Ouvi uma buzina e vi August num Mercedes Benz cinza, fazendo sinais para mim. Saí depois de alguns minutos e ele me convidou a passear pela cidade e visitar a Escola de Medicina. Rodamos a Ringstrasse desde a esquina com Karnerstrasse, junto à Opera. Entramos por alguns minutos no palácio de Hofburg e seus preciosos jardins, até chegar ao Belvedere. Alcançamos as praças de são Carlos, visitamos em seguida os museus do Museumsquartier. Eu estava agoniado pelo passeio e lhe pedi que parasse em algum café para tomarmos alguma coisa.

    August era um apaixonado por música e quis fazer para

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