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Luz
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E-book273 páginas2 horas

Luz

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Sobre este e-book

Um mensageiro chega a Terra a fim de evitar que o mundo entre de vez em um verdadeiro colapso. Enfraquecido e perdido diante de tanta perversidade, agora precisa descobrir quem realmente é e porque logo ele foi designado para essa incrível e fascinante missão...Um livro para quem acredita em dias melhores...
IdiomaPortuguês
EditoraM-Y Books
Data de lançamento22 de jun. de 2017
ISBN9781526002167
Luz

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    Luz - Dani Santos

    cover.jpg

    PREFÁCIO

    __________________

    "Que é o homem,

    para que te lembres dele?

    E o filho do homem,

    para que o visites?

    Contudo, pouco abaixo dos seres celestiais o fizeste;

    de glória e de honra o coroaste."

    -SALMO 8:4-5

    Uma forte tempestade caia na escuridão de uma pequena cidade no interior. Grande parte da população se encontrava em sua residência, muitos desfrutando um bom cobertor e chocolate quente. Lá fora, a chuva lavava as ruas desertas levando as folhas secas do outono. De madrugada, as luzes dos postes pareciam não iluminar quase nada. A rua trazia solidão e logo a pequena tempestade foi partindo ficando apenas pequenos pingos de chuva, que também fracos seguiram seu caminho, deixando a rua molhada e triste. No meio de tanto silêncio, um grito de dor ecoou de uma mulher deitada em um colchonete no chão.

    -Mãe, eu não vou aguentar! -chorava ela entre um soluço e outro.

    -Você consegue sim. Aguente firme! Use toda tua força... -falou a senhora tentando acalmá-la observando se a criança estava saindo.

    -Estou passando mal! Vou desmaiar... -a moça esperneava-se desesperada. - Tem alguma coisa errada mãe.... Tem alguma coisa...

    -Agora não. Vamos lá, pelo amor de Deus! - continuava tentando acreditar que os reclames da filha não passavam de ansiedade.

    A garota gemia, se contorcia e sem mais forças estava prestes a desistir de lutar.

    -Estou vendo a cabeça, filha. Faz mais uma força, está vindo.

    Mais alguns gritos de dor e enfim o bebê veio ao mundo.

    -É um menino, filha... É um lindo garotinho! - disse com um suspiro de emoção e alívio.

    A moça olhou comovida para a criança que chorava fracamente, ainda tentando se adaptar a sua vida extra-uterina. A senhora envolveu o bebê em uma toalha velha e terminou de fazer alguns improvisados cuidados, entregou-o para a filha enquanto limpava o corpo dela sujo de sangue e vérnix. A jovem olhou todo corpinho do recém-nascido e se fixou em seus pequenos olhos por um bom tempo. Duas lágrimas rolaram.

    -Obrigada meu Deus...

    -Descanse. Está precisando muito! - respondeu a velha grosseiramente.

    Isabel continuou observando a criança fixamente segurando com delicadeza suas mãozinhas. Sentiu um perfeito bem-estar, sua angústia pareceu diminuir. Assim que decidiu se acomodar melhor e mudar sua posição, lhe veio uma intensa tontura. Encostou-se vagarosamente nas costas de uma cadeira.

    -Mãe, me sinto muito fraca, minha cabeça está estourando! -reclamou quase fechando os olhos.

    -Não fale nada filha! Você só está cansada por causa do parto! -tentou explicar a velha terminando de limpá-la com um pano.

    -Me sinto estranha... Será que eu vou morrer? - disse tristemente entre suspiros fracos.

    -Claro que não Isabel. Você é muito preocupada... Seu filho está aí nos seus braços, está ótima...

    -Vejo estrelas... -estranhou a moça com os olhos quase fechados.

    Antônia encarou a filha por alguns segundos. Isabel lentamente abaixou a cabeça, olhou exaustivamente para o bebê e estendeu um leve sorriso emocionado.

    - Felipe!

    A mulher fechou os olhos. Depois de um tempo em silêncio, novamente gemeu baixinho.

    -Mãe, cuida dele para mim!

    -Filha, por que está falando isso? Pare com essa besteira!

    -A senhora não entende... Eu não estou bem.

    A velha olhou novamente para filha e observou sua palidez. Antes que pudesse falar mais algo, a garota perdeu a consciência e teve sua primeira convulsão.

    -Ai meu Deus! - gritou a mulher tratando de puxar a criança dos braços dela.

    Desesperada colocou o bebê em cima de um colchão sujo e velho e retornou rapidamente a Isabel. Quando a crise acabou, deu fortes tapas no rosto da moça. Sem sucesso com a tentativa, gritou:

    -Me espere Isabel! Por favor, aguente firme.

    A senhora olhou rápido para o netinho choroso mastigando a própria mãozinha, não podia perder tempo. Saindo da lona que moravam, sem saber primeiro para onde ir, correu pelas ruas batendo nas portas das casas de todos os vizinhos suplicando por ajuda. Ninguém abriu.

    Era Natal. Antônia chegou à conclusão que ninguém estava disposto a estragar aquele lindo dia com ela, famosa por muitas vezes fazer o mesmo escândalo para pedir dinheiro quando bêbada. Ao mesmo tempo estranhou a reação das pessoas, pois pareciam não a escutar por mais que ela gritasse absurdamente alto e esmurrasse com força as portas. O que estava acontecendo?

    Todos os comércios estavam fechados, não havia nenhum carro ou pedestre na rua. Aflita, correu para um orelhão, porém estava quebrado. Sem saber mais o que fazer voltou ao encontro da filha e do neto.

    -Filha... -gritou caindo sobre a moça desfalecida que parecia ter tido outra convulsão - Fala comigo... Por favor... Alguém... Por favor, alguém...

    Ao não sentir o pulso de Isabel, Antônia a sacudiu, tentou fazer massagem cardíaca, respiração boca-a-boca como uma forma desesperada de talvez voltar sua vida. Ao ver que era inútil, chorou amargamente.

    -O que aconteceu com você meu amor? -perguntou entre um suspiro e outro deitando sobre o corpo.

    Após muito tempo chorando, a velha escutou um pequeno gemido seguido de um choro fraco do pequeno Felipe. Arrastando-se no chão arrasada, pegou o pobre e indefeso bebê para aquecê-lo.

    Naquele momento, lhe veio um leve calafrio que cobriu um pouco sua tristeza. Meio confusa, continuou abraçada a criança, como se ela lhe trouxesse conforto. Um pouco impressionada com aquela sensação virou-se lentamente para ela e olhou pela primeira vez seus olhinhos.

    -Meu... Deus!

    -Voltamos logo! - avisou Beto saindo do carro seguido de dois outros homens que estavam no banco de trás. Felipe concordou com a cabeça calmamente parecendo estar com pensamentos distantes dali.

    Assim sempre foi ele. Sua frieza e indiferença sobre as coisas que aconteciam ao seu redor era interpretada de várias formas pelas pessoas que convivia. Raríssimas vezes esboçou sentimentos e emoções. Poucas vezes sorriu, nunca o viram chorar. Seus colegas de trabalho o respeitavam devido aquela sensação de dúvida de até onde seria capaz de ir para manter-se como estava. Tudo que lhe era pedido, era feito, sem meio tempo, sem demora, sem tremeluzir. Não se enturmava em festas, ficar sozinho era seu melhor momento, não criava vínculos apesar de atrair muitas pessoas.

    De repente, seu olhar perdido se fixou no retrovisor do carro e pela primeira vez em tantos anos aparentou uma certa tensão, veemência evidente. Sem palavras, engoliu seco tentando não perder o foco e não se deixar levar pelo que subitamente tomou-lhe os pensamentos.

    Uma jovem moça saiu de uma loja próximo onde ele estava estacionado. Felipe não sabia e não entendia o porquê mas tinha algo nela que nunca viu em nenhuma outra pessoa. Sentiu uma energia como se a conhecesse, como se não pudesse deixá-la ir pois jamais teria outra chance de reencontrá-la. Era a única coisa que vinha em mente naquele momento. Meio atordoado e nervoso como nunca havia estado, ajeitou-se no banco e tentou se controlar retirando os olhos que insistiam em observá-la.

    Clarice destravou o alarme do carro e entrou nele com uma outra colega, ligando-o.

    Felipe suou frio, piscou os olhos mais vezes que o normal, estava lutando contra seus próprios pensamentos. O que fazer?

    A moça saiu no carro passando por ele. O rapaz olhou para a porta onde os colegas haviam entrado, olhou para a rua. Não acreditando no que fazia, ligou o carro e a seguiu.

    Após alguns quilômetros pelas ruas, quase perdendo a visão dela pelo trânsito, o rapaz chegou a um bairro nobre da cidade. A garota acionou o botão para abrir o portão automático de uma enorme mansão e entrou com o automóvel.

    Felipe se sentindo nervoso, permaneceu dentro do carro olhando fixamente para a residência sem saber bem o que o fez indo até ali. Não queria ir embora, era como se depois de tantos anos finalmente havia encontrado o que tanto procurava.

    De repente se assustou com o celular tocando.

    -Oi.

    -Cara, onde está? Estamos aqui fora.

    -Estou chegando... Pensei que iam demorar, fui comprar umas coisas para mim, já chego aí.

    -Quanto tempo?

    -Uns vinte minutos.

    -Tudo isso? Aonde foi cara? Não é uma boa hora para compras...

    -Eu sei... Pensei que iam demorar, mas já estou saindo. Não tem nada interessante aqui.

    O rapaz desligou o telefone e observou por mais alguns segundos a casa antes de seguir caminho.

    -Sabe o que é se sentir a pessoa mais inútil do mundo? Foi exatamente isso que senti naquela hora. E o pior... Eu tive culpa. Ela tinha me dito que não estava bem, mas eu sou burra demais. Na verdade tive culpa desde quando ela nasceu em tudo de desgraça que aconteceu na vida dela. Eu sabia, eu tinha certeza que ela iria sofrer nesse mundo, e mesmo assim, fui inconsequente e engravidei. Sou irresponsável, inútil, repugnante. Eu me desprezo.

    Amargurada, a mulher virou mais um gole de pinga.

    -Você não tem culpa Tônia. Como você iria adivinhar? Nem você tem pressão alta... - falou outra bêbada tomando também outro gole.

    -Mas ela não se cuidou. Vivia inchada e reclamando de falta de ar, eu escutava ela reclamando, mas eu também não estava nem aí, pensava que era coisa de grávida. Ela não quis mais fazer acompanhamento e eu estava ocupada demais aqui desse mesmo jeito que estou agora. Sabe... Tenho nojo de mim... Eu me odeio! Sou a pessoa mais imunda desse mundo, sempre vivi no buraco, pelo jeito nunca vou sair dele. Nunca tive nada, nunca tive ninguém. Sou ninguém. Minha filha virou uma puta... -Antônia, fez uma pausa e continuou após um baixo arroto - E eu até nisso não me mexi para mudar de vida e evitar essa desgraceira!

    A velha começou a chorar copiosamente.

    -Chora. Põe suas mágoas para fora, é por isso que estamos aqui! -continuou a outra, quase caindo da cadeira.

    Antônia entre uma lágrima e outra com um olhar de rancor e revolta, abaixou a cabeça.

    -Naquele dia Eulália, eu tomei nojo não somente de mim. Tive nojo de todo mundo dessa cidade, desse mundo sabe? Deu vontade de explodir com tudo. Sempre precisei de ajuda e ninguém nunca olhou para mim. Nunca. Eu, naquele frio, desesperada precisando de uma mão e ninguém quis abrir a porta para perguntar o que eu queria... Ninguém. Se antes tinha dúvidas, a partir daquele dia tive a certeza que as pessoas são egoístas e desumanas. A única pessoa que tinha dignidade de verdade era a minha mãe (que Deus a tenha). Ela ajudava até os que a odiavam, não tinha raiva de ninguém, mas quando ela adoeceu a única pessoa que cuidou dela fui eu. Todos os amigos sumiram, todos os colegas desapareceram, todos... Dediquei quase toda a merda da minha vida por ela, mas ela merecia. Agora o resto... O resto é lixo.

    -Eu entendo bem o que você passa. Esse povo nunca deu oportunidade para mudarmos, só nos condenam, humilham, ignoram...

    -Ei vocês duas! Falem mais baixo aí, ninguém está a fim de escutar suas lamentações! -reclamou o homem do bar.

    As mulheres se calaram e continuaram a beber em silêncio. Antônia olhava fixamente o copo com álcool antes de cada golada, como se cada uma delas representasse uma lamúria de sua vida, uma derrota, um erro, uma culpa.

    De repente, um pequeno garotinho de aproximadamente quatro anos com uma roupa encardida e velha apareceu. Era moreno, tinha olhos bem pretos e cabelo castanho liso.

    As mulheres se encararam.

    -Já comeu algo? - o menino respondeu negativamente - Aquela velha idiota não disse que ia te dar um café da manhã?

    -Disse... -respondeu o garotinho com dificuldade ainda aprendendo a falar.

    -Está vendo? - disse a mulher retornando o olhar para a amiga - Bando de egoístas. Até para crianças negam ajuda.

    O pequeno continuou ali, esperando talvez, que sua avó resolvesse seu problema. A velha respirou fundo contou as últimas moedas que tinha no bolso.

    -Acho que não vou poder pagar o próximo drinque! - lastimou ela para amiga - Logo vovó volta para casa.

    -Está bem! -respondeu a criança saindo de volta para a rua.

    -Pode deixar que eu banco a próxima! -disse a outra.

    Antônia deu mais uma golada pensativa.

    -Fui uma péssima mãe e estou sendo uma péssima avó. - reconheceu ela -Não sei cuidar nem de mim.

    -Mas o molequinho é até bem-educado.

    -Posso te confessar uma coisa?

    A outra mulher parou de olhar para o copo e voltou-se para a velha.

    -Acho que esse menino tem algo muito diferente sabe?! Não sei bem o que é...

    -Como assim?

    -Quando eu acordo e ele ainda está dormindo, me sinto desanimada, vontade de morrer como nos dias comuns... Sabe como sei que ele acordou? Quando paro de pensar nessas coisas. É algo muito estranho, não sei explicar isso.

    Antônia olhou para a mulher. A outra continuava a observando atentamente.

    -Ah deixe... Você nunca vai acreditar em mim.

    -Claro que acredito.

    -Ele não tem nada nosso... Nada. É uma criança calma, centrada. Parece que entende muito mais que eu, sabe?

    Um silêncio se fez por um tempo.

    -Eu acho que aconteceu algo muito estranho naquela noite.

    Outro silêncio.

    -Fora o físico... Não temos nada haver com ele. A cor, os olhos, o cabelo...

    -Pode ser do pai.

    -O pai é um vagabundo que anda por aí. Deu vinte reais para minha filha e teve relação com ela. Não tem nada haver também. Nem se eu

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