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No Sétimo Círculo
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E-book337 páginas3 horas

No Sétimo Círculo

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Sobre este e-book

Após o surto de uma doença misteriosa que transformou grande parte da população em assassinos enlouquecidos, 7 jovens amigos aparentemente imunes se unem para sobreviver naquele cenário tão desolador. Perdidos e sozinhos, eles terão que enfrentar seus piores medos para sobreviver e quem sabe, encontrar uma saída para aquela situação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mar. de 2017
No Sétimo Círculo

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    Pré-visualização do livro

    No Sétimo Círculo - Vitor Black

    Após o surto de uma doença misteriosa que transformou grande parte

    da população em assassinos enlouquecidos, 7 jovens amigos

    aparentemente imunes se unem para sobreviver naquele cenário

    repentinamente hostil e impiedoso.

    Perdidos e sozinhos, eles terão que enfrentar seus piores medos para

    sobreviver e quem sabe, encontrar uma saída para aquela situação.

    1

    No Sétimo Círculo

    Vitor Black

    2

    3

    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer formalmente a algumas

    pessoas que foram vitais para que esse livro chegasse ao

    fim, então, obrigado:

    Jeremias Abreu, por ser um fiel leitor, revisor e

    amigo.

    Felipe Laufey, que sempre disponível, me tirou de

    inúmeras enrascadas e praticamente me ensinou a

    escrever durante esse livro.

    Aos amigos que de inspiração para alguns

    personagens.

    E a todas as outras pessoas que ajudaram direta

    ou indiretamente, com esse livro e também me dando

    forças para nunca abandonar a escrita.

    4

    "... Em breve avistarás o rio de sangue

    Fervendo a as almas dos violentos

    Contra seus semelhantes..."

    A divina comédia – Canto XII

    5

    Prólogo

    Paulo acordou no meio da noite com o som do toque do

    telefone. Ficou imóvel enquanto o som explodia no meio da casa,

    metade tentando dormir novamente, metade esperando que sua

    mulher levantasse e fosse atender.

    A chamada pareceu demorar horas para finalmente cair na caixa

    postal. Novamente, o silêncio, a paz noturna. Praguejando contra o

    desocupado que tivera a cara de pau de ligar no meio da madrugada

    assim.

    Fechou os olhos, esperando que a respiração e os batimentos

    cardíacos voltassem ao normal para o sono poder retomar seu lugar.

    Quando começou a acreditar que conseguiria voltar a dormir, o telefone

    voltou a chamar.

    - Cacete... – Gemeu, começando a tirar as cobertas para se

    levantar. Caminhou até o telefone, que ficava no corredor e o puxou do

    gancho.

    Ninguém falou do outro lado. A ligação havia caído.

    Aquilo só piorou o seu estado de espírito.

    Andou de volta até a cama, e já estava prestes a se deitar

    quando o telefone começou a chamar pela terceira vez. Dessa vez, já de

    pé e preparado, chegou rápido até a mesinha e puxou-o do gancho.

    - Espero que seja alguma coisa bem importante pra lig...

    - PAULO. PAULO! LIGA A TELEVISAO!

    - Quê? Quem tá falando? – Indagou, sentindo o coração

    acelerar. A pessoa do outro lado gritava a plenos pulmões – Mel? É

    você?

    - SAI – DE – CASA. LEVA A DEBORA E O DANIEL. ELES ESTÃO

    LOUCOS, ELES ESTAO...

    A ligação caiu novamente.

    6

    O homem não sabia o que pensar, aquela parecia a voz de

    Melissa, sua cunhada, parecia ter acontecido alguma coisa... Mas o quê?

    O que a teria deixado tão desesperada?

    Com aquilo martelando lhe a cabeça e de coração mais

    acelerado ainda, foi até o quarto para acordar a esposa.

    - Querida? – Chamou, cutucando a mulher com carinho.

    - Que é?

    - Se levante, acho que aconteceu alguma coisa com a Mel, vista

    alguma coisa, pegue o Dan e vamos lá na casa dela.

    - Como assim? Por que você tá falando isso?

    - Vai querida, por favor, eu te explico jajá.

    A mulher até abriu a boca para protestar, mas ao ver aquele

    olhar no marido, soube que ele estava falando sério.

    - Tudo bem – Respondeu, por fim. Levantando e indo até o

    quarto do filho do casal.

    Paulo estava inquieto, ainda com o som da voz desesperada de

    Melissa na mente. O que fora a primeira coisa que ela falou mesmo?

    Para ligar a tevê?

    Obedecendo a estranha ordem, pegou o controle e ligou o

    aparelho, mais do que qualquer notícia estranha, assustou-se com a

    mensagem exibida:

    Estamos fora do ar, a programação retornará logo logo.

    O que diabos teria acontecido, nunca tinha visto algum canal

    daquele jeito na sua vida inteira, ainda mais aquele canal, um dos

    maiores, dentre os brasileiros.

    Ainda estava pensando nisso quando ouviu o grito da esposa.

    Sem pensar duas vezes, correu ao seu encontro, no quarto de

    filho. Ao chegar, encontrou a mulher jogada no chão do quarto, o filho

    estava curvado sobre ela, os dois berravam em uníssono. Paulo tentava

    entender o que se passava, em estado de choque.

    O Daniel estava fazendo? A mãe estava com medo mas, o garoto

    de 9 anos parecia urrar de... Raiva?

    7

    - Filho, Dan!? – O que você está... - Foi quando o puxou para

    longe da mulher e viu a última coisa que estaria preparado para ver:

    Seu próprio pupilo puxar uma longa faca de cozinha do peito da

    mãe.

    - Dan, o que você fez?

    Então olhou nos olhos do filho, esperando encontrar algum

    sentimento que lhe desse uma pista sequer de como aquilo havia

    acontecido.

    Mas em vez disso, encontrou apenas um olhar preenchido de

    um ódio que uma criança nunca deveria sentir.

    Então ele soube que aquele ali não era mais o seu filho.

    Era alguma outra coisa.

    E essa coisa lhe atacou logo em seguida.

    8

    Capt. 1 - Caos

    Estávamos abraçados daquela maneira havia horas... Ou

    assim parecia. Deitados na rede, eu e ela, olhando a lua.

    Serenava fracamente, dando um frio desgraçado, mas

    estávamos bem, além do grosso edredom tínhamos os nossos

    próprios corpos para se esquentar.

    Durante todo aquele tempo não falamos praticamente

    nada, como se dizer alguma palavra pudesse nos arrancar daquele

    momento e nos jogar na realidade novamente.

    E isso nós não queríamos, por uma noite pelo menos,

    podíamos esquecer completamente o resto do mundo. Era

    como algum tipo de mágica que em hipótese alguma deveria ser

    interrompida.

    Olhando pra lua e com os pensamentos mais longe ainda

    eu acariciava a cabeça dela sob o meu peito, passando a ponta dos

    dedos pelos cabelos negros de Vivian. Paz era o que eu sentia. E

    perfeição era como eu descreveria o momento em seu geral.

    Para completar, ainda havia um rio correndo a alguns

    metros da gente, o som da água passando era outro bom ponto

    para conseguir não pensar em coisas ruins.

    De tempos em tempos, algum pássaro cantava. Será que

    eles sabiam das coisas que estavam acontecendo?

    Apertei-me mais contra o corpo da garota, estava

    realmente frio naquela hora da noite.

    - Gui, quanto tempo você acha que a gente vai poder ficar aqui? -

    Disse Vivian, com a sua voz tranquila de sempre.

    9

    - Aqui na rede?

    - Não, nessa casa.

    Demorei um tempo para pensar numa resposta.

    - Acho que alguns dias, não sei se seria certo passar mais que uma

    semana - Não me movi enquanto falava, ainda preservando ao

    máximo aquela magia.

    Ela ficou alguns segundos em silêncio, refletindo.

    - Vai ser uma pena, eu amei a tranquilidade desse lugar, o silêncio.

    - Eu apenas concordei com cabeça - Mas... Depois daqui, para

    aonde vamos?

    - Não sei Viv, de verdade, não faço ideia... - Eu sentia aquela

    mágica se deteriorando e dando lugar á preocupação - Talvez o

    Hítalo ou o Renan saibam...

    No fundo eu sabia que eles também não fariam ideia.

    Simplesmente esperavam que eu dissesse o destino.

    - Sabe... - Continuei - As vezes eu me sinto pressionado, eles

    esperam que eu dê as coordenadas, mas eu nem sei mesmo

    porque eu estou ditando o caminho - Eu sabia que não precisava

    medir as palavras, não com Vivian, ela me entendia sempre. E se

    não entendesse, pelo menos respeitava.

    - Eles confiam em ti - Ela falou com a voz tão delicada que pareceu

    uma criança - Você soube o que fazer até agora. Eu mesmo tive a

    pele salva graças a você.

    Sorri, lembrando-me do incidente, não que tenha sido

    engraçado, mas pelo fato de me surpreender por ter feito aquilo.

    Se não me engano foi a primeira de muitas coisas que fiz

    ultrapassando as expectativas de todos.

    - Então eu sou um líder? - Perguntei, mas não havia gabação,

    apenas ironia - Um líder de 18 anos?

    Ela sorriu. Mexendo-se um pouco na rede, procurando

    mais calor.

    10

    - Devíamos estar lá dentro com os outros - Disse Vivian. Olhando

    para a casa de tijolos, que estava com apenas a luz da cozinha

    acesa.

    - Quer ir lá para dentro?

    Ela pensou por alguns segundos e balançou a cabeça

    negativamente.

    - Não, o Japa e a Shirley devem ter pegado o quarto, os meninos

    devem estar no chão e a Bruna no sofá. Não tem lugar pra gente.

    Olhando para a casa, era visível que era quase tão segura

    quanto a rede do lado de fora, janelas fracas sem grade, a porta

    de uma madeira velha e frágil e paredes que pareciam nunca

    terem sofrido sequer uma pintura, ainda mais um reboco.

    O silêncio tomou lugar por mais alguns minutos. O que era

    algo de certa forma, irônico, pois justamente nesses momentos

    de silêncio, é que os pensamentos faziam mais barulho.

    - Quanto tempo faz mesmo? - Perguntou Vivian - Desde que tudo

    ficou assim, doido?

    - Um pouco mais de um mês - Respondi - E mesmo assim, a gente

    se sente como se tivesse se passado uns seis meses.

    Ela concordou e graças a forte luz da lua cheia, percebi a

    lágrima escorrendo por sua face. Eu limpei-a com o indicador,

    olhando nos olhos escuros da garota.

    - Seja forte. Ou melhor, continue sendo. Vamos pensar no agora.

    Nem no futuro, nem no passado, vamos nos preocupar com o

    agora.

    Eu não precisava perguntar, já sabia de cor o motivo. Ela

    tinha saudade dos pais e do irmão. Talvez eu tivesse saudade do

    meu pai também, mas eu tentava não pensar nisso, pensava no

    próximo passo, não no caminho atrás, e assim eu me mantinha

    daquela forma.

    11

    Provavelmente fora isso que fez com que, de alguma

    forma, eu transmitisse força para os meus amigos, e

    principalmente, para a Vivian.

    Bem que todos os outros também poderiam ser assim

    como eu.

    Lágrimas silenciosas ainda corriam no rosto dela, embora

    não soluçasse nem demonstrasse da alguma outra maneira, nós

    já tínhamos tido aquela conversa e eu não tinha nenhuma

    vontade de retorna-la. O que eu tinha para dizer, já tinha sido dito.

    Então me limitei a abraçá-la com mais força.

    - Obrigado Gui.

    - Para com isso Viv. Só o que me tem levado até aqui e adiante é

    você - Eu não mentia, não precisava - Só posso te dizer que

    enquanto eu estiver vivo, eu vou estar te protegendo da maneira

    que eu puder.

    Aquelas promessas feitas por um adolescente de 18 anos

    para outra de mesma idade não seria levado a sério em outros

    tempos, mas agora as coisas eram diferentes. Eu mesmo envelheci

    uns 10 anos ou mais desde o último mês.

    Alguns minutos se passaram sem que mais nada de

    importância fosse dito. Logo, Vivian caiu no sono, daquela

    posição, abraçada comigo. A paz de espírito tinha voltado, a

    magia retornou.

    Lembrei-me inclusive que Vivian tinha sérios problemas

    para dormir antigamente, e justamente agora, nesses tempos tão

    turbulentos, ela dormia como um anjo aos meus braços. Que

    irônico!

    Eu, no entanto, tinha a cabeça cheia, pensamentos, planos

    e ideias. Em maior proporção que tudo isso, preocupação.

    12

    Como Vivian tinha dito, as pessoas dentro da casa

    confiavam em mim, não queria decepcioná-los, não podia fazer

    isso. Só apenas que, às vezes eu achava demais. Saber que uma

    única decisão minha podia mudar tanta coisa.

    Naquela noite eu não consegui dormir, de novo.

    13

    Capt. 2 – Caos

    Quando o sol já começava a aparecer, levantei da rede sem

    acordar Vivian e me pus a andar pela propriedade. O grupo tinha

    chegado na manhã anterior e eu não consegui arranjar um tempo

    para explorar os aos redores da casa.

    O sol já aparecia no horizonte lançando uma pálida luz

    azul-escura por todo o céu. O frio da noite anterior ainda se

    encontrava presente. Eu fechei a frente da jaqueta jeans que eu

    usava para tentar me esquentar.

    O lugar em geral, pelo menos o que eu tinha visto no dia

    anterior era resumido em: Uma casa, um grande quintal onde

    outrora tinham várias galinhas, uma colina que descia e dava para

    o rio aonde a rede em que Vivian ainda dormia, um grande forno

    caseiro de fazer farinha e florestas próximas.

    Parecia pouco, mas era uma grande área com vários cantos

    que poderiam servir como esconderijos.

    Comecei indo até o forno caseiro.

    No meu cinto, a bainha da faca batia suavemente contra a

    minha perna a cada passo, eu possuía uma outra, mas a tinha

    deixado na rede para o caso da moça acordar.

    Era sempre reconfortante tê-las sempre por perto.

    O forno ficava há uns 50 metros da casa, logo após uma

    curva do caminho através das árvores próximas. Era bastante

    grande, com várias outras máquinas que auxiliavam na produção

    e preparação da mandioca até se tornar farinha.

    Enquanto eu me aproximava, comecei a desejar ter trago

    uma lanterna comigo, ou pelo menos ter esperado o sol nascer de

    14

    fato. O grande forno e os outros aparelhos projetavam sombras

    que poderiam esconder alguém.

    Tirei a faca da bainha, o aço brilhou como que feliz por

    estar sendo usado de novo. A faca media uns 25 centímetros, e

    era suficientemente grande e afiada para atravessar uma pessoa

    magra. Toda cheia de detalhes e pontas afiadas, ela era uma

    verdadeira obra de arte.

    O silêncio era ensurdecedor, como algo abafando os

    ouvidos. Às vezes me fazia sentir saudades do barulho comum da

    cidade grande.

    Olhando de mais perto, era engraçado como aquela

    máquina caseira daquela também tinha aspectos sinistros, como

    um moedor cheio de lâminas que desfaria uma mão num piscar

    de olhos. Para operar aquelas coisas o trabalhador tinha que ter

    muito cuidado.

    Por um instante, me perguntei quem teria sido a última

    pessoa a manusear aquilo.

    Por fim, não havia nada demais. Apenas umas manchas

    que pareciam sangue no chão perto do grande forno, mas isso não

    tinha tanta importância. Antes de virar-me para voltar para a casa,

    me demorei um tempo apenas refletindo sobre se valeria a penas

    entrar naquela floresta.

    Por fim, decidi que não era uma boa ideia, eu fui nascido e

    criado na cidade, não entendia muito de mata fechada e se eu me

    perdesse... Bem, seria pior para mim.

    Eu já tinha começado a andar de volta para a casa onde os

    meus amigos estavam, mas quando me dei por mim, estava indo

    para a direção oposta.

    15

    Passei pelo portão que demarcava o limita da propriedade

    e comecei a caminhar através da estrada que levava á vila mais

    próxima.

    A aurora no céu era extremamente linda de se ver. Mas

    infelizmente aquilo não era o suficiente para que eu pudesse

    esquecer por alguns momentos tudo que tinha passado.

    Eu tinha sangue em minhas mãos... Talvez até sangue

    inocente.

    Não podia esquecer, não queria, eu iria lembrar cada coisa

    que fiz. Um dia eu ia acabar pagando por tudo aquilo.

    Mas esse dia não será hoje, por hora, eu sobrevivo.

    Meu nome é Guilherme, tenho 18 anos. Faço parte de um

    grupo de 7 pessoas que fugiram da cidade para sobreviver e ainda

    estou vivo e são. Não sou musculoso, relativamente magro, mas

    bem forte e ágil (graças aos esportes que praticava).

    Uma história simples? Acho que não. Muita merda se

    passou nesse último mês.

    Enfim cheguei à vila, me surpreendendo com o quanto ela

    era próxima da casa (apenas 20 minutos de caminhada). Podia

    jurar que era mais longe quando passamos por ali no dia anterior.

    Isso seria um problema, ou melhor, poderia ser, se o grupo não

    tomasse cuidado.

    Das cerca de 20 casas visíveis até ali, de cada lado da

    estrada, não se era possível ver nenhum sinal de vida.

    Mas os corpos estavam ali. Testemunhas silenciosas

    daquele massacre, mais um no meio de outros tantos.

    No meio da rua, pendurados por entre as janelas, jogados

    aos pedaços na frente da própria casa ou simplesmente dentro

    dos próprios domicílios. Havia dezenas de cadáveres.

    16

    Tive náuseas, mas controlei. Não podia ter frescura em

    tempos como aquele. O fato é que eu ainda tinha dificuldades em

    encarar cenas como aquela. Em especial por que me lembravam

    todas as outras que tinha presenciado em Capitão Poço, a cidade

    mais próxima, a de que o grupo tinha fugido.

    Haviam cabeças solitárias paradas como bolas de futebol

    cobertas de mosca, braços, órgãos espalhados pela pista.

    Aonde será que estavam os responsáveis por aquilo? Ainda

    vivos? Matando mais pessoas que por ventura pudessem

    encontrar? Provavelmente.

    Deviam estar em Capitão Poço. Pelo que parecia, quase

    todos rumaram pra lá logo quando tudo começou, talvez por ser

    o lugar onde encontrariam mais alvos.

    Sem fazer nenhum som além do necessário, entrei em um

    bar que devia ser o único num raio de muitos quilômetros, não

    queria me aproximar mais do que aquilo do trecho aonde

    começavam as casas. Um corpo pendia inerte atravessado sob o

    balcão com um grande corte na nuca. O cheiro de sangue, fezes e

    podridão me atingiu, mas não parei, continuei a andar cobrindo o

    nariz.

    Peguei uma garrafa de vodka e duas de coca-cola, três

    isqueiros, e alguns pacotes de biscoito, coloquei tudo em duas

    sacolas de plástico e iniciei o meu caminho de volta sem demora.

    Só que algo estranho aconteceu, quando saí do bar, tive a

    forte impressão de ver alguém entrando no mato próximo ás

    casas. Alguém com roupa típica de quem trabalha na roça. Só que

    foi apenas um vislumbre. Não teve nada que eu pudesse fazer

    naquela hora.

    Restava-me esperar que tivesse sido a minha imaginação.

    17

    A doença foi noticiada na rádio e nas televisões dia em

    meados de outubro de 2016, mostrava algumas cidades do

    mundo, em especial as mais populosas, mergulhadas em

    completo caos.

    Prédios inteiros em chamas, morte e destruição por todos

    os lados, massas de milhões de pessoas iam ás ruas, como num

    protesto... Mas era algo bem pior que um protesto.

    A coisa foi tão repentina e intensa que nem as emissoras

    de televisão duraram mais que alguns dias, os sets de filmagem

    foram destruídos e todos os repórteres inevitavelmente, mortos.

    Mataram todos, em todas as grandes empresas. Os

    funcionários matavam os colegas de trabalho e os patrões com

    canetas e estiletes.

    A polícia, claro, foi ás ruas. Esquadrão tático, exército,

    força aérea... Todos tentaram parar aquelas massas

    enlouquecidas. Quando a coisa se tornou insustentável, tentaram

    isolar os surtos e as primeiras bombas atômicas foram lançadas

    para esterilizar metrópoles inteiras.

    Não funcionou. As notícias informavam á cada hora que

    mais e mais cidades ao redor do país estavam sendo

    dBrunastadas.

    Era rápido, mais rápido do que qualquer outra coisa que a

    humanidade jamais vira, ou quem sabe, aquela... Doença fosse a

    responsável por tantas lendas que contam sobre vilas, aldeias e

    até cidades inteiras que desapareceram do dia pra noite, sem

    deixar rastros.

    Nós ficamos a beira do desespero com aquelas notícias,

    especialmente quando vimos na televisão que São Paulo era mais

    uma na lista, não havia força armada que pudesse se preparar

    para a rapidez sobrenatural com que aquilo se espalhou.

    18

    As igrejas lotaram, como deve imaginar, o que não

    faltavam eram pastores, padres e sacerdotes em geral afirmando

    que o apocalipse enfim começara e que aqueles eram os últimos

    momentos para ficar em dias com Deus.

    Se deus (algum deus de alguma religião que fosse) era o

    responsável por aquilo, talvez nunca cheguemos a saber, o fato é

    que aquilo era algum tipo de epidemia, até então desconhecida,

    que ao infectar um ser humano, fazia com que esse se transforme

    num louco assassino. O infectado simplesmente perdia a

    racionalidade e passava a atacar todos os que não estão com os

    mesmos sintomas.

    Ninguém fazia ideia de como funcionava a contaminação,

    mas algo levava a crer que muitas das pessoas já estavam

    infectadas há tempos, apenas não tinham enlouquecido.

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