Pacto Na Encruzilhada
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Sobre este e-book
Samanta Reis é uma jovem bancária que se sente solitária na nova cidade em que está trabalhando. Para criar amizades e sair da rotina, ela aceita o convite do sedutor advogado Marcelo Heitor Ferraz para participar de um seleto clube do livro. Porém, durante a sua primeira reunião do clube, Samanta se defronta com um segredo maligno que colocará sua vida em risco.
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Pacto Na Encruzilhada - Batuta Ribeiro
Parte 1
Os primeiros raios de sol despontavam no horizonte, acima do topo de uma montanha, quando Sr. Heraldo Pereira saiu de sua casa em direção à garagem onde guardava sua Toyota Bandeirante ano 75.
Era manhã de segunda-feira.
Sr. Heraldo, um velho na casa dos setenta anos, trajava camisa de mangas longas, azul claro, bem enfiada dentro de uma calça social marrom. Para esconder a calvície, usava boné preto com a logomarca de uma empresa de café.
Após sair do sítio, o velho pegou a estrada na direção da cidade. Seria uma viagem de trinta minutos por uma estradinha de terra até Jacutinga.
O sitiante dirigia devagar, no limite de 40 km/h. Não tinha pressa e nem queria maltratar sua camionete. A estrada poderia até estar bem cascalhada, mesmo assim, continuava sendo uma estrada de terra.
Sr. Heraldo conhecia bem aquela estrada. Aliás, conhecia toda a região. Nunca deixou de morar no bairro Bom Café. Herdou o sítio do pai e, com a sua lavoura e criação, formou as duas filhas – uma médica e outra engenheira civil. Depois da morte da esposa, as filhas bem que tentaram convencer o pai a morar na cidade, mas Sr. Heraldo disse que não se importava de ficar sozinho no meio daquele buraco e disse que nasceu naquele buraco e que iria morrer ali mesmo, se fosse o caso.
Enquanto dirigia, Sr. Heraldo pensava os itens que deveria comprar na casa agropecuária. Também precisava passar no banco e conversar sobre o PRONAF de 2019. Se tudo desse certo, estaria de volta ao sítio antes do meio dia.
Na encruzilhada, Sr. Heraldo pisou com tudo no freio. Não parou para ver se vinha carro. Parou porque havia algo
no meio da encruzilhada.
― Por Deus, o que é isso? – foi o que disse, de olhos arregalados.
Saiu da camionete e se aproximou daquilo com o cuidado de quem se aproxima da beira de um penhasco. O cheiro de carne queimada o fez erguer a gola da camisa para tapar o nariz.
Até aquele dia, Sr. Heraldo não tinha visto muita coisa estranha em sua pacata vida de agricultor, só que ali, no meio da encruzilhada, ele viu.
O velho viu os sorrisos distorcidos e os buracos negros onde deveriam haver olhos.
Fez o sinal da cruz e deu uma boa olhada a sua volta, como se esperasse alguém, sabe Deus quem, aparecer para explicar aquela hecatombe. Lembrou-se de sua avó, há muitos anos, quando ainda era menino, lhe dizendo algo sobre pessoas indo até uma encruzilhada para fazerem pactos com o diabo.
Fosse o que fosse, aquilo tinha mesmo cara de coisa do diabo, pensou Sr. Heraldo.
O velho virou-se e notou o mato se mexendo, como se algum animal, ou pessoa, estivesse ali, espreitando-o.
Sr. Heraldo voltou apressado para a camionete. Ligou e pisou fundo no acelerador. Passou pela encruzilhada e continuou seu caminho até Jacutinga, só que dessa vez, foi dirigindo a mais de 60 km/h.
Parte 2
O cabo Raimundo levantou-se de sua mesa e foi até a cozinha. Pegou a garrafa térmica amarela, girou a tampa e despejou um dedo de café no copo americano.
Bebeu e fez uma careta. Café frio. Ergueu o punho na altura dos olhos e conferiu as horas no relógio. Quinze para sete. Abriu a boca de sono. Odiava fazer plantão, ainda mais quando começava às dez da noite do domingo e ia até as sete horas da manhã de segunda.
O policial lavou o copo e guardou-o no armário. Da cozinha foi ao banheiro. Parou diante do lavatório e analisou o rosto no pequeno espelho de moldura laranja. Abriu a torneira, encheu as mãos de água e lavou o rosto. Voltou à sala de atendimento e sentou-se à mesa. Pegou no mouse e clicou para fechar todas as janelas do Windows.
Como não havia mais fichas de boletins de ocorrência para cadastrar no sistema, cabo Raimundo abriu o jogo Paciência. Neste instante, viu um velho entrando na sala. Era o Sr. Heraldo.
O policial minimizou a janela do jogo e levantou-se.
― Pois não – disse, indo até o balcão.
― Bom dia, seu guarda. Eu moro em um sítio no bairro Bom Café e-
― Vamos lá – interrompeu cabo Raimundo, pegando um formulário debaixo do balcão. Colocou o papel sobre o tampo e pegou a caneta bic azul, que era presa ao balcão por um barbante encardido, e se preparou para escrever.
― Qual é o nome do senhor?
― Heraldo.
― O que roubaram do seu sítio, seu Heraldo? Vacas? Bois? Bezerros?
― Não roubaram nada do meu sítio.
― Então qual é o problema?
Sr. Heraldo olhou para os lados, aproximou o rosto do cabo Raimundo e disse, baixinho:
― Eu vinha pela estrada quando parei na encruzilhada – Sr. Heraldo fitou o policial bem nos olhos – sabe o que tinha no meio da encruzilhada?
― O que tinha?
Com a voz mais baixa, como se contando um segredo, Sr. Heraldo respondeu:
― Um caixão.
― Caixão? Desses de colocar defuntos?
― Sim, um caixão de morto. Estava lá, no meio da encruzilhada, sem a tampa. Só que não havia nenhum morto, o caixão estava vazio. Tinha três candelabros perto do caixão. Cada um com seis velas negras. Todas acesas. Isso só pode ser uma coisa, seu guarda: alguém fez um pacto com o diabo naquela encruzilhada.
Cabo Raimundo deixou a caneta cair de seus dedos e