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Entre o Amor e o Sacrifício: Guardiões de Orfheus
Entre o Amor e o Sacrifício: Guardiões de Orfheus
Entre o Amor e o Sacrifício: Guardiões de Orfheus
E-book365 páginas5 horas

Entre o Amor e o Sacrifício: Guardiões de Orfheus

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Sobre este e-book

Kate Miler não era exatamente uma jovem normal. Era uma garota solitária que se sentia estranha e diferente. Ela havia sido misteriosamente abandonada em um orfanato quando era um bebê prematuro, com poucas chances de sobrevivência.Não bastasse ter a capacidade de presenciar criaturas perversas e entidades demoníacas, sofria constantes pesadelos inexplicáveis que, sempre a levavam à morte. Filha adotiva de um jovem casal, eles se mudavam constantemente, no entanto, Kate sabia que esta era só uma desculpa para fugirem novamente de uma cidade para outra, ela só não sabia a razão pela qual os pais mentiam. Aliás, essa seria a sua terceira adoção, pois, suas famílias antecedentes haviam sido brutalmente assassinadas, enquanto Kate ainda era criança e por algum mistério, só ela havia sobrevivido, mesmo estando presente em meio aos ataques. Aos dezenove anos, em uma nova cidade, ela conhece um grupo de jovens misteriosos com poderes sobrenaturais que são responsáveis a desempenharem estranhas e secretas missões, entre eles, está um rapaz bonito e ardiloso que vive confrontando-a e não larga do pé dela. Mesmo seduzida pelo seu sorriso cativante e sentindo uma forte conexão por ele, Kate tenta afastá-lo de diversas maneiras, porém, não consegue evitá-lo e uma atração inevitável surge entre os dois.Cansada de fugir e sentir medo, ela decide embarcar em uma jornada em busca da verdade, contando com a ajuda de seus novos amigos, para descobrirem quem, e o que, realmente ela é. Kate só não imagina que por traz de todo este mistério que envolve a sua vida, existe uma disputa entre seres sobrenaturais do mais alto escalão que habitam mundos místicos e desconhecidos pela raça humana, e que a recompensa dessa batalha a ser conquistada seria nada menos do que ela.
IdiomaPortuguês
EditoraM-Y Books
Data de lançamento4 de jul. de 2016
ISBN9781526000620
Entre o Amor e o Sacrifício: Guardiões de Orfheus
Autor

Gisele de Assis

Gisele de Assis é natural de Blumenau, nasceu em 18 de março de 1981, é escritora e roteirista. Uma Leitora voraz desde os doze anos de idade, seduzida por histórias de ficção e fantasia. Quando não está escrevendo, está lendo ou assistindo aos seus filmes e as suas séries favoritas. Atualmente, está terminando a sequência da série Guardiões de Orfheus.Entre em contato com a autora através do site:http://giselewassis.wix.com/guardioesdeorfheus

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    Entre o Amor e o Sacrifício - Gisele de Assis

    Gisele de Assis

    Entre o Amor e o Sacrifício

    Guardiões de Orfheus

    Volume 1

    Copyright © – 2013 Gisele de Assis

    Autor/Editor Gisele de Assis

    3ºed. – 2018

    Romance Sobrenatural

    Jovem Adulto

    ISBN

    978-14-92-92459-3

    Todos os direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais do autor foram assegurados

    www.giseledeassis.com.br

    giselewassis@gmail.com

    Nota da Autora

    Entre o Amor e o Sacrifício é uma obra de ficção e fantasia. Todos os nomes de cidades, países e planetas místicos citados nesse livro são fictícios, com a exceção do planeta Terra.

    Atualmente, o mundo está dividido. O resultado dessa divisão é baseado na crença e na fé dos seres humanos. Existem diversas religiões com milhares de seguidores espalhados ao redor do mundo. O que a maioria ainda não se deu conta é de que existe somente um Deus nesse universo.

    Enquanto essa grande massa luta por poder, outras milhares de pessoas deixam de acreditar em Deus e se perguntam se ele existe mesmo, ou onde estaria quando mais precisamos dele. Mas, essas pessoas que julgam Deus não param para pensar em suas próprias atitudes que as levam às situações extremas. Todas as ações sejam elas boas ou ruins geram consequências.

    Portanto, cabe a nós mesmos decidir a qual caminho seguir.

    Essa opção que foi concedida aos seres humanos chama-se livre arbítrio. Então eu pergunto a vocês... A culpa é mesmo de Deus?

    Com todo o meu amor e carinho para Deus que nunca me abandonou ou deixou de acreditar em mim!

    PRÓLOGO

    Há Alguns Anos no Planeta Orfheus...

    Lucius, um comandante de quinhentos anos com o aspecto de um humano na casa dos trinta estava fugindo em seu cavalo.  Ele vestia a sua armadura Orfheniana composta por um colete de metal dourado, calça escura e braceletes de aço. Além de uma longa capa branca pender pelas suas costas, havia um arco com uma aljava de flechas e uma espada. Ele estava sendo perseguido por dois cavalos híbridos que possuíam asas enormes e sobrevoavam o céu. Havia dois guerreiros montados sobre os cavalos. Eles também vestiam as suas armaduras Orfhenianas e estavam armados com espadas. 

    Lucius olhou a diante e percebeu que a estrada estava chegando ao fim. Havia um pequeno riacho. Imediatamente, interrompeu a fuga e freou o seu cavalo pelas rédeas. Depois, saltou do animal, pegou o seu arco e ajeitou uma flecha na corda. Hesitante, estava tendo dificuldades para mirar o alvo, pois o cavalo híbrido estava muito longe. Então, respirou fundo, mirou no peito do guerreiro e disparou. Twickt!  A flecha acertou o alvo. O guerreiro caiu do seu cavalo e morreu ao atingir o solo.

    O outro guerreiro interrompeu a perseguição e aterrissou no chão. Desceu do seu cavalo e sacou a sua espada. Ele avançou na direção do comandante e desferiu um golpe violento que Lucius defendeu com o seu bracelete de aço.  O duelo dramático prosseguiu. Lucius investia forte nos golpes com a sua espada fazendo com que o guerreiro vacilasse a cada golpe defendido. O comandante de Orfheus era absolutamente mais forte. Ainda em vantagem, ele armou outro golpe e cravou a lâmina da espada no peito do guerreiro. O impacto da lâmina perfurando o aço do colete gerou um barulho estrondoso. Depois que Lucius retirou a espada, o guerreiro caiu desacordado.

    O comandante montou no seu cavalo e seguiu até uma velha cabana localizada adentro de uma vasta floresta. No instante em que saltou do cavalo, Sofia correu ao seu encontro e o abraçou fortemente.

    ‒ Pensei que você não viesse! Eu estou te esperando faz quase uma hora! – a angústia que ela sentia foi imediatamente substituída pelo alívio. Toda vez que marcavam um encontro, a sua ansiedade a deixava inquieta.

    ‒ Acho que o Alex descobriu tudo!

    ‒ Mas como? Estamos sendo tão cautelosos!

    ‒ Talvez nem tanto, meu amor! ‒ Lucius suspirou cansado. ‒ Fui perseguido por dois Guardiões do Reino. ‒ ele baixou a cabeça. Um misto de emoções conflitantes o consumia. Ele estava com as mãos trêmulas e com o seu coração palpitante.  ‒ Eu não tive escolha a não ser matá-los! ‒ disse Lucius com uma imensa tristeza na voz. Ele estava habituado a matar demônios e criaturas da escuridão e não guerreiros treinados por ele mesmo.

    ‒ Eu sinto muito. Eu não devia...

    ‒ Não, Sofia... ‒ Lucius pegou o rosto dela entre as suas mãos. ‒ Eu também precisava te ver! ‒ ele a beijou nos lábios e a envolveu pela cintura. Os dois permaneceram abraçados por algum tempo curtindo aquele raro momento. Sem Sofia, a vida de Lucius jamais faria sentido.

    Sofia sempre fora apaixonada por Lucius, mas em consequência de um pacto acabou se relacionando com Alex, o irmão dele. Entretanto, o destino foi insensato e acabou interferindo no rumo das suas vidas, aproximando os dois de uma maneira drástica.

    ‒ Vem, vamos entrar. ‒ Lucius a pegou pela mão e a levou para dentro da cabana. ‒ Temos pouco tempo. As tropas do Igor foram emboscadas. A maioria dos Guardiões foram mortos em Zebheus. Preciso voltar antes do anoitecer. ‒ ele ergueu os braços para tirar o seu colete de aço. Sofia o interrompeu.

    ‒ Não, Lucius. Precisamos conversar.

    Sofia não queria deixá-lo nervoso com a notícia bombástica. No entanto, seria inevitável. Cedo ou tarde, tudo viria à tona. Ela criou coragem e declarou sem cerimônia.

    ‒ Eu estou grávida!

    Por um breve instante, Lucius não disse nada. Somente a encarou sem reação alguma. Parecia estar em uma batalha silenciosa com os seus próprios pensamentos.

    ‒ Não sei o que dizer. Eu não esperava por isso! – ele permanecia incrédulo. Certamente, aquela revelação seria o fim para os dois.

    ‒ Eu sei que isso muda tudo! O que estávamos planejando há meses, não será mais possível! – ela se sentou em um banco improvisado e prosseguiu com lágrimas nos olhos. ‒ Com o bebê a caminho não posso simplesmente passar pelo portal. Eu e o bebê morreríamos durante a travessia!

    ‒ Vou pedir ajuda para a tia Wilda. Talvez ela consiga quebrar a magia dos portais!

    Sofia já havia pensado naquela possibilidade. Tinha plena consciência de que essa seria a sua única alternativa. Wilda sempre fora como uma mãe. A feiticeira a adotou quando ela ainda era menina, logo depois que a sua família morrera em combate.

    ‒ E se ela ficar contra nós, Lucius?

    ‒ Não. Ela faria qualquer coisa por você. Assim como eu.

    Lucius estava contando com isso, seria a única opção. Alex era estéril. Portanto, não podia ter filhos. Fatalmente, a barriga de Sofia logo começaria a crescer e ela seria acusada de adultério. A sua amada seria afastada dele e provavelmente os dois seriam condenados. Uma transgressão com tamanha magnitude não seria perdoada, ainda mais quando os infratores eram os governantes e líderes de Orfheus. Contudo, se Wilda concordasse em ajudá-los teriam uma chance, uma nova perspectiva.

    1

    Planeta Terra

    Atualmente na Cidade de Alcantes...

    ‒ Lamento gente, mas eu não vou poder cobrir o turno! Vou viajar! Passagem sem reembolso! – a ruiva tinha mais de sessenta anos, mas a sua aparência era de uma humana na casa dos vinte.

    ‒ Viajar? É sério?  – Jaike fuzilou a garota com o olhar. – Não sei o que você anda aprontando, Olívia. Mas sempre vêm com alguma desculpa quando surge algum imprevisto. – desconfiado, ele acrescentou. – Se isso não for verdade e estiver querendo bancar a espertinha, pode começar a arranjar um lugar para ficar a próxima semana. Caso contrário, vai dormir na rua!

    Lana deixou escapar uma risada. Ela tinha quase a mesma idade de Olívia. Mas o seu cabelo era louro e curto.

    ‒ Por que a Lana não fica com o turno? ‒ Olívia exibiu um sorrisinho vingativo e Lana reagiu com a primeira desculpa que surgiu em sua mente.

    ‒ Nem pensar! Eu também já tenho compromisso! O Samuel me chamou para sair justo nessa semana!

    ‒ Mentirosa! – agora foi à vez de Natan se enfurecer. ‒ A sua vida amorosa é um fracasso! Mesmo que ele tivesse te chamado para um encontro, você tem a semana inteira para desmarcar!

    ‒ Não mesmo! – ela rebateu. – Não vou dar o bolo no Samuel!

    Natan franziu a testa para ela e fez uma careta debochada.

    ‒ Ou a verdadeira intenção oculta por trás dessa desculpa é somente para se safar por que está com medo? Não é nenhum segredo para nós o quanto você fica amedrontada quando os portais entram em grande atividade...

    ‒ Está me chamando de covarde, seu moleque?

    Na verdade, Natan já havia completado os seus quarenta anos. No entanto, era o Guardião mais jovem da casa. Tinha o aspecto e o comportamento de um humano na adolescência.

    Foi Olívia quem respondeu a pergunta de Lana.

    ‒ Não se ofenda Lana. Mas todos nós sabemos que você não é considerada a Orfheniana mais corajosa de Alcantes!

    ‒ Retire o que disse, agora! ‒ Lana exigiu com a sua paciência chegando ao fim.

    Os quatro jovens continuavam a discutir. A confusão se estendia a respeito de quem seria o sortudo a proteger a região na ausência de Marcos que estaria ausente durante aquela semana. Os espertinhos já previam as noitadas agitadas e emocionantes que viriam a seguir com as invasões demoníacas. Jaike revirou os olhos e socou a mesa.

    ‒ Chega de conversa fiada! Mas que falta de profissionalismo é essa gente? Querem saber? Eu fico com o turno da semana que vem! De qualquer forma, não tenho nada mais emocionante ou divertido para fazer, além de matar alguns demônios abusados! ‒ ele deu de ombros como se não se importasse. Porém, estava apreensivo. O tempo indicava que os próximos dias seriam intensos, os portais entrariam em grande atividade e para variar, criaturas e entidades demoníacas planejariam dar uma voltinha pela Terra durante a noite.

    Marcos, um homem forte e moreno, com duzentos e cinquenta anos, mas com uma aparência de trinta, entrou insatisfeito na sala segurando uma xícara fumegante de café.

    ‒ Pela atitude madura e profissional, vejo que já resolveram a questão e posso ir sossegado para a confraternização. – o regente ergueu uma sobrancelha em dúvida. ‒ Não precisarei me preocupar? – ele apontou para os encrenqueiros. ‒ Lana? Natan? ‒ Marcos lançou um olhar cético para a ruiva. ‒ E quanto a você, Olívia? Para onde é mesmo a sua viagem?

    Ninguém se manifestou, sabiam que estavam errados.

    ‒ Ótimo!

    O regente sentou-se calmamente em uma poltrona e tomou um gole do seu café.

    – Inacreditável! Por que precisam ser sempre tão intransigentes e temperamentais? Será que vou ter de esperar vocês completarem um século de vida para que ajam como adultos? Francamente...  Sinto falta daquela lei que proibia o envio de fedelhos com menos de cem anos para trabalhar aqui na Terra!

    Marcos, que ainda continuava bravo, colocou a xícara de café sobre a mesinha.

    ‒ Deus do céu! Da próxima vez sejam mais espertos! Ao invés de perderem tempo discutindo e inventando desculpas esfarrapadas, tirem logo a sorte no palitinho como qualquer ser mortal e covarde faria.

    Eles se entreolharam disfarçadamente não gostando nem um pouco do contexto e do rumo em que aquela conversa se estenderia. Continuando com a bronca, Marcos revelou.

    ‒ Acham que eu não sei? Estão fazendo corpo mole e querendo se safar! Os próximos dias prometem eminentes invasões. O tempo sombrio que se estende lá fora não omite essa grande possibilidade! – ele direcionou um olhar acirrado para todos. – Precisamos estar preparados para proteger esse perímetro, gente! Ele faz parte da nossa jurisdição! – Marcos fez um sinal para Jaike. ‒ Quero que você fique responsável por eles!

    Jaike arregalou os seus olhos verdes para o regente e protestou.

    ‒ Impossível! Vou ter muitos demônios para matar cobrindo o seu turno na semana em que você estará ausente, comendo salgadinhos e rindo de piadinhas sem graça!

    ‒ Tocante, mas não me convenceu! Agora, pare de choramingar e cumpra o seu dever! – ele indicou a porta. – Todos deem o fora daqui! Preciso fazer as malas!

    2

    Clarões incomuns se acendiam e se enraizavam ao longo do céu, fazendo um espetáculo proveniente de uma grande tempestade. Jaike estava em cima de um prédio de dez andares olhando atentamente para o céu como se estivesse interpretando os clarões dos relâmpagos. Ele se aproximou da beirada e fechou os olhos. Uma luz branca brilhou suavemente ao redor do seu corpo. Na sequência, Jaike pulou do edifício. A queda aconteceu lentamente. Jaike pousou no chão feito um super-herói com um dos joelhos semi flexionados. Ele se ergueu e correu até um Toyota preto que estava estacionado há alguns metros dali. Enquanto dirigia, observava os relâmpagos que o guiaram até o parque. Ao chegar ao local, pisou no freio bruscamente.

    A última noite em que cobriria o turno de Marcos havia começado turbulenta. Como o esperado, os demônios faziam a travessia nos piores momentos. Algumas horas antes, Jaike tivera uma briga com Tiago, um metido a besta que sempre o confrontava quando eles se esbarravam em alguma festa.

    Hoje, definitivamente, Tiago havia passado da conta implicando com ele, ao ponto de se enfrentarem em uma briga repleta de socos e pontapés. Jaike era mais forte e mesmo assim, machucou a perna e não excluiu o fato de levar uns bons socos e de cortesia ficar com um olho roxo.

    O corpo dele ainda permanecia dolorido. Os poderes de cura não se aplicavam a situações como essa e Jaike não estava disposto e nem com muita paciência para enfrentar qualquer demônio. Aliás, paciência era uma das virtudes que a grande maioria dos Guardiões não possuía. Ele saiu do carro, foi até o porta-malas e o abriu. 

    ‒ Droga! Não acredito que deixei a merda da jaqueta em casa! ‒ Jaike olhou o seu reflexo no vidro do carro. A blusa que usava estava rasgada em consequência da briga que tivera com Tiago. Jaike até cogitou a possibilidade de ir para casa trocar de camisa, mas acabou desistindo da ideia. ‒ Ah, deixa quieto! Isso vai ser rápido mesmo!

    Ele pegou a sua mochila dentro do porta-malas, e partiu mancando em direção ao local de onde havia recebido o sinal da atividade demoníaca. Parou ao sentir o primeiro indício. O cheiro era terrível, ele jamais esqueceria o odor característico dos demônios, fediam a enxofre. A julgar pela intensidade em que o cheiro se manifestava, ele não descartou a possibilidade de o demônio estar escondido em algum lugar por perto dali, as espreitas, pronto para dar o bote. Eles também podiam pressentir a presença de Jaike.

    A criatura havia sido astuta, criou um portal em um local bem movimentado prevendo que ele não usaria os seus poderes sobrenaturais para confrontá-lo. Era imprescindível que ambos não revelassem os seus atributos sobrenaturais para os humanos e nem a verdadeira natureza de sua existência.

    ‒ Criatura fedorenta! Tinha que criar um portal justo em um lugar público? ‒ Jaike rosnava de raiva enquanto sussurrava sozinho, gesticulando com as mãos. As pessoas passavam por ele e o encaravam como se ele fosse algum doido varrido. ‒ Mas é claro, você sabe que eu não posso usar o meu poder na frente dos humanos. Sorte a sua que eles não podem enxergar você!

    Jaike estava furioso. As chances de sucesso em uma luta cara a cara com os demônios não eram tão animadoras quando não utilizavam o poder. Porém, ele havia se prevenido e levado escondida na mochila a sua espada mística.

    Matar essas criaturas sem usar o seu poder sobrenatural era complicado. Os demônios eram fortes e rápidos, moviam-se feito fumaça. No instante que estavam em um local, segundos depois, materializavam-se em outro.

    Ele caminhou mais alguns metros e avistou o demônio. A criatura estava se escondendo atrás de um casal que empurrava um carrinho de bebê. Jaike não pôde conter a própria incredulidade, pois, simplesmente não poderia matá-lo na frente dos humanos, teria que improvisar.

    Então, seguiu o casal que passeava despreocupadamente pelo parque acompanhado da besta que rastejava atrás deles. Humanos não podiam enxergar e nem sentir a presença das criaturas da escuridão. Jaike precisava de uma boa abordagem para se aproximar do casal na tentativa de afugentar o demônio.

    Pensativo, ele coçava o rosto na esperança de encontrar uma simples solução para o seu problema. Até que foi iluminado por uma simples ideia. Jaike fez o que todo ser humano normal faria.

    ‒ Com licença, gente! ‒ Jaike sorriu para a mulher, mas direcionou a pergunta ao homem. ‒ O senhor poderia me informar que horas são? – enquanto fazia a pergunta, Jaike observou a criatura. O demônio era uma fêmea, até parecia à medusa. Tinha o corpo revestido por escamas da cauda até o pescoço. Os longos braços continham garras afiadas feito punhais. As suas asas de morcego estavam dobradas atrás das costas e ao invés de pés, possuía uma cauda. O charme ficava por conta dos cabelos que na verdade eram cobras miúdas. Para completar o pacote, tinha a cintura fina e a sua cor era vermelha.

    ‒ E esse celular aí no seu bolso? – indagou o homem desconfiado apontando para o bolso dele. No mesmo instante, a mulher pegou a própria bolsa e segurou firme entre os braços achando que Jaike iria roubá-la.

    A criatura, que até então não havia se manifestado olhou para Jaike com os olhos vidrados e soltou uma gargalhada digna de filme de terror. Ela encarou Jaike ainda rindo e debochou.

    ‒ Vergonha alheia, hein guardiãozinho de bosta!

    ‒ Háhá! Só podia ser uma fêmea mesmo! ‒ Jaike vociferou com uma expressão de nojo se referindo à criatura.

    ‒ Desculpe jovem, o que foi que você disse?

    ‒ Oi?? – Jaike questionou confuso e ao voltar a sua atenção para o homem se deu conta da mancada que dera.

    Jaike se amaldiçoou mentalmente por ser um tapado e por se esquecer de que estava carregando o seu celular no bolso. Putz, que vacilo, hein?

    ‒ Ah sim...

    Jaike precisaria agir rápido e arrumar logo uma desculpa.

    ‒ O meu celular... Ele não funciona! ‒ Jaike esclareceu com o argumento mais besta que veio à sua mente. ‒ Foi a minha fêmea, ela o quebrou!

    O homem olhava perplexo para Jaike como se ele fosse algum tipo de criatura insana, enquanto a mulher prevenia-se pegando o bebê no colo.

    ‒ Escute aqui filho, se você precisa de dinheiro ou de algum objeto de valor, infelizmente eu não tenho. Você é um jovem forte, não deveria fazer uso de drogas!

    ‒ Mas que drogas? Eu não uso drogas!

    O homem insinuou com um olhar duro, a blusa rasgada e o olho roxo de Jaike.

    ‒ Afffff... ‒ Jaike indicou a própria roupa e o seu olho roxo. ‒ Não... Não é o que o senhor está pensando! Esse hematoma eu arranjei em uma briga com o filho da mãe do Tiago, e não roubando os outros!

    O homem trocou alguns olhares com a mulher.

    ‒ Sei...

    Caramba! Aquela situação já estava se tornando embaraçosa. A maldita criatura só faltou rolar no chão e rir. Mas ele não deixaria isso barato, então decidiu arriscar tudo traçando outro plano, que iria arruinar de vez com a sua própria reputação. Ele só faria isso para que o demônio desprendesse logo daquela pobre família.

    ‒ Será que o senhor me faria um favor, então? Poderia me levar até a igreja mais próxima daqui? Não conheço nenhuma, sou novo na cidade!

    ‒ Igreja? ‒ o homem ficou claramente confuso.

    ‒ Sim. Eu... ‒ Jaike deu uma coçadinha discreta atrás da orelha. ‒ Eu estava pensando em pedir uns conselhos para o padre. Sabe com é, essa juventude não está nada fácil... Ainda mais com o uso das drogas e tal...

    A criatura soltou um grunhido parando de rir na hora.

    Toma essa criatura medonha dos infernos! Quem mandou ser teimosa? Deveria ter se mandado enquanto podia! Jaike pensou triunfante lançando uma piscadela para o demônio com o seu melhor sorriso arrasador. Ela seria obrigada a abandonar o casal. Nenhuma criatura demoníaca tem acesso a uma igreja, não podem entrar, simples assim.

    Insatisfeita e ultrajada, a besta ergueu uma sobrancelha em desafio. Agora sim, a batalha entre os dois estava travada.

    Demônios eram tinhosos e orgulhosos, raramente fugiam dos seus oponentes quando eram desafiados ou provocados.

    ‒ Bom filho, eu entendo que você esteja passando por uma fase difícil, mas uma vida repleta de violência não leva a nada... ‒ blá blá blá... Jaike estava quase cochilando. O cara estava mesmo a fim de bancar o bom samaritano. ‒ ... Vamos filho, eu te mostro onde fica a igreja. É aqui perto e eu conheço o padre. Hoje é o seu dia de sorte!

    O casal se virou para sair. Jaike revirou os olhos, pensando. Ô situaçãozinha ingrata, hein?

    Todos pararam defronte a entrada. Jaike olhou ao redor. Para a sua própria sorte, não havia ninguém por perto. Com a intenção de mandar logo a família entrar na igreja e despachar o demônio, Jaike falou primeiro.

    ‒ Já que o senhor conhece o padre, poderia chamá-lo para mim? Eu ficaria mais a vontade.

    A mulher olhava seriamente para Jaike. Certamente, o seu estoque de paciência havia chegado ao fim. Entretanto, ela não se queixou para o marido. Já o bebê observava tudo com um olharzinho entretido, mal sabendo que bem ao seu lado havia uma besta medonha que a considerar pela sua proximidade parecia até fazer parte da família.

    ‒ Tudo bem filho! Mas me prometa que vai abandonar essa vida repleta de violência e de crimes.

    ‒ Crimes? Sério? ‒ ótimo, Jaike pensou. Mais um item para sua lista de marginalidades. ‒ Tá certo, pessoal! – ele agradeceu com um gesto de cabeça e empurrou o casal para dentro da igreja fechando a porta, ficando somente ele e a criatura ao lado de fora. A besta não se movia, apenas o encarava colocando a sua língua comprida e bifurcada para fora.

    ‒ Por sua causa, queimei o meu filme legal, hein sua filha da mãe! ‒ Jaike tirou a mochila das costas. ‒ Mas e aí? Gostou da minha atuação? Eu merecia um Oscar, você não acha? ‒ a criatura o encarava com raiva. ‒ Confessa, a idéia da igreja foi espetacular, não foi?

    ‒ Quero ver essa sua cara de convencido depois que eu arrancar as suas tripas.

    ‒ Uix. Quanta hostilidade! ‒ Jaike pegou a sua espada e com um gesto habilidoso a colocou em posição de combate. ‒ Deveria ter vazado daqui quando teve a chance!

    ‒ E deixar de acabar com a sua raça, seu guardião tolo!

    Jaike a analisou.

    ‒ Sabe belezoca, se essa sua língua de cobra não fosse tão asquerosa, te convidaria para dar uma voltinha. Essa sua cinturinha não é de se jogar fora, sabia?

    A criatura arregalou os seus enormes olhos amarelos e desapareceu. Instantes depois, ela se materializou abruptamente bem a frente de Jaike, o empurrando com toda força contra a parede. Ele gritou de raiva e dor quando a besta cravou uma das suas garras afiadas no abdômen dele. Com a outra, se encarregava de esmagar o pescoço dele na tentativa de estrangulá-lo. Com o impacto, Jaike deixou cair a sua espada no chão.

    Em resposta ao ataque, ele pegou a criatura pelos cabelos e tentou se soltar. Porém, o demônio era muito forte, então Jaike utilizou toda sua força para carregá-la junto na tentativa de derrubá-la, impulsionando o seu pé contra a parede em que estavam encostados. Os dois caíram no chão em um baque surdo.

    As cobras picavam incessantemente o braço e a mão em que Jaike segurava a cabeça da besta. Ele afastava o seu rosto da boca da criatura, que colocava a língua peçonhenta para fora, tentando injetar mais toxinas nele. Jaike estava ficando zonzo com o veneno e a dor excruciante no abdômen latejava intensamente. Provavelmente, algum órgão havia sido perfurado.

    Enquanto se engalfinhavam pelo chão, ela rolou por cima dele e tentou sufocá-lo. Jaike esticou o braço e apalpou desesperadamente o chão em busca da sua espada.

    Assim que conseguiu alcançá-la, empurrou a criatura para traz e a decapitou. Em seguida, o demônio se converteu em partículas composta por uma névoa negra, que logo se dissipou com o ar. Jaike olhou para a cena em que se encontrava e reparou na bagunça que havia causado.

    A mochila estava aberta com todos os seus pertences espalhados pela calçada. Olhou para si mesmo e entreabriu os lábios em surpresa. Ele estava com manchas de sangue, suado e descabelado.

    No chão, havia uma poça imunda de um líquido escuro e gosmento que a criatura havia expelido na hora em que fora mutilada. No mesmo instante, Jaike rezou em silêncio para que o bom samaritano não aparecesse justo naquela hora, trazendo consigo o Exército da Salvação.

    Rapidamente, ele tirou a camiseta que vestia e começou a limpar todos os vestígios de sangue do rosto e da barriga, limpou também, o chão. Os seus ferimentos já iniciavam o processo de cicatrização, pois tinha o poder de cura.

    Com o chão limpo, a bagunça quase arrumada e Jaike ainda agachado no chão guardando os seus objetos dentro da mochila, a porta se abre saindo de dentro à família acompanhada de um padre. Eles o olhavam em estado de choque. O velho padre com um olhar de lástima balbuciou.

    ‒ Oh meu filho! Vejo que o seu amigo não exagerou ao seu respeito! Não se preocupe tudo vai ficar bem! Temos um albergue para drogados e andarilhos assim como você. Pode ficar lá!

    Aquela altura, Jaike não se abalaria com mais nada. No entanto, não pode deixar de pensar. Drogado e andarilho? Ah qual é? Quanto exagero!

    3

    Mas que droga! Como ela conseguia sempre se atrasar no seu primeiro dia de aula? E não era simplesmente o começo de um novo ano letivo, era o seu primeiro dia na nova universidade.

    Desta vez, o culpado pelo atraso foi o seu cabelo. Ao acordar e se olhar no espelho se surpreendeu com aquela maçaroca e teve que rir de si mesma. Parecia até aquelas meninas de filme de terror japonês que assustavam as pessoas só com o cabelo. Kate se arrependeu amargamente por não ter acordado mais cedo. Não iria ser nada fácil domar o seu cabelo revoltado. Ele já estava muito comprido, no mínimo, deveria ter se descabelado enquanto dormia.

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