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Entre a Promessa e o Destino: Guardiões de Orfheus
Entre a Promessa e o Destino: Guardiões de Orfheus
Entre a Promessa e o Destino: Guardiões de Orfheus
E-book409 páginas6 horas

Entre a Promessa e o Destino: Guardiões de Orfheus

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Sobre este e-book

A situação de Kate Miler não é tão simples quanto ela gostaria que fosse. Após desvendar o mistério da sua verdadeira origem, Lucius o líder do Reino da Escuridão invade o planeta reivindicando a garota e se recusa a deixar a Terra ameaçando destruir os Guardiões de Orfheus se Marcos não concordar com a proposta, que ele tem a oferecer que implicaria a sua estadia na Congregação de Alcantes por uma semana perto de Kate.Sem alternativas, o regente Marcos consolida o acordo com o Guardião da Escuridão exigindo em troca, que nenhum Guardião ou humano seja morto enquanto Lucius permanecer na Terra. Mas, essa decisão afeta principalmente Jaike, que é ameaçado com a proximidade de Lucius. Entretanto, Jaike não é o único incomodado. Kate não se sente a vontade na presença de Lucius, que desperta nela fortes sentimentos como se ela estivesse de alguma forma conectada a ele. Em decorrência desses acontecimentos, a garota fica intrigada e se questiona se de fato, ela é mesmo Kate Miler.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de fev. de 2020
ISBN9781526018205
Entre a Promessa e o Destino: Guardiões de Orfheus
Autor

Gisele de Assis

Gisele de Assis é natural de Blumenau, nasceu em 18 de março de 1981, é escritora e roteirista. Uma Leitora voraz desde os doze anos de idade, seduzida por histórias de ficção e fantasia. Quando não está escrevendo, está lendo ou assistindo aos seus filmes e as suas séries favoritas. Atualmente, está terminando a sequência da série Guardiões de Orfheus.Entre em contato com a autora através do site:http://giselewassis.wix.com/guardioesdeorfheus

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    Entre a Promessa e o Destino - Gisele de Assis

    Gisele de Assis

    Entre a Promessa e o Destino

    Guardiões de Orfheus

    Volume 2

    Copyright © – 2015 Gisele de Assis

    Entre a Promessa e o Destino

    Autor/Editor Gisele de Assis

    2ºed. – 2018

    Romance Sobrenatural

    Jovem Adulto

    ISBN

    978-15-08-92443-2

    Todos os direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais do autor foram assegurados.

    www.giseledeassis.com.br

    giselewassis@gmail.com

    Meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus eu confio em ti!

    Para Deus, com todo o meu amor!

    Nota da Autora

    Entre a Promessa e o Destino é uma obra de ficção e fantasia. Todos os nomes de cidades, países e planetas místicos citados nesse livro são fictícios, com a exceção do planeta Terra.

    PRÓLOGO

    Há Alguns Anos no Planeta Zebheus

    – Senhor comandante? – Misael tocou levemente o ombro de Lucius tentando despertá-lo do seu transe langoroso. – Trago notícias alarmantes a respeito do futuro de Orfheus!

    Lucius estava de cabeça baixa afogado em sua própria angústia. Já havia se passado uma semana desde o assassinato da sua amada Sofia. Ele permanecia triste e em silêncio, sentado sobre uma pequena rocha. Enquanto olhava para as cicatrizes ao redor dos seus pulsos, remoía incansavelmente os últimos dias mais torturantes e mais agonizantes da sua miserável existência. Depois da morte da sua amada, Lucius guerreou contra a sua própria espécie e abandonou o seu planeta de origem, acompanhado por sua tropa de guerreiros.

    – Comandante?

    – Eu estou ouvindo, soldado! – Lucius ergueu a cabeça e o encarou irritado. – Seja breve!

    – Meu senhor, eu lamento lhe informar, mas Orfheus não foi destruído! – Misael podia sentir a frustração do seu comandante se acendendo. – O Criador concedeu o perdão ao Alex. O seu irmão prosseguirá com o seu mandato regendo Orfheus. Em troca de obediência e de manter o planeta Terra e os humanos a salvo das criaturas da escuridão, o Criador poupou a nossa espécie da extinção. Alex continuará enviando os Guardiões para a Terra.

    – Impossível! – ele levantou-se com um sobressalto. – Como Orfheus poderia ter sido poupado perante tamanha degradação?

    Depois de um homicídio culposo executado pelo próprio regente do Reino seguido de uma guerra sanguinária que desestabilizou e difamou o planeta inteiro, certamente a sentença que ele esperava seria uma destruição em massa e não o perdão. Lucius caminhou inquieto pelo chão arenoso de Zebheus e segurou um protesto de fúria na garganta.

    – Como conseguiu essa informação? Ela saiu de uma fonte confiável?

    – Sim, comandante!

    Misael confirmou.

    – Eu estive no planeta Terra há algumas horas. Obtive essa informação por meio de alguns Guardiões desertores que mantém exílio em Viliena.

    Ao perceber a expressão assombrada de Lucius, o guerreiro tentou acalmá-lo.

    – Alex não venceu essa guerra ainda, meu senhor. Ele está desiquilibrado e não possui estruturas morais e nem psicológicas para governar Orfheus. A maioria dos Guardiões centenários foi abatida durante a revolta. Restaram somente os mais jovens. O seu irmão não conseguirá proteger a Terra com esses recursos precários que lhe sobraram. Logo, ele cometerá outro deslize e desta vez não será perdoado!

    – Não posso esperar! – Lucius estava arrependido por não ter matado o irmão. Ele respirou fundo e sentiu uma brisa acariciar o seu rosto. Depois, encarou seriamente o seu guerreiro. – Alex não será inocentado. Não perante a minha lei!

    – Mas o que faremos meu senhor? Nós não podemos mais voltar para Orfheus e jamais poderemos habitar a Terra! Todos que deixaram o planeta durante a revolta foram designados como traidores por se rebelar contra o Criador! Se toda a nossa tropa de soldados retornarem para Orfheus juntamente com as suas famílias serão sentenciados a morte!

    Ao contrário de Misael, Lucius não vestia a sua armadura de combate. Ele estava sem a camisa e usava somente uma calça escura. Depois de alguns momentos em silêncio, ele resolveu revelar as suas intenções.

    – O Criador não possui jurisdição nesse território, considerando isso, ficarei em Zebheus. Primeiro, derrubarei o líder desse planeta e assumirei a sua liderança. Então, darei origem a uma nova espécie de demônios formada a partir de nós, os Guardiões da Escuridão. – Lucius rangeu o maxilar com força e disse inundando de fúria. – Eu venderei a minha alma em troca de força e de poder. Quando estiver forte o suficiente, vou invadir o planeta Terra para matar todos os Guardiões que o Alex enviar! – o olhar dele se acendeu ao pensar em vingança. Esse era o único sentimento que ainda permanecia vivo dentro dele.  – Eu farei o trabalho do nosso Criador. O trabalho que ele não fez! 

    – Mas que trabalho seria esse, meu senhor?

    – Extinguir a maldita raça de Guardiões de Orfheus!

    1

    Atualmente em Alcantes...

    As partículas negras ainda flutuavam onde antes havia um telhado. O nevoeiro denso que umidificava o ar já não possuía mais utilidade e aos poucos, desintegrava-se simultaneamente com as minúsculas faíscas que serviam como um tipo de condutor dimensional. Quando um portal era gerado com grande magnitude e com grande intensidade levava mais tempo para se dissipar.

    Juntamente com o clima tempestuoso, a angústia e o pavor transformavam a biblioteca da Congregação de Marcos em um labirinto caótico. Além, da recém descoberta a respeito da traição de Igor e do regente de Orfheus que ameaçou a vida de Kate desde o seu nascimento, a eminente visita de Lucius a Terra havia causado um imenso estupor, agravando ainda mais a realidade bizarra da qual enfrentavam. Nem em seus sonhos mais obscuros, Jaike poderia imaginar algo tão utópico e tão doentio.

    – Qual é o seu maldito problema? Por que nos trancafiou aqui? – Jaike levantou Igor pela gola do seu sobretudo o ergueu e o prensou contra a muralha de proteção. – Se você não me soltar agora mesmo, juro que te mato!

    – Jovem imaturo! – Igor se defendeu e esticou os braços para alcançar a garganta do Guardião na tentativa de se soltar. – Eu estou tentando salvar as nossas vidas! Portanto, me agradeça! – o comandante havia conseguido erguer uma proteção sustentada por uma luz vermelha provida de magia obscura que além dele, circundava Jaike, o mediador e os outros Guardiões na tentativa de mantê-los seguros. Ele imaginava que o demônio mataria qualquer um que se atrevesse interferir em seu propósito. Depois de todos aqueles anos vivendo em reclusão, certamente, Lucius não teria invadido a Terra simplesmente para um passeio. Ele almejava muito mais e a garota estaria inclusa em seus planos.

    No entanto, o demônio não deu importância ao comandante e nem aos outros ao seu redor. Lucius estava completamente maravilhado encarando a garota que continuava imóvel como se estivesse hipnotizada sob o olhar dele.

    – Não sei se você já percebeu, mas a minha vida está do lado de fora dessa barreira! – Jaike olhou desesperado para Kate. Ela estava a uma distância razoável dos Guardiões. – Por Deus Igor, eu não estou blefando se você não me soltar imediatamente...

    – Vai fazer o que, hein garoto? – o comandante se desvencilhou bruscamente das mãos fortes de Jaike e ajeitou o seu sobretudo que vestia. – Você não é forte o suficiente para enfrentá-lo! Nem mesmo foi capaz de me impedir quando eu estava levando à bastardinha embora desse planeta decadente!

    Ao ouvir o comandante se referindo à garota, Lucius despertou a atenção que mantinha sobre ela. Caminhou até perto de onde Igor estava e berrou inundado de fúria.

    – Orfheniano doente e imoral! Acha que pode simplesmente levar a minha mulher embora? – o demônio ergueu o braço para buscar a sua espada que pendia atrás das costas e com um gesto habilidoso a colocou em posição de combate. – Não pense que esse escudo que você está provendo irá salvá-lo! Venha até aqui e lute como aquele guerreiro que um dia acatou as minhas ordens!

    – Você está passando dos limites ex-comandante de Orfheus! – os olhos esverdeados de Igor se acenderam como chamas. – Essa garota não é e nunca foi a Sofia! Ela é o fruto proibido da sua traição! – o comandante estava frustrado, quase havia conseguido concluir a sua missão. Levaria a garota para Alex e finalmente acabaria com aquela caçada doentia. Mas, agora com o demônio na jogada seria praticamente impossível evitar outra revolta. Certamente, Alex não ficaria nada contente com a intromissão de Lucius, que logo exigiu do comandante uma explicação que fizesse algum sentido.

    – Minha filha? – ele entornou levemente a cabeça para o lado e fuzilou Igor com um olhar fulminante. – Quando eu soube por meio das criaturas que o meu único irmão estava caçando a minha descendente precisei vir até aqui na Terra para ver com os meus próprios olhos toda a promiscuidade da qual Alex estava promovendo!

    O ódio que Lucius sentia ao saber que o irmão estava colocando em risco a vida da garota era inimaginável.

    – Existe algo nessa história que não está sendo bem colocado... Explique-me porque o sádico do meu irmão está perseguindo a menina por todos esses anos? O Alex estava mesmo planejando torná-la a companheira dele?

    Lucius se aproximou da muralha mágica, colocou as mãos sobre ela sem se importar com o calor escaldante que feria a sua carne e disse através de um olhar alucinado.

    – Eu vou matar aquele covarde insano!

    Os Guardiões se entreolhavam não sabendo ao certo no que acreditar. Quem de fato seria Kate? Será que ela era quem Lucius afirmava ser, a sua mulher? Ou ela era a filha bastarda que sobreviveu após tamanha desgraça? Igor acreditava veementemente no que dizia e descartava qualquer possibilidade de que Sofia pudesse ter sobrevivido. Ele ergueu as duas mãos e invocou o seu poder alimentando ainda mais a muralha protetora, garantindo a segurança dele e dos Guardiões. Em seguida, encarou o demônio e falou.

    – Você e as suas convicções sem cabimento!  Todos esses anos vivendo em reclusão no inferno, apenas confirmam o fato de que você se tornou mais insano do que já era! – o comandante o ofendeu descaradamente. – Acorda! Você ainda não se deu conta? Foi à gestação dessa maldita bastarda que resultou em uma revolta e consequentemente a sua queda! – a expressão dele ficou sombria. – Meu caro, pela última vez te direi. A Sofia está morta! Fui eu quem se livrou do corpo dela logo depois que o Alex a desenterrou do jardim da Wilda! – ao lembrar-se daquele dia fatídico sentiu um calafrio percorrer a sua espinha. – A sua amante estava completamente sem vida e o bebê havia sido retirado do ventre dela!

    O mediador estava nervoso e secava freneticamente a sua testa com um lencinho. Ele achou que o negócio só poderia piorar se Alex resolvesse pirar de vez e aparecer na Congregação para confrontar Lucius e reivindicar a garota. Heitor guardou o lencinho no bolso e disse com a voz hesitante, chocando a todos com a sua teoria.

    – Existe uma lógica no que Lucius afirma. A garota pode mesmo ser Sofia ou estar portando o espírito amaldiçoado dela!

    Ao ouvir aquele absurdo, o comandante enrugou a testa incrédulo. Mediador covarde e estúpido! Alimentar as esperanças de Lucius complicaria ainda mais a sua missão. Ele se aproximou do mediador e o intimidou com um aperto forte que quase deslocou o ombro dele.

    – Sofia está morta e eu posso te mostrar onde o corpo dela está enterrado!

    Heitor o ignorou e prosseguiu.

    – Mesmo a garota estando com a aura distorcida, Lucius pode enxergá-la! Como isso é possível? Nenhum demônio ou criatura que manipule a magia obscura tem acesso à aura dela. Somente um amor verdadeiro seria capaz de quebrar o feitiço! – Heitor passou a mão pelo seu cabelo suado, olhou de esguelha para Jaike e concluiu. ‒ Lucius reconheceu a aura da Sofia que por algum motivo sinistro agora pertence à Kate!

    – Isso só pode ser uma piada de mau gosto! – Jaike encarou Heitor com escárnio. Estava transtornado. Ele não conseguia imaginar tal absurdo. Qual é? Que lance era esse de espírito? Até parecia papo de macumba! Só faltavam as galinhas pretas e uma encruzilhada! A garota tinha apenas dezoito anos e havia sido abandonada em um orfanato quando era um bebê. Com certeza, a proteção que ela carregava havia expirado e por esse motivo o demônio podia enxergá-la. No mínimo, Lucius não passava de outro louco como o próprio irmão. Afinal, ele era um demônio, a sua natureza era profana e as suas atitudes eram duvidosas, nem a sua própria alma pertencia mais a ele! Quem poderia dar algum crédito ao que ele falava? Jaike se virou para o mediador, cerrou os punhos com força e o advertiu. – Ninguém pediu a sua opinião, então fique quieto!

    Marcos, que estava logo atrás de Igor pedia com um gesto para que os seus Guardiões permanecessem calmos. Ele previa que aquela situação escabrosa não seria resolvida por meio de um simples diálogo e logo teria que se pronunciar. Ele encarou o mediador com descrença e concordou com Jaike.

    – Sim, Heitor. Tudo isso faria sentido se a Sofia ainda estivesse viva ou se um espírito possuísse a autonomia de reencarnar, mas como isso é improvável sugiro que você fique de boca fechada!

    – Olhe para ela! – o mediador ignorou as súplicas do regente e apontou para a garota. – Nunca vi nada igual! – Kate permanecia parada feito uma estátua. Os seus braços estavam estendidos ao lado do corpo e ela encarava o carpete persa do chão. Parecia que estava enfeitiçada. Após alguns minutos, ela despertou do seu transe e ergueu a cabeça em direção ao teto para observar o denso nevoeiro que cobria o alto da Congregação.

    – Minha nossa que dor de cabeça! – ainda atordoada, ela esfregou as pontas dos dedos na testa. – Meu Deus, onde estou?

    – Kate, você está na Congregação!

    Jaike esmurrou o escudo para chamar a atenção dela.

    – Não dê ouvidos ao que estão falando, confia em mim. Você não é a Sofia. A sua mãe está morta!

    Rapidamente, ela virou o rosto e olhou na direção dele.

    – Jaike, o que está acontecendo? – ela ficou surpresa ao ver Igor ao lado dele. – Por que vocês estão atrás desse escudo junto com esse canalha?

    – Apenas fique longe dele, entendeu? – Jaike indicou o demônio. – Corra o mais rápido que puder!

    – Isso minha criança, fuja para a igreja mais próxima! – Igor precisava ganhar algum tempo e manter a garota longe do demônio. Consequentemente poderia levá-la para Orfheus criando um portal dentro do local sagrado. – Ele não pode entrar lá!

    Ela virou o rosto e viu o demônio com a espada na mão. O seu grande porte robusto e a sua expressão assombrada lhe causaram arrepios. Kate olhou com o rabo do olho para a saída da biblioteca a fim de escapar. Mas ela não fugiria, iria até a Congregação de Julio pedir socorro. Lucius percebeu a intensão dela e interceptou a porta. Kate olhou ao redor a procura de alguma arma e avistou a espada de Jaike caída perto da poltrona. Imediatamente, ela se jogou no chão e rolou até onde a arma estava. Então, se levantou com a arma em punho e o ameaçou.

    – Seja lá quem diabo for você, é melhor sair do meu caminho agora! – ela observou as roupas do demônio. Lucius vestia uma armadura de combate, composta por uma calça escura e uma espécie de colete de aço, deixando apenas os braços a mostra. Usava também, uma capa preta que se prendia através de ombreiras de metal. No antebraço, havia um tipo de bracelete feito de aço envelhecido que se expandia do pulso até o cotovelo e era composto por uma fileira de pequenas lâminas afiadas. Enquanto o encarava de um modo pragmático, o demônio caminhou lentamente e foi de encontro a ela.

    – Não tenha medo minha menina, eu vou te libertar... – o demônio guardou a sua espada e andou até parar na frente dela. Kate tentou erguer a espada para golpeá-lo, mas os seus músculos se petrificaram deixando-a imóvel. Inevitavelmente, a arma caiu da sua mão. Lucius a observou por alguns instantes em silêncio enquanto limpava o sangue da boca dela, onde Igor havia a esbofeteado.

    Imediatamente, Kate se sentiu insegura e no mesmo instante foi atingida por um calor escaldante que ardeu em seu corpo,

    acompanhado por uma dor latejante que atingiu a sua cabeça com grande voracidade. A proximidade do demônio a deixou ansiosa e quando ela olhou nos olhos dele, ficou surpresa ao ver a avidez do demônio encontrar a sua, enquanto ele mergulhava em um lugar que estava oculto dentro dela incapaz de se manifestar. Lucius a olhava com tanta intensidade que Kate precisou fechar os olhos, pois não conseguia sustentar aquele olhar. Doía demais, era uma sensação inexplicável e torturante. Ele aproximou a boca do ouvido dela e pediu. – Olhe para mim.

    Ao ver o clima abrasivo que envolvia a garota e o demônio, Jaike surtou e começou a bater com as duas mãos no escudo que Igor provia tentando escapar. Mesmo ele usando os seus poderes para se soltar não conseguia. A magia mística dele parecia ser inútil contra aquela obscura proporcionada pelo comandante que separava os Guardiões do demônio e da garota.

    – Kate você não precisa fazer isso! Se concentre somente na minha voz e não olhe para ele! Lucius é um demônio, a mentira e a ilusão fazem parte do repertório sórdido dele! – o Guardião estava rouco de tanto berrar. – A sua mãe está morta!

    Kate nem olhou para o Jaike. Ela permanecia distante, como se estivesse em outra dimensão.

    – Abra os olhos e liberte-se. Você precisa se lembrar da nossa promessa! – Lucius murmurava enquanto passava o polegar nos lábios dela. Ela não resistiu ao toque, então abriu os olhos e percebeu o sofrimento tomar o rosto dele. Por um breve instante, ela não soube distinguir a ilusão da realidade ou a qual mundo ou a qual origem pertencia. Kate não conseguiu suportar aquela avalanche contraditória de sentimentos e teve de esticar o braço para tocá-lo também.

    – Lucius... – ela disse baixinho e com a voz intensa. Depois subiu as mãos pelos braços fortes dele, passando pelas ombreiras de aço sentido as ásperas ondulações que traçavam o metal. Com as mãos trêmulas, ela tocou o maxilar dele e sentiu a barba por fazer. Enquanto os seus olhares se abrasavam, Kate tocou levemente os lábios dele. Lucius subiu as suas mãos até onde os dedos dela o tocavam e os entrelaçou.

    O toque, a pele, o cheiro dele eram muito familiares para Kate. Em algum lugar da biblioteca ela escutou alguém gritar o seu nome. Porém, a única pessoa que tinha a sua atenção era exclusivamente Lucius.

    O mundo parecia não ter importância alguma naquele momento e uma força da qual ela desconhecia parecia possuir os seus instintos. A sensação de estar próxima ao demônio era gostosa e dolorida, como se a machucasse e a satisfizesse ao mesmo tempo. Ela voltou a fechar os olhos e tentou lhe dizer algo, mas foi arrancada com tamanha violência dos braços dele sendo arremessada para longe.

    – Seu miserável! Por que não volta para o lugar de onde veio? – Jaike usou toda a sua força para perfurar a armadura e enterrar a extensão da lâmina da sua espada no peito de Lucius. – Ou morra de uma vez, demônio insano! – Lucius rangeu os dentes e sentiu a dor queimar em suas entranhas. Jaike não esperou a recuperação do demônio que estava ensandecido pela fúria. Ele partiu para cima do líder de Zebheus com sede de combate, o derrubando no chão, dando início a uma violenta sessão de socos contra o rosto do demônio. Porém, para a sua infelicidade logo o ex-comandante dominou a luta.

    Ainda deitado no chão, Lucius segurou os braços de Jaike e o empurrou para o lado. Em seguida, o demônio fechou o punho e desferiu um soco severo acertando o canto da boca de Jaike. Depois, Lucius o ergueu pela blusa e o arremessou contra a parede do outro lado da biblioteca. A força do impacto fez com que o Guardião caísse de mau jeito em cima do braço. Lucius não se deu ao trabalho de se aproximar de Jaike que permanecia no chão completamente atordoado. Ele sacou a sua espada das costas e a pegou pela ponta afiada da lâmina. Então, mirou o coração do Guardião e arremessou a arma com tudo acertando exatamente onde pretendia.

    Kate estava novamente naquele transe cismático, permanecendo totalmente estática e olhando fixamente para o carpete do chão. Marcos e os seus Guardiões suplicavam incansavelmente para que Igor os liberassem do escudo a fim socorrer Jaike.

    – Igor seu rato traidor me libere agora desse escudo! O Jaike vai morrer se não agirmos logo! – ao perceber que o comandante não soltaria ninguém, o regente convocou os seus Guardiões e ergueu a mão para invocar a magia mística na tentativa de quebrar a proteção. – Vamos lá gente, o Jaike conseguiu sozinho. Se nos unirmos podemos violar a barreira também!

    Pela ira fulminante que Lucius transmitia através do seu olhar, Igor imaginava que seria muito arriscado derrubar o  seu

    escudo protetor e liberar os outros Guardiões. Mesmo o demônio estando ferido ele continuava sendo uma terrível ameaça. Depois de abater Jaike, Lucius tirou o colete de aço que vestia. Ele colocou uma mão sobre o peito para estancar o sangramento que emergia do seu ferimento causado pela lâmina da espada. Com o processo de cura em andamento o demônio andou até onde o Guardião estava. Lucius iria decapitá-lo e garantir a morte dele. Igor percebeu as intenções do demônio e gritou chamando a atenção dele.

    – O que você está fazendo Lucius? Ele é somente um garoto! – a indignação de Igor soava através da sua voz. – Na época em que defendíamos Orfheus juntos, você não era um maldito covarde!

    – Os tempos mudaram! – Lucius desviou o seu foco e projetou todo o seu ódio diretamente sobre o comandante, manifestando todo o seu desprezo. – Mas e quanto a você, seu covarde? Por que ainda permanece atrás dessa barreira? Não se acha um guerreiro suficiente para vir até aqui e duelar comigo? – o demônio que seguia na direção de Jaike, interrompeu o seu percurso e se virou para Igor. – Você é o responsável por tudo que está acontecendo! Todas essas mortes que acontecerão ainda esta noite recairão diretamente sobre você! O seu destino como traidor de Orfheus e seguidor do Alex será o de carregar esse fardo. De ser o assassino indireto da sua própria espécie! – Lucius ergueu os braços e os afastou um pouco. Em seguida, inclinou as mãos para trás e direcionou as palmas na direção do escudo protetor que Igor provia. – Vou dar a você, uma única chance. Se sair agora e lutar comigo darei a esses Orfhenianos uma oportunidade de viver!

    – Oh, desculpe te desapontar líder de Zebheus! Deixei a minha espada em casa! – Igor sorriu maliciosamente e completou. –O meu escudo é impenetrável! Mas fique a vontade para tentar!

    – Como quiser comandante substituto! – Lucius não poupou forças para invocar a sua magia. Através das mãos ele emitiu um poderoso jato de fogo em direção à muralha de Igor. A temperatura excruciante do fogo exonerava todos os objetos ao redor de onde as chamas passavam e com a chegada do ataque, imediatamente o escudo enfraqueceu desestabilizando a magia de Igor.

    Não demorou muito até que o fogo envolvesse o escudo por completo, coagindo a todos que estavam atrás dele. A camada protetora de magia que circundava os Guardiões perdia força a cada instante, ficando cada vez mais translúcida. Logo, o escudo seria derrubado. O fogo abrasivo tornava o clima tenso e sufocante.

    Igor estava praticamente esgotado e pediu ajuda aos outros.

    – Maldição! A força do demônio é absolutamente superior a minha! Vocês precisam invocar a magia e me ajudar a sustentar o escudo!

    – Já estamos fazendo isso! Por que você acha que ainda estamos vivos, seu imbecil? – Marcos estava com as suas mãos erguidas provendo a magia e sustentando o escudo, juntamente com Olívia, Lana e Natan. Enquanto os Guardiões enfrentavam a fúria arrebatadora de Lucius, o mediador permanecia agachado atrás de Igor se abanando com um lencinho. O calor que abrangia todo o interior da muralha era simplesmente claustrofóbico.  – Não conseguiremos segurá-lo por muito mais tempo! – o regente já temia o pior. – Vocês dois... – ele chamou Lana e Natan em um gesto com a cabeça. – Coloquem mais força nesse bloqueio! – ele se virou para a ruiva. – E quanto a você, use o resto da sua força para contra atacar!

    – Não consigo Marcos! – o suor escorria por todo o rosto de Olívia. A respiração dela estava pesada e o cansaço estava consumindo cada músculo do seu corpo. – Que droga, nós iremos morrer!

    – Ela tem razão! – Lana sucumbiu ao cansaço e caiu de joelhos. – Não dá para bloquear o ataque dele, esse demônio é muito forte, ele é diferente de todos os outros!

    – Não ouse desistir agora, Guardiã! – Igor a intimou olhando apreensivo ao seu redor. O único que ainda permanecia de pé era o regente. Enquanto o garoto Natan estava curvado tossindo sangue devido ao esgotamento vital, as duas Guardiãs estavam de joelhos tentando segurar o escudo com o resto de energia que lhes restava.

    Embora a derrota estivesse decretada, o orgulho de Igor jamais seria chamuscado. Ele encarou o demônio com astucia e provocou.

    – Ao invés de ter apenas te capturado no dia em que te flagrei com a Sofia, eu deveria ter te matado! – o fogo começou a se infiltrar na muralha e ele berrou quando as chamas começaram a brotar no seu casaco. – Me arrependo todos os dias por isso!

    – Os seus arrependimentos e os seus perjuros acabam hoje junto com a sua vida, Orfheniano hipócrita! – o ferimento de Lucius não havia cicatrizado. No entanto, ele não demonstrou qualquer sinal de fraqueza. O fogo implacável que o demônio lançava sobre a muralha mataria todos em questão de minutos.

    Mas, então, para o alívio dos Guardiões que estavam encurralados entre as chamas, o demônio cessou o ataque no momento em que sentiu algo perfurar as suas costas e penetrar a sua carne, rasgando músculos e tendões.  Institivamente, ele se virou para trás pronto para atacar o seu agressor, mas parou ao ser surpreendido por um par de lindos olhos azuis. Ele entreabriu os lábios em surpresa e sussurrou.

    – Por que fez isso?

    Kate não respondeu, apenas olhou fixamente para a espada toda suja de sangue que segurava entre as mãos. Depois de piscar algumas vezes, ergueu a cabeça para olhar na direção de Jaike que estava desacordado no chão. Lucius havia acertado gravemente o coração dele naquele confronto que tiveram. Uma poça de sangue que cobria o carpete e o peito de Jaike chamou a atenção dela. Imediatamente, Kate jogou a arma que segurava para longe e correu até o Guardião.

    – Acorde Jaike, por favor! – ela sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto ao vê-lo novamente entre a vida e a morte. Não fazia nem uma semana que ele quase havia morrido da mesma forma, confrontando um Guardião da Escuridão. – Meu Deus... Por favor, não permita que ele morra! 

    Ela tirou com cuidado a espada que estava cravada no peito dele e suplicou.

    – Não faça isso comigo! Acorde!  – as lágrimas que rolavam pelo seu rosto ganharam mais força quando ela colocou os dedos sobre a veia do pescoço dele e percebeu que não havia mais pulso.

    Então, ficou ao lado do corpo dele e deu início ao um ritual, fazendo uma intensa massagem cardíaca e alternando com respiração boca a boca.

    – Vamos lá, reaja seu teimoso! – enquanto Kate colocava toda sua força tentando reanimar o coração dele, Marcos e os seus Guardiões aproveitaram a vulnerabilidade do escudo de Igor e ao invés de continuar segurando o bloqueio, se uniram para derrubá-lo.

    – Só mais um pouco gente, estamos quase conseguindo! – o regente pediu a todos para que ainda não desistissem. – Jaike precisa da nossa ajuda!

    Lana e Olívia ignoraram a exaustão e continuaram a atacar a muralha que estava quase sucumbindo.  Natan já não possuía mais energias e entregava-se ao esgotamento. Marcos estava desesperado para socorrer Jaike que permanecia estirado no chão feito um

    cadáver. O regente chamou pela garota e implorou aos berros.  – Kate, por favor, continue com a massagem. Nós não temos mais Ambrósia!

    Kate ergueu a cabeça. Ela lançou um olhar desolado para o regente e disse chorando.

    – Não adianta, ele está sem pulso!

    2

    Depois de derrubar o escudo de Igor e apagar o fogo que inflamava sobre os móveis, Marcos colocou Jaike deitado em cima de um sofá e pediu aos seus Guardiões para que varressem a casa inteira em busca da poção.

    – Não encontramos mais nada! – Lana e Natan estavam arrasados. Eles vasculharam toda a Congregação em busca da Ambrósia. – Já usamos tudo, inclusive, as reservas do Julio no dia em que fomos atacados por Guardiões da Escuridão. – Natan justificou o que Marcos já sabia.

    – Vamos até a Congregação de Longaile pedir a poção! – Olívia estava nervosa e andava de um lado para o outro tentando arrumar uma solução. – Eles devem ter já que são representados por um mediador competente, ao contrário do nosso!

    – Hei, eu esqueci está bem? – o mediador continuava encolhido atrás de Igor dentro do escudo. – Não precisa me ofender!

    Marcos suspirou angustiado.

    – Não vai resolver. Já faz quase dez minutos que o coração dele parou! – aqueles haviam sido os dez minutos mais aterrorizantes na vida de Marcos. A dor que ele sentia ao ver Jaike estirado naquele sofá sem sinais vitais era arrebatadora. – Eu sinto muito Olívia, mas a Ambrósia apenas nos concede o poder de regeneração, ela não ressuscita!

    Kate, simplesmente não acreditava no pesadelo do qual estava vivenciando. Ela estava inconformada. A revolta e o desespero que a consumiam chegava a

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