O morto que quase estragou o velório
De Luciel Lima
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Sobre este e-book
Uma louca viagem para lugar nenhum, onde nada faz sentido, como o morto que de repente se levanta do caixão e quase põe o velório a perder.
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O morto que quase estragou o velório - Luciel Lima
O começo
O fogo faz as pedras gritarem.
As pedras queimam e gritam.
Uma, duas, três vezes...
E a fumaça dentro do alumínio transforma-se em arco íris e no fim do arco íris eu já não vejo sujeira e nem sinto fedor.
Descanso a cabeça no tijolo e vou embora.
Parte 1
Desço do táxi.
— Espere-me, não vai levar mais do que cinco minutos.
Enfio a mão no bolso e retiro uma lembrancinha que não me custou mais do que dois reais.
Viro e olho para frente.
Vejo um terreno baldio.
Um terreno de cento e vinte metros quadrados vazio.
Olho ao redor.
Não. Eu não errei o endereço.
Estou de frente para o número 538 da Rua Santo Antônio.
Bato na porta da casa ao lado.
Sai um velho de 80 anos ou mais. Tão magro e seco que me dá pena.
— O que aconteceu com a casa que ficava aqui ao lado?
Ele me olha. Franze a testa branca cheia de feridas. Abre a boca sem dentes e raspa o catarro da garganta e dá uma cuspida e o cuspe cai ao lado do meu mocassim do pé direito.
— Você sabe muito bem que nunca houve uma casa neste terreno baldio.
Pego o velho pela gola da regata branca.
— Você deve estar esclerosado, seu velho louco!
Empurro o velho para o lado e entro na sala.
— Há alguém aqui nessa casa que esteja são da cabeça?
Ele não responde.
Olho para o penico transbordando de urina amarela ao lado de um sofá todo rasgado. Há cheiro de fezes em todo o canto.
Tampo o nariz e vasculho a casa, mas só encontro degradação e desmazelo e abandono.
Na cozinha, vejo uma pia apinhada de louça suja e na mesa jaz um prato com restos de comida e duas ou três varejeiras estão zanzando por cima e botando seus ovos ali.
Volto para a sala e vejo o velho deitado no