Sendo dizimista, você pode colocar Deus contra a parede

De Luciel Lima

Ricardo Holanda Valares é um homem pobre que consegue emprego de zelador em uma Igreja do Universo de Deus. Um dia ele recebe o chamado de um anjo para ser pastor. Valares torna-se pastor e começa a propagar a teologia da prosperidade, a qual prega que Deus é obrigado a ajudar quem paga o dizimo. Logo Valares fica conhecido como o pastor da prosperidade, e chama a atenção dos bispos da Igreja por ser um grande arrecadador de dizimos e ofertas.

• Idioma: Português
• Editora: Editora 101 Seleções
• Data de lançamento: 12 de fev. de 2018

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I

Colocou as mãos nos bolsos. Vazios. Olhou novamente para a estufa de salgados. Não tinha dinheiro para comprar uma coxinha.

— Uma água, por favor! – pediu para a garçonete.

Ela encheu o copo com a água da torneira. Ele bebeu sem reclamar, pois era de graça.

Saiu da padaria e caminhou cabisbaixo. Sem emprego, sem dinheiro, sem nada. Olhou para o céu, e em pensamento pediu para Deus lhe dar uma luz. Ele voltou sua atenção para a frente e viu uma placa no meio da calçada.

Precisa-se de obreiros dizia a placa. Ele entrou na Igreja do Universo de Deus. Havia um pastor no altar. Ele usava camisa de mangas compridas, e gravata.

— Pois não? – perguntou o pastor.

— É aqui que precisam de obreiros?

— É aqui mesmo. Está interessado?

— Quanto é o salário?

O pastor deu risadas, e foi até ele.

— Meu irmão, obreiro não tem salário.

— Não?

— Não. Obreiro é pago por nosso Senhor Jesus Cristo.

— Como assim?

— Você sabe o que um obreiro faz?

— Não.

— Um obreiro é responsável por dar orientações espirituais aos membros da igreja, visitar os membros afastados para orar e orientar, auxiliar o pastor durante o culto, fazer orações de libertação nos membros durante reuniões de libertação, fazer visitas em presídios e hospitais para orar pelos presidiários e pelos enfermos e outras funções pastorais.

— E quanto ganha o obreiro para fazer essas coisas?

— O trabalho de obreiro é voluntário, você terá sua recompensa no reino de Deus.

— Do que adianta ganhar recompensas se você estiver morto? Estou fora – disse, dando meio volta.

— Espere, irmão. Estou precisando de um zelador para a igreja.

— Zelador?

— Você sabe o que um zelador faz, não é? Você terá que lavar a igreja, e mantê-la limpa. Lavar os banheiros. Lustrar as vidraças. Passar aspirador de pó no carpete. Varrer a calçada. Fazer a manutenção das lâmpadas, trocar as velas dos candelabros. Eu pago quarenta reais por dia, o que me diz?

— Estou dentro.

— Muito bem, irmão, pode começar dando um talento no banheiro. Mas antes de você ir, me diga o seu nome.

— Ricardo