Protestos de 2015: Os Imaginários no Facebook
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Sobre este e-book
Este livro aborda essas questões norteadoras buscando analisar as interações dos usuários durante os protestos ocorridos em março de 2015. Posicionado entre a Análise do Discurso Francesa, mais precisamente a Teoria Semiolinguística de Patrick Charaudeau, e as teorias de comunicação, este livro é essencial para iniciar um estudo sobre as novas mídias e os protestos de 2015 enquanto negociações de sentidos dentro da rede social Facebook.
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Pré-visualização do livro
Protestos de 2015 - Gabriel Reis Moraes Machiaveli
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
A todos que apoiaram e incentivaram esta caminhada e que, de alguma forma, preencheram esses dois anos com sorrisos, choros e amores.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, aos meus familiares. Principalmente a Cláudio e Maria do Carmo, pelo apoio e demonstrações de coragem para enfrentar mais este desafio.
Aos meus amigos, que, sem eles, hei de ser nada. Abraços calorosos a Pedro, Bernardo, Jean Carllo, Isaias, Aelanco, Mariana, Inara, Tamara, Felipe Tomé, Lucas, Camila, Pajé e Carlos Eduardo.
À Capes, pelo apoio financeiro.
Ao professor e orientador Ivan Vasconcelos Figueiredo, pela paciência e conhecimento.
Aos professores do mestrado, pelo carinho e pela força passada durante as aulas.
Ao meu irmão Angelo, por todo amor e apoio ao longo desses dois anos.
Apresentação
Pretendi estudar as interações dentro dos sites de redes sociais, em especial o Facebook. A partir deste estudo, resultado da dissertação de mestrado, compreendo que a sociedade em que vivemos atualmente está à mercê de um discurso conflitante dentro desses sites de redes sociais. São temas centrais nos dias de hoje. Além do debate em torno das manifestações pró-impeachment e pró-governo de Dilma Rousseff (PT) – impedida em agosto de 2016 –, este livro aborda o discurso polêmico e os imaginários emergidos nos comentários sobre esses protestos.
Pretendo abordar essas questões em três eixos: o primeiro voltado para as jornadas de junho de 2013 como basilares para as manifestações subsequentes; o segundo, mais teórico, embasando as teorias propostas para análise e discutindo a possibilidade de uma esfera pública no Facebook; e por último, são analisados os comentários colhidos e tecidas minhas considerações.
É preciso salientar que a obra não reduz as conclusões para os imaginários no Facebook. É apenas um recorte do universo proporcionado pela rede.
Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão.
Vinícius de Moraes
PREFÁCIO
O presente livro coloca em cena um olhar analítico sobre o prenúncio da chamada nova
arena pública: as redes sociais da internet. A intenção é investigar os imaginários sociodiscursivos emergidos em debates dados entre comentaristas de redes sociais sobre as manifestações de março de 2015. Nos (des)encontros entre sujeitos revestidos de máscaras sociais na ambiência digital, as conversas e discussões revelam as dinâmicas do dissenso e suas materializações linguístico-discursivas ocorridas nas interfaces entre os discursos político e polêmico.
Localizado no entremeio de campos de saberes da Comunicação, Análise do Discurso e Argumentação, o texto apresenta desdobramentos de uma pesquisa realizada em nível de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras (Teoria Literária e Crítica da Cultura), na linha Discurso e Representação Social, da Universidade Federal de São João del-Rei.
Dentre os variados e possíveis percursos para a abordagem do assunto, o autor nos coloca em contato com recentes pesquisas que versam sobre os conflitos e agressões verbais entre os sujeitos nas redes sociais, permitindo uma incursão sobre as formas de interação no momento em que os sujeitos assumem os papéis de coenunciadores. O deslocamento da compreensão dessas agressões da dimensão do pathos para logos indica que os argumentos ad hominem, tal qual num jogo de xadrez, atuam enquanto estratégias que procuram fazer com que o oponente aja de forma diferente da sua intencionalidade primeira, levando-o a sair da argumentação sobre o objeto em si.
No contexto desse jogo argumentativo, também estão presentes os modos e impactos do enquadramento midiático na formatação do olhar e nas reconstruções de sentidos pelos prosumers após a recepção de conteúdos veiculados em páginas de mídias tradicionais no Facebook, como a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo.
A partir da leitura desta obra, abrem-se miradas basilares sobre a interação entre os sujeitos nas redes sociais. Algumas questões fundamentais para o avanço de pesquisas na área podem ser destacadas: há uma possível estabilidade parcial para a evocação de imaginários sociodiscursivos em uma arena marcada pelo dissenso e embate verbal como o Facebook? De que modo o dissenso do discurso polêmico convoca para uma revisão da noção de esfera pública (até então dada pela ótica habermasiana da razão e consenso)? A mídia tradicional ainda seria capaz de orientar as visões do público presente nas redes sociais, bem como seus posicionamentos em um debate sobre determinado tema? Aliada ao padrão de filtragem de conteúdos pelo Facebook, estaríamos rumo às chamadas bolhas ideológicas, as quais tenderiam a amplificar ainda mais o grau de intolerância para a diversidade e divergência de posições? Por fim, quais os impactos da performance discursivo-midiática dos sujeitos participantes das redes sociais no convívio social?
Para além de oferecer respostas a essas perguntas, este livro aponta para o necessário aprofundamento de pesquisas acerca da relação entre os prosumers e mídia na cibercultura, assim como para o necessário reconhecimento de que os conflitos verbais e dissensos são elementos estruturantes da interação.
Ivan Vasconcelos Figueiredo
Professor Doutor do Departamento de Letras, Artes e Cultura da UFSJ,
com atuação na graduação em Comunicação Social – Jornalismo
e no Programa de Mestrado em Letras Teoria Literária e Crítica da Cultura
,
na linha Discurso e Representação Social.
Sumário
INTRODUÇÃO
capítulo 1
APRECIAÇÕES SOBRE A ATUAL CONJUNTURA BRASILEIRA E A POSSÍVEL ESFERA PÚBLICA NA INTERNET
1.1 As jornadas de junho de 2013 e a questão urbana nas lutas horizontais como basilares das manifestações de 2015
1.2 Material de análise e procedimentos
capítulo 2
OS IMAGINÁRIOS SOCIODISCURSIVOS E A POLÊMICA NAS REDES SOCIAIS
2.1 Internet e redes sociais: funcionamento e características
2.2 A teoria semiolinguística
2.3 Os imaginários sociodiscursivos
2.4 Combate verbal: apologia da polêmica e retórica do dissenso
2.5 Considerações finais
capítulo 3
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESFERA PÚBLICA E A INTERNET
3.1 Conclusões
capítulo 4
ANÁLISE
4.1 Análise dos imaginários sociodiscursivos dos comentários
4.1.1 Os comentários na fanpage da Folha de São Paulo
4.1.2 Os comentários publicados a favor do impeachment na fanpage da Folha de São Paulo
4.1.3 Os comentários na fanpage do Estado de São Paulo
4.1.4 Os comentários e réplicas na fanpage do jornal O Estado de São Paulo
4.1.5 Os comentários na fanpage do jornal O Globo
4.1.6 Os comentários e réplicas publicados na fanpage do jornal O Globo a favor do impedimento de Dilma Rousseff
4.2 Conclusões
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os imaginários sociodiscursivos e o discurso polêmico
A esfera pública e o FacebooK
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Desde o século XV, o avanço tecnológico dos meios de comunicação causa grandes impactos na sociedade. Da criação da prensa por Gutemberg até a abertura da internet há três décadas, a população mundial pode se informar, comunicar-se simultaneamente por aparatos tecnológicos e, mais recentemente, trocar mensagens simultâneas sem que os interlocutores partilham o mesmo espaço. Nesse contexto, plataformas em rede e aparelhos celulares surgiram nas décadas de 1990 e 2000 com possibilidade de conexão à internet sem fio. No campo das relações interconectadas, surgiram sites de redes sociais (SRS), tais como Facebook, LinkedIn, YouTube etc.
Se antes as mídias tradicionais eram as principais formas de acesso ao conhecimento, com a internet houve uma pulverização do acesso à produção: qualquer usuário com acesso à rede pode angariar conhecimento, como o prosumer, usuário como mídia na internet; além de consumidor, ele também é produtor de conhecimento.
Essas novas tecnologias interconectadas complementaram também as interações tradicionais.